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Polianne Merie Espindola 1 A compreensão não está ligada à materialidade da

comunicação, mas ao social, ao político, ao existencial, a outras coisas. (MORIN, 2003, p. 8).

RESUMO

Diante de uma nova lógica espaço-temporal mundial, a partir da nomeação de pós-modernismo2

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Relações Públicas, Mestre em Comunicação Social e doutoranda em Comunicação Social pela PUCRS/Brasil. E-mail:

para uma determinada configuração social, cultural, histórica e econômica, é necessário refletir sobre os novos formatos de construção de notícias e conhecimento quanto às transformações ocorridas neste cenário. Para tanto, utilizaremos autores

poliannespindola@gmail.com.

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Admite-se neste artigo que o termo seja uma condição sociocultural do capitalismo contemporâneo. “Foi criado por um grupo de filósofos franceses do pós-guerra que rejeitavam a filosofia existencialista predominante no país no final dos anos 1940 e início dos 50” (JACKSON, 2007, p. 337). Segundo os autores do livro “Introdução às Relações Internacionais”, o pós-modernismo caracteriza-se pelo fim das metanarrativas. Exemplificando alguns autores pós-modernos têm-se: o francês Jean-François Lyotard com seu livro “A Condição Pós-Moderna”, onde ele ratifica o fim das metanarrativas; o norte-americano Fredric Jameson, como a pós-modernidade sendo uma lógica social e cultural do capitalismo, encabeçada em seu livro “A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio‟, onde rejeitou explicitamente qualquer oposição moralista à pós-modernidade como um fenômeno cultural. Já o polonês Zygmunt Bauman contribui com a pós- modernidade com o seu conceito e coletânea de livros sobre a liquidez. Esta condição pós-moderna sendo uma realidade ambivalente e multiforme. Em uma variação terminológica, Gilles Lipovetsky cunhou o termo hipermodernidade, onde os tempos atuais são modernos, com uma exarcebação de certas características, tais como o individualismo, o hedonismo, o consumismo. A pós-modernidade é marcada, segundo ele, pelo desinvestimento público, pela perda de sentido das grandes instituições morais, sociais e políticas, e por uma cultura aberta que caracteriza a regulação "cool" das relações humanas, em que predominam tolerância, personalização dos processos de socialização e coexistência pacífico-lúdica dos antagonismos – violência e convívio, modernismo e "retrô", ambientalismo e consumo desbragrado etc. Os pós-modernistas criticam a ideia de que a modernidade leva ao progresso e a uma vida melhor para todos. As contribuições destes autores são: o esvaziamento de egos e conceitos acadêmicos; o questionamento de verdades universais, mas se apresenta um pouco tendenciosa e negativista. Além de afirmar que a desconstrução é melhor que a construção, fato este que nem sempre pode ter tida como verdade absoluta.

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da comunicação, da cultura e seus entornos para propor uma comunicação nova, denominada comunicação supercrítica. Bem como identificar o processo dos interagentes3 no LocastPOA.4

INTRODUÇÃO

A comunicação atualmente, com todas as suas possibilidades, se dá no âmbito altamente efervescente em suas interações, produções, criações e estímulos. E esta comunicação acontece num contexto civilizado, ou seja, cultural. E as diferenças na cultura5

Na cultura há uma diversidade de pontos de vista (dialógico- cultural). Cada indivíduo tem um imprinting cultural

influenciam o indivíduo a entender as particularidades dos seus pares, tornando-o habilidoso com a vivência e com o contato diário com a realidade, com o contexto do outro. O que mais marca numa interlocução são as diferenças entre os interagentes; seja por diferentes percepções, cultura, hábitos, vivências, experiências, área de atuação etc. Apesar de alguns entraves que possam existir, as interações acontecem entre pessoas e grupos que partilham interesses em comum. Pela predisposição e semelhanças referentes às temáticas, faz das interações experiências mais positivas e convergentes.

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Tem-se neste artigo como interagentes os produtores de notícias via celular do projeto LocastPOA que, ao mesmo tempo, são, nas teorias tradicionais da comunicação, os receptores e emissores em uma só pessoa.

compartilhado, mas

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O projeto Locast Civic Media, aqui no Brasil carinhosamente chamado de LocastPOA, foi proposto pelo MIT – Massachusetts Institute of Technology, em parceria com a Faculdade de Comunicação Social – FAMECOS da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, utilizando o celular como mídia jornalística.

