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Das gazetas jurisprudenciais às universidades: as revistas jurídicas brasileiras do século

BREVÍSSIMAS”: ACENOS FINAIS

53 A expressão vem destacada como remissão ao sentido atribuído por Massimo Severo Giannini, na sua introdução

2.2 ENTRE CIÊNCIA E DOUTRINA OU PRÁTICA E LEGISLAÇÃO: OS PERIÓDICOS JURÍDICOS DO SÉCULO XIX EM PERSPECTIVA COMPARADA

2.3.3 Das gazetas jurisprudenciais às universidades: as revistas jurídicas brasileiras do século

Tudo quanto foi exposto até aqui conduz à constatação de que as revistas, enquanto gênero literário estabelecido, ainda estavam dando passos tímidos com o aparecimento dos

191 MARTINS; LUCA, 2006, p. 29. 192 GODOY, 2016, p. 315.

primeiros títulos no século XIX, resultado da consolidação retardada da imprensa de modo geral no país. Isso é ainda mais verdadeiro em relação às revistas jurídicas, atreladas à também tardia criação de instituições jurídicas nacionais e faculdades de direito, o que repercutiu, evidentemente, em todo seu processo de gestação.

Por conta disso, não se podem esperar do Oitocentos brasileiro revistas jurídicas enquanto corolário de disciplinas especializadas e manifestos de determinado ramo do direito, tampouco títulos com prioridade ou vocação científica. As publicações inaugurais nascem com vocação enciclopédica, muito próximas ainda dos jornais e do estilo jornalístico direto e conciso que os caracteriza, tendo como objetivos principais a divulgação da legislação e da jurisprudência aos profissionais do foro, para só depois a análise e crítica.

Partimos do completo e pioneiro inventário composto por Armando Soares de Castro Formiga,193 que elenca 53 títulos lançados entre 1843 e 1900 por todo o país para traçar algumas características gerais desse primeiro “jornalismo” jurídico brasileiro, a configuração dessas publicações periódicas e rediscutir as razões das suas dificuldades. Neta seção, pretende-se oferecer, a partir desse elenco, (i) em um primeiro momento conclusões imediatas da análise quantitativa do conjunto; (ii) logo após observações mais meditadas de uma análise qualitativa do que representavam sobre a cultura jurídica brasileira oitocentista; (iii) uma classificação das revistas por fases do movimento periodista jurídico e (iv) comentários sobre títulos selecionados.

Seguindo esse itinerário, observa-se, de início, que dentre as 53 revistas fundadas no século XIX, 17 delas foram criadas na então capital do país e 37 nas províncias, com 12 e 11 títulos, respectivamente, editadas em Recife e São Paulo, sedes das primeiras faculdades de direito. Esse dado chama atenção à medida que se pondera que a primeira faculdade do Rio de Janeiro será criada somente no final do século, em 1882, de modo que, mais do que o impulso – não secundário – dado pela cultura acadêmica ao periodismo jurídico, foram a atividades forense e da burocracia estatal, concentradas na capital, o grande motor de estímulo à criação primeiras revistas jurídicas brasileiras. É lícito apontar, também, a eminente concentração geográfica das revistas, estando mais de ¾ delas reunidas no eixo Rio-São Paulo-Recife. Em

193 Destaca-se seu caráter pioneiro por servir de obra brase, no Brasil, para o desenvolvimento de um inteiro campo

de estudos ainda bastante embrionário: trabalhos que encarem as revistas enquanto objeto de pesquisa. Seu esforço de pesquisa de catalogar, com detalhes sobre a duração, programa editorial e fundadores, todos os 53 periódicos de que se tem notícia no século XIX, produziu uma fonte riquíssima que não encontra paralelo no Brasil. Iniciativais editoriais semelhantes já eram conhecidas no território europeu, como os já citados elencos de Carlo Mansuino, na Itália; de Luís Bigotte Chorão, em Portugal; de Joachim Rüpert, na Alemanha.

uma análise que leva em conta o critério regional, registra-se que a região Sudeste concentrou 33 periódicos, a região Nordeste 17 e a região Sul apenas 3, todos aparecidos em Porto Alegre.

