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O Locast é uma plataforma móvel e online desenvolvida pela parceria entre MIT Mobile Experience Lab (Laboratório de Experiências Móveis do MIT) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O projeto permite que cidadãos atuem de forma ativa no processo de coletar, reportar e disseminar notícias e informações relacionadas com as suas rotinas urbanas.

Notícias e avisos serão criados, coletados e divididos em tempo real através do site Locast e de um aplicativo especialmente desenvolvido para uso em telefones celulares. Em sintonia com a participação democrática permitida pelo projeto, a população é convidada a dialogar com os produtores do Locast pelo site e, também, contribuindo com outros conteúdos captados e enviados pelos seus telefones, câmeras, webcams e gravadores. (LOCAST, online)

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Figura 1: Página inicial Locast

Durante o período inicial de aplicação, de 16 a 23 de novembro de 2009, o projeto contou com o apoio de estudantes de graduação e pós-graduação da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS e do grupo de mídia RBS TV que participaram na busca de fatos cotidianos. O Locast Civic Media tem como intenções explorar a mídia cidadã aplicada ao contexto do local como ferramenta para aumentar a divulgação entre os habitantes de eventos e estimular as dinâmicas sociais realizadas nos bairros, permitir ao público participar de maneira ativa e estimular a comunidade para utilizar o Locast como espaço de compartilhamento de informações e, além disso, auxiliar no reforço das relações entre as pessoas, as instituições e os cidadãos.

O principal objetivo do projeto é compreender como as redes sociais móveis impactam na cidade e na representação do espaço urbano na mídia, como também observar de que forma esta ferramenta ajuda as pessoas a se manterem informadas, engajadas socialmente e com participação ativa nos processos de criação das mídias, sobretudo nas relacionadas com as suas comunidades (LOCAST, online).

O Locast é uma união de processos de geolocalização, plataforma digital e tecnologias móveis, desenvolvido para criar interações hiperlocais

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altamente conectadas, que, através dos indivíduos que fomentam a plataforma com geração de conteúdo, desenvolve experiências coletivas relacionadas a uma informação associada a um espaço físico urbano. Cada interação, dentro do sistema, pode ser vista pelas pessoas envolvidas no espaço físico e os participantes online. A interligação entre os conteúdos, espaços e pessoas é simultânea e ubíqua.

O Locast pode ser utilizado através de telefones celulares com sistema Android Os handsets, onde o indivíduo pode instalar o aplicativo em seu dispositivo móvel. Com este aplicativo os indivíduos poderão gerar geotags sobre fatos e publicá-las em tempo real; podem ser utilizados laptops com webcam; também podem ser utilizados quaisquer dispositivos móveis que possuam câmera integrada, Bluetooth, internet sem fio, assim como câmeras fotográficas e gravadores de voz. Neste sentido, podemos observar que com vários dispositivos móveis é possível fazer parte do processo de construção de informações sobre os territórios urbanos.

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O projeto, que teve seu início em 2009, continua disponível para novas informações e reportagens. Até maio de 2010 foram realizados 470 casts – baseados na localização relacionada à informação gerada pelos participantes da pesquisa. Eles consistem em conteúdos multimídias (vídeos e/ou áudios) que contêm geocoordenadas, descrição de tags geossemânticas que podem ser geradas pelos participantes ou recomendadas pela plataforma.

Figura 3: Reportagem realizada durante o projeto Locast

Os 72 participantes do projeto distribuíram-se em diversos locais da cidade de Porto Alegre, buscando informações sobre fatos noticiosos, bem como procuraram retratar o cotidiano das diferentes comunidades que habitam a cidade.

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Gráfico 1: Enfoque das reportagens realizadas no projeto Locast

Podemos observar que a ênfase às questões cotidianas foi superior à dada aos fatos que envolvem o contexto local de forma geral. Delimitamos como Cotidianas, as percepções dos participantes acerca de assuntos referentes a problemas, pontos de vista relacionados a questões vividas diariamente pelas comunidades porto- alegrenses. Como Locais, delimitamos as pautas mais abrangentes, que seriam mais prováveis de serem noticiadas pelos meios de comunicação de massa.

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Entretenimento Local

Nacional Cotidiano

Diante deste estudo, ainda que em caráter inicial, podemos observar que os fatos percebidos pelos participantes têm relação direta com o sentimento de pertença destes com os assuntos relacionados às comunidades que compõem a cidade de Porto Alegre. As interações hiperlocais retrataram o dia a dia dos indivíduos, sobressaindo-se mais do que assuntos relacionados a grandes fatos. O cotidiano dos locais foi “capturado” com um telefone celular pelos participantes de forma a mostrar situações que as pessoas vivem diariamente, mas que estão, na maioria das vezes, fora da pauta das mídias convencionais.

Observamos, assim, uma reconfiguração dos espaços urbanos, uma reapropriação dos espaços físicos proporcionados pelas tecnologias

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móveis. O projeto Locast demonstrou que há espaço para a divulgação dos problemas cotidianos, muitas vezes deixados de lado pelos grandes conglomerados de mídia por uma linha editorial específica ou pelo fato de estes ignorarem tais eventos como não sendo relevantes para o contexto geral informativo, elencando problemas mais gerais das cidades.

A utilização de tecnologias móveis nos evidencia os espaços híbridos, onde há a coexistência dos espaços físicos e virtuais. “O ‘espaço entre’ dois lugares geográficos deixa de ser ignorado para ser ocupado – não importa mais onde se esteja (...)” (PARAGUAI, 2008). O acesso à informação de qualquer local geográfico se torna possível e pode ser compartilhada entre os indivíduos através destas tecnologias.