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O que acontece com os fatos específicos de cada comunidade, com os acontecimentos em que nenhum veículo pode estar presente? Ficaremos sem cobertura jornalística? Não teremos nenhum material? São para estas situações que o Jornalismo Cidadão surgiu. Foi para suprir necessidades de comunicação que a sociedade possuía que os cidadãos passaram a também ter voz. Durante os dias 16 e 23 de novembro de 2009, os alunos da PUCRS, guiados por pesquisadores do MIT (Massachussets Institute of Technology) e com o apoio de 11 profissionais do Grupo RBS, obtiveram a experiência de comunicar como cidadãos. Utilizando um celular ou máquina fotográfica foi possível registrar e transmitir acontecimentos e fatos para todos os interessados.

O Jornalismo Cidadão vem crescendo e ganhando destaque no Brasil e no mundo. Cada vez mais encontram-se mídias tradicionais e veículos de massa utilizando depoimentos de cidadãos que presenciaram o fato e que, juntamente com o material editado, torna a matéria mais verídica. Pensando nesta didática, o projeto LocastPOA foi desenvolvido. Durante o período da pesquisa todos os envolvidos foram a diversas regiões de Porto Alegre relatar fatos relevantes por sua perspectiva para pequenas comunidades ou para todo o município.

Diversas experiências durante o processo foram surpreendentes a todos. Como estudantes de comunicação, os participantes tinham a visão tradicional de fazer reportagem, com estruturas semelhantes a um jornal de veículos de massa. No entanto, ao produzir os casts (vídeos que eram publicados no site da MIT), era possível criar e filmar da forma que cada um desejasse, sem levar em consideração o formato ou a linguagem. Por ser uma produção de jornalismo cidadão não era necessário seguir nenhum manual ou regras. Só se fazia imprescindível, que fosse transmitido o conteúdo desejável da maneira mais adequada.

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Estudante do quinto semestre de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

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Com total liberdade foi possível visualizar diversos ângulos e formatos distintos nos vídeos publicados. Pessoas que acreditavam que a imagem comunicava por si só, sem fazer comentários, somente filmavam. Havia aqueles que não queriam aparecer em frente às câmeras e também quem preferia agendar com uma fonte e entrevistá-la sobre o assunto em debate. A singularidade de cada imagem é que transmitia a personalidade de cada cidadão que estava ali se comunicando com quem, posteriormente, iria ver no site.

O ganho de uma comunicação realizada desta maneira é que a mesma liberdade e sentimento que a pessoa sente ao filmar e relatar o que está vivenciando, é a característica que o telespectador procura neste tipo de diálogo. Fãs de algo ou alguém se identificarão mais com aquele material que será produzido por outra pessoa que também adora determinado assunto, em vez de um repórter de um grande veículo, que muitas vezes nem tem total conhecimento sobre o tema que está cobrindo. Cada vez mais a comunicação que ganha destaque é aquela que transmite com melhor veracidade o fato.

As filmagens realizadas, bem como o conteúdo escrito neste meio, diferente de muita coisa que se encontra na mídia tradicional, são produzidas com prazer. E é por estes fatos que se percebe que além de ser um meio de comunicação, também se tornou uma maneira de ligar pessoas. Através do jornalismo cidadão, aqueles que antes não se comunicavam e não expressavam suas opiniões passaram a se comunicar. Com a mesma amplitude que um Twitter tem, foi possível acompanhar um fato curioso durante a pesquisa. Em um dos dias, houve um temporal que parou a cidade. Neste momento, acompanharam-se todos que estavam ligados à rede publicar matérias de onde se encontravam. O impressionante é que, com todo o conteúdo, foi possível realizar um raio-X imediato do caos por que o município e seus moradores estavam passando. Em momentos como este se percebe o quanto ainda a mídia tradicional não consegue abranger a todos e a tudo.

O jornalismo cidadão também surge com o intuito de abrir espaço para aqueles assuntos que não ganhavam cobertura por interessar somente a um grupo pequeno da sociedade. No entanto, deve ter-se o cuidado que não é por que se destina a poucas pessoas que o assunto

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não é relevante. Com ferramentas como o Locast, pequenas comunidades ganham voz e podem se comunicar sobre todos os assuntos desejados. Foi identificada exatamente esta necessidade durante a produção de conteúdo em Porto Alegre. Problemas de bairros pequenos, bem como eventos menores, receberam cobertura jornalística e puderam ser acompanhados pela grande massa que antes não encontrava essas informações em lugar algum.

É necessário observar que mídias como esta devem ter uma boa divulgação e se comunicar com outras redes sociais e veículos para obter sucesso e alcançar seu objetivo: atingir a todos. Por tratar de diversos assuntos que nem sempre atingem um grande público, muitas pessoas devem ter a ciência da ferramenta para esta atingir um maior número de pessoas. Foi observado que, por ainda não ser uma mídia conhecida, não havia um número elevado de visitas. No entanto, no momento em que eram divulgadas em redes sociais da internet como Orkut, Twitter e Facebook, as publicações no site eram mais visualizadas e ganhavam destaque.

