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Países emergentes, ambiente institucional e investimento direto externo

No documento A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL NAS (páginas 61-66)

3.6 ABORDAGEM INSTITUCIONAL

3.6.4 Países emergentes, ambiente institucional e investimento direto externo

A influência do ambiente institucional dos países pode ser evidenciada em vários estudos. Henisz (2000) investigou o efeito do ambiente institucional no investimento de empresas multinacionais. O autor identificou que a escolha do modo de entrada pode estar relacionada aos riscos de expropriação da propriedade por potenciais parceiros de joint ventures do país de acolhimento do investimento. Agarwal e Ramaswami (1992, p.6) também sinalizaram para essa questão. Os autores consideram que o risco de investimento no país de acolhimento reflete a incerteza sobre a estabilidade econômica e política e que podem causar problemas relacionados à repatriação de lucros, e em casos extremos, a expropriação de bens.

As políticas restritivas do governo de um país podem dificultar os investimentos estrangeiros.

Ali et al (2008) identificaram que as instituições são determinantes para a atração do investimento direto externo. A pesquisa realizada por eles evidenciou que as instituições podem atuar como um preditor do investimento direto externo e que os direitos de propriedade, as leis e o risco de expropriação são considerados muito importantes na avaliação das empresas multinacionais. Observa-se, assim, que a importância da estrutura política e legal na análise dos riscos tanto na necessidade de internalização de atividades quanto na localização do investimento.

Delios e Beamish (1999) verificaram que os aspectos institucionais e a experiência são os mais importantes determinantes das estratégias de propriedade de empresas japonesas.

O estudo de Ionascu et al (2004) identificou que a distância institucional (aspectos regulatórios, normativos e cognitivos) entre as instituições da matriz e as instituições do contexto das unidades estrangeiras podem influenciar os modos de entrada nos países emergentes. Dentre as conclusões, os autores evidenciaram, por exemplo, que uma maior distância institucional entre economias desenvolvidas e mercados emergentes aumenta a propensão do uso de aquisições e joint ventures.

Meyer et al (2009) investigaram o impacto das instituições sobre as estratégias de mercado através da análise das estratégias de entrada de investidores estrangeiros que ingressaram em quatro países emergentes (Índia, Vietnã, África do Sul e Egito). Os autores identificaram que as instituições influenciam diretamente as estratégias de entrada e que essa influência é moderada pela necessidade de diferentes tipos de recursos locais. O estudo revela que essa interação surge dos impactos simultâneos dos recursos e das características institucionais sobre a eficiência do mercado em uma determinada transação: a busca de recursos locais. Os autores verificaram que o desenvolvimento institucional favorece a entrada de investimentos do tipo greenfield e de aquisições.

Meyer et al (2006) analisaram o investimento direto externo no Vietnam e verificaram que as empresas que pretendem realizar negócios nesse país devem estar atentas às peculiaridades da cultura local, bem como à estrutura institucional que governa a indústria almejada.

Nesse sentido cabe observar aqui a importância da cultura nacional que está relacionada às regras informais da sociedade. Hofstede (2001) afirma que as empresas multinacionais devem adaptar-se às condições culturais locais para almejar o sucesso de seus negócios. O autor considera que as nações são vistas como tendo seu próprio modo de governar, um conjunto de leis que compartilham raízes históricas. Além disso, ele identifica que todas as pessoas são influenciadas, pelos valores e pela cultura nacional ou regional as quais pertencem. Sendo assim, os aspectos informais podem ser considerados de grande importância. Chu e Wood Jr. (2008, p.973-974) identificaram que a cultura brasileira possui seis traços essenciais e centrais:

• Jeitinho — comportamento ambíguo e que admite dupla leitura, podendo significar uma postura conformista de convivência com o status quo injusto e inaceitável; e pode ser visto como um recurso de resistência cultural;

• Desigualdade de poder e hierarquia — o sistema de relações hierárquicas que vigorou nas relações do Brasil colonial marcou profundamente a sociedade local. No Brasil, muitos indivíduos julgam-se com direitos especiais que os eximem de sujeitar-se à lei de caráter generalizante;

• Flexibilidade — a flexibilidade que permeia os comportamentos nas organizações no país traduz-se na capacidade de adaptação e criatividade das pessoas.

