• Nenhum resultado encontrado

As propostas são avaliadas em função da integração em objectivos do PDM: regeneração urbana, salvaguarda e

2.4 Orientações a reter

O que inicialmente avançou como estudo comparativo, aproximou-se mais de um estudo de casos fundados em estratégias paralelas. Desconhecia-se à partida a estreita semelhança entre as principais linhas orientadoras do processo de reabilitação de Temple Bar, desenvolvido com êxito nos anos 90, e as opções que sustentam o processo de reabilitação do Centro Histórico do Porto desde 2005, sob orientação da Porto Vivo SRU, conforme se foi revelado em análise mais detalhada.

Os casos estudados correspondem a situações excepcionais, relativamente à generalidade de espaços urbanos carecidos de reabilitação em Portugal. O cenário de excelência urbana, competitivo à escala global, em que se baseou a experiência irlandesa, e que está no horizonte do processo do Porto, só encontra paralelo à escala nacional, na cidade de Lisboa ou em cidades médias, nas cidades Património Mundial de Évora, Guimarães e Angra do Heroísmo. Uma faceta do paralelismo entre as duas experiências refere-se a que ambos os casos estão ligados a situações singulares favoráveis. Ambos configuram um modelo de reabilitação baseado no potencial económico da cultura, que valoriza a vertente económica do Património pelos seus aspectos diferenciadores, no âmbito da competitividade urbana. Pretendem criar uma imagem de cidade competitiva, capaz de atrair turismo cultural e investimentos à escala global. Diferem nos níveis de participação da população e nos contextos económicos: de prosperidade, no caso de Dublin, e de adversidade no caso do Porto.

A experiência irlandesa beneficiou de um conjunto de circunstâncias favoráveis convergentes que a tornaram num caso de optimização de oportunidades:

Teve o apoio de uma política nacional que incentivou a intervenção em áreas degradadas;

Foi acalentada por uma elite intelectual de utilizadores e residentes, com capacidade de intervenção e de organização na defesa do Bairro;

Contou com grande envolvimento da administração central e com o empenhamento pessoal do Primeiro- ministro;

Ligou-se à iniciativa Dublin Cidade Europeia da Cultura em 1991;

Captou fundos do FEDER para projectos inovadores. Beneficiou do grande peso do investimento público através do apoio dos fundos europeus e de investimento público nacional;

Beneficiou de reforma legislativa e fiscal que favoreceu a reabilitação. Esta reforma, adequada aos objectivos específicos do projecto, permitiu criar estímulo ao investimento, e medidas administrativas de apoio à gestão por parte das agências criadas para o efeito;

Foi conduzida por uma agência sem fins lucrativos que se tornou o maior proprietário do Bairro, e que assegurou a gestão da área para além da conclusão do projecto.

No caso do Porto convergem também algumas circunstâncias favoráveis:

Grande experiência de actuação no terreno, com aperfeiçoamento constante de soluções desde a operação Ribeira-Barrredo nos anos 70;

Classificação do Centro Histórico do Porto como Património Mundial pela UNESCO em 1996; Porto, Cidade Europeia da Cultura em 2001131;

Reconfiguração do modelo de intervenção e de gestão em 2005. Nova etapa alinhada por ideias actuais de reabilitação, procurando copiar modelos europeus bem sucedidos de urbanismo competitivo;

Esta convergência de circunstâncias favoráveis dificilmente se repete. Não obstante, é possível retirar dos casos estudados alguns ensinamentos a aplicar.

Retiveram-se os seguintes aspectos fundamentais nos campos metodológicos e da organização: A crescente tendência para adoptar novas formas de governância, valorizando a participação; A clareza dos objectivos e a existência de um plano estratégico ligado a uma ideia fundamental;

Um programa de acção pensado de forma integrada, estruturado segundo vários eixos de desenvolvimento que contemplam a valorização física do edificado e do espaço público, melhoramento da mobilidade, circulação e segurança, e acções para a recuperação demográfica e o emprego;

O cruzamento de várias fontes de financiamento público e privado, com significativo investimento público; Os incentivos fiscais favoráveis à reabilitação, abrangendo vários intervenientes;

Uma entidade gestora de natureza pública, responsável pela implementação do programa e pela gestão integrada da área, facilitando a criação de parcerias com agentes locais e garantindo estruturas de gestão para o desenvolvimento do processo. A entidade gestora age com vastas competências: planeamento, infra- estruturação, expropriação, e disponibilização de solo público. Na Irlanda, A TBP não tem fins lucrativos. Garante a gestão da área e reinveste as receitas obtidas em apoios a actividades culturais e promoção da imagem;

A ampla divulgação das actividades e dos trabalhos técnicos produzidos pela SRU Porto-Vivo;

Os intervenientes têm que acreditar que o projecto conduz à efectiva reabilitação urbana da área, e que se irão concretizar as expectativas quanto a retorno de investimento. A confiança tem que ser gerada principalmente por iniciativas da administração pública ao nível local, regional, central e comunitário, com forte investimento público para que o processo ganhe credibilidade.

O levantamento dos meios financeiros existentes para alimentar um plano de acção, e a garantia de uma estrutura de gestão adequada ganharam aqui maior relevância. Sabendo-se à partida que nos aglomerados portugueses muitas das intervenções de reabilitação não são rentáveis por si, a questão do financiamento é fundamental para evitar desequilíbrio entre os meios financeiros disponíveis e as operações programadas.

A aplicação destes ensinamentos à generalidade dos espaços a reabilitar em Portugal tem que contar com um potencial mobilizável em pequenos aglomerados, pequenas e médias cidades e vilas que não permite cenários de espaços reabilitados à custa da sua projecção à escala global.

A atractividade e competitividade do sistema urbano português são muito fracas. É neste contexto em que se procuram respostas para reabilitar “o quotidiano” dos aglomerados, actuando para que a fruição do património arquitectónico e urbanístico, como sentimento de pertença aos lugares, faça parte dos padrões de qualidade de vida dos residentes, associando-se à recomposição funcional dos espaços reabilitados.

O próximo capítulo estuda a reabilitação no município de Loures, localizado na Área Metropolitana de Lisboa, tendo em vista a aproximação a uma situação banal, escassamente beneficiada por programas institucionais de apoio.