O caráter efêmero será o traço comum mais preponderante no conjunto, sendo a brevidade e o ocaso o destino da maioria dos títulos. Do total, de acordo com os dados disponíveis de início e término, a esmagadora maioria delas cessou na mesma década, sendo raros os títulos que ultrapassaram os cinco anos de circulação. A publicação das revistas dependia diretamente dos seus redatores, figuras de destaque no meio jurídico da época, que ocupavam cargos na política, na magistratura, atuavam no foro ou no ensino, não sendo jornalistas por profissão que a esses empreendimentos se dedicassem com exclusividade.

Havia mesmo casos de estudantes que fundaram revistas. Em muitas delas, os redatores eram donos das publicações e os únicos responsáveis por mantê-las. A sua ausência por algum motivo e até falecimento dos mesmos resultava, quase sempre, no encerramento dos títulos194. Poucas revistas podiam contar com o apoio de um organismo institucional – como o periódico objeto da presente pesquisa se apoiava no Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, primeira organização jurídica a ter uma revista própria – o que facilitava consideravelmente as possibilidades de subsistência.

Predominavam, sem paralelo, as revistas voltadas a publicizar jurisprudências, não à toa a maior parte dos títulos oscilava entre os termos: “dos tribunaes”; “judiciária”; “de jurisprudência; ou “forense”. Nesse sentido é útil a perspectiva de Angelo Lener, que defende a função cultural própria das revistas de jurisprudência, naturalmente sensíveis nas suas formas de expressão à temperis do momento histórico. Ao reafirmar seu valor cultural, insere a revista jurisprudência no território de “quem faz cultura” e questiona a classificação que injustificadamente (ou exclusivamente) privilegia as revistas de doutrina e sustenta, em positivo, que as revistas de jurisprudência participam à elaboração da cultura jurídica não com o mero registrar das decisões, mas com o “tratamento” da informação sobre a jurisprudência, na qual ele percebe uma espécie de passagem entre a “alta doutrina” e o “operador”195.

Sem uma defesa tão apaixonada, prefere-se entender esse caldo cultural como um período em que predomina a “ciência brasileira da experiência”196. Na prática profissional, onde

194 O Exemplo disso foi o Jornal Forense, Literário, Recreativo Noticioso, iniciado em 1861 e encerrado no ano

seguinte; a Chronica do Foro, iniciada em 1859, pouco tempo durou em consequência de seu redator ter-se ausentado para Portugal. Cf. SILVA, 2003, p. 266.

195 Cf LENER, Angelo. La cultura delle riviste di giurisprudenza. Foro (Il) italiano: raccolta génerale di

Giurisprudenza civile, commerciale, penale, amministrativa, v. 106, 1983. p. 270.

196 A expressão é uma adaptação da alcunha “scienza italiana dell’esperienza”, elaborada por Cristina Vano, para

se referir ao desenho científico e político italiano preunitário, alimentado pela experiência, sobretudo forense, extraindo dela elementos constitutivos essenciais à construção do novo Estado. Os juristas, nesse contexto, trocavam com naturalidade as vestes de advogado, professor, magistrado, do direito penal ao processo, do direito

pululam causas de todas as matérias, não sobra, evidentemente, muito espaço para divagações científicas ou especialismos, próprio de uma reflexão científica aprofundada e de um pensamento abstrato que busca dividir, no modelo cartesiano, o conhecimento em pequenos pedaços, que, na experiência prática, aparecem todos misturados. Tanto é que as revistas especializadas coincidem geralmente com aquelas universitárias ou acadêmicas. No Brasil da segunda metade do século XIX o professor era ao mesmo tempo o magistrado, o jornalista, o advogado, e não podia se dedicar somente a uma disciplina, mas a várias - em uma verdadeira poligrafia197 - até porque não abundavam profissionais e doutores em Direito para darem-se o privilégio de dividirem-se em grupos de matérias especializadas198.

