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O cordel traz a história de Cafu, um nordestino aventureiro e muito astuto, cujo lema de vida é divertir-se e ludibriar os outros. No que diz respeito à enunciação do texto em análise, o enunciador se mantém numa posição de narrador, distante dos fatos narrados como forma de destacar que a história contada não aconteceu a ele, mas sim, com outra pessoa. Ele apenas transmite os acontecimentos, entretanto, sem deixar de lado o juízo de valor e transmiti-lo a seu enunciatário, explicitamente, o leitor. As zonas antrópicas refletem a predominância das zonas proximal e distal. Já no que diz respeito ao objeto transacional, por se tratar da história de um astuto sertanejo, que só faz enganar as pessoas, a verdade desempenha, então, o papel de ídolo, sendo algo distante de ser atingido pelo ator principal.

“Se o leitor não é doente

E gosta de dar risada Leia com calma esta estória

A muito tempo passada Conheça quem foi Cafú

O maior na presepada”

Deste modo, para construir seu texto, o enunciador usa verbos, em sua maioria, na terceira pessoa e nos tempos passado, presente e futuro. Estes últimos manifestam-se, mais especificamente, quando os atores (genéricos e específicos) falam em discurso direto. O tempo passado aparece para assegurar o distanciamento do enunciador e corroborar com a informação de que é uma história recontada, repassada por outras pessoas ou até testemunhada por ele próprio.

“Cafu foi muito querido

Na sua boa cidade Conhecido por todo mundo

Da alta sociedade Pois todos admiravam

Sua personalidade”

“Cafu respondeu aceito

A esta feliz disputa Irei vencer o seu mestre

Com meia hora de luta Como de fato venceu

Em um dos exemplos acima, podemos verificar, ainda, marcas do tempo específico, o termo meia hora, que se refere ao tempo gasto por Cafu para derrotar o mestre de luta da polícia. Isso reflete a confiança que Cafu tinha em si mesmo, considerado um bom lutador por dominar a arte do jiu-jitsu. Outro termo ligado que aparece é um mês, período aproximado em que Cafu trabalhou para a polícia. Como gostava de viver de aventuras, o sertanejo não se fixava por muito tempo nos empregos que conseguia, estava sempre em busca de algo diferente.

“Ficou mestrando a polícia

Mas nem um mês passou Comprou a créditos nas lojas

E depois que se arrumou Vendeu tudo o quanto tinha

Para o Rio viajou.”

Os espaços, predominantemente específicos, retratam os lugares por onde Cafu nasceu, morou e trabalhou. Pontas de Pedra, no estado de Pernambuco, era a terra natal do jovem. Uma tipografia, em João Pessoa, na Paraíba, foi um de seus locais de trabalho e onde ludibriou seu chefe. Rio de Janeiro foi o lugar escolhido para conquistar novas oportunidades de trabalho, conseguindo, de imediato, uma vaga em uma loja de bijouterias. Os espaços genéricos, então, ficam figurativizados por tipografia e bijouteria:

“Nasceu em Pontas de Pedra

Natural de Pernambuco Quem o conhecia de perto

Notava ele um maluco Por fazer cada uma cena

Do cara ficar caduco”

“Cafu se saía bem

Com seus quengos dia a dia Trabalhou em João Pessoa

Em uma Tipografia Já por não ter um servente

Alguns mandados fazia”

Na atorialização, o ator específico é figurativizado, apenas, pelo ator principal, Cafu. É um sujeito talentoso, dominava a arte da tipografia e na madeira, além de ser um bom lutador de jiu-jitsu. Ao mesmo tempo, gostava de enganar as pessoas, foi assim com seu patrão na tipografia, com seus pais e toda a cidade, quando, ao ir embora para o Rio de Janeiro, inventou que estava cursando medicina veterinária. De volta à cidade natal, adulado por ser doutor, tem

a mentira descoberta quando não consegue socorrer um novilho doente. Os sememas que caracterizam o agonista são: habilidoso; inteligente; bem-humorado; enganador.

“Dentre os poetas do Norte

Foi ele um de primeira Em serviços tipográficos

Servia na dianteira Era mestre em giu-gitsun

E um bom artista em madeira”

Os atores genéricos são figurativizados por aqueles que foram vítimas das mentiras de Cafu: patrão; pais; fazendeiro. O comandante aparece como aquele que o convida para trabalhar na polícia, após ficar impressionado com a destreza do rapaz na luta. A categoria tímica que representa os atores cristalizados, os agonistas, é a de euforia, cujo semema representante é inocente.

Os valores que permeiam a narrativa são representados pelas características principais de Cafu: humor; inteligência; astúcia; mentira. Sua personalidade bem-humorada e, ao mesmo tempo, inteligente, faziam-no cair na graça das pessoas, ganhando a confiança delas. Aproveitando-se disso, usa de sua astúcia para inventar mentiras e beneficiar-se de alguma maneira. Assim sendo, o tema confiança está ligado aos que eram por ele enganados.

O conflito da narrativa gira em torno da oposição verdade versus mentira. A verdade, como contrária à mentira e tendo como contraditória a não mentira, resulta na honestidade, atitude digna que deve permear as ações dos seres humanos. Já a mentira, sem a verdade, e contrária à verdade, refletem todas as ações desonestas realizadas por Cafu. Mas, ao final, ficou perceptível que a mentira nem sempre prevalece sobre a verdade, Cafu tem sua mentira descoberta e sai fugido da cidade.

3.16.2 Quadro-resumo

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

TÍTULO: Cafú Rei do riso AUTOR: João de Barros

DATA: S/D CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Humor CATEGORIAS DESCRITIVAS DESCRIÇÃO Enunciação Debreagem: Enunciva Enunciador: Pressuposto Enunciatário: Leitor

Zona Antrópica: zona de distanciamento e de proximidade

Objeto Transacional: verdade (ídolo)

Situação espaço- temporal

Tempo: Específico: futuro; meia hora; um mês

Genérico: presente; passado

Espaço: Específico: Norte; Pontas de Pedra - PE; João Pessoa; Rio de Janeiro

Genérico: Tipografia; Bijoterias

Atorialização

Específicos: Cafu

Genéricos: comandante; patrão; pais; fazendeiro

Natureza dos Agonistas: Eufórico Disfórico

habilidoso; inteligente; bem-humorado; inocente enganador

Valores investidos humor; inteligência; astúcia; mentira; confiança

3.17 Folheto 17: A calamidade da cheia de Timbauba