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F IGURA 1: BARCARENA: LOCALIZAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ E MAPA ESPACIAL.

3.3 O PAR E A GESTÃO DA EDUCAÇÃO NA REDE MUNICIPAL DE BARCARENA

Como dito anteriormente, o Plano de Ações Articuladas (PAR) é uma ferramenta de planejamento da educação inserido no Plano de Metas e Compromisso Todos pela Educação (PMCTE), um programa estratégico do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) destinado à melhoria da qualidade da educação, especialmente à educação básica pública (MEC, 2007).

O prefeito do município de Barcarena-Pa, Laurival Magno Cunha49, assinou o Termo de Adesão ao Plano de Metas e Compromisso Todos pela Educação em 2007, sendo até 2011 a vigência desse 1º PAR; e no período de 2012 a 2014 que corresponde ao 2º PAR atuaram como prefeitos João Carlos dos Santos Dias50 e Antônio Carlos Vilaça51. Desta forma, o Plano de Ações Articuladas foi executado por três diferentes administrações no município, havendo trocas de secretários de educação e dos membros da equipe técnica.

No quadro abaixo está ilustrada a Equipe Técnica Local, responsável pela elaboração do PAR de Barcarena-Pa.

Quadro 4. Equipe técnica do 1º PAR, no período de 2007 a 2011.

Quantidade de sujeitos Representação

01 Secretário de Educação do Município

03 Técnicos da Secretaria Municipal de Educação 02 Representantes dos Diretores de Escolas

02 Representantes dos professores da zona urbana/rural 02 Representantes dos Conselhos Escolares

10 TOTAL

Fonte: BRASIL/SIMEC (2007)

49 O prefeito Laurival Magno Cunha, do Partido Do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),

assumiu dois mandatos na Prefeitura de Barcarena-Pa, sendo o primeiro de 2001 a 2004 e o segundo mandato de 2005 a 2008.

50 O prefeito João Carlos dos Santos Dias, do Partido Progressista (PP), assumiu no período

de 2009 a 2012 a administração do município de Barcarena.

51 Antônio Carlos Vilaça, do Partido Social Cristão (PSC), atua como prefeito de Barcarena

Conforme indica o quadro acima, constam no primeiro PAR, no período de 2007 a 2011, um total de 10 integrantes da Equipe Técnica Local, distribuída em cinco segmentos: Secretário de Educação do Município; Técnicos da Secretaria Municipal de Educação; Representantes dos Diretores de Escolas; Representantes dos professores da zona urbana/rural; Representantes dos Conselhos Escolares.

Com isso, observa-se que a sociedade civil organizada do campo educacional não participou da elaboração do Plano de Ações Articuladas; e, como já foi discutido no capítulo anterior, a sociedade civil só foi convocada pelo Plano de Metas e Compromisso Todos pela Educação (XXVIII diretriz do Plano de Metas do PDE) para participar do “Comitê Local do Compromisso”, acompanhando a execução do PAR e as metas de evolução do IDEB.]

Em entrevista com representantes de segmentos da sociedade civil organizada foi possível observar que nem o SINTEPP, nem mesmo os membros do Conselho Municipal de Educação têm conhecimento acerca do PMCTE ou do PAR: “Em nenhum momento a SEMED passou qualquer informação sobre o PAR e muito menos solicitou o acompanhamento” (ARUÃS

1). De acordo com representante do CME, conselho que foi criado mediante

demanda do Plano de Ações Articuladas, não há conhecimento algum do Plano, o qual ficou restrito à equipe técnica.

A seguir, no quadro 06, pode-se verificar a Equipe Técnica do 2º PAR:

Quadro 5. Equipe técnica do 2º par, no período de 2011 a 2014.

Quantidade de sujeitos Cargo do Responsável pelo Execução

01 Secretária de Educação do Município 01 Diretor de Ensino

02 Professora

01 Chefe do Setor Técnico Pedagógico 01 Chefe do Setor de Educação Especial 01 Chefe do Setor Psicossocial

01 Coordenadora de Pragramas e Projetos

01 Pedagoga

01 Diretora do Departamento de Administração

10 TOTAL

No segundo PAR, que compreende o período de 2011 a 201452, verifica- se um total de 10 sujeitos responsáveis pela execução das ações e subações demandadas. Dentre os responsáveis, observa-se a participação unicamente de membros da Secretaria Municipal de Educação de Barcarena.

Conforme o Documento do 2º PAR, o Comitê Local do Compromisso do Município foi implementado, no entanto identifica-se três condições desfavoráveis: a primeira é a não regularidade das reuniões, o que dificulta o processo de acompanhamento das ações; a segunda condição inadequada é a composição do Comitê apenas por segmentos do governo municipal, não havendo nele representação da sociedade civil; e a terceira constatação é quanto a sua atuação deficitária, haja vista que não mobiliza a sociedade e nem acompanha as metas de evolução do IDEB (PAR/BARCARENA, 2012).

Essas condições desfavoráveis contradizem as recomendações do Ministério da Educação constantes no Documento do PAR:

A implantação com sucesso, deste plano depende não somente da mobilização e vontade política, mas também de mecanismos e instrumentos de acompanhamento e avaliação das diversas ações a serem desenvolvidas. Neste sentido, a Secretaria Municipal de Educação será a responsável pela coordenação do processo de implantação e consolidação do PAR, na figura do Dirigente Municipal de Educação. Além dela, desempenhará também um papel essencial nessas funções o Comitê Local do Compromisso Todos pela Educação e a sociedade civil organizada (PAR BARCARENA, 2007, p.75).

