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3 As mudanças do cenário intelectual

3.1 O debate sobre a pós-modernidade

“O que torna a nossa época interessante é, obviamente, o número de

contradições espantosas e paradoxos trágicos com que nos defrontamos a todo o momento, criando problemas que sobrecarregam as nossas capacidades humanas de compreensão e libertando forças tais que nos fazem perder a confiança na possibilidade de controlo.” Lewis Mumford301

Antes de avançar para os elementos que constituem e que caracterizam o debate sobre a pós-modernidade, e sobre os quais serão construídas as linhas narrativas e críticas deste trabalho, importa reconhecer o cenário no qual esta ocorreu e, já agora, alguns dos seus protagonistas. Este reconhecimento torna-se necessário uma vez que o debate sobre a pós-modernidade interessa, no contexto deste trabalho, maioritariamente enquanto espaço de análise e de reflexão onde poderão encontrar-se, justamente, distribuídas pelos vários autores e pelos diferentes âmbitos disciplinares, as linhas de leitura crítica que permitem uma maior e melhor compreensão da contemporaneidade. Uma contemporaneidade que, como já foi afirmado, pode ser lida segundo uma grelha analítica oriunda do seu passado mais próximo. Nomeadamente, na obra dos autores que souberam interpretar as alterações em acto e que se encontram reunidos através do pressuposto teórico de que, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, como já foi exposto, se assistiu a uma crise das linhas intelectuais sobre as quais se tinha edificado, e fortificado, a ideia de modernidade. Uma crise que foi provocada, em alguns casos, pela exasperação desviante de algumas suas características próprias, e, noutros casos, por uma verdadeira inversão de tendência. Apesar de existir um conjunto de elementos de análise que são partilhados por múltiplas leituras filosóficas, os posicionamentos teóricos e ideológicos, que destas surgem, percorrem caminhos distintos e chegam, frequentemente, a conclusões ou recomendações, por vezes, opostas. Por outras palavras, como bem resumiu Leonardo Benevolo, após “um prolongado período de desenvolvimento em

301

condições estáveis e de sólidas convicções intelectuais”302, uma sucessão de

eventos de várias amplitudes, começou um “período de oscilações, de riscos e de

reconsiderações”303 que se instalou e que marca, desde então, a

contemporaneidade.

Um dos autores mais influentes no âmbito do debate sobre a pós- modernidade foi, e continua a ser, o filósofo francês Jean-Fançois Lyotard. Lyotard descreveu, no seu célebre livro A condição pós-moderna304 (cujo subtítulo

é, na edição original, “rapport sur le savoir”), a profunda crise teórica da sociedade informatizada a qual determinou um novo “estado da cultura após as

transformações que afectaram as regras do jogo da ciência, da literatura e das artes a partir do fim do século XIX”305. Lyotard retrata a ruptura de uma época

pós-moderna em relação a uma outra, que lhe é anterior, que o autor apelida de moderna. A pós-modernidade apresenta-se como uma nova forma de relacionamento do sujeito com o conhecimento, com o mundo e com a arte. As incursões filosóficas do texto afundam nas obras de Kant, de Hegel, de Nietzsche, de Wittgenstein, entre outros, na procura dos elementos analíticos e críticos que, segundo o autor, estiveram na origem de um processo que levou ao

“desencanto”306 pela “narrativa das Luzes, onde o herói do saber trabalhava

para uma boa finalidade ético-política, a paz universal”307. Trata-se, ainda

segundo o filósofo francês, de um conjunto de transformações causadas pelas tecnologias digitais, que afectaram definitivamente tanto o estatuto como o funcionamento do próprio conhecimento. As formas de legitimação da modernidade, que o autor descreve como fortemente relacionadas com as meta-

narrativas, e que se encontravam, de forma geral, confluentes, enfraqueceram,

302

BENEVOLO, Leonardo. 1985. O último capítulo da Arquitectura Moderna. Lisboa: Edições 70. p 133.

