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PARTE II FASE DE PLANEJAMENTO

CAPÍTULO 3 AGRIMENSURA: PLANIMETRIA DA INVESTIGAÇÃO

3.1 SEGUINDO OS MEDIADORES: TEORIA DA REDE DE MEDIADORES (TRM)

3.1.1 REDE

O conceito de rede diz respeito à uma série de interconexões. É composta de nós, convergências e bifurcações entre mediadores H-NH. Há muitos tipos e níveis de nós e redes. As conexões variam conforme os valores, concepções, interesses e relações estabelecidas. Diz respeito desde as redes sociais primárias, como, por exemplo, a família ou amigos estendendo-se até as redes sociais secundárias como uma instituição. Uma rede pode ser constituída por grupos sociais, povos, artefatos, dispositivos e entidades formando uma estrutura caracterizada por cada um dos seus componentes. A rede Internet é um exemplo de conexão em escala mundial formada por computadores e com ela as pessoas se comunicam. (CASTELS, 1999).

O conceito de rede fica mais fácil de ser compreendido na medida em que se percebe que cotidianamente os pensamentos em ação transcorrem em redes. Está presente desde o campo da sociologia (redes sociais) até a informática (rede de computadores). Os sistemas de informação e comunicação, de transporte e energia elétrica são bons exemplos de redes sóciotécnicas e redes técnico-econômicas como mostram as Figuras 1 e 2.

Figura 1 - Rede baseada numa estrutura cliente -servidor

Fonte:http://sweet.ua.pt/~pf/Linux/Foco/ servidor/rede_cli_srv.png

Figura 2 - Rede de distribuição de energia elétrica

Fonte:http://ciencia.hsw.uol.com.br/redes -eletricas.htm

O conceito de rede compreende sempre a heterogeneidade, híbridos, agenciamentos de H-NH. Essa característica de conexões performáticas é muito marcante na TRM. Independente do mediador envolvido sua importância é reconhecida no nível de interferência ao longo das sucessivas associações, delegações e mediações. Na medida em que algumas relações entre mediadores se desfazem e outras são constituídas, a rede se reorganiza provocando novos equilíbrios.

Do ponto de vista do agenciamento, os mediadores não podem ser compreendidos como uma entidade única, mas como resultado da sua relação perfomática quando compõem a mesma rede. O agenciamento não implica atribuir intencionalidade, vontade, desejos como propriedades similares entre H-NH. Latour (1994; 2000; 2001) se aproxima especialmente de Deleuze (1998) no que diz respeito ao conceito de agenciamento. Para ambos, esse conceito representa as múltiplas possibilidades de conexões, relações, mediações.

A elaboração do conhecimento científico está atrelada a um sistema com princípios explicativos. A ciência, quando desconsidera a relação H-NH, é orientada por um pensamento simplificador e unidimensional. Opera sem levar em

consideração as aleatoriedades reduzindo o conhecimento ao conjunto de resultados gerados numa observação que exclui as interferências do observador.

O conhecimento gerado numa perspectiva investigativa que compreende a relação entre H-NH permite: a) superar as concepções empiristas e aprioristas; b) superar a dicotomia sujeito-objeto nos princípios de explicação; c) incorporar a dinâmica ação-reflexão-ação como elemento de compreensão da realidade; d) explicitar o processo de construção do conhecimento científico como condição de consciência da situação de inacabamento; e) incorporar o fluxo criativo de novas situações de pesquisa e de ensino-aprendizagem; f) tomar como referência o contexto social em que o conhecimento é produzido; g) explicitar as implicações das cadeias de equilibração-desequilibração nas redes de mediadores.

O “conhecimento”, portanto, é corporificado em várias formas materiais. Mas de onde ele vem? A resposta da teoria ator-rede é que ele é o produto final de muito trabalho no qual elementos heterogêneos – tubos de ensaio, reagentes, organismos, mãos habilidosas, microscópios eletrônicos, monitores de radiação, outros cientistas, artigos, terminais de computador, e tudo o mais – os quais gostariam de ir-se embora por suas próprias contas, são justapostos numa rede que supera suas resistências. Em resumo, o conhecimento é uma questão material, mas é também uma questão de organizar e ordenar esses materiais. Este então é o diagnóstico da ciência, na visão ator-rede: um processo de “engenharia heterogênea” no qual elementos do social, do técnico, do conceitual, e do textual são justapostos e então convertidos (ou “traduzidos”) para um conjunto de produtos científicos, igualmente heterogêneos. (LAW, 2007, p. 03).

O exercício dessa nova compreensão suscita possibilidades de abarcar cada vez mais as conformidades e singularidades da relação que os mediadores humanos estabelecem com os não-humanos na produção da sua existência. Conceitos, valores, saberes e significados aparecem na explicitação de um conhecimento que não se sustenta nem nos postulados aprioristas, nem nos empiristas, mas passa a ser a própria mediação.

No cenário da ciência da educação, o desafio, portanto, se concentra na revisão de conhecimentos científicos. Um processo ensino-aprendizagem, pautado nos princípios da mediação H-NH, descarta a transmissão-recepção, o professor como único detentor do saber, a verdade absoluta dos conteúdos escolares, o desempenho da aprendizagem pautado na hereditariedade genética e mensurações de input/output.

Sob a ótica da “perseguição” dos mediadores, um processo investigativo requer uma dinâmica de ação-reflexão-ação constante. Sempre em espiral cíclica ascendente. Seguir os mediadores em suas ações, decisões, diálogos, interações. Participar, integrar a rede de mediadores. Cartografar, registrar os modos de ser, pensar e agir. Do ponto de vista analítico, uma rede pode ser compreendida “de dentro para fora”. Ou seja, a partir das potencialidades dos agenciamentos internos que ela comporta e não pelos contornos externos, superfícies.

Nessa medida, a cartografia da performance docente no processo de elaboração de materiais didáticos impressos e hipermidiáticos pode oferecer evidências importantes para compreensão da mediação pedagógica em EaD. É a possibilidade de sistematizar, “de dentro pra fora”, do movimento retrospectivo e prospectivo das etapas cíclicas espiraladas de planejamento, implementação, avaliação e replanejamento no interior da equipe multidisciplinar.