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Insuficiências dos estudos recentes face às Recomendações

148 Câmara Municipal de Loures (2007, p 4).

DOMÍNIO IMOBILIÁRIO E FUNDIÁRIO

5. Domínio financeiro (dificuldade em financiar acções).

3.4.1. Insuficiências dos estudos recentes face às Recomendações

O “levantamento do património cultural construído” dos anos 80 acrescentou experiência e saber, e serviu de base às primeiras medidas preventivas para áreas urbanas com valor patrimonial inseridas no Plano Director Municipal de Loures, publicado em 1994.

A actualização do levantamento (2003 – 2007) beneficiou de notável acervo de registos gráficos e fotográficos legados pelo trabalho anterior, e procurou ir além da inventariação e delimitação dos anos 80. O trabalho situou-se entre a inventariação e a análise, o diagnóstico e a proposta. Utilizou métodos de análise urbana na abordagem aos aglomerados, reflectiu sobre as mudanças operadas nos tecidos urbanos antigos durante a vigência das medidas preventivas. Em face dos diagnósticos, propôs orientações para intervenção futura.

Figura 28 – Quinta da Calçada em Unhos com pormenor da fachada; Aspecto do núcleo antigo de Unhos Fonte: www.bing.com/maps/ e arquivos C.M.L. (DPU)

O grau de desenvolvimento alcançado em 2007 cumpriu os objectivos mais imediatos de identificar, caracterizar e reclassificar os imóveis e os aglomerados que devem ser protegidos pelo seu valor patrimonial, no quadro do planeamento e da gestão urbanística municipais. Tendo-se pretendido ultrapassar a mera gestão por via regulamentar, foi ensaiada uma abordagem estratégica.

Passou a dispor-se para cada aglomerado uma leitura das forças, fraquezas, e potencial mobilizável. A partir do diagnóstico do estado de conservação dos edifícios, da situação dos tecidos urbanos e da paisagem, o levantamento confirmou um vasto fenómeno de degradação que delapida valores culturais e de memória que poderiam ser entendidos como um recurso.

Sem prejuízo de todo o potencial mobilizável já identificado relativamente ao património cultural construído de Loures, destaca-se a escala humana dos aglomerados e a presença de património classificado que pode ajudar a projectar o município à escala regional ou nacional. Ressalta ainda da análise e diagnóstico a associação dos aglomerados a valores paisagísticos, principalmente em contexto rural, ou rural de transição, valorizando imagens de conjunto. O diagnóstico permitiu ainda estruturar um quadro preliminar de orientações programáticas numa antevisão da passagem à acção, com informações que podem apoiar outros trabalhos.

Todavia, reconhece-se que o trabalho de 2007 encerra limitações e constrangimentos no que respeita aos objectivos mais ambiciosos de ensaiar soluções s para combater os processos de degradação que afectam as áreas estudadas. Tomando por referência as “Orientações do Conselho da Europa para a Reabilitação Urbana”, ” poder-se-ia considerar que o diagnóstico concluído em 2007 corresponde à fase de “Diagnóstico que Precede a Estratégia”, embora de forma incompleta, por existirem limitações na determinação das forças, fraquezas e perspectivas, para uma abordagem integrada. Tendo-se fixado predominantemente nas questões físicas e culturais, a construção do diagnóstico deparou-se com a falta de agregação dos vários domínios que devem ser evolvidos num quadro de desenvolvimento sustentável, por não se dispor de caracterização das áreas social e económica baseadas em indicadores adequados, definidos especificamente para avaliação do quadro de degradação dos aglomerados.

Para conduzir à revalorização dos aglomerados, reflectida na defesa do património e na qualidade de vida das populações, teriam que se alargar os procedimentos de diagnóstico, assentar numa estratégia e, sobretudo, esboçar um modelo de financiamento e de organização para suportar a passagem à acção.

Figura 29 – Stº. Antão do Tojal: Fonte monumental; Aqueduto e edifícios de habitação Fontes: : www.bing.com/maps/ e arquivos C.M.L. (DPU)

Embora a identificação dos problemas que levam ao declínio, e a compreensão do processo de mudança, tenham ficado limitadas pela desproporção na análise dos contextos socio-económicos e dos contributos destas áreas, não foram ignorados os evidentes sinais de degradação sócio-urbana percepcionados em alguns dos aglomerados. Estas problemáticas161 presentes com maior incidência em Apelação e S. Julião do Tojal transitaram como “áreas-piloto” para outro estudo a decorrer paralelamente, no âmbito das “Áreas Deprimidas”, onde será ensaiado um modelo integrado de análise, diagnóstico e intervenção, para aprofundamento em temas como condições de alojamento, nível de escolaridade, desemprego, dependência inter-geracional, funcionamento do mercado imobiliário, e estudos para conhecer a morfologia social, o perfil das populações envolvidas e as suas condições de vida, estabelecendo indicadores para futura avaliação e monitorização dos processos.

Aspectos relevantes para o prosseguimento dos estudos

O trabalho de 2007 pode ser encarado como a primeira etapa de um processo que carece de desenvolvimento em matéria de organização, participação e financiamento.

Por referência aos modelos estudados no capítulo 1, a elaboração da proposta inicial haveria que garantir, designadamente a integração efectiva da reabilitação do património nos instrumentos de gestão territorial (coerência entre políticas de reabilitação e políticas urbanas); uma maior integração das estruturas institucionais que intervêm nas áreas; a participação dos agentes com interesses nas áreas; a definição dos instrumentos jurídicos adequados e dos meios financeiros mobilizáveis; o papel mobilizador do poder público. Organização

Ampliar as valências técnicas, e completar a construção do diagnóstico integrado nos domínios sócio- económico, ambiental e paisagístico, utilizando indicadores adequados para desenvolvimento de estratégia e plano de acção. Considerar várias escalas de análise, integrando cada área delimitada numa área mais vasta: a freguesia e o sistema urbano. Assegurar a articulação do grupo de trabalho com os decisores. Sintetizar os principais problemas através da compreensão do processo de declínio. Designar os objectivos potenciais para cada um dos espaços a intervencionar, elaborar uma primeira lista de actores e parceiros públicos e privados,

e definir objectivos-chave. Analisar comparativamente e eleger áreas a intervencionar. Nomear gestor de projecto para áreas seleccionadas.

