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DEPENDÊNCIA DE TRAJETÓRIA (PATH DEPENDENCE)

No documento A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL NAS (páginas 67-71)

David (2000) refere-se à path dependence como uma propriedade de processos dinâmicos, contingentes e não reversíveis, incluindo uma ampla gama de processos que podem ser descritos como 'evolucionários'.

O conceito de dependência de trajetória tem origem nas ideias de David (1985) de que uma pequena vantagem inicial ou de um alguns pequenos choques aleatórios ao longo do caminho pode alterar o curso da história (PAGE, 2006).

Mahoney (2000) identifica que muitas vezes, a dependência de trajetória é definida como pouco mais do que a vaga noção de que "a história importa" ou que "o passado influencia o futuro." Para ele, tais definições gerais têm levado muitas vezes a compreensão

inadequada de que a dependência de trajetória é uma forma de análise simplesmente retroativa de fatos.

O autor identifica que as análises de dependência de trajetória devem ter três características definidoras: a análise do caminho-dependente deve envolver o estudo de processos causais que são altamente sensíveis aos eventos que ocorrem no início dos anos fases de uma sequência histórica global; em uma sequência de trajetória-dependente, os primeiros acontecimentos históricos são ocorrências contingentes que não podem ser explicadas com base nos eventos anteriores ou "condições iniciais”; uma vez que contingentes eventos históricos acontecem, as sequências de trajetórias-dependentes são marcadas por padrões relativamente determinísticos causais ou o que pode ser identificado como "inércia" - ou seja, uma vez que os processos são definidos em movimento e começam a acompanhar um determinado resultado, esses processos tendem a permanecer em movimento e a continuar acompanhando este resultado. A natureza desta inércia irá variar dependendo do tipo de sequência analisada. Em sequências de auto-reforço, a inércia envolve mecanismos que reproduzem um padrão particular institucional ao longo do tempo. Com sequências reativas, pelo contrário, a inércia envolve mecanismos de reação e contra-reação que dão uma cadeia de eventos uma "lógica inerente", em que um evento "naturalmente" conduz a um outro evento

Embora ambos os tipos de sequências são caracterizada por propriedades relativamente deterministas, conjuntos específicos de condições podem ser identificados que causam a "reversão" da dependência caminho.

Torfing (1999) diferencia a construção de trajetória (path-shaping) da dependência de trajetória (path-dependency). A primeira implica que forças sociais podem intervir nas atuais conjunturas e ativamente rearticulá-las de modo que novas trajetórias tornem-se possíveis; a segunda implica que os legados institucionais limitam as opções atuais e possibilidades nas reformas institucionais. Em uma trajetória estável acontece um fato de ruptura ou um momento crítico no qual há a construção de uma nova trajetória que é limitada pela trajetória anterior.

Goldstone (1998) enfatiza o papel das condições iniciais, leis gerais e dependência de trajetória para explicar diferentes tipos de relacionamentos históricos. O autor considera a path dependence como uma propriedade de um sistema cujos resultados não são determinados por um determinado conjunto de condições iniciais. Para ele, a dependência de trajetória está relacionada aos resultados obtidos aleatoriamente de condições iniciais e o resultado obtido

em um determinado momento é decorrente de escolhas ou resultados de eventos intermediários ocorridos a partir da condição inicial.

Hansen (apud HOFF, 2008, p.406) sugere “que um efeito path dependent ocorre somente quando uma decisão prévia reforça a si mesma, quando ela determina, em parte, o desenvolvimento de eventos futuros”. O autor considera também que a path dependence ocorre quando uma decisão limita as alternativas viáveis em momentos subsequentes, atuando como um limitante oriundo da escolha original.

Para descrever a trajetória que envolveu o processo de resourcing no presente estudo, optou-se pela estrutura analítica de Hoff (2008) que está baseado nas ideias evolucionárias de Nelson e Winter (1982) e Dosi e Nelson (1994) e conjuga principalmente os conceitos de David (2000), Goldstone (1998), Mahoney (2000) e Hansen (2002), além de autores como Ruttan (1997), Torfing (1999), Scott (2001) e outros. A Figura 9 ilustra o modelo de Hoff (2008).

Figura 9: Estrutura analítica de path dependence

.

Fonte: adaptado de Hoff (2008).

Segundo Hoff (2008), o modelo é explicado de acordo com o seguinte:

• As condições antecedentes referem-se aos fatores históricos e conjunturais que definem opções viáveis e moldam os processos de seleção.

• Os momentos críticos representam a seleção de uma opção em particular que faça emergir a path dependence.

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO FATO OBSERVADO

Condições Antecedentes

Momentos Críticos

Seqüência Auto-reforçante

Seqüência Reativa

Resultados

• A seqüência auto-reforçante envolve a produção e reprodução de padrões institucionais ou estruturais que permanecem ao longo do tempo e condicionam a trajetória.

• A seqüência reativa refere-se às reações e contra reações às escolhas e aos padrões institucionais ou estruturais que geram feedbacks, reforçando a trajetória ou criando novos momentos críticos.

• Os resultados representam a solução de conflitos gerados pelas reações e contra-reações.

De acordo com Hoff (2008, p.419), a estrutura analítica está fundamentada de acordo com as seguintes etapas:

1. Construir a trajetória histórica que leva ao fato observado;

2. Identificar as condições antecedentes, leis gerais e outros elementos da conjuntura existente no ambiente de inserção do fato que possam contribuir para o surgimento de momentos críticos para a formação da path dependence;

3. Identificar, ao longo da história, os momentos críticos que levam a escolhas que fazem emergir uma trajetória dependente;

4. Testar os momentos de escolha, utilizando-se a análise contra-factual, visando identificar os momentos realmente críticos;

5. A partir das escolhas, observar a formação de elementos institucionais e estruturais que contribuam para o condicionamento da trajetória, ou seja, que gerem sequência auto-reforçantes, dificultando o retorno para as condições iniciais que permitam outras escolhas entre as alternativas disponíveis;

6. Identificar as sequências reativas oriundas da escolha e da formação dos elementos institucionais e estruturais que servem de feedback positivo ou negativo ao processo, permitindo ratificação do caminho ou o surgimento de novos momentos críticos;

7. Descrever os resultados finais observados a partir da solução dos conflitos surgidos da fase das sequências reativas.

Considerando que o presente trabalho não pretende esgotar a literatura sobre o tema e que os conceitos apresentados são suficientes para o alcance dos objetivos do estudo proposto, a metodologia é apresentada a seguir.

4 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta o método a ser utilizado para consecução da pesquisa e para o tratamento e a análise dos dados.

No documento A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL NAS (páginas 67-71)