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Produção didática para a instrução de primária de crianças

Capítulo III – Theodoro de Moraes, autor da Cartilha do Operario

3. Autor de livros didáticos

3.1. Produção didática para a instrução de primária de crianças

Para a instrução primária de crianças, Theodoro de Moraes produziu três coleções: as cartilhas Meu Livro, em dois volumes graduados (primeiras, segundas leituras de acordo com o método analítico), os livros de leitura Sei Lêr, série em quatro volumes (primeiro livro, intermediário, segundo livro e terceiro livro), a coleção

Cardernos de Caligraphia Vertical, em cinco volumes, e Minhas Taboadas.

a) Meu Livro – primeiro livro

A primeira edição da cartilha Meu Livro foi publicada em 1909. No Anuário de

Ensino de 1909-1910, Oscar Thompson emite o seguinte parecer de indicação de uso

desta cartilha:

Atendendo á necessidade da organização de uma cartilha, aecommodando o methodo analytico ás exigencias da lingua portuguesa, o professor Theodoro de Moraes acaba de publicar as primeiras leituras de accordo com o referido metodo, realizando

fielmente as condições exigidas para o ensino racional da leitura aos analphabetos.

Este trabalho, que se intitula “Meu Livro”, é baseado no plano que adoptei e que tem sido posto em prática com pleno sucesso por aquelle professor na Escola Modelo Isolada annexa á Escola Normal e por alguns grupos desta Capital

Em vista do que acabo de expor, venho solicitar que o trabalho “Meu Livro”, do referido professor seja approvado pelo Governo e adoptado nas escolas públicas do Estado. (p. 10)

Figura 3: Capa Meu Livro, 9ª edição, 1920 (CPP)

Na folha de rosto da 9ª edição da cartilha (1920) há a seguinte indicação: “primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico”. No prefácio publicado desde 1917 (6ª edição) nas edições de Meu Livro, o autor explica que acrescentou à cartilha exercícios subsidiários, já indicados no folheto Leitura Analytica65, uma publicação largamente distribuída pela Diretoria Geral de Ensino.

Dentre esses exercicios, dous se distinguem como instrumentos preciosos para a cultura da attenção reflectida do pequenino leitor – os de associação de idéas, mediante uma PALAVRA CONHECIDA que funccione como evocadora das imagens a ella associadas e os da reconstrucção das sentenças, cujos termos APPARECEM MISTURADOS (MORAES, 1920, p. 3)

Esta cartilha possui 142 páginas e, como toda série Meu Livro, é de tamanho pequeno (7,6 X 11,2 centímetros) e possui capa cartonada. As lições do livro não são

separadas ou numeradas. Até a página 135 relacionamos um total de 67 textos diferentes, com diversas estampas (desenhos e ilustrações coloridas e em preto e branco). Os textos são escritos em letra de imprensa, seguidos de um registro em letra cursiva de uma frase, algumas palavras e/ou letras associadas ao texto estudado. A cartilha também apresenta retrospectos de seus textos por meio de frases curtas, afirmativas, exclamativas e interrogativas, além de exercícios de análise e síntese de palavras e frases.

Nas páginas finais da cartilha (137 a 142) estão as orientações aos professores para seu uso, sob o título de “Direcção”.66 Verifica-se que esta disposição de manter as orientações aos professores no final do livro é uma característica da produção didática de Theodoro de Moraes.

Figura 4: Meu Livro, 1920, p. 10-11 (CPP)

Na contracapa de Leituras do Operario (1ª edição, 1928) há as indicações de que esta cartilha pertence à “Coleção Caetano de Campos”, é destinado a alunos do primeiro ano e vendida por 2$500. Em Sei Lêr – segundas leituras (47ª edição, 1939) há uma página de divulgação dos “Livros escolares para o Curso primário editados pela Companhia Editora Nacional”, onde consta a indicação da cartilha Meu Livro para o primeiro ano, vendida a 3$000.

66 Trataremos especificamente das orientações presentes nas obras de Moraes sobre o ensino da leitura pelo método analítico ainda neste capítulo.

De acordo com o Annuario de Ensino de 1936-1937, a aprovação da cartilha

Meu Livro (methodo analytico – primeiras leituras) para uso nas escolas foi publicada

na “Relação de livros adoptados” do Diario Official”, em 19/01/1913 ( p. 188).

