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PARTE II FASE DE PLANEJAMENTO

CAPÍTULO 3 AGRIMENSURA: PLANIMETRIA DA INVESTIGAÇÃO

3.2 POTENCIALIDADE SIGNIFICATIVA DOS MEDIADORES DIDÁTICOS

3.2.1 DELEGAÇÕES NA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM EAD

Em EaD se fala constantemente em autonomia (MOORE, 1993; ARETIO, 1994; CRUZ, 2001; PETERS, 2001) ou no estudante que autodirige seus interesses e seu estudo. (SALES, 2005). Tendo-se em vista as implicações dos modelos didáticos de organização da mediação - sintetizados no Capítulo II - um princípio como autonomia está diretamente vinculado ao que se entende, por processos educacionais diretivos ou não. A autonomia implica no estabelecimento de normas pelos indivíduos envolvidos num grupo. Diferencia-se da ausência de regras (anomia) e da heteronomia, quando as regras são ditas por agentes externos ao grupo.

Um modelo professoral altamente estruturado prescinde de uma concepção em que os direcionamentos advêm do professor. Já os modelos em que se defende mais autonomia e diálogo para os estudantes não descartam a necessidade de estabelecer as direções, embora estas sejam controladas pelos estudantes. Afigura- se que existe sempre uma “fonte controladora” do processo, aqui compreendida enquanto ação daquele autorizado a fazê-lo; daquele que supervisiona, acompanha e organiza a ação.

Aretio (1994) apresenta três grupos de teorias e seus representantes que contribuem com pressupostos para EaD: a) industrialização (Peters) que discute a ampliação da oferta de programas educacionais; b) interação e comunicação (Baath e Holmberg) que acentua o papel de princípios como o diálogo nos materiais didáticos e c) autonomia e independência (Charles Wedemeyer e Michael Moore). A descrição dessa última se refere essencialmente à capacidade de auto- responsabilidade dos adultos na solução de problemas, liberdade de decisão sobre as formas de estudo, possibilidades de aprender em casa, no trabalho, na biblioteca ou por intermédio das manifestações culturais.

Moore (1993) define a dimensão da autonomia dentro das três categorias da teoria da distância transacional, discutida no Capítulo II. Grande parte das ações é administrada pelos estudantes e não mais somente pelo professor. Segundo ele, o grau de direcionamento aumenta na medida em que a aproximação entre

professores e estudantes aumenta. A competência dos estudantes de se autodirigirem é fundamental na determinação do benefício ou prejuízo do distanciamento do professor.

Diante dessa perspectiva, percebe-se, em teorias como a de Moore (1993), que advogam a autonomia como um dos princípios fundamentais para EaD, um esclarecimento sobre a necessidade de sistematização e organização do processo ensino-aprendizagem. Ora é mais conduzido pelo professor ora pelos estudantes. E, mesmo que os estudantes estejam mais presentes, os professores continuam exercendo funções essenciais em relação ao conhecimento envolvido, as quais não se restringem à facilitação ou motivação da aprendizagem. Essas funções do professor dizem respeito ao exercício da organização didaático-metodológica dos conteúdos, por exemplo. Em termos da mediação respaldada pela TRM pode-se atribuir ao professor a responsabilidade pela organização dos mediadores que fazem fazer. Ao longo da elaboração dos materiais didáticos preocupa-se com as delegações que eles comportam.

A intencionalidade e a intervenção didática proposta pelo professor nos materiais em EaD, podem ser melhor compreendidas à luz de teorias que explicam o ensino e a aprendizagem. Especialmente, num processo de EaD, cuja mediação pedagógica está ancorada em princípios como autonomia, interação e cooperação. Princípios estes muito importantes nos projetos de formação a distância, orientando o percurso teórico-metodológico como referenciais conceituais da mediação pedagógica acoplados entre si, desde as primeiras etapas da elaboração dos materiais didáticos.