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Cultura é o processo de produção de acontecimentos que contribui para entender, reportar ou modificar o sistema social. É também um conjunto de ações, de memórias coletivas de um povo, de experiências. A crença, o conhecimento, os costumes, os valores, a língua, os hábitos, as tradições e as opiniões fazem parte de uma cultura e da forma como uma população vivencia os mais diferentes aspectos desta cultura (LARAIA, 2006). “Culture is an intriguing concept. Formally defined, culture is the deposit of

knowledge, experiences, beliefs, values, attitudes, meanings, hierarchies, religion, timing, roles, spatial relations, concepts of the universe, and material objects and possessions acquired by a large group of people in the course of generations through individual and group striving” (LARRY, 1988, p. 19, grifo do autor).

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O termo imprinting cultural é utilizado por Edgar Morin em “Método 4” (2005) para denominar as marcas que a cultura faz no indivíduo desde quando nasce.

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que funciona de maneira individual e que pode ser alterado conforme a experiência e debate de ideias.

Como a comunicação entre as pessoas é realizada por meio de trocas sociais, com o surgimento da internet há uma profunda alteração na forma de comunicar, agir, pensar e se organizar no tempo e no espaço.

A Internet não é uma utopia, nem uma distropia, é um meio em que nos expressamos – através de um código de comunicação específico que devemos compreender sem pretendermos mudar a nossa realidade (CASTELLS, 2004, p. 21 apud CEZAR, 2010, p. 30).

Com esta nova lógica de comunicação, as notícias também estão sofrendo uma transformação, bem como a forma de repassá-las aos seus públicos. A TV se utiliza de vídeos produzidos online para complementar suas programações, a web trouxe para si empresas de outras mídias, como por exemplo, o jornal e o rádio, além de também utilizar imagens feitas a partir do celular para legitimar, muitas vezes, uma notícia. Sendo assim, o projeto LocastPOA, a partir de simulações, está pensando neste processo de hibridação midiática e de notícias para propor uma Civic

Media numa época onde o receptor também pode ser emissor.

1 SOCIEDADE, IDENTIDADE E OS INTEGRANTES

Cada cultura guardará de maneira específica a acuidade dos órgãos do sentido em complementação aos limites de base orgânica. Fornecerá ‘lentes’ olfativas, tácteis, gustativas, auditivas e visuais particulares. (RODRIGUES, 1989, p. 138).

Na engenharia química tem-se um tipo de extração chamado de supercrítico.7

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Un fluído supercrítico exhibe propriedades fisicoquímicas entre las de un líquido y la de un gás. Su densidad relativamente alta y parecida a la de los líquidos, le da um buen poder solvente, y la transferéncia de masa relativa a la de un líquido es mayor. Similarmente las viscosidades de los fluídos supercríticos están en un factor de 1 a 100 más bajos que los líquidos. Las solubilidades se incrementan casi exponencialmente con la densidad, pequeños câmbios en la presión pueden resultar en variaciones muy grandes de la solubilidad, lo que da al ingeniero de diseño la capacidad de ajustar a su conveciencia la presión y temperatura, favoreciendo en forma eficiente y selectiva la extracción (ORTIZ, 2003).

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a sociedade e as pessoas interagem na contemporaneidade: ao mesmo tempo em que se disseminam espontaneamente, são extremamente mutáveis. “A sociabilização humana sempre se deu em redes, sejam elas tecnologicamente articuladas ou não. De um modo geral, percebemos que as sociedades se desenvolvem a partir de nós, conexões” (CEZAR, 2010, p. 30). Num limite entre a liquidez sugerida por Bauman8 e as interações gasosas. É essa fluidez que, suportando forças tangenciais, sofre uma constante mudança de formas quando submetidos a tal pressão social. “Tudo é altamente rápido e recriado na velocidade de nossas tecnologias de comunicação” (ESPINDOLA, 2010, p. 4).

Imagens e atitudes desempenham um papel decisivo na mudança do conteúdo e na forma dos diálogos, determinam o processo de aclimatação ou de compreensão, o conteúdo e a forma diplomática, as reportagens jornalísticas ou particulares (FISCHER, 1980, p. 571).

Em nossa sociedade atual, tudo circula, a cultura que nasce destas espécies de trânsito comunicacional entre os diferentes meios de comunicação, produzem transformações, mas é preciso que se compreenda e saiba de onde falam uns e os outros, a partir de qual competência e para qual visão de mundo. Há um grande volume de informação e um déficit informacional que gera simplificações (ESPINDOLA, 2010).