303 Idem. 304

LYOTARD, Jean-François (1979). A condição pós-moderna. Lisboa: Gradiva, 2003. 305 Idem, p. 11. 306 Idem, p. 13. 307 Idem, p. 12.

deixando lugar para os “muitos jogos de linguagem diferentes”308 que tiveram,

como resultado mais importante, o reconhecimento de uma impossibilidade, por parte do sujeito, em perseguir e encontrar uma verdade absoluta. Logo, assistiu-se a uma abertura para um estado de heterogeneidade ontológica, de complexidade onde a predominância de um determinismo local já não permite uma existência universal do saber. O filósofo italiano Gianni Vattimo, outro autor fortemente empenhado neste debate, ao descever a obra de Lyotard escreve que “segundo

Lyotard a legitimação só pode acontecer através de formas de consenso local, poderíamos dizer de contos de alcance limitado, onde grupos e sociedade, em determinados momentos, convergem”309

. Portanto, legitimações unicamente baseadas em partilhas feitas por comunidades interpretativas310 caracterizadas por

um elevado grau de contingência e contiguidade histórica ou geográfica, mas também por uma contingência de proximidade semântica permitida pela homogeneização do conhecimento. Partindo deste pressuposto, Lyotard não parece, diferentemente de outros autores, tomar partido diante das alterações no âmbito do saber, pois ele limita-se a constatar a necessidade de uma nova sensibilidade para as diferenças e para o incomensurável.

A obra de Lyotard, apesar de ter encontrado amplas críticas e contrapontos filosóficos311

, representou, sem dúvida, o incipit do debate. Como afirma José A. Bragança de Miranda, na introdução à edição portuguesa do livro, este “é uma

peça essencial do debate sobre os avatares do nosso projecto da modernidade”312.

308

Idem, p. 12. 309

VATTIMO, Gianni. 2002. Tecnica ed esistenza. Una mappa filosofica del Novecento. Milano: Bruno Mondadori. p. 65.

310

HARVEY, David (1989). La crisi della modernità. Riflessioni sulle origini del presente. Milano: Il Saggiatore, 2002.

311

Uma das críticas mais repetidas à obra de Lyotard é, justamente, que este teve necessariamente que construir uma narrativa baseada e suportada em meta-narrativas para defender a sua posição. Nas palavras de Vattimo, “também Lyotad, para explicar que estas (meta-narrativas ndr.) já não

possuem valor, tem que contar uma história (assim o estalinismo que desmente o marxismo; ou o desenvolvimento da ciência que desmente a esperança do seu valor de emancipação). Ele recorre, ainda, a uma legitimação narrativa”. Em VATTIMO, Gianni. 2002. Tecnica ed esistenza. Una mappa filosofica del Novecento. Milano: Bruno Mondadori, p. 65.

312

MIRANDA, José A. Bragança de. 2003. Introdução ao livro: LYOTARD, Jean-François (1979). A condição pós-moderna. Lisboa: Gradiva, 2003, p. 8.

Outros autores participaram, e ainda participam, no debate. Todos eles concordam com a presença de uma profunda alteração em relação a algo que existia anteriormente, algo que uns definem como modernidade, considerando o advento da pós-modernidade como algo que se lhe seguiu, ou que se destacou, ou ainda que se sobrepôs à modernidade. Concordam, também, mesmo que isto aconteça de forma muitas vezes implícita, com o princípio de Lyotard acerca do fim das metas-narrativas, ao acusar, de forma geral, uma dissolução da lógica moderna considerada como super-estrutura de pensamento e de legitimação. As principais diferenças encontram-se nas formas que as várias leituras históricas adoptam; como escreve David Harvey, “a escolha de uma ou de outra posição

depende da forma através da qual explicamos o «lado escuro» da nossa história recente”313. Com base nesse princípio de pensamento foram construídas diferentes

estruturas retóricas com o objectivo de fornecer uma compensação teórica que visava preencher a existência de um vazio, de algo que consideravam como irremediavelmente perdido.

Gianni Vattimo, em 1983, participa activamente no debate com a publicação da sua obra Il pensiero debole314. Neste, Vattimo admite uma alteração na base de

uma nova condição do saber, mas avança para “uma consideração dessa condição

como possibilidade e chance positiva”315 ou ainda, com a frase de fecho do seu

livro Il fine della modernità: “a chance de um novo, fracamente novo, começo”316.

