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DEFINIÇÃO DA NOVA POLÍTICA EUROPEIA DE REABILITAÇÃO URBANA

45 Tradução livre.

DEFINIÇÃO DA NOVA POLÍTICA EUROPEIA DE REABILITAÇÃO URBANA

Reabilitação urbana

REVITALIZAÇÃO

REGENERAÇÃO

Melhorar a qualidade das componentes do território

Melhorar o bem-estar, a qualidade de vida da população

Questões territoriais Conservação integrada do património Direito à habitação Coesão territorial Desenvolvimento sustentável Questões humanas Desenvolvimento local Coesão social

Respeito pela diversidade cultural

Políticas Património cultural Habitação Ordenamento do território Ambiente Políticas Economia Assuntos sociais Cultura

Integração das questões e das políticas num grande

Projecto urbano

A reabilitação tem por objectivo atingir a conservação integrada do património e o desenvolvimento sustentável; concentra-se em dois grupos de questões fundamentais, relativas ao território e às pessoas; envolve conceitos, princípios e objectivos que articulam património com as diversas problemáticas da cidade, e com regras da democracia:

CONSERVAÇÃO INTEGRADA DO PATRIMÓNIO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO NATURAL E CULTURAL, COESÃO TERRITORIAL E SOCIAL, DIREITO À HABITAÇÃO E RESPEITO PELA DIVERSIDADE CULTURAL, PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS NA VIDA COLECTIVA, SUBSIDIARIEDADE ENTRE OS DIVERSOS NÍVEIS DE PODER.

Para melhorar simultaneamente as características do território e a qualidade de vida das populações, a reabilitação é encarada como um processo contínuo, no qual se inter-relacionam uma multiplicidade de matérias.

É pressuposto o respeito pelos princípios democráticos difundidos pelo Conselho da Europa, como o funcionamento democrático das instituições, a participação das populações na vida colectiva, o direito à cidade (habitação, património, cultura e ambiente e a tomada de decisões partilhadas, mediante debates entre as partes envolvidas) e o respeito pelo princípio da subsidiariedade.

As actuações sobre o território e a população, para responder aos problemas identificados nas áreas a reabilitar, são indissociáveis. Qualquer dos âmbitos (território e pessoas) requer a aplicação integrada de políticas locais que respondam a objectivos enquadrados nos dois grupos de grandes questões. Os objectivos a atingir e as temáticas que os enquadram devem ser integrados num grande projecto urbano ou num plano de desenvolvimento urbano. Melhorar o território

As actuações para melhorar as componentes do território incidem sobre a envolvente paisagística, as infra-estruturas, os espaços públicos, a rede viária, o edificado, e aspectos ambientais. Estas actuações devem estar associadas a políticas – de património cultural, de habitação, de ordenamento do território e ambiente, para responder a

objectivos enquadrados nas seguintes temáticas:

Conservação integrada do património cultural Direito à habitação,

Coesão territorial

Desenvolvimento sustentável.

Conservação integrada do património

A conservação integrada, para defender o património dos bairros antigos e sua reintegração na vida actual, tem em conta o valor de uso e observa os princípios da intervenção mínima e da demolição excepcional na salvaguarda de imóveis em risco; respeita os valores patrimoniais da identidade colectiva; acautela a qualidade da construção actual e a sua correcta integração na envolvente. Admite a adaptação dos edifícios e dos bairros a funções contemporâneas, com novos usos quando não é possível o inicial.

Direito à habitação

Este direito social, consignado na Carta Social Europeia do Conselho da Europa79, pode ser proporcionado pela reabilitação urbana em intervenções para melhorar o quadro de vida das populações, conferindo-lhes boas condições de habitabilidade, beneficiando a manutenção nos residentes no local e a diversidade social, e evitando a gentrificação. Estas actuações devem ser complementados com o melhoramento dos espaços públicos para favorecer a convivência e o sentido de identidade.

É recomendado o recurso a financiamentos a fundo perdido; o faseamento de trabalhos de acordo com a disponibilidade financeira dos proprietários, ou uma política pública de incentivos financeiros à aquisição e reabilitação de edifícios antigos para que o custo da habitação reabilitada seja inferior ao da habitação nova.

Coesão territorial”80

A coesão territorial refere-se a equilíbrios entre as diversas áreas, à escala da cidade: bairros antigos e novos; centro e periferia; cidade e territórios rurais envolventes. Para estes equilíbrios contribuem diversas iniciativas como: a promoção de boas condições de acessibilidade; a diversidade funcional entre usos compatíveis; a defesa da função habitacional; a requalificação das funções urbanas dos centros; o respeito pela morfologia urbana dos bairros antigos; a promoção de continuidades das escalas urbanas para garantir a ligação espacial, económica e cultural do bairro com a cidade. Os objectivos podem ser melhor conseguidos com a ajuda de instrumentos, como: planos de mobilidade, de desenvolvimento, regulamentos de urbanismo, etc. A Coesão territorial relaciona-se com a coesão social, ao contribuir para a atenuar tensões sociais.

Desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável traduz-se na aplicação dos princípios da sustentabilidade à reabilitação urbana, e reflecte-se na capacidade em adaptar os edifícios e os bairros às necessidades actuais, para evitar que a degradação evolua até se tornarem obsoletos. Relaciona-se com a redução da poluição, com a mobilidade sustentável81, e com a

reutilização de elementos da construção e a protecção do ambiente.

