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6.5. Percepções nos Debates “Júri Simulado”

6.5.1. Debatendo se a Terra é plana ou esférica?

O debate foi proposto na atividade 6 como descrevemos na seção 5.1.2. Este debate ocorreu com dois grandes grupos, com 9 professores em cada, em que um defendeu a forma plana e outro a forma esférica. O Júri avaliador foi composto por 4 professores que se dispuseram a integrar o mesmo.

Inicialmente o Júri apresentou as regras do debate, explicitando como deveria ser a apresentação dos argumentos e contra argumentos, além do tempo aproximado destinado a ambos. Foram também apresentados os critérios para a avaliação dos argumentos, como a clareza na exposição do argumento, o respeito ao grupo adversário, o uso de conceitos cotidianos e a consideração do contexto da época, sendo o escolhido na antiguidade, dentre outros.

O Júri propôs que o grupo que iniciasse o debate fosse aquele que defenderia a Terra plana, devido à ideia de Terra plana ter precedido a ideia de Terra esférica. Foi sugerido também que os grupos apresentassem primeiramente sua postura e seus argumentos centrais, num tempo de aproximadamente 5 minutos.

Ao iniciar o debate, o grupo da Terra plana expôs a ideia central, se apoiando na constatação do formato plano obtido com a observação primeira e cotidiana de nosso planeta:

Professor 17: “Bom, eu sou uma pessoa certo, estou aqui na Terra plana, certo? Então o que acontece: eu vejo na minha frente uma Terra e vocês. Aqui também, árvores que está do outro lado e vocês, e assim em diante. Tudo no mesmo plano...”.

O primeiro argumento apresentado no debate pelo grupo da Terra plana foi o argumento baseado no mito da Terra plana. Nesse argumento, dois professores defendiam a Terra ser plana em função da história dos navegantes que viajaram em alto mar e não retornaram para sua morada:

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Professor 6: “O meu pai conta, que conheceu meu avô, que tinha um amigo que comprou uma caravela juntou alguns marujos e seguiram mar a dentro e nunca mais eles foram vistos...”.

Professor 5: “Eu também ouvi uma história dessa situação, de navios que foram mar adentro e que não voltaram mais, as pessoas dizem várias coisas sobre isso, mas talvez eles caíram no abismo da Terra...”.

O grupo da Terra esférica contra argumentou o mito da Terra plana, dizendo já saber nesta época que a Terra era esférica, o que foi provado com a circunavegação (volta em uma viagem marítima ao redor da Terra como um todo). E ainda, afirmaram que houve outros navegantes na história que retornaram ao seu local de origem. Este argumento também foi apresentado como uma história que os mais antigos enunciaram:

Professor 7: “Pensando nisso, nas grandes navegações, o mundo não acaba ali numa figura plana né, ele não tem um limite, ele continua... esse camarada não voltou para contar pra gente se acaba ali ou não. Além disso, a gente tem noções das circunavegações de que a Terra é redonda, quer dizer fizeram uma volta completa, e voltaram pra contar a história pra gente, de que não tinha fim”.

Professor 4: “... mas meu pai conta que um grande navegador na época dele, que se chama Fernão de Magalhães, infelizmente ele não voltou, mas ele encontrou no caminho dele várias terras novas... no entanto, alguns tripulantes que foram junto com ele voltaram e contaram essa história. Então ele conseguiu, ele foi adiante, não caiu no final da Terra, então significa realmente que ele conseguiu dar a volta e retornou”.

Este grupo também apresentou um novo argumento para justificar que a Terra é esférica, usando a ideia de atração gravitacional como causa da forma esférica a atração, em que a atração simétrica dos graves origina a formação dos demais astros, também esféricos:

Professor 7: “Também a gente pode contra argumentar no sentido da existência de uma força, chamada força da gravidade, e que ela promove uma interação entre os corpos, e convergem tudo para o mesmo ponto, no centro. E dessa maneira foram formados os planetas e outros astros, tendo uma forma arredondada. É isso que a gente pode concluir a princípio... Como vocês poderiam explicar a Terra plana dessa maneira? E essa força existe, é o que nos mantém em pé... ela parece ser invisível pra gente, mas eu pensei que ela existe, de alguma maneira né. Por que que as coisas caem?”.

O grupo que defendia a noção de Terra esférica, por sua vez, apresentou o argumento de que já eram notadas pelos navegantes que as estrelas e constelações observadas em uma região da Terra não eram as mesmas observadas em outra localização, considerando a observação em um mesmo mês:

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Professor 4: “Porque segundo o meu pai, esses navegadores quando eles foram viajar, eles navegando no mar eles perceberam que olhando para o céu, o nosso grande guia, algumas estrelas simplesmente desapareceram e surgiram outras novas. Então se realmente a Terra é plana é impossível então você não ter essa visão geral de todas as estrelas. Deve existir realmente alguma mudança no céu ou no formato da Terra para que realmente essas estrelas realmente desapareçam e outras apareçam”.

