O cordel Descrição das Cidades da Paraíba foi criado com intento de enaltecer o estado da Paraíba, seus moradores, suas cidades e suas mulheres. O enunciador manifesta-se no texto para informar que é um artista vindo de terras paraibanas e, por isso, quis fazer uma homenagem ao seu estado de origem. Por tratar-se de um relato, o tipo de debreagem recorrente é a enunciativa, porquanto o enunciador passa a ser um narrador que se inclui no seu discurso. Dessa forma, a zona antrópica prevalecente é a de identidade e a de distanciamento. A mulher paraibana, em especial, desempenha um papel de ídolo. Segue um trecho que corrobora:
“Deus é a luz da verdade
E com Ele eu aprendi Fazer versos populares Neste opúsculo eu descrevi
A velha Paraíba amada
Terra boa abençoada” Lugar onde nasci...”
O tempo vem a ser representado pelos verbos no presente e passado. Este aparece, apenas, quando o enunciador faz uma referência a uma experiência que teve, no passado, com mulheres das mais variadas naturalidades ou quando se refere ao nascimento. O tempo presente é o que prevalece, por ser uma exaltação à Paraíba. Todas as informações e qualidades mencionadas aparecem no mesmo espaço de tempo do enunciador.
“Quem for paraibano nato
Há de dizer como eu: - Adora a Paraíba Com tudo que Deus lhe deu Sei que ninguém me reclama
Todo filho honesto, ama
O torrão onde nasceu” “Já gostei da cearense
Mas não me dei muito bem
A pernambucana também Já me deixou em suspense Uma dona rio-grandense
Quiz tomar a minha “grana”
Uma moça alagoana Passou-me um cheque sem fundo
A mulher melhor do mundo
A espacialização da narrativa é representada pelos espaços específicos. A Paraíba corresponde ao ambiente escolhido para receber a homenagem e, além disso, abarca as demais localidades mencionadas no texto, apenas o Rio de Janeiro aparece para demonstrar que mesmo longe, os paraibanos nunca se esquecem de sua terra natal. A capital do estado, João Pessoa, bem como seus principais pontos turísticos, as praias de Tambaú e Cabo Branco, são exaltadas pela sua beleza. A Lagoa do Parque Solón de Lucena também é citada como um lugar
encantador, ponto turístico famoso, lugar para passear com a família e que serve, também, como ponto de referência para localizar lojas ou ruas, no centro da cidade. Dos duzentos e vinte e três municípios que o estado possui, foram citados, no texto, conto e setenta com intenção de informar os nomes ao narratário. São citadas cidades de todas as regiões do estado, desde o litoral, com Cabedelo, de que destaca sua importância econômica por acolher um porto, passando pelo brejo, com Solânea e Bananeiras, pelo cariri, com Taperoá, chegando ao sertão, com Catolé do Rocha e Souza. Vejamos os exemplos:
“A praia de Tambaú
Enfeita a capital E o Cabo Branco também
Com todo seu coqueiral O oceano encapelado Parece um manto azulado
Numa noite de Natal”
“Começo de João Pessoa
Nossa bela Capital E Cabedelo que é O seu porto principal Pra começar com mais fé
Falo também em Sapé
Minha cidade natal”
“São Sebastião da Lagoa
De Roça e Frei Martinho Cacimba de Dentro, Emas
Remígio e Salgadinho Nova Floresta e Picuí
Solânea e Cubati
Tacima e Juzeirinho”
Os atores que compõem a narrativa são representados, em grande parte, por paraibanos ilustres, que ganharam notoriedade nacional, seja pela arte, história ou pela literatura, que serão mencionadas a seguir com a descrição dada pelo folheto. São eles: Pedro Américo, paraibano que viveu entre os séculos XIX e XX e ficou conhecido pelo seu talento na pintura, criou várias obras de grande repercussão nacional, dentre elas, sua obra mais famosa, o quadro O Grito do Ipiranga que retrata a proclamação da independência do Brasil; Augusto dos Anjos, poeta paraibano, conhecido pelo caráter crítico de seus textos, que tinham como alvo combater o egocentrismo que reinava em sua época. Autor de apenas um livro de poemas, Eu, de grande repercussão até os dias de hoje. Horácio de Almeida, paraibano nascido no final do século XIX, um dos fundadores da Academia Paraibana de Letras; e estudioso da cultura popular. Foi morar no Rio de Janeiro, onde permaneceu até a sua morte. Ariano Suassuna era um grande defensor