No acervo da Cia Editora Nacional (IBEP) foi localizada a ficha de movimentação das edições da cartilha Meu Livro – primeiro livro, onde consta que a 22ª edição67 da obra foi publicada em novembro de 1935 pela Tipografia Salles Oliveira e a 70ª edição em dezembro de 1950, pela Tipografia São Paulo. Nesse período, a tiragem das edições variou entre 3.948 (1936) e 20.232 (1942), com a publicação total de 223.809 exemplares.

b) Meu livro – segundo livro

Na capa da 5ª edição de Meu Livro (segundas leituras de accôrdo com o

methodo analytico), há a informação de que a obra foi aprovada e adotada pelos

governos do Estado de São Paulo, outros Estados e escolas particulares. A cartilha possui 202 páginas e até a página 166 são apresentadas 61 lições. Da página 167 a 195 há um pequeno léxico para consulta de palavras e expressões destacadas nas lições. Nas páginas 196 a 200 estão as “Indicações praticas”, que tratam de orientações aos professores para o uso da cartilha68. O índice da obra está nas páginas finais, 201 e 202.

As lições são numeradas, iniciadas pelo texto e ilustrações (desenhos, estampas) coloridas e em preto e branco, e seguidas por exercícios de escrita. Dentre os textos do livro temos narrativas curtas, fábulas e poesias que trazem os temas das virtudes, saúde, valorização do trabalho e nacionalismo. Estes são alguns dos títulos de textos presentes no livro: “Um bom filho”, “Muito obrigado!”, “Bôa menina”. “A lebre e a tartaruga”, “O guarda cívico”, “A vaccina”, “As melhores recomendações”, “A enjeitada e orphã”, “Minha Terra”, “Amor ao trabalho”, “Sete de Setembro” e “A Bandeira”.

Os exercícios de escrita tratam do preenchimento de quadros sobre o texto da lição, completar frases palavras, copiar lista de palavras e indicações de cópia de frases no caderno de caligrafia.

67Na ficha de movimentação das edições consta que a 21ª edição da cartilha Meu livro – primeiro livro aconteceu em 1936 (ano da menor tiragem). Foi neste mesmo ano que a Cia Editora Nacional comprou os diretos de publicação da cartilha do autor.

De acordo com o Annuario de Ensino de 1936-1937, a aprovação do livro de leitura Sei Lêr (segundas leituras) para uso nas escolas foi despachada no “Registro de obras approvadas e adoptadas nas Escolas do Estado”, em 12/11/1913 (p. 192).

No acervo da Cia Editora Nacional (IBEP) foi localizada a ficha de movimentação das edições da cartilha Meu Livro – segundo livro, onde consta que a 9ª edição69 da obra foi publicada em novembro de 1935 pela Tipografia Salles Oliveira e a 47ª edição em novembro de 1948, pela Tipografia São Paulo. Nesse período, a tiragem das edições variou entre 7.612 (1935) e 20.034 (1940), com a publicação total de 183.021 exemplares.

c) Sei Lêr – primeiro livro

Na folha de rosto da 6ª edição (1933), há a informação de que o livro pertence à série “Cesário Mota”. Assim como todos os livros desta série, Sei Lêr trata-se de um volume pequeno (7,6 X 11,2 cm) de 154 páginas. Até a página 149, o livro traz 61 textos narrativos sem identificação de autoria. Da página 151 a 154 há a reprodução da orientação “Leitura Expressiva”, direcionada ao professor.

Figura 5: Capa Sei Ler -1º livro de leitura, 5ªedição, 1933 (CPP)

69Em 1936, a Cia Editora Nacional comprou os diretos de publicação da cartilha Meu Livro – segundo

Os textos do livro tratam da organização familiar, da própria identidade, do uso dos sentidos (ensino intuitivo), elementos da natureza (animais, clima, plantas) e fábulas de cunho moralizante. Alguns títulos são: “Em casa”, “Meu pai”, “Minha mãe”, “E eu?”, “Quem somos?”, “O inverno”, “Palpar”, “Ao anoitecer”, “Cheirar”, “A aranha”, “A desforra do elefante”, “Os doze mandamentos de ouro” e “O leão e o elefante”.