Constata-se, entretanto, que tanto a elaboração quanto a execução e acompanhamento do Plano de Ações Articuladas de Barcarena-Pa foram realizadas unicamente por membros do governo municipal, não havendo, portanto, a participação dos segmentos da sociedade civil organizada, fundamental para garantir a democratização dos processos decisórios e a construção de um projeto participativo de educação em benefício de toda a comunidade.

52 Embora conste o ano de 2011 como início do 2º PAR, a execução das ações e subações em

A importância da sociedade civil, enquanto esfera não de necessidades individuais mas de organizações, expressa por Gramsci (2000) reafirma a indispensabilidade desse espaço de expansão dos sujeitos que, a partir da sua efetiva participação e responsabilidade desenvolvem suas capacidades pessoais e coletivas na gestão pública, constroem um ambiente democrático a tal ponto de anular o papel coercitivo e hegemônico do Estado.

É importante ressaltar que o processo de elaboração do PAR ocorreu de forma apressada no município, sem muita discussão pela rede, o que pode provocar um diagnóstico impreciso, além de não ser participativo na medida em que apenas os técnicos da Secretaria de Educação realizam a sua elaboração, como pode ser constatado na seguinte afirmações do entrevistado técnico da SEMED:

Na época, vinha o discurso de que quem fizesse viriam verbas para várias ações [...] E aí foi feito assim... tudo muito rápido... foi feito a toque de caixa. Ele [assessor técnico do MEC/UFPA] veio em dois dias. (...)Se sabia muito pouco o que era, (...)Foi pá pá pá, e nós fizemos praticamente nas coxas, na marra (GIBIRIÉ 2).

No discurso do entrevistado é evidente a rapidez com que elaboraram o diagnóstico do PAR do município, contando com a presença de dois técnicos da SEMED de Barcarena e de cinco diretores das escolas da rede municipal com menor nota no IDEB. No trecho seguinte, de outro técnico da secretaria confirmamos a forma veloz como foi construído assim como o desconhecimento dos mesmos acerca do que estavam preenchendo:

Disseram vai chegar uma verba e quando veio o PAR nós tínhamos terminado o Plano do PDE escola e agora a gente vai, olha chegou, tem um programa ai, é o PAR, o que é isso? Não sei, vão pra formação, que lá vocês vão saber quem é pra ir? Chama os diretores, os cinco (05), então foram os diretores e nós da equipe técnica e chegou lá ele começou a falar, e falar, gente é rápido, é agora, alguém digita bem rápido aqui pra gente, bora digitar, um digitador bem rápido, eu, gente calma, o que que é isso? E a gente foi, foi, a gente foi entendendo por nossa conta, cada um chegou a sua conclusão do que seria, terminou (...) foi muito assim frustrante pra gente (GIBIRIÉ 3).

Nota-se que a construção de um diagnóstico para planejar a educação do município de forma tão aligeirada, sem planejamento e sem a participação de demais membros da comunidade, não contribui para a um planejamento condizente com a realidade do município. Outro fato observado é o condicionamento do recebimento de verbas a partir da adesão e elaboração do PAR: “partiu da secretária na época (...) vamos fazer, (...) só vai receber verbas agora quem tiver isso, elaborado, pronto pra poder subsidiar o financiamento de várias ações, transporte escolar, infraestrutura e tal, formação continuada” (GIBIRIÉ 2).

Na verdade, o Decreto nº 6.094, de 24 de Abril de 2007, no § 5º afirma que o apoio da União dar-se-á, quando couber, mediante a elaboração de um Plano de Ações Articuladas - PAR, na forma da Seção II53 (BRASIL, 2007). De forma mais precisa, na Resolução CD/FNDE n° 14 de 08 de junho de 2012, define-se que todos os Estados e Municípios devem elaborar seus Planos como condição para obter assistência técnica e financeira do MEC. Portanto, o PAR é pré-requisito para os entes federados receberem auxílio técnico e financeiro do governo federal:

Art. 1º A assistência técnica e financeira será concedida exclusivamente aos entes federativos que tenham elaborado o Plano de Ações Articuladas (PAR) e o submetido à aprovação do Comitê Estratégico do PAR e aceito o termo de compromisso no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação –SIMEC- (BRASIL/MEC, 2012).

Portanto, a adesão ao Plano de Metas e Compromisso Todos pela Educação e elaboração do PAR, conforme a Legislação supracitada, é requisito para o recebimento de verbas da União, bem como assistência técnica do MEC, o que pode indicar o caráter autoritário e gerencialista entrelaçado na política pública educacional e nos seus programas.

Nas seções seguintes ampliaremos a discussão acerca dos mecanismos de Controle Social através dos Conselhos Escolares; Conselho Municipal de

53 Seção II Do Plano de Ações Articuladas Art. 9º O PAR é o conjunto articulado de ações,

apoiado técnica ou financeiramente pelo MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, que visa o cumprimento das metas do Compromisso e a observância das suas diretrizes (BRASIL, 2007).

Educação; e Conselho de Alimentação; bem como de fatores fundamentais para a garantir a democratização da gestão e que também constam como indicadores da área de “Gestão Democrática” do PAR, como é o caso da “Escolha de Direção Escolar”.

3.4 O PAR E A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO EDUCACIONAL: