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3.1 Folheto 1: Patativa do Assaré – Pássaro Eterno

3.1.1 Descrição

3.1 Folheto 1: Patativa do Assaré – Pássaro Eterno

3.1.1 Descrição

O texto traz um resumo da trajetória de destaque de Patativa do Assaré, poeta popular, de origem humilde, nordestino que, vivenciando e sendo testemunha das injustiças sociais, das dificuldades de sobrevivência e escassez as quais acometiam o sertanejo, buscou, através da poesia, lutar pela igualdade e liberdade dos flagelados, sendo considerado o “poeta dos

excluídos”. Com humildade e palavras simples, trouxe à tona várias questões sociais,

incomodando poderosos com sua luta. Era um naturalista, defensor dos injustiçados, contrário aos ricos egoístas. Foi, também, comentarista político e teve alguns de seus poemas musicalizados. Sua influência e importância ganharam tamanha notoriedade que seus poemas e feitos vêm sendo transmitidos ao longo dos anos, não se findando junto com sua morte, mas se tornando sempre atual.

O processo de discursivização revelou que o enunciador e o enunciatário estão pressupostos no texto, afastados do enunciado. Os fatos são contados sempre em terceira pessoa, transferindo-se a voz aos atores. A presença de verbos no presente e passado corroboram a afirmação. Os atores, por sua vez, são representados pelo próprio Patativa, no diálogo que trava, após sua morte, com Jesus de Nazaré, este desempenhando o papel também de ator. Tal diálogo aparece propositalmente para confirmar as benfeitorias realizadas pelo poeta sertanejo, ações que foram reconhecidas pelo filho de Deus que, em troca de atos tão positivos, presenteia-o com o reconhecimento de suas palavras no mundo através do tempo, mesmo após a sua morte. Seguem os exemplos:

“Um mundo melhor sonhei

Para todo ser humano. E lutei ano após ano Naquilo que acreditei. Porque, se cumprindo a lei

Que se torna todos iguais, Todo um povo viveria Num clima de harmonia,

De liberdade e de paz.”

“Após sentir a grandeza

Jesus deve ter falado:

“Você foi um bom soldado

Dessa nossa realeza Mostra o ato da empresa

Que na terra praticou Com seu sublime emotivo,

Que você, lá, está vivo

Nas estruturas narrativas, o sujeito semiótico é representado, logicamente, por Patativa do Assaré, cujo objeto de valor principal é a luta pela igualdade entre pobres e ricos, estes considerados egoístas por possuírem grandes concentrações de terras e não repartirem com os sertanejos humildes, enquanto a maior parte da população pobre sofria com a falta de terra e de meios para sobrevivência, fazendo-a sair de sua casa, abandonar as suas origens para trilhar um caminho em busca de sustento financeiro. O exemplo é demonstrativo:

“Cantou o êxodo rural

Na injustiça do sertão Quando forte migração, Do retirante, sem igual, Deixa a roça e o quintal

Amargurado, infeliz, Com um nó preso à garganta

Como se fosse uma planta

Puxada pela raiz”

As localidades que compõem o discurso caracterizam o espaço do nordestino, do sertanejo sofrido, que também é o habitat natural do poeta (mundo, Brasil, sertão, palhoça, roça, Serra de Santana, Cariri do Ceará), além da prisão, como forma de punição por seus poemas em favor dos injustiçados.

“Lá na Serra de Santana,

No Cariri do Ceará, Tudo por lá se calou, Tudo parou de cantar:

O canário, o sabiá, Rouxinol, a jaçanã, O pica-pau, bem-te-vi,

Patativa, juriti, Gola, graúna e cancã.”

“No seu taquinho de chão

Pra dali tirar seu pão. Participou dessa guerra Meditando em sua palhoça:

‘Quem não trabaia na roça, Que diabo é qui qué cum terra?’”

O percurso temático-figurativo deixa clara a luta de Patativa do Assaré pela reforma agrária, pela justiça social, a questão do êxodo rural é trabalhada, tudo através da poesia, além da religiosidade, característica inerente ao sertanejo que, mesmo diante das dificuldades, não perde sua fé e tem esperança de obter, com a ajuda de Deus, dias melhores. As figuras que recobrem os temas são: gente sofrida; retirante, migração, avarento, grilhão, métrica, rima, oração e taco de terra, cristão, católico. Alguns fragmentos podem exemplificar:

“Cantou o êxodo rural

Na injustiça do sertão Quando forte migração, De retirante, sem igual, Deixa a roça e o quintal Amargurado, infeliz, Com um nó preso à garganta

Como se fosse uma planta

Puxada pela raiz. ”

“Deve estar assim dizendo

Para o grande soberano:

‘Eu sou cristão, sou Católico

Apostólico Romano. Dotado de senso humano Não pude calar-me, então, Com o avarento arrogante Que trata seu semelhante Sob a corrente e o grilhão”

O conflito, o sentido mínimo da narrativa, embasa-se na oposição entre pobreza e riqueza, pois é a partir desse conflito que os problemas são gerados: injustiça, desigualdade, dificuldades financeiras, e constituem a luta do nosso poeta sertanejo.

“Protestou pelo egoísmo

De uns que têm muita terra E vivem fazendo guerra Externando seu altruísmo.

Considerou um cinismo O rico que faz vigília Pra manter o vale e a serra

Longe daquele que a terra

Quer pra criar sua família”

No que diz respeito aos objetos transacionais, a terra para os ricos encontra-se no patamar de fetiche e para os pobres, como é algo distante e difícil de ter, passa ao ser um ídolo.

O texto analisado retrata a importância de Patativa do Assaré que, mesmo sendo uma pessoa humilde e sem estudo, se compadece das amarguras em que vivia com seus conterrâneos sertanejos, bem como intenciona combater a injustiça social a que eram acometidos, lutando por uma distribuição mais igualitária de terra e da riqueza.