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4 DESCENTRALIZAÇÃO – O PROJETO LOCAST

O principal objetivo da pesquisa Locast é encontrar formas que permitam aos cidadãos atuarem ativamente no processo de criação da informação, distribuição e acesso democrático ao conteúdo através das mídias móveis. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Porto Alegre (Brasil), em colaboração com o MIT Mobile Experience Lab (Laboratório de Experiências Móveis do MIT), desenvolve

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uma inovadora plataforma móvel e online que permite aos cidadãos atuarem de forma ativa no processo de coletar, reportar e disseminar notícias e informações relacionadas com as suas rotinas urbanas. Este experimento com mídia cidadã contará com o apoio dos estudantes de graduação e pós-graduação da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS, que atuaram como jornalistas posicionados nas ruas de Porto Alegre durante o período da pesquisa aplicada. Notícias e avisos serão criados, coletados e divididos em tempo real através do site Locast e de um aplicativo especialmente desenvolvido para uso em telefones celulares. Em sintonia com a participação democrática permitida pelo projeto, a população é convidada a dialogar com os produtores do Locast pelo site e também contribuindo com outros conteúdos captados e enviados pelos seus telefones, câmeras, webcams e gravadores. A pesquisa tem como objetivo explorar a mídia cidadã aplicada ao contexto do local como ferramenta para aumentar a divulgação entre os habitantes de eventos e estimular as dinâmicas sociais realizadas nos bairros. Mais importante, permite ao público participar de maneira ativa e estimular a comunidade para utilizar o Locast como espaço de compartilhamento de informações. Além disso, auxilia no reforço das relações entre as pessoas, as instituições e cidadãos. Desta forma, o principal objetivo do projeto é compreender como as redes sociais móveis impactam na cidade e na representação do espaço urbano na mídia. Também busca observar como esta ferramenta ajuda as pessoas a se manterem informadas.

A perspectiva que queremos evidenciar em aproximar as tecnologias móveis e a descentralização é justamente que a partir de aparatos móveis de conexão a rede pode-se receber e disseminar notícias sob uma nova lógica – descentralizada. A potencialidade das informações em rede e a possibilidade de estar always on, por meio celulares, redes

wireless, WAP, Wi-Fi, Bluetooth, GSM, CDMA, smartphones etc., o espaço

físico urbano deixa de ser o espaço de desconexão de outrora, tornando-se parte do processo que contextualiza a potencialidade de descentralização de notícias. A título de ilustração e “primeiras evidências”, apresenta-se o projeto Locast, que sob a luz de Lev Manovich (2005), pode ser concebido como Wireless Location Services: recebimento de dados específicos de localização e serviços portáteis wireless como celulares.

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Em posse de dispositivos móveis – smartphones 3G – com conexão à rede, alunos da graduação e pós-graduação ocuparam o espaço urbano da cidade de Porto Alegre produzindo conteúdo do tipo áudio e vídeo. Um aplicativo móvel e integrado a plataforma Android3

A ideia assemelha-se ao que se entende por jornalismo cívico, ou cidadão, porém sem necessidade de formatação teórica. Em uma perspectiva ampliada, a sociedade como um todo fazendo uso desses dispositivos móveis é capaz de “cobrir” fatos que ocorrem em contexto a seu cotidiano.

nos celulares foi desenvolvido pelo MIT, a partir do qual o conteúdo capturado em formato de vídeo, áudio e escrita pode ser enviado e disponibilizado em tempo real ao site do projeto.

Figura 3 – Geolozalização

Fonte: http://locast.mit.edu/civic/map/content/, 2009.

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Figura 4 – Página web do Locast

Fonte: http://locast.mit.edu/civic/map/content/, 2009.

Percebemos o projeto como evidência de descentralização de notícias, fatos ou informações. O Locast (“Lo”: location; “cast”: envio, lançamento) é uma plataforma de sincronização que possibilita o envio de informações geolocalizadas desde um celular a uma webpage, disponibilizando a visualização de notícias de acordo com a posição geográfica. O conteúdo, ou cast, enviado diretamente do local do acontecimento passa a ser disponibilizado e organizado de acordo com sua postagem, o mais recente assume a primeira posição no elenco de

casts, como mostra a Figura 3. O funcionamento/filtro das postagens na

plataforma deve se estabelecer sob a lógica de confiabilidade, número de postagens, de comentários, feitos pelos próprios usuários. Concebemos o projeto Locast como um exemplo claro da possibilidade de descentralização de informações e notícias como consequência da mobilidade da sociedade em rede. O Locast é uma plataforma flexível baseada na web que combina aplicações móveis e experiências urbanas de conectividade. Locast sobrepõe camadas de informação gerada

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coletivamente dentro do espaço físico, do hiperlocal ao hiperglobal (rede). O aumento do espaço urbano é democraticamente operado pelos usuários do Locast, em tempo real, participando do processo de geração de conteúdo de forma descentralizada.

REFERÊNCIAS

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JORNALISMO COLABORATIVO: UMA LEITURA DO