• Plasticidade — facilidade de assimilação fácil de práticas e costumes estrangeiros e pela propensão a mirar modelos e conceitos desenvolvidos em outros contextos de gestão em detrimento daqueles desenvolvidos localmente.

• Personalismo — expressa a importância atribuída às pessoas e aos interesses pessoais em detrimento das pessoas ou interesses do grupo ou comunidade.

• Formalismo — comportamentos que buscam a redução do risco, da ambiguidade e da incerteza e ao mesmo tempo aumento de previsibilidade e controle sobre as ações e comportamentos humanos.

Autores como Globerman e Shapiro (2002) e Slangen e Beugelsdijk (2010) identificam que a infra-estrutura de governança, ou seja, a qualidade do ambiente político, legal e institucional é um determinante importante para entrada e saída de investimento direto externo nos países. Martin, Salomon e Wu (2010) acrescentam que o ambiente institucional é importante na decisão de localização de aglomeração industrial.

Considerando os países da América Latina, Amal e Seabra (2007) evidenciam que os fatores institucionais são estatisticamente significantes para explicar a atração de investimentos diretos externos. Os autores indicam que a dimensão institucional assume um papel relevante na decisão de localização dos investimentos diretos externos em função de que sua eficiência e qualidade contribuem para minimizar a assimetria de informações, reduzem os custos de transação e garantem meios legais para solucionar controvérsias.

Realizando estudos sobre os aspectos que influenciam as empresas neozelandesas a ingressar no Brasil, Schoen (2009) identificou a influência dos fatores institucionais do país de origem, como falta de apoio governamental, programas de incentivo e política de câmbio, dentre outras. Em relação ao Brasil, a autora identificou que a burocracia, a corrupção e as altas taxas são aspectos que dificultam a inserção no País.

Meyer (2001) considera que as empresas multinacionais precisam adaptar suas estratégias às instituições dos países em que operam, buscando minimizar as imperfeições do mercado. O autor identifica que países com pouco desenvolvimento institucional inibem a inserção de empresas multinacionais.

Observa-se, assim, a importância do ambiente institucional no âmbito dos negócios internacionais e sua influência nas estratégias e práticas empresariais das empresas multinacionais em países emergentes. A análise da qualidade do ambiente institucional, pode ser realizada através da análise das seis dimensões que são utilizadas pelo Banco Mundial

para medir o grau de governança4 dos países: Voz e Responsabilização, Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo, Eficácia do Governo, Qualidade Regulatória, Regras de Direito e Controle da Corrupção (KAUFFMANN ET AL, 2010):

• Voz e Responsabilização: identifica até que ponto os cidadãos de um país são capazes de participar na escolha de seu governo, bem como a liberdade de expressão, liberdade de associação e uma mídia livre. São analisados: Liberdade (de escolha dos governantes, de expressão, de associação, de imprensa); Defesa das liberdades civis; Respeito aos direitos (humanos, políticos); Transparência e outros.

• Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo: possibilidade de desestabilização ou derrubada do governo por meios inconstitucionais ou violentos, bem com o a tensões e conflitos, dentre outros. São analisados: Conflitos internos; Conflitos externos; Tensões e/ou conflitos étnicos ou sociais; Violência urbana; Segurança e outros.