O grupo da Terra plana contra argumentou a ideia de gravidade apresentando a explicação de Aristóteles para a queda dos corpos, devido a sua tendência em ocupar o seu lugar natural no Universo:

Professor 18: “... Voltando na história, segundo Aristóteles (eu acho que até a época de Galileu)... também não existe gravidade... o lugar próprio dos corpos é no chão... você não vai querer contradizer a teoria de Aristóteles, só porque seu avô contou para você...”.

Ainda, o mesmo grupo contra argumentou o porquê observamos distintas estrelas e constelações em diferentes lugares da Terra, explicando essa observação com o referencial na Terra e considerando uma possível variação do ângulo de visão do observador, de acordo com o local em que está sendo observado:

Professor 18: “E as estrelas elas estão ai por quê? Deus fez né, então elas estão lá, bonitas né, estrelas fixas por sinal. E conforme a gente vai andando a gente vai observando outras, porque o nosso ângulo de visão acompanha o que a gente consegue enxergar, o que está muito longe a gente não consegue ver, por mais que estamos vendo outras coisas, elas estão paradas, por isso são fixas...”.

O argumento da observação de um navio horizonte do mar também foi apresentado pelo grupo da Terra esférica, que explicou corretamente a observação de partes do navio na medida em que ele se aproxima do observador, o que se deve ao formato da Terra:

Professor 3: “... E outra coisa também: por que quando eu estou lá na praia eu observo as caravelas indo, e eu vejo primeiro o mastro e aos poucos eu consigo ver vindo, e formando a figura da embarcação, coisa que se fosse algo plano deveria ver ele de uma vez né...”.

O grupo da Terra plana contra argumentou este último afirmando ser uma limitação de nossa visão, que promove a variação da observação de parte do objeto, em razão de estar muito distante, se tratando de uma questão de nitidez da imagem:

Professor 15: “... E complementando o que a colega disse, quando a gente vê uma pessoa lá longe, caminhando em nossa direção, nós a vemos muito pequena e estando numa trajetória reta mesmo, uma evidencia de que nós estamos no plano e não numa esfera, numa forma redonda... pode ser notar que quando os barcos vem eles estão muito pequenos lá longe e depois vão se aproximando e a gente tem uma visão mais nítida né, de sua posição...”.

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Complementando o argumento acima, o grupo da Terra plana esclareceu que embora a Terra pudesse ser redonda, isso não significa que ela é esférica, explicitando que ela poderia ser plana e circular, como um grande disco:

Professor 14: “A primeira questão lá que foi colocada é que vocês sempre estão falando do redondo, e que o redondo é diferente de esférico né, redondo pode ser plano, então a gente tem que tomar cuidado ai com essa colocação... é vocês estão falando redondo o tempo todo, mas tem redondo que é plano e o esférico que é o 3D... Mas eu volto a falar, quando a gente tiver uma figura oval, redonda, isso não quer dizer que você vê uma esfera, ela pode ser circular e plana”.

Por fim, o grupo defensor da ideia de uma Terra esférica solicitou maiores explicações para o argumento da observação de diferentes sombras de um mesmo objeto visualizado em distintos lugares da Terra, o que confirmaria o formato esférico de nosso planeta:

Professor 7: “... Mas vocês também não construíram um argumento sólido que explicasse a argumentação do colega aqui, em relação à sombra da Terra em diferentes pontos do planeta...”.

O grupo da Terra plana, por sua vez, contestou-os dizendo não ser um argumento plausível, pois deveriam ser medidas duas sombras em localizações distintas da Terra no mesmo horário, o que era impossível de se determinar simultaneamente. Ele argumenta que não havia alguma maneira de provar que se tratava do mesmo horário de medição em função do horário ser medido com o Sol, o que impossibilitaria a medida de sombras distintas:

Professor 18: “Bom, em relação à sombra, nosso amigo ai falou que alguém saiu de um lugar, marcou a sombra de uma estaca, deixou a estaca, andou 500 kilômetros, chegou no outro lugar, no mesmo horário e mediu a outra sei sombra, sei lá, no mesmo horário de outro tempo. A questão é a seguinte: como é que eles sabem que era o mesmo horário? Tinha relógio digital? Ah, ele usou o Sol? Como é que ele pode medir a hora do Sol para medir a sombra que o Sol projeta? Não dá... então este negócio está muito mal contado...”.