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O texto em questão traz a história de Gostosão, um rapaz que se aproveita de sua boa aparência e de seu carisma para seduzir várias mulheres, tornando-se um conquistador. Não conseguia ser fiel às mulheres com que tinha compromissos mais sérios. Suas atitudes, ao longo dos anos, contribuíram para que tivesse um triste destino, morresse sozinho, decadente financeiramente, com uma horrível aparência física e entregue à bebida.

Com relação aos elementos constitutivos da enunciação, a debreagem corrente é a

enunciativa: o enunciador se manifesta no texto através do “eu” explícito, além de uma clara referência ao enunciatário, quando menciona “leitores” e “minha valorosa gente”. Por contar

uma história em terceira pessoa, o tipo de unidade discursiva é o enunciado enunciado. Sendo assim, as três zonas de identidade são manifestadas no discurso: a de identidade, a de proximidade e a de distanciamento, as presentes. No que diz respeito aos objetos transacionais, a fidelidade corresponde a um ídolo em relação ao ator principal, pois não conseguia manter-se fiel a nenhuma de suas esposas. Seu estilo de vida e personalidades o impulsionavam para uma vida boêmia, rodeado de mulheres. A intenção maior do enunciador é trazer uma lição de moral, utilizando a narrativa de Gostosão como uma ilustração das consequências, em especial, do alcoolismo. Diante do que fora exposto, segue a confirmação através do trecho abaixo:

“Leitores estou de volta

Pra falar dum trocador Das mulheres que tornou-se

Um grande conquistador Usando a própria solércia

Para obter o amor”

“Sinta-se advertida

Minha valorosa gente! Se bebe, se esforce o máximo

Pra não ficar dependente Dessa droga possessiva

Chamada de aguardente”

Na situação espacial da narrativa, os espaços genéricos são predominantes, uma vez que são representados por ambientes frequentados pelo sujeito principal, que sempre estava em busca de diversão e prazer sexual, no clube; cabaré; praia. Além disso, o comércio de Gostosão também é representativo, era uma cantina situada em um prédio que ficava localizado na esquina. Essa descrição detalhada aparece para denotar que, devido a uma boa localização, o estabelecimento tinha tudo para dar certo, mas não foi o que aconteceu. Calçada, aparece para

ilustrar a decadência do sujeito principal, porquanto é comum entre os alcoólatras caírem bêbados pelas ruas, seja debaixo de sol ou de chuva, o que os tornam alvos de desprezo para alguns, piedade para outros e de vergonha para os familiares. O local onde fora encontrado morto, em uma avenida, bem próximo a um boteco também exemplifica o declínio de Gostosão. Eis o que confirma os espaços genéricos citados:

“E mesmo recém-casado

Não disse adeus à gandaia:

Continuou frequentando Clube, cabaré e praia Feito um tarado qualquer

Atrás de um rabo de saia”

“E as três moças por eles

Ofendidas no passado, Certa vez o encontraram

Também muito embriagado, Todo sujo, cochilando,

Numa calçada, escorado”

“Depois Gostosão foi

visto

Caído em uma avenida A seis metros dum boteco

Havia perdido a vida Pelo excesso de álcool;

Da aguardente ingerida. ”

A temporalização é marcada por expressões que organizam os fatos, bem como dão a noção do tempo decorrido entre os acontecimentos e, ainda, informam a duração dos relacionamentos de Gostosão, tais como dez meses, tempo de seu primeiro relacionamento sério; três anos, período que durou seu primeiro casamento oficial; seis anos refere-se ao tempo que sua terceira mulher conseguiu suportar suas traições. A expressão dois anos corresponde ao intervalo de tempo que Gostosão levou para engravidar três mulheres; três dias foi o prazo em que sua terceira esposa levou, após decidir separar-se, para que fosse estabelecida uma pensão para os filhos que teve com ele. Um mês foi o tempo que durou sua empreitada comercial. Segue o trecho que confirma a temporização presente no texto:

“Ele durante dois anos

Engravidou três donzelas Três vezes fugiu para não Casar com nenhuma delas,

Deixando ressentimentos

E decepções com elas”

“Com dez meses, a viúva,

Foi trocada por alguém. Em festa, com belas damas,

Ele não ficava sem, Por ser muito bom de papo,

Insistir e trajar bem”

“Ela, que aos galanteios

De Gostosão aderiu, Sofreu traições seis anos,

Parou, pensou, desistiu, Deu um triste adeus a ele

Pegou carona e partiu”

No que diz respeito aos atores do discurso, apenas um é nomeado, portanto, específico, Gostosão, que é o sujeito principal da narrativa, cujo objeto de valor primordial é a vida boêmia,

estando sempre cercado de belas mulheres e, consequentemente, em busca de prazer sexual. Conta com a adjuvância de sua boa aparência física e de sua personalidade extrovertida para conquistar a mulher que desejasse. Sobre esta característica peculiar, o autor descreve:

“Usava de ouro puro,

Um anel e um cordão, Boas roupas, bons sapatos, Bons óculos, bom cinturão; Essas coisas que combinam

