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As propostas são avaliadas em função da integração em objectivos do PDM: regeneração urbana, salvaguarda e

3. Reabilitação Urbana em Loures

3.2. Trabalhos Realizados nos Anos

O reconhecimento do valor do património urbano, e a defesa dos tecidos antigos139, tinham marcado uma mudança de atitude na Europa relativamente às intervenções nas cidades antigas, nos anos 60, numa clara opção em respeitar as características tradicionais.

As bases da reabilitação urbana foram construídas nos anos 70 e 80, na sequência das orientações da Carta de Veneza de 1964, da Carta Europeia do Património Arquitectónico, proclamada pelo Conselho da Europa em 1975, da Recomendação para a Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e da sua Função na Vida Contemporânea, aprovada pela UNESCO em 1976, e da Convenção de Granada, de 1985, para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa. Foi neste contexto que, nos anos 80, um grupo de trabalho na Divisão de Planeamento da Câmara Municipal de Loures procedeu ao levantamento do Património Cultural Construído, por referência a um vasto corpo teórico emergente, influenciado pelo debate desencadeado nos anos 70 através das Cartas e Recomendações internacionais140.

A importância da inventariação dos bens a manter; a responsabilidade do poder local na aplicação das políticas de conservação e a integração dos objectivos de protecção do património no planeamento eram aceites como princípios. O trabalho de levantamento, ao enfatizar o valor patrimonial dos edifícios e do tecido urbano, alargou decisivamente o universo dos valores a proteger para além dos móveis classificados como monumentos nacionais e imóveis de interesse público: “O P.C. Construído inserido nos aglomerados tem um valor essencialmente local. Se exceptuarmos (…) o conjunto barroco de Stº. Antão do Tojal, algumas igrejas e capelas, o restante P.C. constuído nos aglomerados vale essencialmente pela sua agregação, pelos espaços urbanos que constitui, pela dimensão humana dos conjuntos”. (Câmara Municipal de Loures, 1988, p. 9).

Não se tratava já de defender isoladamente o património, mas de adoptar o sentido alargado do conceito, e reconhecer o valor do património urbano segundo o espírito da Carta de Veneza Sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios, de 1964141, e de elaborar medidas de protecção e de adaptação do património às necessidades actuais, conforme a Declaração de Amesterdão de 1975142,que constituiu a referência teórica na passagem da conservação dos edifícios notáveis à conservação integrada dos tecidos antigos, considerando a sua adaptação aos requisitos e funções contemporâneos.

139. Em reacção à destruição dos centros históricos, e ao desprezo pela cidade antiga cultivado pelo Movimento Moderno. 140. Carta de Veneza de 1964, Carta Europeia do Património Arquitectónico proclamada pelo Conselho da Eur opa em

1975, Recomendação para a Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e da sua Função na Vida Contemporânea aprovada pela UNESCO em 1976, Convenção de Granada, de 1985, para a salvaguarda do património arquitectónico da Europa. 141. Que tinha ampliado a ideia de monumento, até então entendido de forma isolada, para passar a englobar, a par das

grandes criações arquitectónicas, o sítio rural ou urbano e “as obras modestas do passado que adquiriram com a passagem do tempo um significado cultural”.

O trabalho utilizou dois dos métodos mais divulgados para identificar e proteger o património construído: a inventariação e a definição de áreas de protecção. Estas medidas têm vindo sucessivamente a ser inseridas nas normas internacionais, como a Convenção da UNESCO sobre Património mundial, cultural e natural, 1972, a Convenção de Granada, 1985, e a Recomendação sobre a protecção do património arquitectónico do séc. XX, Estrsburgo, 1991, e mais recentemente a Convenção Quadro do Conselho da Europa Relativa ao Valor do Património Cultural, 2005143.

Com o apoio dos conceitos de referência, os valores patrimoniais foram sistematizados em 4 grandes áreas: Núcleos antigos;

Arquitectura rural (quintas, casas de lavoura, habitação rural, e construções congéneres);

Arquitectura de apoio à produção (azenhas, moinhos, construções de apoio à agricultura, lagares, adegas, e construções congéneres)

Arquitectura erudita (edifícios já classificados e outras obras de criação mais notável).

A área dos núcleos urbanos antigos, considerada mais vulnerável às pressões urbanísticas, foi definida como prioritária para desenvolvimento. Foram delimitados e levantados 74 aglomerados antigos e identificados os imóveis notáveis e espaços de interesse neles inseridos: classificados, e não classificados. Os aglomerados foram organizados segundo 3 níveis: nível 1 – núcleos antigos, nível 2 – conjuntos e nível 3 – aglomerados com interesse paisagístico 144 e estabeleceram-se medidas cautelares para cada nível.

Os valores patrimoniais foram registados em “ficheiro-memória”, constituído por fichas de levantamento, apontamentos gráficos e imagens fotográficas, que visavam uma primeira aproximação ao lugar. Os edifícios, conjuntos e aglomerados urbanos com interesse patrimonial foram delimitados e identificados sobre cartografia.

