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Desautomatização do desempenho conduz a um retorno a zona de desenvolvimento proximal: O aprendizado segue as regras e seqüências da

Zona de Desenvolvimento Proximal, que são iguais para todos os sujeitos, durante toda a vida, da assistência externa à auto assistência. Se preciso for, retorna, diversas vezes, para o desenvolvimento de novas capacidades.

Para cada individuo, em cada momento especifico, haverá uma mescla de regulação externa, auto-regulação e processos automatizados. A criança que já consegue dominar diversos passos da montagem de um quebra cabeças poderá ainda situar-se na zona de desenvolvimento proximal no que diz respeito às atividades de leitura. (GALLIMORE e THARP, 2002, p. 182)

Na figura que se segue, pode-se identificar os quatros estágios propostos por Gallimore e Tharp (2002).

Figura 1: Gênese de uma capacidade de desempenho: avanços para além da zona de desenvolvimento proximal (GALLIMORE e THARP, 2002, p. 180)

Todo sujeito passa pelo movimento de regulação externa, auto-regulação e processos automatizados. A qualquer momento pode solicitar assistência do outro. A

RETORNO

Assistência prestada por indivíduos mais capacitados: Pais colegas Professores Especialistas Treinadores Auto-assistência

ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL --- Interiorização Automatização Fossilização Desautomatização Retorno aos Estágios iniciais Capacidade

ESTÁGIO I ESTÁGIO II ESTÁGIO III ESTÁGIO IV

Capacidade inicial

escola deve garantir a assistência ao desempenho de todos que ali convivem, desde as crianças aos seus gestores.

O aprendizado humano é de natureza social, é parte de um processo em que a criança desenvolve seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a cercam. Ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas quando a criança interage em seu ambiente histórico-cultural convivendo e integrando-se juntamente com outros.

3- Delineamento Metodológico 3.1- Método de estudo

Esta pesquisa é um estudo de casos, de cunho qualitativo, que pretendeu descrever e compreender como se desenvolve o processo de fossilização de conceitos artificiais em dois grupos de alunos de 07 a 12 anos de idade, um grupo com desenvolvimento típico e o outro com deficiência intelectual, regularmente matriculados na rede pública de ensino do Distrito Federal.

A opção pelo estudo de caso de cunho qualitativo deve-se ao fato de ser uma das modalidades de investigação que enfatiza a compreensão de um dado fenômeno como base do próprio conhecimento, que estuda as relações complexas que o habitam, evitando modelos explicativos que isolam e atomizam variáveis. O fenômeno humano é apreendido como um ato subjetivo de construção, a ser elucidado por meio de explicações ou compreensões das relações entre variáveis, tornando o processo um ato social de construção de conhecimento, abalizado na história social do sujeito, no contexto em que o mesmo está inserido. Esta opção metodológica faculta que o fenômeno seja estudado em seu processo de transformação e mudança, em um dado contexto histórico, inclusive a apreensão da gênese dos dados e sua relação com o processo de transformação, em acordo com a perspectiva histórico-cultural.

Neste contexto investigativo, considera-se que processo de fossilização é um tipo de processo no qual um dado modo de funcionamento psicológico se torna mecanizado e automatizado. Apresenta como característica principal a autonomia e automatização o funcionamento ou desempenho, que, antes, era realizado somente com o auxílio de outra pessoa mais experiente (GALLIMORE e THARP, 2002). É o caminho ou processo que ocorre gradualmente, na resolução de uma tarefa que vai do desempenho assistido, ao não assistido, da regulação externa, feita por um outro

sujeito, à auto-regulação. “É o final de uma linha que une o presente ao passado, os estágios superiores do desenvolvimento aos estágios primários.” (VIGOTSKI, 2001, p. 85).

Por conceito, entende-se um tipo de representação mental. Trata-se de um ato de pensamento, uma estrutura complexa e que tem como função a comunicação, a análise e a resolução de situações problemas. O conceito pressupõe não só a combinação e a generalização de determinados elementos concretos da experiência, mas também a discriminação, a abstração e o isolamento de determinados elementos. E ainda, a habilidade de examinar esses elementos discriminados e abstraídos fora do vínculo concreto e factual em que são dados na experiência, (VIGOTSKI, 2001). Nesse sentido, o conceito se baseia em processos de análise e de síntese, que operam dialeticamente, mediados pela palavra e nela materializado. A forma que esta representação assume, constitui o núcleo e a especificidade das diferentes teorias acerca dos conceitos (LOMÔNACO, CAPOVILLA e COSTA, 2000) e se diferencia de categoria por esta ser o conjunto de membros representados pelo conceito. Por exemplo, o conceito de borboleta se refere a uma representação mental e a categoria borboleta diz respeito a todas as borboletas (os exemplares) que já existiram, existem ou existirão futuramente.