A reabilitação pode contribuir para a redução de ruídos e da emissão de gases, mediante acções para melhorar a circulação e o sistema de transportes públicos, designadamente através da elaboração de um plano global de mobilidade. A reabilitação urbana evita a expansão dos espaços urbanizáveis, e consequentes ampliação das redes de infra-estruturas e aumento dos fluxos pendulares centro-periferias.

79. Direitos sociais: Direito à habitação, ao emprego, saúde protecção social, educação, não discriminação no uso dos direitos (Conselho da Europa, 2004, p 81) . Tradução livre.

80. A coesão territorial visa “um desenvolvimento sócio-económico equilibrado do conjunto do território europeu” a várias escalas: “entre estados-membros (ricos e pobres), regiões ricas e pobres, cidade e campo” (Conselho da Europa , 2004, p. 84). Tradução livre.

81. O plano de mobilidade é um instrumento que trata as questões de transporte, público, privado e pedonal à escala dos bairros para reorganizar a circulação no seu interior, e para disciplinar as ligações entre cento e periferia. O plano de mobilidade difere do tradicional plano de circulação que trata do reordenamento da circulação automóvel e do estacionamento, devendo ser integrado nos planos de ordenamento do território.

Melhorar a qualidade de vida da população

Paralelamente à beneficiação do suporte físico, as actuações para melhorar a qualidade de vida dos residentes e dos utilizadores dos bairros pressupõem políticas nos campos económico, social e cultural, com respostas a longo termo, segundo objectivos de:

Desenvolvimento local Coesão social

Respeito pela diversidade cultural. Desenvolvimento local

O desenvolvimento local consiste na mobilização integrada de forças locais para um projecto de mudança e requer o debate de problemas ao nível local, para procurar respostas com auxílio do Estado. Apoia-se no desenvolvimento económico endógeno, envolvendo os sectores que podem contribuir para a revitalização social e económica, e acrescenta um potencial económico ao valor cultural do património. Este potencial reflecte-se na economia, no emprego, no comércio e nos serviços, fazendo acrescer benefícios colaterais na imagem geral da cidade, por reforçar a sua identidade e acrescentar vantagens para a competitividade.

Coesão social

A coesão social refere-se à igualdade de oportunidades dos cidadãos relativamente aos direitos sociais e económicos. Enquanto projecto de desenvolvimento social, implica especial atenção aos grupos mais desfavorecidos. No campo da reabilitação, o objectivo de coesão social implica que os problemas de habitação, da saúde, do emprego, da cultura, tenham tratamento integrado e articulado com intervenções no tecido urbano, para melhorar a habitação, os espaços públicos, o património, as infra-estruturas.

Respeito pela diversidade cultural

O respeito pela diversidade cultural opõe-se à uniformização propiciada pela globalização e estimula a apropriação do bairro pelos residentes. Requer o conhecimento do valor patrimonial do local e o ensino da História, a construção da memória das origens e o diálogo inter-cultural. Está relacionada com a tendência para a multiculturalidade dos bairros antigos e com a necessidade de combater a segregação. As políticas de apoio social e de regulação das iniciativas privadas de reabilitação podem contribuir para este objectivo.

As políticas de protecção e de conservação do património contribuem para facilitar o acesso à cultura como direito fundamental, e para favorecer a construção da identidade local.

1.3.2 Metodologia

Ao deixar de ser um projecto autónomo, centrado exclusivamente na valorização do património, para passar a preocupar-se com a melhoria da qualidade de vida da população e com a sustentabilidade em sentido alargado, a grande quantidade de informação envolvida no projecto de reabilitação remeteu para abordagens estratégicas integradas e interactivas, que levaram a formas de intervir mais complexas.

Figura 9 – Meios de acção nas diferentes etapas do processo de reabilitação.

Fonte: Conseil de l’Europe (2004). Orientations sur la réhabilitation urbainne (p. 104). Tradução livre.

Em Conseil de l’Europe (2004) a reabilitação é apresentada como um processo de transformação dinamizado pelo poder local que tem que assegurar estruturas organizativas adequadas à especificidade de cada caso, e à dimensão e multiplicidade dos problemas a resolver. O objectivo fundamental é a passagem à acção. As questões e as políticas territoriais e humanas são integradas num grande projecto urbano, para passar da estratégia ao plano de acções.

O processo desenvolve-se em três etapas: Diagnóstico, Estratégia, e Intervenções concretas, segundo um método que pretende conciliar a conservação do património com progresso social e desenvolvimento económico sustentável. Deve estar associado a um projecto de desenvolvimento urbano com mobilização dos agentes locais, e articular a aplicação de diversas políticas relacionadas com os objectivos a atingir: política de património cultural, habitação, ordenamento do território, ambiente, políticas económicas, sociais e culturais. Este processo requer uma cultura de avaliação.

Os planos de desenvolvimento são considerados fundamentais para a intervenção pública. Têm carácter participado, coordenam e conferem coerência aos vários actores e acções. Estabelecem princípios, prioridades e planos de reabilitação. Definem o limite da intervenção, objectivos, acções e respectivos meios a afectar, bem como os

Princípios democráticos - Respeito pelos Direitos do Homem - Primazia do debate democrático

- Instituições / procedimentos democráticos