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Decreto n 1915 de 18 de julho de 1910: Regulamento para as escolas noturnas para adultos

O vice-presidente do Estado, em exercicio, para execução da lei n. 1195 de 24 de Dezembro de 1909, manda que se observe o seguinte

REGULAMENTO DAS ESCHOLAS NOCTURNAS PARA ADULTOS

Artigo 1.º As escholas nocturnas, creadas pela lei n. 1195 de 24 de Dezembro de 1909, se destianm ás pessoas do sexo masculino maiores de 14 annos.

Artigo 2.º Estas escholas funccionarão todas as noites, das 6 ½ ás 9 horas, salvo os dias feriados por lei.

Artigo 3.º O curso das escholas nocturnas comprehenderá ás seguintes materias: leitura, escripta, linguagem, aritmetica e lições geraes – comprehendendo noções de geometria, desenho, hygiene, educação moral e civica e principais applicações das sciencias physico-naturaes.

§ unico. Estas materias serão explicadas em lições diarias, de accôrdo com o programma annexo.

Artigo 4.º A matricula das escholas estará aberta tres dias antes do inicio dos trabalhos lectivos.

§ unico. É de cincoenta o numero de alumnos a matriculas em cada eschola a qual não poderá funccionar com frequencia media inferior a vinte e cinco.

Artigo 5.º As escholas nocturnas serão localisadas em centros de população operaria, tendo preferencia em seu provimento aquella para cujo funccionamento as municipalidades offerecem predio adequado.

Artigo 6.º Nas localidades onde existirem mais de duas escholas poderão ellas, a juizo do Governo, funccionar nos predios dos grupos escholares, competindo a sua direcção ao director do grupo. Em outros casos, caberá cummulativamente a direcção a um dos professores que fôr designado pelo governo.

§ 1.º O governo poderá nomear um servente para as escholas assim agrupadas. § 2.º O pessoal administrativo dos grupos que servir nas escholas nocturnas terá uma gratificação “pra labore”, arbitrada pelo governo.

Artigo 7.º As escholas nocturnas serão regidas pela legislação escholar em vigôr em tudo o que não estiver previsto neste regulamento.

Artigo 8.º As disposições deste regulamento serão applicadas aos cursos nocturnos no que se referir á matricula, horario e programma de ensino e localização das escholas.

Artigo 9.º O presente regulamento estará em vigor desde já. Palacio do Governo do Estado de São Paulo, 18 de Julho de 1910.

FERNANDO PRESTES DE ALBUQUERQUE. Carlos Guimarães.

PROGRAMMA DAS ESCHOLAS NOCTURNAS

Leitura e linguagem

1 – Exercicios de leitura elementar com auxilio do quadro-negro, onde as lições devem ser dadas em typo de lettra de impressão e manuscripta.

Os exercicios praticos de linguagem devem ser feitos simultaneamente, desde o principio do curso, com as licções de leitura.

Antes de cada sentença da cartilha ser lida no quadro negro, o professor entreterá uma ligeira palestra com os alumnos sobre as palavras de significação concreta que se encontrem nella ou, melhor sobre as causas, cujos nomes deseja ensinar, provocando a classe a se exprimir, por sentenças completas, sobre a sua fórma, côr,partes, emprego qualidades, etc.

2 – Exercicios de leitura nas cartilhas com reconhecimento das sentenças e vocabulos lidos no quadro-negro. Os mesmos exercicios no quadro com inversão da ordem dos vocabulos e sentenças da cartilha.

3- Exercicios de leitura no quadro-negro de novas sentenças e vocábulos imaginados pelo professor.

4 – Formação de sentenças pelos alumnos sobre cousas que vêem, que usam, que vestem, que se empregam no serviço domestico, no commercio, na industria, etc.

Nos exercicios de linguagem, quer oraes, quer escriptos, será de vantagem que o professor empregue frequentemente os nomes de materias primas pertencentes aos tres reinos da natureza e que sejam de uso commum nas diferentes industrias, nas artes e officios, na agricultura, etc., de modo que as suas palestras possam sempre, por seu alcance pratico e instructivo, interessar a classe.

5 – Copia a lapis no papel de palavras e sentenças de cartilha ou escriptas pelo professor no quadro-negro.