No âmbito da preparação da estratégia integrada, para resposta à pergunta: “como alcançar os objectivos?” há que considerar a articulação das propostas com as estratégias locais, quanto ao papel de cada aglomerado no desenvolvimento das freguesias e do Município. O quadro estratégico para apoiar a passagem à acção articula necessidades, oportunidades e potencial mobilizável, definindo prioridades, objectivos integrados, e vias a seguir, por referência a um cenário futuro desejável. A estratégia tem que ser aprovada pelas autoridades.

Para garantir coerência entre políticas económicas, sociais e ambientais na reversão dos processos de degradação importa ultrapassar o tradicional funcionamento municipal fortemente hierarquizado em departamentos estanques, e articular as propostas com as orientações e programações sectoriais de vários instrumentos de planeamento.

Por exemplo, para beneficiar o domínio sócio-económico são desejáveis acções articuladas de melhoramento do espaço público, de segurança, de ordenamento do trânsito e do estacionamento. Para a redinamização económica mediante apoios a iniciativas locais e criação de emprego, é preciso aprofundar o conhecimento do tecido económico e dos instrumentos de apoio ao desenvolvimento económico local, incluindo o relacionamento entre economia e cultura, para ponderar a viabilidade económica das intervenções. Na área social, para manter as populações residentes e atrair populações jovens, requerem-se políticas e acções articuladas de diversas áreas para valorizar os “recursos humanos locais”, e elevar níveis de rendimento mais baixos.

A transposição da estratégia para a acção após aprovação, implica montar o gabinete de projecto e transferir a estratégia para projectos detalhados. As prioridades são fixadas segundo um plano de acção e uma calendarização de curto e médio prazo. A programação operativa para atingir objectivos engloba financiamentos diversificados: públicos, privados e parcerias. O gabinete deve garantir a gestão das operações, a monitorização e avaliação. O avanço da estratégia relativamente aos objectivos deve ser medido, e proposta a sua revisão, se necessário.

Participação

A prática da cidadania só muito lentamente está a registar alguns progressos. Esta prática, fomentada pelas organizações europeias, deve estar presente em todas as fases do processo de reabilitação, desde a análise e identificação dos problemas fundamentais, à construção partilhada da estratégia para atingir cenários esperados e ao acompanhamento das operações. No caso da actualização do levantamento dos aglomerados com valor patrimonial de Loures, a participação da população e de outros agentes interessados na reabilitação, resumiu-se aos contributos recebidos no âmbito do convite à participação pública com divulgação do documento na Internet. No desenvolvimento do processo importaria elevar o nível de participação.

A questão da mobilização remete para a necessidade de promover a “capacidade institucional” das comunidades, entendida por Pires, A. (2006), de forma simplificada, como a articulação de três tipos de recursos: ”os relacionais que traduzem essencialmente a capacidade de cooperação entre vários agentes e /ou instituições de uma dada comunidade (conceito próximo de capital social); os recursos de conhecimento, que traduzem a capacidade de acesso e utilização de conhecimento, designadamente na preparação da tomada de decisões colectivas (geralmente designado por capital intelectual), e os recursos de mobilização, que traduzem a capacidade de uma comunidade se organizar para levar à prática as ideias e os programas delineados conjuntamente (que alguns designam por capital político). A capacidade institucional resultará assim da conjugação do capital social, intelectual e político”.

Para que a comunidade possa aproveitar oportunidades de desenvolvimento que se lhe deparam o autor sublinha a importância de, no âmbito das políticas públicas, encontrar formas de aumentar a capacidade institucional. Esta importância remete para o reforço do papel das autarquias locais nos processos de mobilização das comunidades, para que estas intervenham nos respectivos processos de desenvolvimento, embora tal tarefa exija a cooperação entre os diferentes níveis de administração.

Financiamento

A questão “como assegurar o financiamento necessário” é aquela que causa maior apreensão por se reconhecer que o interesse patrimonial dos tecidos urbanos de Loures é maioritariamente de cariz local ou municipal. Localizados em situação periférica relativamente a Lisboa, e fortemente afectados pelas dinâmicas negativas que transformaram o território nas últimas décadas, os aglomerados antigos não se perspectivam como cenários atractivos do investimento privado.

Em tecidos onde não existam vazios a preencher com construção, nem haja lugar a grandes operações de demolição/construção, a edificabilidade reconhecida aos proprietários que intervêm nos imóveis é semelhante à existente, fazendo antever o desenvolvimento de operações de reabilitação pesadas incapazes de se financiar a si próprias e frequentemente com custos superiores aos da construção nova.

Para obviar que os objectivos possam ficar reféns da obtenção de financiamento adequado, é preciso aprofundar o conhecimento do quadro financeiro e fiscal de apoio, de modo a fazer o melhor aproveitamento dos financiamentos provenientes de todos os níveis da administração articulando eficazmente financiamento público e privado.

Tendo presente que a antecipação de actuações públicas cria confiança no sector privado, e pode contribuir para inverter a falta de investimento que levou à desqualificação, a análise da viabilidade financeira das operações articulada com o comprometimento público no investimento em reabilitação, afigura-se determinante para definir o nível de exequibilidade de operações de reabilitação nos aglomerados antigos de Loures.