Já conceitos artificiais (VIGOTSKI, 2001; ROSSI, 1993) são aqui compreendidos como o processo de abstração e generalização de atributos criteriais de determinada categoria, intencionalmente criada e apresentada em uma situação experimental, não acadêmica, de modo a permitir a descrição do processo e acompanhamento de sua gênese, no que se refere à operação com o objeto e a significação deste com o uso da palavra, ou seja, o desenvolvimento do significado da palavra.

Considera-se, também, deficiência intelectual um particular estado de funcionamento que encobre o desenvolvimento inicial da criança e é caracterizado por limitações, no nível de inteligência e nas qualidades adaptativas (AAMR, 2006). É descrita como uma interrupção do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual (ROSSI, ALMEIDA e ALENCAR, 2005). Há o comprometimento, durante o período de desenvolvimento manifesto, até os dezoito anos de idade, de funções responsáveis pelo nível global de inteligência. O funcionamento da cognição, da motricidade, do comportamento social adaptativo apresenta-se prejudicado em diferentes níveis. Em oposição, desenvolvimento típico

é tido, neste estudo, como o processo de desenvolvimento que não apresenta comprometimento intelectual, sensorial e outros que interfiram de modo positivo ou negativo no desenvolvimento global do sujeito.

3.2- Contexto de realização da pesquisa

A investigação foi realizada em 02 (duas) escolas públicas localizadas na Região Administrativa de Taguatinga, pertencentes à Secretaria de Educação do Distrito Federal que atendem, simultaneamente, e, em situação de inclusão escolar, alunos com desenvolvimento típico e com deficiência intelectual, no Ensino Fundamental. Os experimentos foram realizados no próprio ambiente escolar, na sala de recursos e em horário inverso às aulas. A escolha de tal ambiente deve-se ao fato de os alunos já estarem familiarizados e adaptados às dependências da escola, o que transforma a situação tarefa, de cunho experimental em mera atividade escolar, de cunho lúdico.

Houve a necessidade da coleta de dados ser realizada em 02 (duas) escolas, devido ao fato de apenas 02 (dois) alunos com deficiência intelectual estarem matriculados em turmas de inclusão na escola “A”. Assim, na escola “A”, a coleta de dados foi realizada com 06 (seis) alunos com desenvolvimento típico e 02 (dois) alunos com deficiência intelectual. Na escola “B” foi realizada a coleta de dados com 04 (quatro) alunos com deficiência intelectual.

A escola “A” disponibilizou, para a realização da coleta de dados, a sala de recursos utilizada para atender os alunos com deficiência intelectual. Era um local privado, isento de ruídos que poderiam interferir no experimento, subdividido em dois ambientes. O primeiro continha uma mesa quadrada, duas cadeiras, cinco mesas e cinco cadeiras pequenas em forma de semicírculo e era utilizada para atendimento de pais e alunos em geral. O segundo ambiente continha uma mesa redonda com cinco cadeiras, um tapete emborrachado com as letras do alfabeto, um armário de aço, uma estante com jogos e materiais pedagógicos e um espelho.

A escola “B” disponibilizou também a sala de recursos, que continha uma mesa redonda, cinco cadeiras, um tapete, dois armários de aço, uma estante com jogos e materiais pedagógicos, um computador, uma impressora e, afixado na parede, um alfabeto digital.

3.3- Participantes

Participaram da pesquisa 12 (doze) alunos regularmente matriculados na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, sendo 06 (seis) com deficiência intelectual, atestada por laudo expedido por profissional habilitado, incluídos em classes regulares e 06 (seis) com desenvolvimento considerado típico, estando todos na faixa etária compreendida entre 07 (sete) e 12 (doze) anos de idade. Os participantes residem na cidade de Taguatinga- Brasília-DF e são provenientes de estratos socioeconômicos considerados médio. A idade, a escolaridade, o sexo e a escola podem ser visualizados nos Quadros 1 e 2, que se seguem.