Entrando em pormenores, o primeiro periódico jurídico brasileiro – a Gazeta dos

Tribunaes - foi criado em 1843, e já a partir de seu título deixa entrever o propósito primordial

para o qual fora concebido: dar publicidade aos julgamentos e atos da justiça. O mesmo padrão seguiram as revistas criadas nas décadas de 40 e 50: também tiveram duração efêmera – não superior a três anos, mais precisamente199 – e eram em sua maioria dedicadas a dar publicidade aos julgamentos e notícias dos tribunais200. Para desenhar este quadro, é útil a metáfora de Jean- Paul Barriére sobre as revistas profissionais francesas, em que as descreve como uma imensa

constitucional ao civil, exatamente como demanda a plural e complicada vida do foro. VANO, Cristina. Codificare, comparare, costruire la nazione. In: VANO, Cristina (Org.). Scienza del processo, cultura delle leggi e avvocatura

tra periferia e nazione. Napoli: Jovene, 2005.

197 Era traço característico dos intelectuais brasileiros do século XIX que cultivassem ao mesmo tempo o estudo

da literatura, do direito, da história, da geografia, exercessem atividades políticas, jurídicas, jornalísticas e ainda se articulassem entre os diversos veículos e suportes de informação disponíveis à época: “aos homens de letras tudo parecia interessar”. Cf. BEZZERRA, Carlos Eduardo de Oliveira. Adolfo Caminha: um polígrafo na literatura brasileira do século XIX (1885-1897). São Paulo: Editora Unesp, 2009. p. 33.

198 Referindo-se ao caso italiano, Angelo Lener, ao invocar Salvatore Lener, que por mais de quarenta anos

colaborou com a revista “Civiltà Cattolica”, chama essa postura de “giurista itinerante”, avaliada positivamente como indício de vitalidade e reciprocidade entre esses diferentes espaços de interlocução Cf. LENER, 1983.

199 O “mal dos sete números” – expressão clássica no meio jornalístico para se referir à vida efêmera das revistas,

em alusão ao “mal de sete dias”, como é conhecido na cultura popular o fulminante tétano - não afetava só os jornais, mas também as revistas. Um dado importante para pensar essa informação é o índice de analfabetismo. O primeiro recenseamento geral, publicado em 1874, informava uma população analfabeta de quase 84%. O ensino passa a se tornar então obrigatório a partir de abril de 1879. Foi num contexto de rarefeito público leitor, portanto, que surgiram as primeiras revistas brasileiras jurídicas. Cf. RECENSAMENTO DO BRAZIL EM 1872. Rio de Janeiro: Typ. G. Leuzing, 1974.

200 Com exceção das Revistas Acadêmicas criadas em Recife (1858) e São Paulo (1859), que eram publicações

criadas por estudantes nas faculdades de Direito, os demais periódicos dessas décadas elencados por Formiga seguirão o padrão da Gazeta de Aragão até no título: i) Nova Gazeta dos Tribunaes (Rio de Janeiro, 1848 – 1851); ii) Gazeta dos Tribunaes – Jornal de Jurisprudência e debates jurídicos (Rio de Janeiro, 1852); iii) Gazeta Judiciária – Jurisprudência e debates jurídicos (Rio de Janeiro, 1852-1854); iv) Revista dos Tribunaes (Rio de Janeiro, 1856- 1859); v) Gazeta forense – Jornal de Direito, jurisprudência e legislação (Rio de Janeiro, 1857); vi) Chronica do Foro – Revista de Jurisprudência e debates judiciais – Rio de Janeiro, 1861); vii) Gazeta Judiciária – Jornal Forense, Litterario, Recreativo e Noticioso (Rio de Janeiro, 1861-1863). Vale destacar que isso não significa que esses periódicos não trouxessem nenhuma discussão doutrinária ou debate científico relevante, apenas que a sua principal função, de fato, era publicizar atos do poder executivo e judiciário, desempenhando papel semelhante ao da Gazeta Official do Império, publicada a partir de 1846. FORMIGA, 2010, pp. 49-81.

