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PARTE II FASE DE PLANEJAMENTO

CAPÍTULO 4 SUPERFÍCIE: PLANEJAMENTO DIDÁTICO-METODOLÓGICO NA EQUIPE

4.2 DESIGN DE MEDIAÇÃO (DM)

A planimetria conceitual das teorias que sustentam o percurso dessa investigação servem como indicadores para atribuição de outra denominação aos profissionais que atuam com os professores-autores nas equipes multidisciplinares. O conceito mediação por meio dos seus significados discutidos no lastro da Teoria da Rede de Mediadores, Aprendizagem Significativa e Transposição Didática amplia a compreensão da necessidade da organização didático-metodológica em EaD. Com o conceito de mediação propõe-se retomar a discussão educacional em torno “como ensinar” acoplado à preocupação em torno do “que ensinar”. Desse ponto de vista, o conceito “instrução” nem sempre contempla essa complexidade, principalmente quando está associado à linearizaçao do processo produtivo.

O que se compreende por Design Instrucional na literatura, mesmo no quadro que demonstra espaços de capacitação e formação sobre o assunto, se diferencia conceitualmente da mediação e da performance docente no processo de elaboração de materiais didáticos impressos e hipermidiáticos.

A emergência de avançar significativamente na resolução dos problemas decorrentes do desafio da elaboração de mediadores didáticos impressos e hipermidiáticos para mediação pedagógica em EaD é verdadeira. Concorda-se que o investimento na formação das pessoas que integram as equipes multidisciplinares deva ser o primeiro passo para isso. No entanto, isso precisa ocorrer dentro de uma configuração teórico-metodológica bem explicitada.

No Quadro 9, elaborado para fins de elucidar a demanda por formação e capacitação dos profissionais envolvidos na elaboração de materiais didáticos para EaD, percebe-se uma infinidade de disciplinas e programas. Mas não existe um fio condutor entre as diferentes ações, embora a incorporação de tecnologias de informação e comunicação seja um dos elementos mais valorizados.

O conceito de DI emana de um contexto teórico-prático vinculado à “Instrução” como componente fora do campo do Currículo conforme especifica Reigeluth (1983) na Figura 5. “O que ensinar” diferencia-se do “como ensinar”. Enquanto as teorias da aprendizagem têm uma função descritiva, as teorias que se ocupam do DI tem funções prescritivas sobre os métodos, estratégias e situações que explicitam guias, orientações para auxiliar as pessoas a aprender. Dessa forma,

a instrução baseia-se fundamentalmente em quatro aspectos: informações claras, atividades práticas, feedback e motivação. (REIGELUTH, 1999).

Os três modelos conceituais que a literatura indica (behavioristas, cognitivistas e construtivistas) como sustentação dos métodos do DI, sistematizados no Quadro 6, priorizam ainda uma separação entre Sujeito–Objeto. Diferentemente da Teoria da Rede de Mediadores (TRM) que propõe a superação dessa disjunção.

Dentro desses três modelos, a mediação pedagógica ainda pode ser entendida como subordinação à instrução como se o ensino e a aprendizagem fossem um fim em si mesmos independente dos mediadores envolvidos.

Os materiais didáticos na perspectiva behaviorista fundamentam-se no empirismo primando-se o objeto. São caracterizados pela transmissão-recepção de informações. Dentro das três categoriais da Teoria da Distância Transacional, discutida no Capítulo II, essa concepção está atrelada à acentuada estruturação dos programas de ensino. O DI dentro do modelo behaviorista se preocupa em concentrar nos materiais didáticos grandes quantidades de noções, conceitos, informações. As habilidades do designer são valorizadas como planejador de modelos e sistemas de instrução. A especificação de objetivos, envolvimento dos estudantes, feedback constante, material em pequenos passos caracterizam a instrução individualizada que marca esse modelo.

A perspectiva cognitivista fundamenta suas ações no apriorismo. Prioriza-se o sujeito. A ênfase são as relações interpessoais e o ensino passa a ser centrado no estudante. A tarefa do designer instrucional é auxiliar na produção de materiais que facilitem a aprendizagem. A responsabilidade pelo processo de estudo é dos estudantes. O importante é contemplar as situações nos materiais para que os estudantes possam organizar-se. A Teoria da Distância Transacional discute essa perspectiva sob o ponto de vista da autonomia. Dentro dos modelos didáticos discutidos no Capítulo II, os materiais são planejados como tutoriais. A proposição de atividades de auto-avaliação é característica acentuada. Não há um repertório de estratégias de ensino a serem observadas pelos autores de materiais.

