O cordel traz um relato de um adolescente em seu despertar para a sexualidade, quando se encanta com os seios de uma jovem que estava na janela, nutrindo uma paixão não correspondida pela moça por vários anos.
O relato é do próprio enunciador, que se manifesta como ator, no texto, instaurando uma debreagem enunciativa. Os atores não falam, apenas são citados, dessa forma, a zona antrópica detectada é a de identidade, visto que não se dirige, de forma explícita, a seu enunciatário, ficando pressuposto no texto. Por ter sido a paixão despertada através dos bicos dos seios da moça e, além disso, por nunca ter concretizado seu desejo de tocá-los, os seios desempenham o status de ídolo, algo inalcançável pelo sujeito. A zona antrópica que prevalece é a de identidade.
“Trajava uma fina blusa
De tão fina transparente E neste quadro atraente Se fez assim minha musa
Fiquei de ideia confusa Ao ver tão formosa bela Tão meiga, doce e singela
Tal como atriz de cinema Inspirando o meu poema
Nos bico dos peito dela”
Por ser algo que aconteceu no passado do enunciador-ator, uma experiência vivida, o tempo que prevalece é o passado, havendo a presença do tempo presente para fazer referência a uma paixão sentida na adolescência, ainda forte mesmo com o passar dos anos.
“tentei aceitar então
De Janaína a escolha Padecendo na encolha Sufoquei minha paixão Mas é que meu coração
Por vezes se abufela Vem a lembrança e martela Pois mesmo o tempo passando
Ainda acordo sonhando
Com os bicos dos peito dela”
As marcas temporais de idade aparecem para informar que muitos novos eram Janaína e o narrador, ela estava entre 15 e 16 anos e ele, com 12 anos, com essa diferença de idade entre eles, fica evidente que a jovem não iria corresponder à paixão do rapaz, que estava iniciando seu percurso na adolescência.
“Recordo a primeira vez
Em que fitei Janaína Ainda moça, minina Dos 15 para os 16 Se parecendo uma Inês
Debruçada na janela A brisa soprava nela Um chêro doce de engenho
Marcando todo desenho
Dos bicos dos peito dela”
“Eu toda noite passava
Na sua rua para vê-la Não conseguia esqueçe-la Mas ela nem me enxergava
Eu aos 12 chegava E ela ainda donzela E eu muito mais que ela
Afoito feito um capote Já louco para dar um bote
Nos bicos dos peito dela”
A rua e a janela correspondem aos espaços da narrativa, era muito comum, principalmente nas cidades interioranas, as pessoas ficarem, em frente às suas casas ou nas janelas, observando o movimento da rua, através desse costume foi que o ator principal conheceu Janaína, que estava na janela de sua casa. Após ser cativado pela paixão, o ator principal passava na rua da jovem todas as noites só para vê-la.
A atoriaização da narrativa é simples, apenas um ator aparece nomeado, Janaína, os demais são genéricos, como o rapaz com que a jovem estava namorando. Inês, a Inês de Castro, famosa amante de D. Pedro I, é citada como referência de beleza sensual para caracterizar a formosura de Janaína. O namorado de Janaína corresponde àquele que havia concretizado o sonho do jovem, que era namorar a moça.
“Um dia vi Janaína
Com um rapaz se abraçando Vi ele ela alizando Numa postura malina
Ali previ minha sina Da qual eu sofro sequela Vendo ele se esfregar nela Lembrando chega esmureço Mais morro e nunca me esqueço
Dos bicos dos peito dela”
Os valores que permeiam a narrativa são representados pela beleza da moça, que por ser uma adolescente, tinha como aliada a pouca idade, que lhe proporcionava um corpo bem desenhado, não atingido pelos anos, nem pela maternidade, responsáveis por alterar as marcas corporais da mulher. A sexualidade é tratada, no texto, como a passagem da infância para a adolescência, representada pelo interesse sexual que surge no sujeito pelos seios da jovem que vê na rua. A paixão que acomete o jovem é característica dos adolescentes, que se apaixonam rapidamente, principalmente de forma platônica, é o ator, pois ele nunca se declara a Janaína, nem tampouco luta para concretizar seus sentimentos, apenas vive a paixão na sua imaginação. Ao contemplar Janaína em um contato físico bem acalorado com um rapaz mais velho, a decepção toma conta do coração do adolescente, que procurou abafar a paixão sentida.
“Porém faltou-me a
coragem Permaneci desejoso Fui crescendo desgostoso
Em nada via vantagem As vezes via, visagem Se parecendo com ela
Sentia um bolo na goela Suava frio pelo rosto Querendo sentir o gosto
Dos bicos dos peito dela” “Essa foi a primeira
De muitas decepções Não conto aqui as razões
Por sofrer desta maneira Passei a minha vida inteira
Detido em sua tramela Igual ao preso na cela Pagando por crime alheio
Acorrentado no meio
Dos bicos dos peito dela”
A oposição básica que sintetiza o discurso reside em contentamento versus decepção. A
decepção ilustra o resultado da paixão platônica nutrida pelo jovem por Janaína, durante vários anos, que foi a frustração em vê-la se abraçando com outro rapaz. Como contrário à decepção
está o contentamento, este seria o estado do personagem principal da história caso decidisse se declarar à moça, falar abertamente sobre seus sentimentos, agindo dessa maneira, haveria a probabilidade, quem sabe, dela olhar para ele com olhos de interesse e, enfim, poder ter sua paixão efetivada, guardando para si o sentimento, ela nunca adivinharia quais eram as reais intenções dele para com ela.
O texto traz a passagem da infância para a adolescência, fase marcada por grandes descobertas, principalmente com relação à vida amorosa e sexual. Antes sem malícia, característica das crianças, passam a ver o outro com um olhar diferente, percebendo seus atributos físicos, que despertam um turbilhão de sentimentos, por isso que os adolescentes facilmente se apaixonam e, também, decepcionam-se, fato retratado pelo nosso personagem principal.
3.10.2 Quadro-resumo
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
TÍTULO: Os bico dos peito dela AUTOR: Abiel Luna
DATA: set/2007 CLASSIFICAÇÃO
BIBLIOGRÁFICA: Erotismo CATEGORIAS DESCRITIVAS DESCRIÇÃO Enunciação Debreagem: Enunciativa Enunciador: Explícito Enunciatário: Pressuposto
Zona Antrópica: Identidade
Objeto Transacional: Os bicos dos seios de Janaína
Situação espaço- temporal
Tempo: Específico: 15/16 anos; 12 anos
Genérico: Um dia; à noite; passado; presente
Espaço: Específico:
Genérico: Janela; rua
Atorialização
Específicos: Janaína
Genéricos: Rapaz
Natureza dos Agonistas: Eufórico Disfórico
Belo; apaixonado; decepcionado
Valores investidos Beleza; paixão; sexualidade
Conflitos Contentamento x decepção
3.11 Folheto 11: A vitória do Brasil Tetra Campeão Mundial de Futebol na Copa 94