A orientação ao final do livro intitulada “Leitura expressiva”, publicada em Amparo no ano de 1925, retoma as indicações do capítulo homônimo do livreto Como

Ensinar Leitura e Linguagem nos Diversos Annos do Curso Preliminar (MORAES et

all, 1911). De acordo com o autor, a leitura expressiva vai além da decodificação das palavras, permitindo a compreensão e a expressão das idéias do texto:

Dominar o fonetismo de páginas impressas, articulá-las, é perceber com os olhos, é realizar o trabalho mecânico da leitura. Uma decifração e nada mais. Dominar o sentido de páginas impressas é comungar com outrem em idéias e pensamentos, é perceber com o espírito, é realizar o trabalho mental da leitura. Um ato de linguagem íntegro e hamonioso (MORAES, 1944, p. 307).

Moraes (1944) propõe ao professor uma organização do trabalho com a leitura, que tomará um dia para sua preparação (resumo do texto, interpretação, pesquisa de sinônimos) e outro para sua realização (leitura modelo pelo professor, leitura silenciosa pela classe, reprodução o trecho a ser lido pelo próprio aluno, leitura, realizada elo aluno, do trecho de maneira “expressiva”).

De acordo com o Annuario de Ensino de 1936-1937, a aprovação do livro de leitura Sei Lêr – 1º livro (Serie Cesario Motta) para uso nas escolas foi publicada na “Relação de livros adoptados” do Diario Official, em 14/01/1930 (p. 194).

No acervo da Cia Editora Nacional (IBEP) foi localizada a ficha de movimentação das edições do livro de leitura Sei Lêr – primeiro livro, onde consta que a 1ª edição da obra foi publicada em junho de 1928 e a 53ª edição em setembro de 1950, esta última publicada pela Tipografia Salvador Puzzielo . Nesse período, a tiragem das edições variou entre 3.066 (1935, Tipografia Salvador Puzzielo) e 17.091 (1936, Tipografia Alfredo Bisordi), com a publicação total de 278.761 exemplares.

d) Sei Lêr – intermediário

Na contracapa de Sei Lêr – primeiro livro de leitura (MORAES, 1933) há a seguinte referência sobre esta obra:

SEI LER – 1º livro de leitura intermediária. O no me do Autor dispensa qualquer apreciação. THEODORO DE MORAES é um dos maiores mestres do magistério paulista. Dahi, esta obra utilissima para o aprendizado da leitura. – Cartonado. 3$000

A folha de rosto da 1ª edição (1928) traz a informação de que o livro pertence à série “Cezario Motta”. O livro possui 125 páginas e até a página 122 traz 35 textos narrativos e poéticos (rimas), alguns com identificação de autoria, como “Hymno ao Amôr” de João de Deus. Da página 123 a 125, há a reprodução da orientação direcionada ao professor “Leitura Expressiva”, já publicada no primeiro volume da coleção.

Os textos do livro tratam de temas morais, valorização do trabalho, da honestidade, profissões, relações sociais, escotismo, elementos da natureza e religião. Alguns dos títulos presentes no livro são: “O sermão de São Coelho”, “Partida se futebol”, “Na sala de jantar”, “O cofre de Raul”, “Escoteiros”, “Pai Nosso”, “Passeio de cabriolé”, “A cabeça de Tiradentes”, “São Nicolau” e “Jesus”.

De acordo com o Annuario de Ensino de 1936-1937, a aprovação do livro de leitura Sei Lêr – leitura intermediária (Serie Cesario Motta) para uso nas escolas foi publicada na “Relação de livros adoptados” do Diario Official, em 14/01/1930 (ALMEIDA JUNIOR, 1937, p. 189).

No acervo da Cia Editora Nacional (IBEP) localizou-se a ficha de movimentação das edições do livro de leitura Sei Lêr - intermediário, onde consta que a 1ª edição da obra foi publicada em janeiro de 1928 e a 51ª edição em setembro de 1949, esta última publicada pela Tipografia São Paulo. Nesse período, a menor (3.052) e a maior (20.000) tiragens do livro aconteceram no ano de 1937, impressas pela Tipografia Salvador Puzzielo. De 1928 a 1949, foram publicados 251.692 exemplares.

e) Sei Lêr – segundo livro

Na capa da 67ª edição (1944) há a informação de que o livro pertence à série “Cesário Mota” e que a publicação atinge, além de São Paulo, os Estados de Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. O livro possui livro 309 páginas e até a página 305 traz 101 textos variados (narrativas, fábulas e poesias), sem identificação de autoria, com suas respectivas lições. Da página 307 a 309 há a reprodução da orientação “Leitura Expressiva”, já publicada no primeiro volume da coleção.