As abordagens construtivistas não priorizam ou sujeitos ou objetos como ponto de partida da construção do conhecimento conforme já discutido no Capítulo III. A perspectiva é interacionista na medida em que se aceita uma “interação” entre sujeitos e objetos. O DI nessa abordagem tem a função de organização de materiais que contemplem situações em que os estudantes possam interagir, pesquisar,

trabalhar em grupos e realizar tarefas cooperativamente. A preocupação passa a ser a elaboração de um material mais desafiador permitindo que os estudantes possam desenvolver graus consideráveis de autonomia.

Na literatura sobre o DI encontram-se esses três modelos que podem ser localizados dentro das concepções epistemológicas e respectivas abordagens pedagógicas. Não é nenhum desses três planos conceituais que se aborda nessa investigação. Como se explicitou no Capítulo III, a investigação da performance docente e suas implicações na mediação pedagógica em EaD requer um corpo teórico-metodológico que respeite as nuances de um evento em movimento numa rede composta por diversos mediadores H-NH. A própria equipe multidisciplinar é uma complexa rede de mediadores.

Nessa investigação sobre a performance docente no processo de elaboração de materiais didáticos impressos e hipermidiáticos para mediação pedagógica em EaD opta-se pela Teoria da Rede de Mediadores que ressalta o coletivo H-NH como princípio da mediação e da produção de conhecimentos. Portanto, o conceito Design Instrucional não compõe com essa perspectiva porque os princípios da mediação e da instrução se diferenciam pela sua natureza teórico-prática. A translação e composição de objetivos, o obscurecimento reversível e as delegações, significados próprios da mediação, implicam numa compreensão muito particular da performance docente ao longo da elaboração dos materiais didáticos em equipes multidisciplinares.

Desse modo, passa-se a utilizar a composição Design de Mediação (DM) para tratar do planejamento, desenvolvimento, implementação, avaliação e (re)elaboração dos materiais didáticos impressos e hipermidiáticos que sustentam a mediação pedagógica em EaD. Esse conceito satisfaz melhor os propósitos dessa investigação tanto pelo corpo conceitual priorizado quanto pelo evento analisado.

Portanto, no contexto dessa investigação, DM se situa como uma atividade de acoplamento entre os saberes docentes localizados nos campos da pedagogia, tecnologias de informação e comunicação digital, didática, metodologias do ensino, área específica e EaD. Se faz uma apropriação das ressonâncias do caráter educacional formal à que se refere atribuindo-lhe o sentido da resolução dos problemas típicos das práticas docentes investigativas. Trata-se da dinâmica cíclica espiralada de planejamento, implementação, avaliação e reelaboração das estratégias de ensino-aprendizagem que perpassam seleção de conceitos,

transformação de saberes sábios em saberes a ensinar, elaboração de planos de ensino, monitoramento e diagnósticos da aprendizagem, atividades de avaliação,

feedbacks, registros e relatórios.

A adoção do conceito DM já marca a performance docente no processo de elaboração de materiais didáticos. Significa que a mediação pedagógica é compreendida na perspectiva da rede de mediadores H-NH que dela fazem parte. O movimento é contínuo. A equipe multidisciplinar é entendida como uma rede de mediadores cuja preocupação central gira em torno da elaboração de novos mediadores didáticos. Esses fazem os estudantes, tutores e professores- ministrantes interagir, monitorar, avaliar, pesquisar enquanto ações próprias do processo ensino-aprendizagem. Os materiais didáticos (impressos e hipermidiáticos) são compreendidos como mediadores não-humanos na mediação pedagógica em EaD. A sua potencialidade reside na incorporação de delegações que requerem ciclos de pensamentos e ações.

O DM dá importância ao planejamento antecipado do processo ensino- aprendizagem. Isso é pertinente em campos das ciências da educação como a didática, metodologias e prática de ensino, teorias como a aprendizagem significativa e transposição didática. (BORDENAVE e PEREIRA, 1986). No caso desse estudo, etapa essencial da espiral cíclica ascendente de resolução de problemas na investigação-ação.