Cooperação implica num processo compartilhado e coletivo, tanto no trabalho da equipe multidisciplinar quanto no processo ensino-aprendizagem. Compreende todas as dimensões de uma ação reflexiva, desde a sua concepção, implementação até a avaliação e reformulação. O compromisso com as estratégias de organização coletiva é imprescindível porque todos são co-responsáveis pelo processo. À cooperação estão atreladas várias noções e valores, dentre eles, autonomia, participação, respeito, responsabilidade individual e coletiva de cada um em suas atribuições.

Interação, por sua vez, é um dos princípios básicos para os processos ensino- aprendizagem construtivistas. Os conhecimentos e as experiências são pontos de partida para tomar decisões. O princípio da interação requer o reconhecimento das

potencialidades de cada um na resolução dos desafios. Implica na organização e diálogo em torno dos problemas e reflexão compartilhada em torno das soluções encontradas.

A autonomia, acentuada na teoria de Maturana e Varela (1997; 2001), é essencialmente o exercício da auto-organização no movimento individual-coletivo em que se reconhecem as potencialidades de decisão e ação. A autonomia, baseada nessa concepção, compreende o respeito às diferenças, às possibilidades e às condições de cada um de compartilhar as regras gerais - o contrato didático - a serem definidas e cumpridas individual e coletivamente. A autonomia, como princípio de funcionamento das ações coletivas, requer que as alterações sejam modificadas num processo avaliativo e deliberativo. Implica ter acesso e redistribuir as informações.

A autonomia também se constitui como autoreconhecimento e no reconhecimento do papel que os outros indivíduos cumprem num tempo-espaço determinado. Para Catapan e Fialho (1999), a autonomia é um processo de autoconsciência que acontece em virtude do reconhecimento do outro como ele mesmo e no reconhecimento de si como um ser em si. Para que esse reconhecimento ocorra, a interação é fundamental. A autonomia é resultado da interação e cooperação que os indivíduos estabelecem entre si provocando seus estados de autoconsciência.

Dentre os componentes de um sistema de EaD definidos por Aretio (1994), os professores ocupam lugar estratégico junto aos estudantes, ao processo de comunicação, à estrutura e organização garantido um equilíbrio entre autonomia, interação e cooperação. Suas habilidades e competências estão transpassadas porque o trabalho docente se complexifica em meio à multiplicidade de mediadores H-NH envolvidos.

Dentre esses aspectos, acrescentam-se o contexto e o conhecimento enquanto elementos fundamentais que sustentam uma relação didática. É em torno de uma variedade de mediadores não-humanos como os saberes, conteúdos expressos em materiais didáticos, atividades e opções tecnológicas que professores e estudantes se comunicam, estruturam e organizam suas ações.

O professor-mediador (LENOIR, 1994) diferencia-se potencialmente do professor-facilitador, uma vez que ele não só aconselha, motiva, mas também cria e oferece estratégias, elabora mapas de navegação para ampliação, construção do

conhecimento por parte dos estudantes. Ou seja, elabora mediadores que provocam ações. Para Melo e Carvalho Neto (2006), “uma atividade para desenvolver conhecimento científico e ampliação do domínio da linguagem (ação e pensamento) parte da proposição de um problema pelo professor. O problema é a mola propulsora das variadas ações dos alunos: ele motiva, desafia, desperta o interesse e gera discussões.” (p.31). Castro (2002) destaca a imprescindibilidade da intencionalidade que está presente no processo ensino-aprendizagem, o que chama de “intenção de produzir aprendizagem e intenção de aprender.” (p.14). Para autora, a intenção educacional é o que define a qualidade didática de um texto, um diálogo ou um objeto.

Em EaD, os materiais didáticos contribuem potencialmente para aproximação dos estudantes com as estratégias propostas pelo professor, pois carregam implícita e explicitamente a necessidade de decisões, soluções inerentes ao ato de Estudar- Aprender. Os conceitos, princípios e teorias são organizados pelo professor e equipe multidisciplinar no material didático, requerendo dos estudantes exercícios de leitura, compreensão e construção de novos significados.

Um material didático potencialmente significativo conflui com o postulado da mediação pedagógica como eixo central do processo ensino-aprendizagem, implicando numa teoria pedagógica mediacional. Para traçar esse quadro, é necessário fazer algumas incursões pelas teorias da aprendizagem.