da cultura popular nordestina. Foi um dramaturgo e poeta, idealizador do Movimento Armorial, dentre as suas obras mais conhecida está o Auto da Compadecida. Algumas informações incorretas transparecem no texto, como, por exemplo, o local de nascimento de Ariano Suassuna, o texto informa que ele nasceu em Taperoá, na verdade, ele nasceu na capital do estado, então chamada Cidade da Paraíba. Após seu pai ter sido assassinado por motivos políticos, mudou-se, juntamente com a família, para Taperoá. Martin Leitão é citado como sendo paraibano, em realidade, ele foi um português responsável por conquistar a capitania da Paraíba, no ano de 1585, tendo desempenhado um importante papel na história do estado. Eis alguns fragmentos que asseguram:
“Terra de Martins Leitão
E de Pedro Américo também Terra de Augusto dos Anjos
E de mais pessoas de bem Honesta, boa e humana
Na terra paraibana
Nada falta, tudo tem” “Terra de Horácio de Almeida
Um distinto advogado E escritor, lá no Rio
Paraibano ilustrado
Que mesmo estando distante Lembrasse a todo instante
Do seu torrão adorado” “Eu nasci na Paraíba
Na cidade de Sapé E o Dr. Ariano Suassuna, também é De Taperoá, terra quente
Um paraibano valente
Homem de coragem e fé”
Os atores genéricos aparecem figurativizados pelas pessoas, numa referência aos paraibanos, em especial, trazendo somente grandes qualidades desse povo tão amado pelo narrador. O enunciador, após se decepcionar com mulheres de outras naturalidades e até de outras nacionalidades, exalta a beleza e dignidade das mulheres paraibanas. Diante disso, os agonistas são: poeta; corajoso; valente; bem-sucedido e belo.
“Muitas pessoas distintas
A Paraíba tem dado Homens de fibra e coragem
E de talento renomado Nos nomes não vou falar
Porque precisa citar
As cidades do Estado” “Vou fazer ponto final
Seguindo outra batida Pra dizer em seguida
Que a Paraíba é legal Mulher boa e colossal De beleza soberana Tem na região praiana
Eu digo e não me confundo A mulher melhor do mundo
É a mulher paraibana”
Os valores que permeiam a narrativa correspondem às qualidades louvadas dos paraibanos: benevolência, valentia, beleza. A admiração vem a ser o sentimento nutrido pelo narrador por seu estado de origem, fato que só o faz enxergar positivamente suas particularidades.
O sentido mínimo do discurso reside no conflito entre mulher paraibana versus mulher de outra naturalidade. A mulher vinda da Paraíba, de acordo com o enunciador, além de bela, é cheirosa e simpática e detém uma particularidade que a diferencia das demais mulheres, é citada como colossal, prestativa e ideal, por isso o narrador afirma, categoricamente, que “a mulher
melhor do mundo / é a mulher paraibana”,
Com a análise, fica evidente a construção eufórica que o enunciador faz sobre o estado da Paraíba, exaltando, com orgulho, os filhos ilustres da terra, que ganharam fama nacional, além das belezas de sua capital. Com vista disso, faz questão de citar quase todas as cidades componentes do estado e louvando, especificamente, a mulher paraibana, tornando-a de superior qualidade em comparação às demais mulheres do país e até do mundo.
3.4.2 Quadro-resumo
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
TÍTULO: Descrição das cidades da Paraíba AUTOR: José Costa Leite
DATA: S/D CLASSIFICAÇÃO
BIBLIOGRÁFICA: Cidade e vida urbana
CATEGORIAS DESCRITIVAS DESCRIÇÃO Enunciação Debreagem: Enunciativa Enunciador: Explícito Enunciatário: Pressuposto
Zona Antrópica: Identidade
Objeto Transacional: Mulher paraibana
Situação espaço- temporal
Tempo: Específico:
Genérico: Passado e presente
Espaço: Específico:
Paraíba; Rio; Sapé; Taperoá; João Pessoa; Praia de Tambaú; Cabo Branco; Cabedelo; Rio Tinto; Mamanguape; Mataraca; Pitimbu; Conde; Bayeux; Santa Rita; Lucena; Jacaraú; Lagoa
Genérico:
Atorialização
Específicos: Deus; Martins Leitão; Augusto dos Anjos; Horácio de Almeida; Pedro Américo; Ariano Suassuna
Genéricos: Pessoas; mulher paraibana
Natureza dos Agonistas:
Eufórico Disfórico
Poeta; escritor; bem-sucedido; corajoso; belo; namorador
Valores investidos Valentia; beleza; admiração; benevolência
3.5 Folheto 5: O centenário da aviação - Tributo a Santos Dumond