Este trabalho serviu de base à publicação “Património Cultural Construído Concelho de Loures”, editada pela Câmara Municipal de Loures em 1988, que condensou o levantamento exaustivo do património construído, a delimitação dos aglomerados, a identificação dos espaços e imóveis notáveis, e as medidas cautelares para cada nível.

Nos núcleos antigos (nível 1) as medidas procuravam disciplinar: demolições, escala, materiais, pormenores, cores, usos, obras de natureza comercial e publicidade; nas respectivas áreas periféricas de protecção constituídas por 500 metros em redor do perímetro definido para o aglomerado antigo visavam controlar: altimetria, morfologia, tipologia arquitectónica e recuperação de elementos.

143. Refere o aumento do “conhecimento do património cultural como um modo de facilitar a coexistência pacífica, promovendo a confiança e compreensão mútua, tendo em vista a resolução e prevenção de conflitos”. Ao relacionar património cultural com conhecimento, avança, entre outros, com compromissos de “incluir a dimensão patrimonial cultural em todos os níveis de ensino”; “encorajar a investigação interdisciplinar sobre o património cultural, as comunidades patrimoniais, o ambiente e as suas relações”; “encorajar a formação profissional contínua e o intercâmbio de conhecimento e de métodos, tanto no interior como no exterior do sistema de ensino”.

144. Nível um: Aglomerados onde ainda existe uma área de valor patrimonial que apresenta homogeneidade e consistência entre a estrutura urbana e o edificado, passível de ser delimitada e protegida como núcleo antigo.

Nível dois: Aglomerados onde já não existe um núcleo antigo, mas apresentam valores patrimoniais ainda significativos, que se constituem em conjuntos que deverão ser protegidos.

Nível três: Aglomerados em avançado estado de descaracterização que deverão ser objecto de intervenção no âmbito da defesa da paisagem em que se inserem.

Esta primeira inventariação foi integrada com as respectivas medidas cautelares no regulamento do Plano Director Municipal (P.D.M.) publicado em 1994145 e, por força dessa integração, tornaram-se vinculativas para a actuação do Município e dos particulares. Segundo o modelo apontado, seguir-se-ia a elaboração de planos de intervenção nas áreas delimitadas, para orientações mais detalhadas, a escala mais aproximada da realidade. Porém esta orientação não foi seguida, com excepção para o núcleo antigo de Sacavém.

Nos anos 80 iniciou-se a elaboração do plano de salvaguarda do núcleo antigo de Sacavém, em parceria com o L.N.E.C., tendo sido instalado um gabinete técnico de acompanhamento no local, que entretanto foi extinto. O plano não foi concluído, e encontra-se em parte desactualizado face ao tempo decorrido. As suas propostas serviram de orientação para o desenvolvimento de pretensões de obras particulares, algumas executadas ao abrigo do Programa RECRIA, e nortearam intervenções de reabilitação do espaço público.

Os meios utilizados com base no trabalho dos anos 80: a inventariação, a definição de áreas de protecção, e a aplicação de medidas preventivas aos aglomerados, integradas no regulamento do P.D.M., para aplicação até à elaboração de planos de salvaguarda146, revelaram-se por si só insuficientes para a defesa do património construído. Na prática, o património continuou a ser tratado na elaboração dos planos como variável operacional do planeamento, tal como a rede viária, de saneamento ou os espaços verdes, sem abordagens integradas.

As medidas preventivas aplicáveis a “Áreas Urbanas com Valor Patrimonial” foram inscritas no regulamento do P.D.M.147 no final de uma cadeia de remissões, a partir da regulamentação do zonamento para “Espaços Urbanos a Consolidar e Beneficiar”, prejudicando a sua compreensão e aplicação.

Foram estas disposições que, desde final de oitenta à actualidade, enquadraram as trajectórias descritas pelos aglomerados, nos licenciamentos de projectos caso a caso, tratados num elo estreito com questões gerais da gestão urbanística: autorização ou proibição para construir, reutilizar e demolir ou lotear.

145. Resolução do Conselho de Ministros nº 54/94. Diário da Republica nº 161, I Série-B de 14-07-1994.

146. Estes meios têm sido sucessivamente contemplados nas normas internacionais como a Convenção da UNESCO sobre Património mundial, cultural e natural, 1972, a Convenção de Granada, 1985, a Recomendação sobre a protecção do património arquitectónico do séc. XX, Estrasburgo, 1991, e mais recentemente a Convenção Quadro do Conselho da Europa Relativa ao Valor do Património Cultural, 2005 refere o aumento do “conhecimento do património cultural como um modo de facilitar a coexistência pacífica, promovendo a confiança e compreensão mútua, tendo em vista a resolução e prevenção de conflitos”. Ao relacionar património cultural com conhecimento, avança, entre outros, com compromissos de “incluir a dimensão patrimonial cultural em todos os níveis de ensino”; “encorajar a investigação interdisciplinar sobre o património cultural, as comunidades patrimoniais, o ambiente e as suas relações”; “encorajar a formação profissional contínua e o intercâmbio de conhecimento e de métodos, tanto no interior como no exterior do sistema de ensino”. 147. Regulamento disponível na internet em: http://www.cm-loures.pt/doc/PDMregulamento.pdf