Com quem quer ser gostosão. ”

Corresponde a um agonista enganador e infiel, sua trajetória era marcada pelas mentiras que contara para que as mulheres se rendessem a seu charme e, não tendo sentimentos sinceros por nenhuma delas, só queria um relacionamento físico, satisfazer-se sexualmente. Era infiel a todas, não respeitava os preceitos morais de fidelidade e companheirismo que inspiram um casamento, fosse ele oficial ou não. Gostosão colheu os frutos de uma vida baseada na mentira e no adultério e terminou sua existência alcoólatra, sozinho, com uma aparência lamentável e pobre, conforme o seguinte fragmento:

“Com a desistência dela

O famoso Gostosão Saiu procurando outra Mulher pro seu coração

Infiel, que acabava

De ficar na solidão. ”

“Gostosão descontrolou-se

Bebendo e entrando em rolo, Desapoiado por todos Num imenso desconsolo, Sem noção, mulher e grana,

Pelas ruas feito um tolo”

“Tinha crescido a barriga

E afinado as canelas; Inchado a cara e os pés

E ali não viu que elas Viam, na pior desgraça,

Quem riu da ilusão delas”

Os atores genéricos aparecem na figura das três donzelas que ficaram grávidas dele; a jovem viúva, sua primeira mulher; a nova pretendente, sua segunda esposa; garota, última esposa. Seus filhos, oficialmente registrados, também entram nessa classificação, foram dois com a segunda esposa e três com a última. As mulheres correspondem ao agonista inocente e enganado, pois se renderam aos encantamentos de Gostosão e foram por ele traídas. Os filhos são representados pelo agonista abandonado pelo pai, que preferiu manter-se na vida de orgias que levava ao invés de lhes dar a atenção e o amor de pai.

Com isso, os valores que permeiam a narrativa são: imoralidade, mentira, infidelidade e justiça e vício. Os três primeiros são presentes na personalidade e atitudes do ator principal, que tinha uma vida lasciva, sempre em busca de sexo, o que não lhe permitia firmar-se com apenas uma mulher, queria ter várias ao mesmo tempo, tornando-se um adúltero. A justiça, sobretudo moral, no texto, aparece para punir Gostosão pelas suas más atitudes para com as mulheres que havia enganado e para seus filhos, que não os havia criado. O último tema vem a ser o vício adquirido por Gostosão em decorrência do seu declínio, sobretudo, financeiro, a doença que o transformou em uma pessoa digna de vergonha e desprezo. Eis o trecho que confirma:

“Chamava-se Gostosão

Esse rapaz popular, Por ser o mais cobiçado

Pelas moças do lugar, Embora, seu coração

Só soubesse magoar”

“Com os dois filhos que teve

Ela ficou para criá-los. Ele, por não ter exemplos De bom pai pra educá-los, Ficou só com o direito De poder ir visitá-los”

“A mulher divorciada

Outro dia passeava Com os filhos quando viu

Que, ébrio, ele vomitava. Então evitou que eles

Vissem como o pai estava”

Assim, fica evidente que o sentido mínimo da narrativa é dado pela oposição entre bem e mal. O bem está em favor das mulheres que foram injustamente enganadas e de forma gratuita, sem nenhuma explicação para o sofrimento que lhes foi imputado. Foram, na verdade, vítimas de um homem mentiroso e devasso, que apenas queria viver aventuras sexuais com elas. Neste caso, o mal é representado pelas ações totalmente condenáveis e pelo mau caráter do sujeito principal, que apresenta valores que não dignificavam o homem, tais como infidelidade, lascívia e mentira.

Com o texto, fica evidente a solidariedade em relação às mulheres vítimas de um homem adúltero, além disso, existe uma lição de moral, cuja trajetória serviu para ilustrar o mal que acontece àqueles que se deixam controlar pela bebida alcoólica, bem como o final solitário para quem opta em ter uma vida boêmia.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

TÍTULO: O trocador de mulheres AUTOR: José Ribamar Alves

DATA: Outubro/2003 CLASSIFICAÇÃO

BIBLIOGRÁFICA: Moralidade CATEGORIAS DESCRITIVAS DESCRIÇÃO Enunciação Debreagem: Enunciativa Enunciador: Explícito

Enunciatário: Leitores; minha valorosa gente

Zona Antrópica: Identidade; proximidade; distanciamento

Objeto Transacional: Fidelidade (ídolo)

Situação espaço- temporal

Tempo: Específico: dez meses; três anos; seis anos; dois anos; três dias; um mês

Genérico:

Espaço: Específico: clube; cabaré; praia; cantina; prédio; esquina; calçada; avenida; boteco

Genérico:

Atorialização

Específicos: Gostosão

Genéricos: três donzelas; jovem viúva; nova pretendente; garota

Natureza dos Agonistas: Eufórico Disfórico

inocente Enganador; infiel

Valores investidos Imoralidade; mentira; infidelidade; justiça; vício

3.21 Folheto 21: O rapaz que fugiu da morte e morreu