• Eficácia do Governo: Qualidade dos serviços públicos, qualidade dos serviços civis e o grau de independência de pressões políticas, qualidade da formulação e implementação política, credibilidade do comprometimento do governo com tais políticas. São analisadas:

Qualidade dos serviços públicos; Grau de independência das pressões políticas; Credibilidade e outros

• Qualidade da Regulação:. Capacidade do governo para formular e implementar políticas sólidas e regulações que permitem e promovem o desenvolvimento do setor privado. São analisados: Regulação da importação/exportação; Controle de preços; Tarifas e taxas discriminatórias; Políticas (comerciais, de câmbio, etc.) e outros.

• Estado de Direito: confiança no respeito às regras da sociedade. São analisados: a qualidade da execução dos contratos, direitos de propriedade, a polícia e os tribunais, bem como o respeito à lei e a ordem.

• Controle da Corrupção: forma como o poder público é exercido para ganhos privados. São analisados: Facilidade para influenciar leis, regulações, decisões judiciais através de pagamentos ou outras formas;

Transparência e prestação de contas e outros.

4 Concorda-se com Kauffmann et al (2010) que a governança reflete a qualidade do ambiente institucional.

A análise de cada dimensão permite fazer comparações entre os países. Oseghale e Nwachukwu (2010) usando os indicadores de Kauffmann identificaram que o ambiente institucional afeta as decisões de reinvestimento das multinacionais americanas. Da mesma forma, Gani (2011) ressalta a importância do ambiente institucional para o crescimento e desenvolvimento dos países.

Considerando os estudos analisados anteriormente, os aspectos do ambiente institucional que afetam os países emergentes que foram mais mencionados foram: a estabilidade política, a estrutura legal para o cumprimento dos contratos, o respeito aos direitos de propriedade e o grau de corrupção. Esses estudos indicam que um ambiente institucional favorável atrai o investimento direto externo e que a distância institucional pode influenciar a modalidade do investimento a ser feito (greenfield/joint venture/aquisição).

Nesse sentido as instituições criam as estruturas de governança pelas quais as organizações realizam suas atividades e as organizações com seus objetivos incorporam e interpretam o esquema de normas e regras de acordo com suas necessidades e agem de acordo com elas (MUDAMBI; NAVARRA, 2002).

North (1993) acrescenta que complexas estruturas institucionais têm sido desenvolvidas ao longo do tempo restringindo agentes sociais e reduzindo a incerteza da interação social, constituindo cruciais instrumentos para negócios internacionais. As instituições afetam a capacidade das firmas de interagir e, portanto, afetam as transações e a coordenação dos custos de produção e inovação (MUDAMBI; NAVARRA, 2002).

North (1993) identifica que as instituições podem ser consideradas um obstáculo para o desenvolvimento dos países do terceiro mundo e os de economia em transição, pois o sistema de crenças que se desenvolveu é resultado das experiências cumulativas do passado de uma sociedade que não se preparou para enfrentar os desafios do mundo globalizado.

Considerando que o ambiente de negócios internacional envolve a competição entre os países por investimento direto externo, alguns deles, buscam aperfeiçoar o seu ambiente institucional, promovendo, dentre outros aspectos, a proteção de direitos, a abertura comercial e outros. Entretanto, essas iniciativas podem encontrar considerável resistência doméstica, pois podem enfraquecer grupos nacionais que podem influenciar governos e afetar de alguma forma o comércio internacional, os fluxos de capital, a migração e o intercâmbio tecnológico (MUDAMBI; NAVARRA, 2002).

Observa-se, dessa forma, que a abordagem institucional compreende diversas facetas e que todas elas são fundamentais para o entendimento do ambiente intra e inter-organizacional

em que operam as organizações, especialmente aquelas que estão envolvidas em contextos internacionais.

Os estudos abordados anteriormente sugerem que o ambiente institucional do país de acolhimento do investimento direto externo pode afetar a configuração e a mobilização dos recursos que podem contribuir para o alcance ou manutenção de vantagem competitiva. Sendo assim, observa-se a necessidade de abordar o processo de reconfiguração dos recursos (resourcing).

No documento A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL NAS (páginas 61-66)