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PARTE II – METODOLOGIA E PESQUISA EMPÍRICA

6.4 Antecedentes do CFC/CRC a fase da consolidação

6.4.6 Os desafios atuais da profissão

O contexto atual de mudanças no cenário político-econômico e sociocultural no Brasil demanda, do profissional da área contábil, ciência e compreensão das alterações ocorrentes no

âmbito da prática profissional; não somente em consequência da adoção e da convergência das normas internacionais de Contabilidade, como também da instabilidade e mudanças advindas com a reorganização dos processos produtivos. Estar ciente das mudanças não é suficiente para garantir intervenções que possibilitem compreender os avanços que sucedem no âmbito da Ciência Contábil e da profissão com dimensões para a prática social (Laffin & Portella, 2014).

A profissão da Contabilidade é bem sucedida e atingiu em larga medida os objetivos a que se propôs: detêm hoje o monopólio na maior parte dos serviços de Contabilidade, como auditoria, fiscalização, consultoria, insolvência etc., e melhorou o seu estatuto social. A Contabilidade foi a primeira profissão a operar de forma multinacional (MacDonald, 1995). O aparecimento de corporações mundiais levou ao desencadeamento de projetos profissionais na área da Contabilidade. Eliseu Martins, Professor na Universidade de São Paulo, em entrevista gravada no CFC (2006), disse:

Hoje o mundo demanda um profissional que nem o Curso Superior consegue suprir adequadamente, imagine o de nível médio. Talvez no passado o curso técnico tenha cumprido um papel extraordinário, mas hoje não cabe mais a não ser para formação de auxiliares, mas não mais de profissionais que possam agir, responsabilizar-se, assinar como profissional liberal.

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mas a globalização vai levando o mundo à figura de um profissional com formação conceitual muito forte, dominador de línguas e com capacidade de se adaptar facilmente a cada ambiente cultural diferente.

Também o ex-Presidente Juneman, em entrevista gravada ao CFC (2006), considerou que a educação e a formação contínua permanecerá tendo um papel fundamental na profissão da Contabilidade:

Por se tratar de uma profissão de grande importância para o País, haja vista lidar com patrimônio de instituições, entidades e empresas de todo o tipo, tamanho e expressão econômica e social, bem como lidar com dados relevantes para a economia, entendo que o futuro nos seja favorável, necessitando, para tanto, que o CFC continue a incentivar a educação continuada, cada vez em nível mais elevado. Somente dessa maneira, seremos conhecidos e reconhecidos pela comunidade brasileira.

O mesmo posicionamento foi observado na entrevista gravada pelo ex-presidente do CFC, Ynel Camargo (CFC, 2006):

Ademais, o CFC estimula e promove Convenções e Congressos Nacionais de Contabilistas e de Contabilidade; patrocina a participação em eventos internacionais; e ainda executa seu Programa de Educação Continuada, através do Sistema CFC/CRCs, de modo a manter os profissionais brasileiros sintonizados com os avanços científicos e com as práticas contábeis nacionais e internacionais.

Em complemento a essa formação promovida pelos conselhos, mediante inúmeros eventos e conferências, o Sistema CFC/CRCs buscou elevar o nível de ensino das Ciências Contábeis por intermédio da assinatura de convênios com diversas instituições de ensino superior, como a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Estácio de Sá do Rio de Janeiro e a PUC de São Paulo, que resultaram na criação de vários cursos de especialização na área contábil. Somados à criação do exame de suficiência, esses programas de educação continuada são apontados como fundamentais para o crescimento e valorização dos profissionais contábeis, como narrado pelo ex-presidente do CRC-SP, José Serafim Abrantes:

A nós, Contabilistas, interessa, hoje, valorizar a profissão contábil. E, se o sistema de ensino não se revela instrumento bastante para a habilitação profissional, cabe a nós criarmos instrumentos de qualificação e avaliação. Nesse entido, as opções do Sistema CFC/CRCs têm recaído sobre dois instrumentos: e Educação Continuada e o Exame de Suficiência (CFC, 2001, p. 71).

O CFC entende que a formação continuada acadêmica é requisito fundamental para a educação integral do profissional da Contabilidade. Partindo dessa premissa, em 1994, o CFC instituiu o Programa Excelência na Contabilidade, que tem como proposta intensificar a realização de cursos de pós-graduação lato e, principalmente, stricto sensu em Contabilidade, participando financeiramente de projetos específicos direcionados a essa finalidade, mediante convênios firmados com instituições de ensino superior recomendadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Regulamentado pela Resolução CFC n.º 883/00, o Programa Excelência na Contabilidade do Conselho Federal de Contabilidade nasceu com o propósito de se formar profissionais da Contabilidade nas modalidades lato e stricto sensu, em razão de uma carência identificada no mercado. A proposta é a oferta de apoio financeiro para a realização de cursos na área da Contabilidade. Os projetos são oriundos dos CRCs, que, em parceria com a instituição de ensino, encaminham a proposta ao Conselho Federal de Contabilidade para fins de análise. O percentual aprovado para o curso incide na redução das mensalidades dos alunos contadores registrados, aregulares em Conselho Regional de Contabilidade.

Além deste Programa, o CFC instituiu, em 2002, o Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC), que tem o intuito de manter, atualizar e expandir os conhecimentos técnicos e profissionais, as habilidades e as competências indispensáveis à qualidade e ao pleno

atendimento às normas que regem o exercício da atividade de auditoria independente. O Programa está vinculado ao Exame de Qualificação Técnica e ao Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC), considerando que os candidatos aprovados no exame devem cumprir a carga horária para poderem submeter-se a exame.

Preocupado com a qualidade do ensino ofertado pelas IES, o Conselho Federal de Contabilidade celebrou com a Sesu/MEC, em 2009, um termo de colaboração técnica com vistas à participação do CFC nos processos de autorização, reconhecimento e renovação de conhecimento dos cursos superiores na área de Ciências Contábeis. Desde sua a implantação, a Comissão, composta por mestres e doutores, instituída para análise dos processos distribuídos ao CFC, emitiu 450 pareceres que foram disponibilizados no sistema e-MEC.

O CFC organiza ainda o Encontro Nacional de Coordenadores de Cursos de Ciências Contábeis, que tem como objetivo a interação do perfil desejado para o futuro profissional de Contabilidade com as Instituições de Ensino Superior, em face às inovações introduzidas pela legislação e diretrizes curriculares.

Uma profissão tem de cooperar com instituições do ensino superior. Ambas são importantes na definição de um projeto profissional. Além destes atores, uma profissão terá também de lidar com o público, com a sua clientela potencial, de forma a maximizar os seus rendimentos e estatuto social. De acordo com Edwards (2000), a profissão contábil na Austrália e na Nova Zelândia está a viver a fase da diferenciação do mercado, havendo a passagem da Contabilidade como prestadora de serviços, para a Contabilidade como indústria, que é atribuída a uma grande alteração na ideologia do Estado e na estrutura social, caracterizada por desregulação, competição e gerencialismo. Também se verificam a criação de vários tipos de membros e um marketing ativo. No Brasil, ao contrário do que se passa em Portugal, onde a OTOC criou vários colégios de especialidade, a segmentação que se fará no futuro será apenas entre contadores e auditores independentes. Tal como acontece em Portugal, no Brasil existe um marketing ativo na projeção da profissão, não só por meio da Revista Brasileira de Contabilidade, que já existe desde 1912, mas também utilizando-se de outros mecanismos de divulgação.