A sua noção de “pensiero debole”, em contraposição à de um “pensiero forte”, que caracterizou a modernidade, defende um posicionamento intelectual face à fragmentação pós-moderna que representa uma nova condição existencial. A constatação de que não existe a possibilidade, por parte do pensamento, de chegar de forma definitiva e absoluta a uma verdade estável, leva o autor a defender que a procura da verdade absoluta deve deixar o lugar para a tomada de consciência de

313

HARVEY, David (1989). La crisi della modernità. Riflessioni sulle origini del presente. Milano: Il Saggiatore, 2002, p. 27 – tradução livre.

314

VATTIMO, Gianni. 1983. Il pensiero debole. Milano: Feltrinelli. 315

VATTIMO, Gianni. (1985). O fim da modernidade. Lisboa: Editorial Presença, 1987, p. 15. 316

que esta não existe e, consequentemente, o desenvolvimento de um pensamento que permita, nas suas rotinas de legitimação e nas suas conclusões denotativas ou propositivas, a existência de uma pluralidade de verdades, sempre relativas.

Segundo Vattimo, a pós-modernidade não representa uma ultrapassagem ou um derradeiro afastamento da modernidade. Ele não defende um posicionamento necessariamente contrário ou revolucionário diante desta, uma vez que isto implicaria, necessariamente, a substituição de uma procura de universalidade por outra igualmente abrangente e poderosa. Ao contrário, ele defende a necessidade de uma tomada de consciência, de compreensão da historicidade do sujeito e do seu percurso filosófico. Uma compreensão fundada numa filosofia hermenêutica que consiga libertar-se e emancipar-se dos vínculos morais, ideológicos e religiosos da modernidade e acolher, suportar e compreender a multiplicação das diferenças e das linguagens que “permite fugir ao risco de homologação, de

uniformização e de totalização”317, inserida num processo, inevitável e

irreversível, de secularização.

O conceito de pensiero debole em Vattimo, fundado numa “passagem de

estruturas fortes para estruturas débeis”318, encontra uma relação filosófica e

semiótica em vários outros autores. Um destes é Zygmunt Bauman319 que defende

a ideia de uma modernidade líquida320 presente em muitas das suas obras e já

317

CHIURAZZI, Gaetano. 2002. Il postmoderno. Milano: Bruno Mondadori, p. 44 – tradução livre.

318

VATTIMO, Gianni. 2002. Tecnica ed esistenza. Una mappa filosofica del Novecento. Milano: Bruno Mondadori, p. 66 – tradução livre.

319

A tese de Bauman encontra-se, também, nas palavras de Ezio Manzini no âmbito do Design Industrial: “Il design é nato in un mondo che si diceva solido. Solidi erano i prodotti (...) le

imprese erano percepite come organizzazioni stabili; avevano una loro definizione, il loro organigramma, la loro struttura. E dietro a tutto questo c’era tutto un mondo di cose solide, la descrizione generale del mondo nella cultura occidentale era fatta parlando di cose. Ciò che produceva senso, che costituiva un riferimento era “la roba” – la terra, la casa, le cose che hai avuto in dote e che tramandi. (...) Il design é nato dentro questo mondo e si é creato tutto un sistema di strumenti concettuali e operativi per agire nelle tre dimensioni dello spazio, dando forma a dei materiali. (...) questo mondo di solidità si sta sciogliendo.” MANZINI, Ezio. 2006. “Il

design in un mondo fluido” em HOGER, Hans, a cura de. 2006. Design education. Milano: Editrice Abitare Segesta, p. 151-155.

320

abordado, no âmbito da teoria da Arquitectura, por Solá-Morales321. O sociólogo

polaco fala em liquidez como estado de dissolução progressiva da solidez oferecida pela modernidade. Uma tese extraordinariamente parecida com a que Marshall Berman elabora no seu livro Tudo o que é sólido se dissolve no ar322, de

1982, quando desvenda a constante duplicidade e dialéctica da modernidade, descrita também por Walter Benjamin323, entre uma ideia de progresso associada a

uma necessária autodestruição. Duplicidade de elementos sólidos destinados à dissolução num contínuo processo de renovação, aparentemente infinito, cuja leitura permite uma problematização da imagem totalizadora e, sobretudo, monocromática da modernidade. Berman, partindo do fascínio que a palavra

moderno teve ao longo da sua própria vida, percorre aquela que chama aventura da modernidade desenvolvendo caminhos analíticos em várias direcções e escalas

temporais com o objectivo de, utilizando as palavras do autor, ajudar a compreender as contradições da vida moderna “para que possamos ser claros e

honestos ao avaliar e enfrentar as forças que nos fazem ser o que somos”324.