Outra grande facilidade encontrada ao realizar os vídeos e os conteúdos durante a pesquisa foi a praticidade e a alta mobilidade que era utilizar o software no celular. Ao contrário de equipamentos tradicionais, os celulares não eram percebidos em meio à multidão. Com isso, o material filmado era muito mais natural. Diferente de um celular que já se tornou familiar a todos e por isso não aterroriza ninguém, muitas pessoas ainda possuem um desconforto em frente às câmeras e luzes, modificando inclusive suas atitudes e respostas.

No entanto, é bom ressaltar que, infelizmente, o amadorismo do equipamento da mesma forma que trouxe imagens mais naturais e reais, nem sempre foi de boa qualidade. Vídeos que eram capturados à noite ou muito distante do fato infelizmente não ficaram muito nítidos. Por se tratar de uma câmera de celular, por mais que o software e o aparelho fossem de excelente qualidade, os vídeos não chegariam ao profissionalismo de produções da mídia tradicional. Encontra-se um duelo entre dois pontos fortes: a qualidade técnica versus a naturalidade das imagens.

Resta saber o que para o receptor importa mais? Qual é o ponto mais relevante na comunicação? Mesmo não sendo um material

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produzido por profissionais, não se deve nunca perder o foco de que o que se deseja passar é uma mensagem, comunicar ao internauta algum acontecimento. O jornalismo cidadão, mesmo tendo uma linguagem e uma técnica livre, continua sendo uma informação e uma maneira de se comunicar com a massa. E, para se tornar significante, deve ser completo e conter novidades.

Já utilizado em ferramentas e mídias existentes, o monitoramento e o processo de fidelidade de usuários é indispensável para o bom andamento. O site desenvolvido pelo MIT possui a possibilidade de monitoramento de conteúdo. O material que é publicado pode ser revisado por profissionais que têm o poder de vetar, se necessário, algo impróprio. A ação é importante, pois se tem a certeza que será utilizada somente para fins comunicativos e não para a divulgação de conteúdos indevidos. Além disso, há o controle dos perfis que mais publicam material significativo e com maior frequência. Aqueles que são fiéis começam a ter maior autonomia e abertura. Com isso o meio se torna mais confiável, e os indivíduos fazem da atividade uma rotina prazerosa.

Durante a pesquisa os alunos puderam acompanhar o seu crescimento dentro da rede criada. No caso, verificar a popularidade de seus vídeos, quantas visualizações obtiveram, quem mais publicava e quem era mais popular. Com isso o gosto pela produção crescia e o desempenho individual era melhor. Não foi utilizado nenhum tipo de monitoramento de conteúdo pelos responsáveis devido à confiança do trabalho realizado. Mas no caso de acesso à mídia por todo e qualquer público se fará necessário o acompanhamento das publicações. Afinal, este será, futuramente, o grande diferencial entre os jornalistas e os cidadãos que comunicam para a massa.

Os graduados em jornalismo têm o conhecimento necessário para guiar e monitorar o conteúdo de forma que, aquele material que foi produzido pelo indivíduo que estava presente no episódio, torne-se interessante e indispensável para a divulgação do fato. Jornalistas de hoje devem trabalhar em conjunto com o que é produzido pelos cidadãos, afinal não há como os profissionais estarem presentes a todos os lugares em todos os momentos. Deve-se assumir este limite que se

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tem e procurar curá-lo com o apoio daquele que é o maior interessado no trabalho realizado por estes profissionais, ou seja, a população.

É importante lembrar que colaboração é uma palavra-chave para a elaboração da comunicação. Ao invés do profissional de jornalismo buscar estratégias para bloquear a produção de conteúdo por todos, ele deve se juntar a estes que têm o desejo de se expressar. Ambos caminhando juntos, um maior número de acontecimentos será reportado com maior veracidade. A internet existe para ligar as pessoas e deve ser dessa maneira que ela deve ser utilizada. A comunicação online é mais dinâmica e mais ágil. O tempo de resposta é praticamente momentâneo e tais qualidades devem ser levadas em conta. Do contrário, todo o progresso que foi obtido com o desenvolvimento tecnológico, e a globalização será perdida.

Com o crescimento das nações é fundamental que cada vez mais a população esteja efetivamente em todas as esferas da sociedade. Desde a política até a comunicação de massa. Afinal, mesmo produzindo uma quantia significativa de conteúdo, o cidadão não consegue realizar o trabalho profissional de um repórter, com toda a estrutura de um veículo de massa. Nem como um profissional consegue reproduzir todos os fatos que acontecem. É na criação de novas ferramentas como o Locast que obteremos a democratização da comunicação.