O DM caracteriza-se como um processo de decisão sobre conteúdos, métodos, técnicas, procedimentos, estratégias, tecnologias de interação e cooperação. O “como ensinar” não está desassociado “do que ensinar”. Perpassa desde as fases de seleção dos conceitos prioritários até a disponibilização dos materiais didáticos tanto impressos quanto hipermidiáticos.

O DM adquire, no âmbito dessa investigação, o sentido de um “problem-

solving process” a partir do que sintetiza o termo design na língua inglesa.

(OLIVEIRA, 2004). Em intervenções educacionais o design assume o caráter da resolução de problemas pelos próprios envolvidos. Requer uma abordagem multidisciplinar e interação permanente em função de um contexto e um público- alvo. As ações e os resultados implicam na compreensão dos participantes. (CAVALLO, 2007).

A elaboração de mediadores didáticos impressos e hipermidiáticos é um desafio na performance docente em EaD. Desse modo, compreende-se o DM como

um processo para resolução de problemas didático-metodológicos exigindo criatividade, otimização de soluções, tomada de decisão, utilização de princípios científicos, didáticos, políticos, éticos, do ensino-aprendizagem, da EaD, hipermídia, informações sobre público-alvo, contexto e infra-estrutura. “É uma atividade de resolução de problemas objetivamente dirigida”. (JONES, 1992, p. 03).

Assume-se o DM como atividade de resolução de problemas no mesmo sentido que Deleuze e Guattari (1995a e b; 1997) dão ao rizoma como cartografia de um número infinito de possibilidades, de leitura dos signos, soluções imaginadas, decisões e ações. “O signo pode se dobrar em mil modos. Músicas, cidades, rituais, tatuagens, signos plásticos ou cinematográficos, imagens infinitamente difratadas da rede mediática, máquinas de escrita em abismo dos softwares, imaginários pluri- semióticos em ato, universos existenciais”. (LÉVY, 1998, p. 13).

O DM como atividade de resolução de problemas no contexto da elaboração de mediadores didáticos requer que se acrescente mais uma etapa ao Quadro 7 configurando o processo de elaboração de materiais didáticos numa perspectiva cíclica espiralada:

Reelaboração Análise de resultados. Novos planejamentos. Reprogramação. Ampliação ou delimitação conceitual.

Além dos conteúdos de cada área específica, o conhecimento das teorias do ensino, da aprendizagem, da transposição didática, educação de adultos e das tecnologias da informação e comunicação é central no planejamento didático- metodológico de mediadores impressos e hipermidiáticos.

O DM, enquanto função, provoca interferência na criação de estratégias didático-metodológicas, elaboração de apresentações, resumos, glossários, tarefas, organização de itens suplementares, proposição de atividades de interatividade e de interação, avaliações, criação de animações, pesquisa bibliográfica, pesquisa de objetos de ensino-aprendizagem, sugestões de hipermídia, coleta de informações sobre o contexto, infra-estrutura, público-alvo, implementação de pré-testes. O trabalho que o tutor faz cooperativamente com o professor-ministrante ao longo da implementação das disciplinas num curso a distância, o designer de mediação faz ao longo da elaboração dos materiais didáticos.

Em EaD é imprescindível que os designers de mediação compartilhem propostas pedagógicas do projeto, dialoguem com os diferentes profissionais

envolvidos na equipe multidisciplinar, tenham acesso às informações e participem das decisões para resolução dos problemas que o desafio da elaboração de mediadores didáticos impõe. No Brasil ainda é necessário avançar mais em relação à essa discussão. Em muitos projetos em desenvolvimento, como os coordenados pela UFSC, a função de design de mediação é executada por bolsistas e não se tem uma orientação muito clara a respeito das bases de atuação, inclusive, pela escassez de publicações sobre o assunto.

A qualificação das experiências em EaD implica no envolvimento de professores e designers de mediação nas etapas da resolução de problemas que vão do planejamento até a avaliação. Embora isso pareça gerar situações mais intensas de compartilhamento dos problemas e soluções, é importante alertar para necessidade de um gerenciamento sistematizado desse processo.

O DM é muito mais do que o planejamento técnico de determinadas estratégias de ensino-aprendizagem. Está vinculado a um entendimento espistemológico e pedagógico. E por isso sustenta decisões e ações típicas da performance docente ao longo da elaboração de materiais didáticos.