O infinitamente recorrente renovamento necessário à modernidade apresentado por Berman é inevitável, também, segundo Gilles Lipovetsky, para uma actualidade que o filósofo francês define como era do vazio325. Uma era do

vazio, a actualidade, onde o sujeito se mantém num estado de felicidade

paradoxal326 alimentado pela sociedade do hiperconsumo que, segundo o autor, se

alimenta nos cada vez mais curtos e efémeros ciclos comerciais (que, segundo uma visão próxima à de Benjamin, estavam, justamente, suportados pela efemeridade da acção do progresso e da construção no contexto da modernidade). Uma felicidade baseada numa cultura que, segundo Fredric Jameson, pode ser

321

SOLÀ-MORALES, Ignasi de. "Arquitectura líquida". DC. Revista de crítica arquitectónica, 2001, num. 5-6.

322

BERMAN, Marshall (1982). Tudo o que é sólido se dissolve no ar. A aventura da

modernidade. Lisboa: Edições 70, 1989.

323

BENJAMIN, Walter. 2007. A modernidade. Lisboa: Assírio & Alvim. 324

Idem, p. 14. 325

LYPOVETSKY, Gilles. 1989. A era do vazio. Lisboa: Relógio d’Água. 326

definida como tardo-capitalista327. Jameson, autor de declarada formação

marxista, defende que a ordem económica fornece as únicas ferramentas de legitimação diante da esfera cultural suportada unicamente pelos mass-media. Uma cultura que, desta forma, se torna dependente das dinâmicas do capital e do mercado. Toda a cultura se transforma em imagem através de uma definitiva abolição da distância crítica necessária à produção cultural: a característica crítica e intelectual dominante no pós-moderno é, desta forma, a ausência de profundidade, a superficialidade328. A perda da distância crítica implica, ainda

segundo Jameson, uma perda das qualidades do pensamento e um consequente esbatimento do sentido da realidade em favor de uma sua constante virtualização. Neste sentido, a arte pós-moderna é arte fragmentada e superficial, baseada numa relação com a história puramente estética, caracterizada por uma descontextualização e pulverização que criam um estado de desnorteamento do sujeito diante dela. O happening (forma de arte centrada num acontecimento em detrimento do próprio objecto produzido), a instalação (manifestação efémera por definição), como fenómenos transitórios, rápidos, social e geograficamente limitados e contextualizados, são umas das formas encontradas para a arte entrar em contacto com o indivíduo, numa narrativa feita por fragmentos que, como afirma David Harvey, denota uma esquizofrenia intelectual. No seu livro The

Condition of Postmodernity329, após ter feito uma análise das alterações, nos

âmbitos cultural, político e económico e espaço-temporal que a pós-modernidade introduziu, Harvey traça um mapa de referência para a sua compreensão com base nas alterações tanto culturais como sócio-económicas. Adoptando as teorias de Jacques Lacan, Harvey reconhece, no cenário pós-moderno, um distúrbio de linguagem que se manifesta, diferentemente do que tinha acontecido ao longo da

327

JAMESON, Fredric. 1991. Postmodernism, or the cultural logic of the late capitalism. London: Verso, p. 20.

328

É interessante constatar, neste contexto, que os próprios livros que, no âmbito da Arquitectura, enfrentam o debate pós-moderno, o fazem através da compulsiva apresentação de fotografias em detrimento de plantas, cortes e alçados. Exemplos disso encontram-se nos textos de Charles Jencks, verdadeiro paladino da pós-modernidade em Arquitectura, onde o texto é auxiliado por uma grande quantidade de imagens.

329

HARVEY, David (1989). La crisi della modernità. Riflessioni sulle origini del presente. Milano: Il Saggiatore, 2002.

modernidade, na incapacidade de manter uma linha coerente de pensamento e de expressão. A continuidade deixa o lugar a uma pulverização de uma série infinita de pequenas cadeias, aparentemente insignificantes, de frases, de imagens ou, ainda, de objectos.

