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PARTE I – REVISÃO DA LITERATURA

3.2 Indicadores de Avaliação do Ensino Superior

3.2.5 Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE)

Pereira (2012, p. 112) caracteriza o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) como avaliação do “desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação, suas habilidades para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e suas competências para compreender temas”.

Barreyro (2008, p. 866) explica que, apesar de o aluno ser avaliado, a nota global é outra avaliação do curso. O ENADE “tem caráter amostral e se aplica a um conjunto de cursos a cada ano. A mesma prova é aplicada, por curso, tanto aos estudantes do primeiro quanto aos do último ano de cada instituição, por amostra de alunos”.

Dada essa característica do exame de ser aplicado a alunos do primeiro e último anos dos cursos, Fernandes et al. (2009, p. 7) destacam a possibilidade decorrente de avaliar a contribuição do curso para o crescimento e formação dos alunos: “Essa medida é dada pelo Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), que calcula a diferença entre a nota obtida pelos concluintes e a nota que seria esperada (baseada na nota dos ingressantes)”.

Atualmente, o ENADE consta de duas provas, uma de conhecimentos gerais e outra de conhecimentos específicos. Sobre a prova de conhecimentos gerais, Schwartzman (2008, p. 9- 10) discorre:

No componente de avaliação da formação geral, dentro dos limites possíveis, é investigada a formação de um profissional ético, competente e comprometido com a sociedade em que vive. Nas questões da prova busca-se também obter indícios relativos à capacidade do estudante para analisar, sintetizar, criticar, deduzir, construir hipóteses, estabelecer relações, fazer comparações, detectar contradições, decidir e organizar as ideias. [...] Na avaliação da formação geral, buscou-se contemplar alguns dentre os vários temas propostos na legislação relativa ao exame, dentre eles: sociodiversidade, biodiversidade, globalização, novos mapas sociais, econômicos e geopolíticos, políticas públicas, redes sociais, relações interpessoais, inclusão e exclusão digital, cidadania, além de outros problemas contemporâneos.

Já as provas de conhecimento específico “são elaboradas por professores das respectivas disciplinas. [...] Em geral, consistem em listas de competências e matérias curriculares elaboradas por comissões de especialistas convidados das diferentes áreas” (Schwartzman, 2008, p. 10). Nesse sentido, para cada curso são elencadas as suas competências a serem analisadas no exame, como a capacidade de conduzir processos investigativos para os estudantes de Química, ou a percepção da integração necessária entre a Filosofia e a produção científica, para os alunos de Filosofia. Brito (2008, p. 846) resume, assim, as características do ENADE:

O ENADE avalia a trajetória do estudante, a partir do potencial de aprendizagem (desempenho dos ingressantes), o domínio da área e as competências profissionais (desempenho dos concluintes). O ponto principal do ENADE é, em primeiro lugar, a mudança de foco do exame. Na avaliação dinâmica,

o foco de interesse é o progresso dos estudantes nos diversos temas que compõem as diretrizes do curso. Deixa de ser uma avaliação da aprendizagem e passa a ser uma avaliação para a aprendizagem. No ENADE são aferidas as habilidades acadêmicas (no sentido de capacidades) e as competências profissionais. A habilidade acadêmica é a capacidade escolar necessária para dominar a informação de uma área, reproduzi-la e usá-la independentemente. Essa é a habilidade possível de ser medida pelo ENADE. Essa habilidade acadêmica é, então, a capacidade de um indivíduo realizar determinadas tarefas, solucionar determinados problemas, dominar com sucesso determinadas exigências do meio, obtendo e demonstrando domínio do conhecimento e de tarefas relativas a uma determinada atividade. Esse aspecto é importante porque não é possível observar uma habilidade em sua forma pura, pois, a habilidade se manifesta durante a execução de uma atividade. O que pode ser observado são manifestações dos componentes de uma determinada habilidade. Já a competência profissional é a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho e do desenvolvimento tecnológico. As competências reportam-se a desempenhos e atuações requeridas do concluinte e devem garantir ao profissional um domínio básico de conhecimentos e a capacidade de utilizá-los em diferentes contextos que demandam a investigação, análise, avaliação, prevenção e atuação em situações definidas, e na promoção da qualidade de vida.

Além dessas questões, Fernandes et al. (2009) ressaltam ainda que o ENADE também conta com um questionário de informações socioeconômicas dos alunos participantes, bem como um instrumento para uma avaliação por parte do aluno sobre distintos aspectos da qualidade do curso no qual se insere, sendo, dessa forma, um indicativo também da avaliação não apenas dos alunos, mas de outros aspectos do curso.

Sobre a sua periodicidade de aplicação, Ristoff e Giolo (2006, p. 2008), assinalam: “É importante notar que a prova do ENADE é aplicada todos os anos, mas cada curso só é avaliado de três em três anos”. Fazendo-se uma divisão de todas as áreas do conhecimento em três grupos, têm-se uma rotatividade da aplicação do exame. Por exemplo, no ano de 2004, o ENADE foi aplicado para os cursos pertencentes ao grupo das Ciências da Sáude e das Ciências Agrárias. Já no ano seguinte, os cursos que passaram pelo ENADE foram os das engenharias e licenciaturas.2 Por fim, no ano de 2007, foi a vez dos cursos de Ciências Sociais Aplicadas e demais cursos, repetindo-se, a partir de 2008, o mesmo ciclo de avaliação.

Em relação ao curso de Ciências Contábeis, a última aplicação do ENADE se deu no ano de 2012, com a avaliação de 932 cursos e 47.299 estudantes participantes. O Quadro 8 traz os resultados quanto à quantidade de cursos por nota.

2 A palavra “licenciatura” no Brasil, em uma de suas acepções, tem um significado diferente do de Portugal: significa cursos que formam professores.

Nota no Enade Qtde. de Cursos % 1 17 1,8% 2 261 28,0% 3 427 45,8% 4 194 20,8% 5 33 3,5% Total 932 100,0%

Quadro 8 – Nota do ENADE para os cursos de Ciências Contábeis. Fonte: MEC (2012).

De acordo com o MEC (2012), a média final dos cursos de Ciências Contábeis é apenas de 35,5%, significando que os alunos de Ciências Contábeis não obtêm uma avaliação positiva no ENADE. Isto quer dizer que esta baixa classificação pode também responder pelos maus resultados no exame de suficiência, tanto mais que este exame avalia não só os alunos que acabaram de entrar, como também os que se preparam para sair para o mercado de trabalho.

De maneira geral, têm-se um retrato favorável da aplicação dos referidos indicadores de avaliação do ensino superior, como assevera Marchelli (2007, p. 212):

A avaliação externa da educação superior no Brasil alcançou nos últimos anos níveis de excelência semelhantes aos verificados nos países que apresentam graus elevados de prestação de contas no setor. As informações provindas desses países mostram que a expansão quantitativa desse nível de ensino foi realizada mediante um rígido e sistemático controle dos padrões de qualidade, obedecendo a processos de avaliação sujeitos a constantes aperfeiçoamentos. As diretrizes e os instrumentos metodológicos patrocinados pelo SINAES,3 mesmo que se destaquem mais pelos seus avanços do que pelos problemas que eventualmente se traduzem em defeitos, necessitam ser melhorados em alguns pontos já previstos pelo próprio SINAES e também pela literatura especializada. O aperfeiçoamento da base de dados do SINAES permitirá comparar, de maneira mais coerente, os resultados dos padrões de qualidade encontrados, evitando que os cálculos baseados em fórmulas que simplificam demais o processo de atribuição de conceitos, não consigam exprimir objetivamente as melhorias implementadas pelas instituições.