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1 A GESTÃO EDUCACIONAL E AS INTERFACES DO ESTADO NAS REDEFINIÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

1.1 A GESTÃO EDUCACIONAL: DA GERERE AO GERENCIALISMO

1.1.1 A Gestão Democrática em Questão

A década de 1980 marca também o momento de lutas pela democratização da educação que, para Adrião e Camargo (2007), era a expectativa de uma nação advinda de um regime militar ditatorial (1964-1985). Os movimentos populares e sindicais reivindicavam transparência e maior participação da sociedade civil nas decisões do Estado.

Os primeiros grandes movimentos grevistas; o movimento das “Diretas Já” pelo retorno de eleições para governantes; a conquista da liberdade de organização partidária, entre tantas outras ações no campo trabalhista, político e social, configuram um clima por maior participação e democratização das várias esferas da sociedade brasileira, incluindo-se a organização do próprio Estado (ADRIÃO e CAMARGO, 2007, p.63).

O Estado brasileiro, portanto, incluiu-se na pauta da democratização dos seus procedimentos e instâncias. Isso decorre da imensidão das lutas dos trabalhadores, com destaque para os trabalhadores da educação que, conforme Oliveira (2009), marcaram a década de 1980 com o envolvimento da

comunidade nas lutas em defesa da escola pública, por melhores condições de trabalho e remuneração dos professores, o que garantiu a essas greves uma legitimidade ímpar.

A Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88) prevê a “gestão democrática do ensino público na forma da lei”; assim como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 em seu Art. 14, admite o princípio da gestão democrática ao prever a participação dos profissionais da educação na elaboração dos projetos pedagógicos da escola; a participação das comunidades escolar e local em Conselhos Escolares ou equivalentes; estabelecendo progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira às unidades escolares públicas de educação.

Na análise de Paro (2007), a LDB simplesmente repete a “fórmula da Constituição Federal” (p.74) por dois aspectos: primeiro por considerar a gestão democrática um tema já esgotado na Legislação federal, deixando para os sistemas de ensino a responsabilidade de regulamentar a gestão democrática, conforme explicita o art. 14 da LDB; o segundo aspecto é a restrição desse modelo de gestão ao ensino “público”, liberando a iniciativa privada para atuar conforme seus princípios próprios.

Embora a gestão democrática esteja prevista na legislação brasileira de forma tão superficial, esse fato já foi um marco na história, sendo produto de muitas lutas dos movimentos sindicais e organizações da sociedade civil; essa vitória ainda é acentuada quando se considera que essa conquista ocorreu depois de quase vinte anos de ditadura militar no Brasil.

Essas demandas da sociedade foram fundamentais na pauta democrática que compõe a legislação brasileira atualmente. Outra ênfase desses movimentos era na necessidade de publicização do Estado, garantindo a instalação de procedimentos mais transparentes e de instâncias de caráter participativo com vistas à democratização da gestão do próprio Estado (ADRIÃO; CAMARGO, 2007). No entanto, os autores salientam que todo processo legislativo envolve disputas entre diferentes interesses, e por mais que represente um avanço, a simples presença no texto legal não implica sua execução.

Isso remete ao envolvimento dos atores sociais nas constantes lutas por garantia de direitos, principalmente pela participação nos processos de decisão

que envolve o bem público. Sabe-se que não é uma tarefa fácil, considerando que a administração pública brasileira ainda tem muitos vestígios dos nossos colonizadores (FREIRE, 2009).

Porém, essas dificuldades não decrescem a importância dos processos democráticos na gestão educacional. Paro (1997; 2001) e Gutierres (2010) corroboram da ideia de que não há coerência em educar para a vida social e cidadã quando se utiliza práticas autoritárias e que exaltam a competição nas relações sociais, tornando, assim, fundamental a democratização da gestão educacional. Ambos destacam que a gestão democrática nas instâncias sociais implica não só no acesso da população a seus serviços, mas também a sua participação na tomada de decisões.

Essas assertivas também encontram amparo nos estudos de Oliveira (2002) ao propor que a gestão democrática ocorre quando a escola é reconhecida como espaço de política e trabalho, garantindo a participação da comunidade nos desígnios da escola. Da mesma forma, Paro (2007) valoriza a participação ativa dos sujeitos educacionais no processo de tomadas de decisões, bem como na execução das ações.

Freire (2009) entende como democrática toda gestão que abre a organização da escola pública à participação de todos no poder de decisão. Segundo ele, é a inserção de outros poderes que atuam na escola, na cidade, na sociedade; e esses poderes são aqueles que emergem “entre as diferentes propostas de escola brasileira, entre os cotidianos escolares locais e as determinações das Secretarias de Educação, entre os professores e os funcionários e a Direção do sindicato da categoria, os partidos políticos, etc” (p.146).

Nesse processo de gestão democrática, Barroso (2013) destaca a

participação e a autonomia como imprescindíveis na tomada de decisão por

possibilitar aos sujeitos acompanharem e decidirem os rumos da instituição educacional. Na mesma perspectiva, Dourado (2007) considera a gestão democrática como instrumento de participação e autonomia que envolve a transformação da instituição e da própria sociedade na qual está inserida.

A gestão democrática, consoante Luck (2000) pode ser caracterizada como um espaço de descentralização do poder, de participação e de autonomia das instituições, possibilitando a construção da cidadania e a

formação do cidadão. Embora a autora centralize seu debate acerca da importância da liderança e autocontrole do gestor escolar, corroboramos da sua afirmação de que a democratização da gestão possibilita a melhoria da qualidade da educação, a qual deve ser negociada, participativa, auto reflexiva, contextual/plural, processual e transformadora.

Por outro lado, princípios como eficiência, racionalidade e produtividade, presentes na lógica mercadológica do capital, passam a ser vislumbrados na gestão pública, compondo o modelo gerencial de gestão, evidenciado no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, conforme será evidenciado a seguir.

1.1.2 O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) e