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O PAR E A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO EDUCACIONAL: UMA ANÁLISE DOS INDICADORES NO MUNICÍPIO DE BARCARENA/PA

F IGURA 1: BARCARENA: LOCALIZAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ E MAPA ESPACIAL.

3.4 O PAR E A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO EDUCACIONAL: UMA ANÁLISE DOS INDICADORES NO MUNICÍPIO DE BARCARENA/PA

O Plano de Ações Articuladas propõe indicadores com ações e subações que induzem à democratização da gestão educacional. Nosso objetivo é analisar quatro desses indicadores - 1) Existência e funcionamento de Conselhos Escolares (CE); (2) Existência, composição e atuação do Conselho Municipal de Educação; (3) Composição e atuação do Conselho de Alimentação Escolar (CAE); e (4) Critérios para escolha da Direção Escolar - de acordo com três categorias fundamentais para a democratização da gestão, que são: Descentralização; Participação e Autonomia.

Além dos princípios da gestão democrática, que serão nossas categorias de análise, serão utilizados dados do Documento do PAR do referido município, bem como das entrevistas semiestruturadas realizadas com sujeitos envolvidos tanto na elaboração quanto na execução e acompanhamento das ações e subações do Plano.

3.4.1 O Conselho Escolar

Os Conselhos Escolares, conforme a visão governamental, são órgãos colegiados compostos por representantes das comunidades escolar e local, que têm como atribuição deliberar sobre questões político-pedagógicas, administrativas, financeiras, no âmbito da escola (MEC, 2004). Desta forma:

Cabe aos Conselhos analisar as ações a empreender e os meios a utilizar para a construção da proposta educativa da escola cumprimento das finalidades da escola. Eles representam as comunidades escolar e local, atuando em conjunto e definindo caminhos para tomar as deliberações que são de sua responsabilidade. Representam, assim, um lugar de

participação e decisão, um espaço de discussão, negociação e encaminhamento das demandas educacionais, possibilitando a participação social e promovendo a gestão democrática. São, enfim, uma instância de discussão, acompanhamento e deliberação, na qual se busca incentivar uma cultura democrática, substituindo a cultura patrimonialista pela cultura participativa e cidadã (MEC, 2004, p.34).

Observa-se que o discurso oficial reconhece a importância dos conselhos no âmbito escolar enquanto instância de discussão, deliberação e de prática democrática. Na Legislação Brasileira, a Carta Magna – Constituição de 1988 –, em seu art. 206, ratificado no art. 3º da Lei n. 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB), prevê a “gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (inciso VIII do art. 3° da LDB).

De forma mais precisa, a LDB, afirma que:

Art.14 Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica de acordo com as suas peculiaridades, conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

A LDB reafirma a importância da participação da comunidade escolar, na forma de conselhos escolares, como princípio da gestão democrática. As competências atribuídas aos conselhos escolares, conforme o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares (BRASIL, 2004), são as seguintes: deliberativas, consultivas, fiscais e mobilizadoras.

a) Deliberativas: quando decidem sobre o projeto político- pedagógico e outros assuntos da escola, aprovam encaminhamentos de problemas, garantem a elaboração de normas internas e o cumprimento das normas dos sistemas de ensino e decidem sobre a organização e o funcionamento geral das escolas, propondo à direção as ações a serem desenvolvidas. Elaboram normas internas da escola sobre

questões referentes ao seu funcionamento nos aspectos pedagógico, administrativo e financeiro.

b) Consultivas: quando têm um caráter de assessoramento, analisando as questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola e apresentando sugestões ou soluções,

que poderão ou não ser acatadas pelas direções das unidades escolares.

c) Fiscais (acompanhamento e avaliação): quando

acompanham a execução das ações pedagógicas, administrativas e financeiras, avaliando e garantindo o

cumprimento das normas das escolas e a qualidade social do cotidiano escolar.

d) Mobilizadoras: quando promovem a participação, de forma integrada, dos segmentos representativos da escola e da comunidade local em diversas atividades, contribuindo assim para a efetivação da democracia participativa e para a melhoria da qualidade social da educação (BRASIL, 2004, p. 41, negrito meu).