O processo de decodificação (interpretação) da comunicação que nos chega pode ser profundamente diverso, dependendo da forma de cada comunicação e dos modos através dos quais comunica-se a informação; bem como do conteúdo da comunicação e do grau de conhecimento nela inserido. O conceito de enunciado verbal tem uma estrutura psicológica bem

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“Os fluidos se movem facilmente. Elas ‘fluem’, ‘escorrem’, ‘esvaem-se’, ‘respingam’, ‘transbordam’, ‘vazam’, ‘inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’; são ‘filtrados’, ‘destilados’; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho. (...) A extraordinária mobilidade dos fluidos é o que os associa à ideia de ‘leveza’. (...) Associamos ‘leveza’ ou ‘ausência de peso’ à mobilidade e à inconstância: sabemos pela prática que quanto mais leve viajamos, com maior facilidade e rapidez nos movemos” (BAUMAN, 2001, p. 08).

84 ESPINDOLA, P. M. • A relação entre o LocastPOA e seus integrantes

diferente da estrutura do conceito de comunicação

escrita. (LURIA, 1979, p. 77, grifo do autor).

É nesta ambiência que o interagente do LocastPOA está inserido. E sua relação com a produção de notícias via celular, que é uma das propostas do projeto, é moldada pela tecnologia que utiliza e trocas simbólicas maximizadas. “A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente” (BERGER, 1985, p. 35).

Nem tudo o que está presente numa situação é importante para as pessoas nela envolvidas. Na verdade, alguns dos fatores de uma situação impõem-se aos atores, constituindo assim “relevâncias impostas”. Outros são isolados pelo indivíduo, que os considera importantes para ele, no momento; esses assumem uma “relevância volitiva” (SCHUTZ, 1979, p. 22).

Conforme o autor citado acima, os interagentes envolvidos no processo estão inseridos num contexto onde as relevâncias impostas socialmente estão sempre entrando em confronto com suas relevâncias volitivas. Para Schutz, “relevâncias impostas” são as questões que estão para além do indivíduo, são situações de interesse social, muitas vezes, comuns a todos. Já as “relevâncias volitivas” condizem ao que é do interesse do indivíduo. Os interagentes do Civic Media, assim, estarão produzindo notícias que são do seu interesse, mas que despertam a atenção também de seus pares, e não apenas do indivíduo isoladamente. Isto é necessário, pois, para que possamos entender notícia neste artigo como notícia jornalística, mesmo de forma experimental e diferenciada da lógica tradicional, as matérias devem ser pautadas com a finalidade de informar, entreter ou sugerir algo pertinente a quem vai consumir este tipo de informação.

Não somos mais fluidos como sugere Bauman ou Lipovetsky, somos supercríticos, fazendo uma analogia com a engenharia e também com o estado crítico de uma situação (neste caso das interações humanas) (ESPINDOLA, 2010, p. 03).

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Atualmente nos encontramos num momento onde não agimos segundo a liquidez, mas estamos caminhando para interações quase que gasosas.

É essa fluidez que, suportando forças tangenciais, sofre uma constante mudança de formas quando submetidos a tal pressão social. Os fluidos não fixam o espaço nem prendem o tempo. Estão sempre aptos a mudar (ESPINDOLA, 2010, p. 49).

O que é uma problemática, e um paradoxo, a se pensar quando se trata de notícias geolocalizadas realizadas nos moldes do projeto que referimos neste artigo.

A universalidade da linguagem digital e a lógica pura do sistema de comunicação em rede criaram condições tecnológicas para a comunicação horizontal global. Ademais, a arquitetura dessa tecnologia de rede é tal que sua censura ou controle se tornam muito difíceis. O único modo de controlar a rede é não fazer parte dela (CASTELLS, 2000, p. 375 apud CEZAR, 2010, p. 33).

Os interesses são mutáveis e ainda é cedo para identificar o que é pertinente ou não a ser noticiado, dependendo também do público, da faixa etária e de outros determinantes sociais que pautam um perfil de consumidor deste tipo de mídia, além do tipo de informação que estará contida em cada notícia realizada.

... conhecimento e o processamento da informação são fontes de valor e poder (...). Ambos dependem da inovação e da capacidade para difundir em redes que induzem sinergias mediante o intercâmbio de informação e conhecimento (CASTELLS, 2004, p. 265).