6. Construcção de sentenças com palavras dadas pelo professor. 7 – Pequenos dictados.

8 – Respostas escriptas a questões formuladas pelo professor. 9 – Exercicios diversos para o emprego dos signaes de pontuação.

10 – Leitura corrente de assumptos que interessem ás classes operarias, com exercicios sobre o sentido das palavras e sentenças.

11 – Interpretação do assumpto lido, pelo professor e depois pelo alumno.

12 – Exercicios oraes e escriptos de linguagem combinada com lições de cousas, tratando-se principalmente das qualidades, emprego, uso e propriedade de corpos e objectos de uso frequente nas artes e industrias.

13 – Redacção de cartas simples e de recibos.

14 – Exercicios faceis de composição sobre factos relativos á familia, á sociedade, á vida operária.

15 – Reproducção de pequenos assumptos do livro de leitura. È de vantagem que no horário sejam consagradas algumas aulas por semana para a leitura supplementar, sendo escolhidos para tal fim livros que contribuam para a educação da vontade, onde sejam narrados os triumphos da perseverança e exaltadas as alegrias da vida activa, fecunda e tranquilla do trabalhador honesto.

Arithmetica

1- Escripta e leitura dos numeros. – Uso dos signaes arithmeticos. 2- Exercicos oraes e escriptos com auxilio das cartas de Parker.

3 -Exercicios analyticos muito simple de calculos mentaes, em que entrem pequenas questões relativas ás quatro operações, propostas sempre por meios concretos.

4 -Exercicios numericos oraes e escriptos das taboadas de sommar, subtrahir, multiplicar e dividir.

5 – Exercicios mais completos sobre problemas de uso commum relativos ás quatro operações.

6 – Idèa, mediante objectos divididos ou que se possam partir, do que seja ½, 1/3, ¼; 2/2, 2/3, 2/4, etc. Representação numerica das facções decimaes e ordinarias.

7 – Systema metrico: unidades principaes; multiplo e submultiplos.

8 – Conhecimento pratico das medidas metricas e antigas em uso. Relação entre aquellas e estas. Problemas diversos sobre conversões.

É bastante que, dentre as medidas antigas, sejam apenas estudadas as que ainda se usam em diversas localidades, taes como: a arroba; a libra, a braça, a legoa, a milha, o alqueire (superficie e capacidade), a quarta, a pipa, etc.

9 – Moéda de curso legal e seus valores.

10 – Revisão: problemas diversos, figurando principalmente os mais frequentes nas relações commerciaes de compra e venda.

Lições Geraes

Geometria (pelo estudo da fórma);

1 – Analyse do cubo: pelo estudo dos elementos geometricos que o fórmam. – Linhas ou arestas do cubo. – Posição absoluta e relativa das linhas. – Cantos ou angulos do cubo: sua grandeza. – Quinas. – Noção de superficie ou plano á vista do cubo. – Numero de superficies do cubo.

2 – Noção do quarado: sua construcção. – Diagonal. – Noção de triangulo, partindo, como exemplo dos que são formados pelas diagonaes e dos lados do quadrado.

3 – Ennumeração de corpos, (polyedros) de como o cubo têm seis superficies. 4 - Analyse da esphera. – Superficie curva. Corpos que tem uma só superficie curva, como a esphera.

5 – Hemispherio. – Suas superficies. – Noção de circumferencia e do circulo pelo estuido da superficie plana do hemispherio. – Achar o centro do circulo. –

Conecimento do semi-circulo, diametro e raio.

6 – Analyse do cilindro. – Estudo de sua superficie e das linhas que o limitam. – Objectos de fórma cylindrica.

7 – Parallepipedo. – Differenças e similhanças entre este corpo e o cubo, mostrado aos alumnos os lados e quadrilateros que limitam a superficie de um e outro. – Triangulos formados pelas diagonaes e arestas dos parallepipelos. – Divisão dos parallelepipedos em dois prismas triangulares.

8 – Exercicios sobre calculos de áreas dos triangulos e quadrilateros.

9 – Problema sobre construcção de triangulos, do quadrado e do rectangulo. 10 – Problemas sobre a inscripção na circumferencia do triangulo quadrado, do pentagono e do hexagono.

11 – Prismas: suas especies. – Estudo das faces, arestas e bases.