O programa de fortalecimento dos conselhos escolares54, proposto pelo Ministério da Educação, reforça os princípios democráticos da gestão. Cury (2004) destaca a função “normativa” dos conselhos de educação como a mais nobre e que é derivada do poder legislativo em harmonia e cooperação com os outros poderes, desempenhando um interesse coletivo. Contudo, somente a função deliberativa, ou normativa, não basta para garantir a democratização da gestão educacional na medida em que é insuficiente apenas elaborar pareceres e resoluções, mas deve-se garantir o assessoramento e acompanhamento da execução dessas normas, garantindo a participação efetivas de todos os segmentos representativos da escola.

É importante destacar, ainda, a existência do Plano Nacional de Educação (PNE)55, aprovado como Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2014. Esse plano estabelece um conjunto de objetivos com vistas a orientar as políticas públicas de educação no período de dez anos. Entre os objetivos, a democratização da gestão do ensino público é ressaltada, evidenciando mais uma vez a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em

54 O Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares tem por objetivo fomentar

a implantação dos conselhos escolares, por meio da elaboração de material didático específico e formação continuada, presencial e a distância, para técnicos das Secretarias Estaduais e Municipais de educação e para conselheiros escolares, de acordo com as necessidades dos sistemas de ensino, das políticas educacionais e dos profissionais de educação envolvidos com gestão democrática (Disponível em: http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-de- fortalecimento-dos-conselhos-escolares).

55 O Plano Nacional de Educação (PNE) é resultado do debate entre duas propostas, uma

encaminhada pelos movimentos sociais organizados, denominada Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira, e outra oriunda do Poder Executivo. Na tramitação do PNE prevaleceu a proposta do Executivo, incorporando alguns pontos defendidos pelos segmentos sociais organizados.

conselhos escolares ou equivalentes, acrescentando a descentralização da gestão educacional, com fortalecimento da autonomia da escola e garantia de participação da sociedade na gestão da escola e da educação (MEC, 2004).

O Conselho Escolar pode se constituir em instância fundamental para a construção da democracia participativa, haja vista que se trata de um órgão de atuação política, de partilha de poder, de organização da escola e de deliberações compartilhadas, através do qual a comunidade escolar tem o direito de exercer a gestão da educação (LIMA, 2008).

No município de Barcarena, observa-se a partir da adesão ao Plano de Ações Articuladas (assinado em 2008) uma ampliação no número de Conselhos Escolares por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE – que funcionam também como Unidades Executoras (UEX), para garantir a administração dos recursos e a utilização do mesmo pelas escolas. A tabela abaixo expõe esse crescimento das UEX:

Tabela 08: Barcarena: Receita do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) via Unidade Executora – UEX de 2006 a 2014.

Ano N° de Escolas com

UEX PDDE- UEX Valor do

2006 33 R$ 143.546,40 2007 34 R$ 168.553,30 2008 34 R$ 153.243,00 2009 32 R$ 278.547,70 2010 48 R$ 516.070,57 2011 48 R$ 456.227,30 2012 50 R$ 370.676,66 2013 53 R$ 505.140,00 2014 60 R$ 242.279,47 Total R$ 2.834.284,40 Fonte: FNDE 2006 a 2014

O número de Conselhos Escolares no município de Barcarena aumentou 82% após a implementação do PAR no município. Esses conselhos assumiram a função de Unidade Executora, responsabilizando-se pela administração dos recursos financeiros das respectivas escolas. Entretanto, os valores de repasse não cresceram proporcionalmente na medida em que, em 2010, ano de maior valor transferido, as 48 escolas receberam R$ 516.070,57, enquanto que em 2014 com 60 escolas contempladas, o valor repassado foi apenas R$ 242.279,47, ou seja, um valor bastante inferior. Ao comparar 2013 com 2014,

nota-se uma redução de R$ 505.140,00 para R$ 242.279,47, que representa um percentual de 52% dos recursos repassados, embora o número de UEX tenha aumentado de 53 para 60.

O PDDE representou um avanço na perspectiva da descentralização da gestão pública, contudo, o condicionamento da transferência dos recursos federais diretamente para as escolas mediante criação dos conselhos escolares, sem reforçar o valor da participação coletiva nas decisões administrativas, pedagógicas e financeiras pode enfraquecer a sua lógica democrática.

No quadro abaixo apresentamos os dados do PAR referente ao município de Barcarena no que tange ao indicador “Existência e funcionamento do Conselho Escolar (CE):

Quadro 6. Barcarena-Pa – existência e funcionamento do CE.

PONTUAÇÃO JUSTIFICATIVA

PAR

4 A rede de escolas do município de Barcarena possui