Finalmente, entre os muitos posicionamentos, um dos intelectualmente mais sólidos (pelo menos no que respeita às referências filosóficas e à organização discursiva), e por isso mais compulsivamente referenciado no debate, é o do filósofo alemão Jürgen Habermas330

. Admitindo a existência de uma dobra teórica mas sem com isso aceitar o posicionamento irreversível e ideologicamente neutral de Lyotard, Habermas respondeu com a necessidade de retomar um projecto

moderno que, segundo o autor, ficou inacabado sobretudo no que respeita ao seu

ideal iluminista de emancipação e de procura de universalidade não fragmentada ou especializada como a que introduziu a sociedade industrial331. O pós-moderno

seria, segundo Habermas, uma vontade de abdicar deste projecto manifestando um posicionamento neoconservador. Segundo o autor, abdicar do projecto moderno significa, por outras palavras, aceitar uma condição existencial em detrimento de uma emancipação que a modernidade, mesmo quando assumiu comportamentos desviantes, procurava alcançar. Significa desviar a atenção dos processos sociais, políticos e culturais fundamentais, ofuscados por uma cultura na qual domina a vertente estática. Portanto, a pós-modernidade não seria o resultado de uma degeneração da própria modernidade ou da tomada de consciência dos seus limites, mas, pelo contrário, uma tentativa de ocultar o projecto moderno com o fim de esconder a condição de alienação e de contradição da contemporaneidade. A modernidade, segundo Habermas, apesar de ter embatido no erro de se perder nos meandros da especialização, perdendo demasiadas vezes de vista os princípios inspiradores do seu projecto de emancipação, não parece encontrar na

330

HABERMAS, Jürgen (1985). Il discorso filosofico della modernità. Dodici lezioni. Bari: Laterza Edizioni, 2003.

331

HABERMAS, Jürgen. 1991. Modernity – An Incomplete project. Em: FOSTER, Hal, ed by. 1991. The anti-aesthetic, essay on postmodern culture. Seattle: Bay Press, p. 3-15.

fragmentação teórica abrigada pela pós-modernidade um inimigo suficientemente forte para se encontrar em perigo de definitiva dissolução.

Apresentando alguns dos autores que participaram no debate sobre um conjunto de aspectos que, tradicionalmente, foram reunidos pelo conceito de pós- modernidade, demonstra-se que existiram muitos posicionamentos heterogéneos que, contudo e como já foi afirmado, partilham um Zeitgeist que pode ser encontrado numa ideia comum baseada num paradigma de mudança. Com base nesses pressupostos, é possível afirmar que a pós-modernidade, considerada no sentido mais lato da expressão, representa um momento teórico de elevadíssima intensidade ao longo do qual não só foram problematizados os princípios subjacentes à modernidade, como foram detectadas, registadas e analisadas, as directrizes teóricas que acompanharam, e ainda acompanham, as décadas sucessivas. Neste sentido, a pós-modernidade interessa mais como espaço crítico do que como momento histórico. Não se quer defender aqui um posicionamento que considera a actualidade como época ainda rotulável de pós-moderna, quer-se antes ultrapassar esta querelle, cujos resultados não parecem ser pertinentes para o presente trabalho, e avançar para um estudo da mesma através da constatação de que houve um determinado momento histórico ao longo do qual foi registado, de forma colectiva, um conjunto de mudanças no seio das condutas intelectuais, ligadas não unicamente ao projecto de Arquitectura mas também, e sobretudo, à produção, legitimação e transmissão do conhecimento. A pós-modernidade, neste sentido, teve a função, que ainda mantém de um ponto de vista historiográfico, de pausa reflexiva sobre a condição humana em todos os seus aspectos filosóficos. Em poucos anos foram produzidas inúmeras obras, cada uma no seu âmbito, procurando problematizar tanto os aspectos teóricos como as rotinas materiais do pensar e do fazer humano. Os seus efeitos não só galgaram os limites disciplinares como se estenderam ao longo do tempo, manifestando um aumento de amplitude cujos rastos permanecem visíveis e fortemente activos na actualidade.