Os textos publicados neste volume são, em sua maioria, pautados nos valores morais da virtude, do trabalho, do patriotismo e religiosidade. Alguns títulos são: “Que é preciso aprender?”, “Deus e Poesia”, “Quem muito quer...”, “Resposta adequada”, “Um retrato de valor”, “Um preguiçoso de marca”, “Quem descobriu o Brasil?”, “Hoje por mim, amanhã por ti”, “O mal pago com o bem”, “Boas respostas”, “Deus”, “História do cafeeiro”, “7 de Setembro” e “Terra do Brasil”.

Após o índice, há uma orientação sobre como trabalhar o vocabulário do livro com os alunos:

Convém possuir cada aluno um caderno sob a forma de índice remissivo para, por ordem alfabética, nele transcrever, em casa, antes da lição, as palavras do vocabulário deste livro, que a registra pela ordem de seu aparecimento no texto.

O índice remissivo o próprio aluno deve fazer de um caderno comum de 50 fôlhas. A transcrição será uma boa tarefa caseira. O trabalho é simples. Pode o aluno aplicado fazê-lo sem precisar de auxílio.

No fim do ano, terá êle, pela sua diligência, um pequeno dicionário (MORAES, 1944, p. 11).

A primeira lição do livro traz o texto “Que é preciso aprender?”. Em seguida, há o vocabulário da lição e dois exercícios curtos. O primeiro trata-se de um exercício oral e escrito de conjugação de frases associadas ao texto e o segundo, da identificação dos tipos de sentença (interrogativa, declarativa, afirmativa, exclamativa, imperativa e optativa).

De acordo com o Annuario de Ensino de 1936-1937, a aprovação do livro de leitura Sei Lêr (segundas leituras) para uso nas escolas foi despachada no “Registro das obras approvadas e adoptadas nas escolas do Estado”, em 12/11/1913 (ALMEIDA JUNIOR, 1937, p. 192).

foi publicada em março de 1930 e a 95ª edição em fevereiro de 1956, esta última publicada pela Tipografia São Paulo. Nesse período, a tiragem das edições variou entre 3.000 (1934) e 30.000 (1935), com a publicação total de 452.193 exemplares.

f) Sei Lêr – terceiro livro

De acordo com o Annuario de Ensino de 1936-1937, a aprovação do livro de leitura Sei Lêr ( 3º livro - Serie Cesario Motta) para uso nas escolas publicada na “Relação de livros adoptados” do Diario Official, em 14/01/1930 (ALMEIDA JUNIOR, 1937, p. 198).

Infelizmente, esta obra não foi localizada durante a coleta de fontes nos acervos, como também não se obteve outras informações sobre esta publicação em fontes secundárias.

g) Cadernos de Calligraphia Vertical

Segundo Esteves (2002, p. 86) , em 1909, a caligrafia vertical foi experimentada na seção masculina da Escola Modelo Isolada anexa à Escola Normal. Neste ano, a Escola Modelo Isolada era dirigida por Theodoro de Moraes e a caligrafia vertical foi adotada por ser “considerada a mais propícia para o trabalho comercial”.

A coleção Cadernos de Calligraphia Vertical foi publicada em 1910. No

Anuário de Ensino 1909-1910, Oscar Thompson emite o seguinte parecer para

aprovação e adoção deste material nas escolas públicas:

Os cadernos do professor Theodoro de Moraes, professor da Escola Isolada Modelo, annexa á Escola Normal, vazados da didactica americana, estão destinados a fazer uma revolução no ensino de calligraphia e auxiliar a reforma que modestamente foi iniciada nas escolas-modelo.

Sou, pois, de parecer que sejam os mesmos approvados (THOMPSON, 1911, p. 11).

Na contracapa da 9ª edição (1920) da cartilha Meu Livro - primeiras leituras de

accôrdo com o methodo analytico, há uma divulgação dos editores Augusto Siqueira &