constelação cheia de estrelas, de planetas e de cometas efêmeros, e que por sua necessariamente limitada influência, não teria despertado verdadeiramente a atenção dos contemporâneos, nem mesmo historiadores201.

A primeira revista jurídica a ampliar o escopo e fôlego da sua linha editorial aparece apenas em 1862: a Revista do Instituto da Ordem dos advogados brasileiros. Por certo, a revista nascia como expressão dos interesses e demandas dessa instituição, mas já não se tratava apenas de uma simples gazeta informativa com difusão local, voltada a dar publicidade à produção jurisprudencial das Cortes. Propunha-se, também, como sede de debates doutrinários envolvendo juristas de destacada atuação no cenário político e jurídico do Império. Por constituir o objeto da presente pesquisa, sobre ela o presente trabalho se concentrará nas próximas seções. Por ora, cumpre prosseguir com o esboço do quadro geral das revistas a ela contemporâneas.

Nas décadas seguintes, a tríade “doutrina, jurisprudência e legislação” – inaugurada pela estrutura editorial da Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros, substitui a alcunha “dos tribunais” ou “forense” dos periódicos anteriores e passa a integrar a maior parte dos títulos das novas revistas jurídicas que vinham sendo criadas, com especial destaque para três publicações que superaram a marca de uma década de existência e abrigaram importantes discussões jurídicas em seus fascículos: (i) Revista Jurídica - Doutrina, Jurisprudência e Bibliographia (São Paulo 1862; Rio de Janeiro 1863-1873); (ii) Gazeta Jurídica - Revista Semanal de Doutrina, Jurisprudência e Legislação. (Rio de Janeiro, 1874-1887); (iii) “O Direito”: Revista de Legislação, Doutrina e Jurisprudência (Rio de Janeiro, 1873-1913)202. Todas elas, entretanto, têm o condão de demonstrar o traço principal da “cultura das revistas” jurídicas brasileiras do século XIX: a vocação generalista e eclética dos temas publicados nas revistas de Direito. Não havia, em nenhuma delas, um recorte disciplinar definido, com a vinculação a determinada matéria. Isso é um reflexo da própria cultura jurídica203, em sentido

201 O texto me foi disponibilizado gentilmente pelo autor, via e-mail, em sua versão original, que sofreu apenas

ligeiras alterações em relação à versão publicada no seguinte endereço: BARRIÉRE, Jean-Paul. Un genre à part: “les revues juridiques professionnelles”. In: LEYMARIE, Michel; MOLLIER, Jean-Yves (Org.). La Belle Époque

des revues (1880-1914). Caen: Éditions de l’IMEC, 2002. p. 269-283.

202 Sobre esta Revista, em específico, remete-se novamente ao trabalho monográfico de Henrique Cesar Monteiro

Barahona Ramos, por se voltar especificamente a este periódico enquanto objeto e fonte de sua pesquisa. Para tanto, o autor investigou o contexto social, político e ideológico em que surgiu o periódico, valiosa contribuição para a historiografia das ideias jurídicas no Brasil do final dos oitocentos. Cf. RAMOS, 2004.

