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Danos diretos, danos indiretos e danos reflexos

Capítulo 3 – Estrutura da responsabilidade civil

3.3. Dano

3.3.4. Espécies de dano

3.3.4.2. Danos diretos, danos indiretos e danos reflexos

Das situações em que, ao atingir-se uma determinada posição jurídica de um sujeito de direito, gera-se um dano e, como consequência deste dano, surge outro dano, extrai-se a classificação dos danos em diretos e indiretos. Fala-se que os danos diretos são os efeitos imediatos da situação jurídica injusta; ao passo que os danos indiretos são os que advêm dos danos diretos, sendo, portanto, consequências mediatas da situação jurídica injusta215.

Assim, a difamação da honra do empresário e as lesões corporais sofridas por alguém são exemplos de danos diretos de natureza não patrimonial. A morte do animal de estimação que foi atropelado é exemplo de dano direto patrimonial. Por outro lado, a diminuição da clientela decorrente da difamação do empresário e a incapacidade para o trabalho resultante das lesões corporais sofridas constituem danos patrimoniais indiretos. Já o estado depressivo em que se encontra aquele que perdeu seu animal de estimação, em um atropelamento, configura dano moral indireto.

Muitos doutrinadores216 empregam a expressão dano indireto para designar também o denominado dano reflexo ou dano em ricochete, que é o dano reflexamente sofrido por terceiros, como consequência do dano que fora causado à vítima.

Não se vislumbram prejuízos quanto a este uso da expressão: à fórmula

dano indireto pode ser dado um sentido amplo, de modo a contemplar os danos indiretos

causados à própria vítima, e, também, aqueles reflexamente causados a outros sujeitos de direito. Entende-se, contudo, que a expressão dano reflexo ou em ricochete deve ficar reservada às hipóteses em que o dano causado à vítima repercute negativamente na esfera jurídica de terceiro – como uma espécie de dano indireto.

O aspecto mais relevante acerca dos danos reflexos ou em ricochete é a sua determinação no caso concreto, pois, como assente em doutrina217, são excepcionais.

215 COSTA, Mário Júlio de Almeida, op. cit., p. 547; VARELA, João de Matos Antunes, op. cit., p. 601-

602.

216 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro – responsabilidade civil, v. 4, 5ª ed., São

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No direito brasileiro, o artigo 948, inciso II, do Código Civil traz hipótese em que dano patrimonial reflexamente causado a terceiro deve ser ressarcido. Este é o caso da indenização das prestações alimentícias devida aos dependentes do alimentante, vítima de homicídio.

Além desta hipótese, a doutrina e a jurisprudência pátrias têm admitido indenização ao terceiro por dano a ele reflexamente causado em outras situações que não encontram previsão legal expressa. Pode-se mencionar, como exemplo, os danos não patrimoniais experimentados pelo cônjuge ou companheiro, bem como pelos filhos, pelo pai, pela mãe daquele que foi vítima de homicídio218. Importa saber, então, o que permite qualificar estes danos como injustos.

A solução para esta questão deve ser a seguinte: há de haver entre a vítima do dano e o terceiro atingido um vínculo juridicamente tutelado. Com isso, evita-se dilação injustificada das situações jurídicas passíveis de ensejar a obrigação de indenizar219.

217 VARELA, João de Matos Antunes, op. cit., p. 623. O autor afirma: “Tem direito à indemnização o

titular do direito violado ou do interesse imediatamente lesado com a violação da disposição legal, não o terceiro que só reflexa ou indirectamente seja prejudicado”. Ibid., p. 620-621.

218 Na doutrina, cf.: NORONHA, Fernando, op. cit., p. 578-579; CAVALIERI FILHO, Sergio, op. cit., p.

86-88; SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira, op. cit., p. 293-296. Na jurisprudência, cf.: Apelação nº 0003536-72.2007.8.26.0390, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; Apelação 0022452- 12.2008.8.19.00, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; Apelação nº 70036215481, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; Apelação nº 0090837-45.2007.805.0001-0, do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia; REsp nº 530.602/MA, do Superior Tribunal de Justiça.

219 O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Resp 1.076.160/AM, em 10 de abril de 2012, de

relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, negou pedido de indenização por danos morais pleiteado pelo noivo em razão da morte de sua noiva, sob o fundamento de que ele não é parte da “‘família’ direta da vítima”. Nos termos da ementa do acórdão: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. LEGITIMIDADE PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO INDENIZATÓRIA DE DANOS MORAIS POR MORTE. NOIVO. ILEGITIMIDADE ATIVA. NECESSÁRIA LIMITAÇÃO SUBJETIVA DOS AUTORIZADOS A RECLAMAR COMPENSAÇÃO. 1. Em tema de legitimidade para propositura de ação indenizatória em razão de morte, percebe-se que o espírito do ordenamento jurídico rechaça a legitimação daqueles que não fazem parte da ‘família’ direta da vítima, sobretudo aqueles que não se inserem, nem hipoteticamente, na condição de herdeiro. Interpretação sistemática e teleológica dos arts. 12 e 948, inciso I, do Código Civil de 2002; art. 63 do Código de Processo Penal e art. 76 do Código Civil de 1916. 2. Assim, como regra - ficando expressamente ressalvadas eventuais particularidades de casos concretos -, a legitimação para a propositura de ação de indenização por dano moral em razão de morte deve mesmo alinhar-se, mutatis mutandis, à ordem de vocação hereditária, com as devidas adaptações. 3. Cumpre realçar que o direito à indenização, diante de peculiaridades do caso concreto, pode estar aberto aos mais diversificados arranjos familiares, devendo o juiz avaliar se as particularidades de cada família nuclear justificam o alargamento a outros sujeitos que nela se inserem, assim também, em cada hipótese a ser julgada, o prudente arbítrio do julgador avaliará o total da indenização para o núcleo familiar, sem excluir os diversos legitimados indicados. A mencionada válvula, que aponta para as múltiplas facetas que podem assumir essa realidade metamórfica chamada família, justifica precedentes desta Corte que conferiu legitimação ao sobrinho e à sogra da vítima fatal. 4. Encontra-se subjacente ao art. 944, caput e parágrafo único, do Código Civil de 2002, principiologia que, a par de reconhecer o direito à integral reparação, ameniza-o em havendo um dano irracional que escapa dos efeitos que se esperam do ato causador.

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