12 – Pyramides: suas especies. - Como se obtem o volume de uma pyramide, a superficie lateral, a superficie total.

13 – Cône. – A superficie lateral e a superficie total. – Volume do cône.

14 – Hygiene. – Idéa geral do organismo humano. – Influencia sobre elle exercida por tudo quanto o rodeia. – Perdas que experiementa o corpo. – Necessidade dos alimentos. – Digestão, circulação e respiração. – Hygiene destas funcções. – Secreções.

15 – Valor dos alimentos. – As bebidas. – O alcool; seu valor negativo como alimento, seus effeitos no organismo; sua influencia nos filhos de paes que delle abusam e como principal desorganizador da familia. – Perigos e inconvenientes que para a sociedade trazem as pessoas que delle abusam. – Os crimes, suicidios e numero de tuberculosos como consequencia do abuso do alcool.

16 – O trabalho como fonte de saúde physica e moral e, portanto, como base da felicidade. – O somno: seu papel reparador. – Conselhos hygienicos a respeito de um e outro. – Vantagem do ar livre e da luz natural e abundante.

17 – O asseio em geral. – Sua necessidade para a saúde. – A agua; sua utilidade. – Os banhos. – Preocupações contra o de envolvimento da tuberculose. – Utilidade da vaccina como preservativo da variola. – Precauções para evitar a propagação de molestias contagiosas e antisepticos mais usuaes; modos e opportunidades para delles se servir.

18 – Idéa do universo. – Systema planetario. – Palestras sobre o calor. – Machinas d evapor. – A eletricidade. – O trovão. – O vento. – A chuva. – O raio.

19 – Animaes uteis sob o ponto de vista de materia prima que fornecem aos diversos ramos da actividade humana: a lan, a sêda, o couro, a cêra, o chifre, o marfim, os oleos, etc.

20 – Animaes nocivos. – Meios de os evitar e extinguir.

21 – Vegetaes: sua utilidade. – Cuidade a dar ás plantas. – Preceitos agricolas sobre o plantio dos legumes, cereaes, do café, do algodão, da borracha, da canna, do cacáu.

22 – Palestras sobre a fabricação do pão, do assucar, do papel, do vidro, do vinho, dos tecidos, etc.

23 – Mineraes – O ferro, o carvão de pedra, o enxofre, o cobre, o chumbo, o zinco, a cal, etc.

24 – Da vida methodica, vantagens da distribuição acertada do tempo – Bôa administração do dinheiro, a economia; caixas economicas. – Influencias maleficas que exercem as casas de jogo, de bebidas, etc.

Educação civica e moral

1 –Palestras e leituras tendentes a desenvolver nos alumnos o sentimento de dignidade pessoal e de amor ao trabalho.

2 - Exemplos de homens que forma de condições humildes e que conseguiram celebridade e fortuna pela energia de vontade e pelo trabalho.

3 – Deveres para com a familia. – Obrigações dos filhos, dos irmãos, dos paes, dos esposos, confórme as necessidades da classe.

4 – Direitos e deveres dos cidadãos. – Leituras com pequenos commentarios ou simples explicação dos principios basicos da Constituição da Republica e do Estado.

5 – Leituras e palestras sobre os direitos e deveres civis e politicos, sobre a soberania nacional e sobre a necessidade que tem o cidadão de exercer direito e o devre de votar. – Dever de respeitar as leis, de acatar e prestigiar as auctoridades constituidas.

6 – Noção muito simples sobre os poderes publicos.

7 – Palestras com o fim de desenvolver nos alumnos o sentimento patriótico. 8 – Naturalização e suas vantagens.

9 – Exemplos das grandes acções civicas de brazileiros que se tornaram celebres nos factos mais memoraveis da historia nacional.

Desenho

Reproducção de objectos simples pelo methodo natural. – Exercicios nas arozias, no quadro negro e no papel.

Nos primeiros tempos convém que sejam dados como modelos objectos de fórmas regulares.

É de necessidade que desde o principio do curso se dê ao ensino desta disciplina um carater educativo, considerando-a como uma manifestação graphica da linguagem.

Pela copia de seres e cousas que lhes falem aos sentidos procurar-se-á desenvolver nos alumnos a imaginação, o espirito de observação e o gosto esthetico.

Anexo III - Cronologia de Theodoro Jeronymo Rodrigues de Moraes