203 Compreende-se por “cultura jurídica” o sentido a ela atribuído por Pietro Costa ao pensar a categoria para a

juspublicística italiana: “Quando parliamo di cultura giuridica, presupponiamo in primo luogo l’esistenza, per il

contesto storico-sociale preso in considerazione, di una cultura come tale, di una cultura come fenomeno complessivo, rispetto alla quale la cultura giuridica si ponga come parte; in secondo luogo, e di conseguenza, riteniamo di poter riconoscere un insieme di elementi che individuano come specificamente giuridica una sezione o una modalità della cultura globalmente considerata; in terzo luogo, siamo indotti a riferire la cultura giuridica

mais amplo, dos juristas da época, que se dedicavam ao estudo de disciplinas diversas e não se restringiam, necessariamente, em seus escritos, a uma matéria específica. Esse raciocínio se aplica também perfeitamente à Revista do IAB, objeto da presente pesquisa, sede de debates doutrinários de seus sócios sobre os mais variados temas.

Na década de 90, com a mudança da forma de Governo promovida pela proclamação da República, os periódicos jurídicos passam a assumir nova face e sofrem profundas transformações. Conforme aponta Mariana de Moraes Silveira204, a virada do oitocentos para o novecentos presenciou uma forte expansão desse setor especializado da imprensa no país. Isso pode ser explicado não só pela oxigenação de ideias e necessidade de reorganização de instituições que a mudança de regime acarreta, acompanhada pelas tentativas de adequação da legislação nacional à nova situação política, bem como pelos novos modos de pensar o direito que passaram a circular a partir de então.

O que mais chama atenção é a proliferação, a partir desse período, de revistas acadêmicas, vinculadas às Faculdades de Direito. Isso se explica pelo “impulso oficial” dado pela Reforma de Benjamin Constant205, que, além de estabelecer a liberdade de criação de faculdades de Direito (seja por livre iniciativa particular, seja por iniciativa de governo de algum estado), também estabeleceu que essas instituições de ensino superior tivessem um veículo de circulação de conhecimento científico: as revistas acadêmicas. Coube, assim, a cada uma das faculdades de Direito206 criar uma revista especializada, voltada a publicar textos

a una classe di soggetti, contraddistinti da un ruolo sociale e professionale specifico, i giuristi, che ne siano, in qualche modo (come autori, come destinatari, come fruitori), protagonisti”. COSTA, Pietro. La giuspubblicistica

dell’Italia unita: il paradigma disciplinare. In: SCHIAVONE, Aldo (org.). Stato e cultura giuridica in

Italia dall'Unità alla Repubblica. Roma: Laterza, 1990. p. 89.

204 SILVEIRA, 2014, p. 102.

205 A Reforma foi concebida no âmbito do Governo Provisório estabelecido logo após a proclamação da República,

ainda liderada pelo Marechal Deodoro da Fonseca. O novo Regulamento é conhecido como “Reforma Benjamin Constant” por ter sido assinado pelo General de brigada Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Ministro e Secretario de Estados dos Negocios da Instruccção Publica, Correios e Telegraphos. No Capítulo IX – Da Revista, fica determinada que: “Art. 207. Será creada em cada uma das Faculdades uma Revista Academica. Esta Revista será Esta Revista será redigida por uma commissão de cinco lentes, nomeada pela congregação na primeira sessão de cada anno. Art. 208. A Revista se imprimirá em oitavo francez, com o numero de paginas sufficientes para formar no fim de cada anno um volume de 600 paginas pelo menos”. O regulamento na íntegra pode ser conferido em: BRASIL. Decreto n. 1.232-H, de 2 de janeiro de 1891. Approva o regulamento das Instituições de Ensino Jurídico, dependentes do Ministério da Instrucção Pública. Collecção das Leis do Imperio do Brazil. Poder Executivo: Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1891.

206 Do rol de periódicos levantado por Armando Soares de Castro Formiga (2010), seis revistas foram criadas

imediatamente após a edição da lei, quais sejam: (i) Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife (Recife, 1891); (ii) Revista da Faculdade Livre de Direito da Bahia (Salvador, 1892); (iii) Revista Acadêmica da Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 1892); (iv) Revista da Faculdade de Direito de São Paulo (São Paulo, 1893); (v) Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Gerais (Ouro Preto, 1894); e (vi) Revista da Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 1899).

técnicos e científicos dos membros da sua “Congregação”207 como meio de difusão cultural e fortalecimento institucional. Apesar de representarem grande impulso para a história dos periódicos jurídicos brasileiros, não avançaremos na discussão acerca dessas publicações uma vez que o propósito desta seção é meramente inventariante, com foco, em especial, nas revistas jurídicas do período imperial, dentre as quais destacamos alguns exemplares pela sua importância significativa à cultura das revistas jurídicas brasileiras do século XIX.

2.3.3.1 Gazeta dos Tribunaes (Rio de Janeiro, 1843-1846)

Diferentemente dos demais periódicos selecionados para um olhar mais demorado na presente seção, esta revista não se destaca pela longevidade ou variedade de conteúdos publicados, mas sua importância reside, não de modo secundário, em seu pioneirismo. O primeiro periódico exclusivamente jurídico do Brasil foi impresso em 10 de janeiro de 1843, como resultado de uma colaboração entre o seu editor-proprietário Francisco de Paula Brito208 e o conselheiro Francisco Alberto Teixeira de Aragão, ministro do Supremo Tribunal de Justiça209.

Mesmo que a revista contasse com outros esporádicos colaboradores, Aragão foi o principal copartícipe do empreendimento, como atesta a sua carta-aceite publicada na primeira edição, onde anunciava publicamente seu compromisso de colaborar com o periódico210. Dispôs-se a fornecer as anotações de julgados que, na qualidade de membro do Supremo Tribunal de Justiça desde sua instalação em 1839, ele colecionara para registrar todas as

207 Conforme o Regulamento aprovado em 1891, congregação designava o conselho de lentes (professores) de

cada faculdade, fossem eles “cathedraticos” ou substitutos. Para mais informações, cf. Capítulo V – Dos lentes. BRASIL, 1891.

208 Entre 1835 e 1851 foram impressos aproximadamente 28 jornais na Typographia Imparcial de Paula Brito. A

Tipografia imprimiu folhas políticas, mas também se destacou pela impressão de jornais católicos, literários e sobretudo científicos. Entre esses últimos, insere-se a proposta da Gazeta e a impressão de diversos jornais ligados à medicina. Além disso, muitas teses de bacharéis em medicina, obrigatórias para obtenção do título, foram impressos na tipografia. Cf. GODOI, 2016, pp. 125-128. Todavia, vale destacar que na Gazeta Paula Brito não cumpria apenas o papel de impressor, mas era também o editor-propritário, responsabilidade por ele mesmo declarada na edição de fechamento do periódico, ao assinar o artigo final. Cf. GAZETA DOS TRIBUNAES. Rio de Janeiro, v. 4, n. 379, p. 1-8, 29 dez. 1846. p. 8.

209 Nascido em Lisboa em 1788, faleceu no Rio de Janeiro em 15 de junho de 1847. Formou-se em Direito pela

universidade de Coimbra em 1813 e ainda em Portugal iniciou sua carreira na Magistratura. Quatro anos após chegar ao Brasil – tendo ocupado o cargo de Intendente-Geral da Polícia e Desembargador do Tribunal da Relação, foi nomeado Ministro da Justiça, em 1829. Para além da idelização da Gazeta dos Tribunaes, sua colaboração com a fundação do IAB rendeu-lhe o título de presidente honorário do Instituto. Faleceu em 10 de junho de 1847, no Rio de Janeiro. Cf. BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brazileiro. v. 2. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1893. pp. 385-386; e LAGO, Laurenio. Suprimo Tribunal de Justiça e Supremo

Tribunal Federal. Dados biográficos (1828-2001). Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2001. p. 30-32.

decisões e expedientes do tribunal. O periódico esteve tão dependente de sua colaboração que a sua ausência, inclusive, foi apontada como uma das causas pelos redatores para seu