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O cordel em análise, inicialmente em sua estrutura narrativa, dispõe de seis sujeitos semióticos, cada um com seu respectivo percurso. O S1 vem a ser figurativizado pela mulher

grávida, cujo desejo era comer rabanete, seu objeto de valor principal. O marido, aqui representando o S2, querendo saciar o desejo da esposa (objeto de valor do S2) e vendo-se sem

recursos, rouba os rabanetes da horta da vizinha bruxa. Sendo assim, o S1 e o S2 terminam seu

percurso em conjunção com seu objeto de valor principal, mesmo tendo como oponente a difícil situação financeira em que viviam. Eis os exemplos:

“A vizinha era bruxa

Grande horta possuía A mulher tava grávida

Grande desejo sentia Desejava rabanetes

E ansiosa sofria”

“O seu esposo esperou

Que o dia terminasse Pra pegar os rabanetes Para que ninguém olhasse

Era melhor ter pedido

E da horta não roubasse”

A mulher e o esposo apresentam, juntos, outro percurso narrativo, transformando-se em outro sujeito semiótico, o S3, que envolve a chegada do bebê. O roubo dos rabanetes

provocara a ira da bruxa, aqui desempenhando o papel de oponente, porquanto, impulsionada pela raiva e desejo de vingança, promete sequestrar a criança quando esta nascer. Podemos destacar que a atitude da bruxa a torna, também, um sujeito semiótico, que tem como objeto de valor vingar-se. A mulher e o seu marido terminam disjuntos do objeto e a bruxa, ao conseguir raptar a criança, conclui seu percurso num estado de conjunção com o objeto.

“Nas montanhas verdejantes

Um simples casal morava Levava vida tranquila Ninguém o incomodava Aguardavam o seu bebê

Que pra nascer não tardava”

“O furto repetia-se

E a bruxa descobriu Foi fazendo ameaça Pra sua torre subiu Prometeu levar o bebê

A bruxa mais uma vez aparece como oponente e como sujeito semiótico. Oponente nos percursos do príncipe, que queria libertar Rapunzel do cativeiro, e desta que, impulsionada pelo amor e pelo desejo de liberdade, desejava casar-se com o jovem. No entanto, mesmo conseguindo vingar-se do rapaz, seu intento maior, seu objeto de valor principal, o percurso foi interrompido pelas lágrimas de Rapunzel, que o fizeram voltar a enxergar e, assim, desencarcerar a moça. Na visão do enunciador, essas lágrimas são maravilhosas, configuram um valor de objeto transacional, de ídolo, por possuírem o poder de curar.

Diante disso, os sujeitos Rapunzel e príncipe concluíram seus percursos em conjunção com seus respectivos objetos de valor e a bruxa, recebendo a oponência das lágrimas da princesa, disjunta. Vejamos os exemplos:

“O príncipe levou um susto

Caiu no despenhadeiro Foi uma queda horrível Foi parar num espinheiro

Cegou naquele instante

O belo jovem guerreiro”

“Olhando ela pra baixo

Muito triste e chorosa Sua lágrima cai nos olhos

De forma maravilhosa Os olhos do moço abrem

De maneira milagrosa”

“E ele rouba a jovem

Da bruxa, na sua ausência Levou-a para seu reino E tomou a providência Casou-se logo com ela

Viveram na opulência”

O percurso narrativo deixa transparecer que os valores investidos pelos sujeitos são positivamente construídos, o mal que aparece representado pelo sujeito bruxa, é vencido pela bondade e pelo amor.

Na discursivização, o enunciador, logo no início, faz uma invocação ao seu

enunciatário, quando diz: “Vamos ler um belo conto...”. Nesse excerto podemos tirar, também, a zona antrópica de identidade, representada pelo pronome “nós” e pela zona de proximidade, “você”. A zona de distanciamento aparece composta pelo ator Rapunzel e pelos papéis

temáticos bruxa; pai; mãe e príncipe, pois é a história deles que é contada, tudo em terceira pessoa, não lhes é delegada a voz. Por apresentar apenas um ator nomeado, isso confere ao texto a classificação de conto. Pode-se conferir, ainda, que os espaços são genéricos, nenhum especificamente determinado, e o fato do tempo da enunciação e do enunciado aparecerem, respectivamente, em passado e presente do indicativo, reflete que a história contada se encontra na esfera da memória, o que denuncia um enunciador embreado com a enunciação e debreado com o enunciado.

Para o enunciador, o casal é euforicamente construído quando destaca a tranquilidade em que viviam apesar da difícil situação financeira que enfrentavam, no entanto, condena a

ação de roubar os rabanetes da bruxa, quando diz: “Era melhor ter pedido / E da horta não roubasse”. Ao mesmo tempo que o homem e a mulher demonstram passividade e aceitação do

destino quando tiveram sua filha sequestrada pela bruxa, não tomando nenhuma atitude para tê-la de volta. O príncipe, vendo a moça naquela situação, presa, promete devolvê-la aos pais e Rapunzel, por sua vez, vê no príncipe seu caminho para a liberdade. Assim, o príncipe se torna um sujeito complementar de Rapunzel. A história termina com a derrota da bruxa e o casamento entre Rapunzel e o príncipe. Assim, o jovem casal representa um agonista eufórico e a bruxa, agonista disfórico.

Nos objetos transacionais, os cabelos de Rapunzel representam tanto fetiche quanto ídolos, o primeiro é fetiche enquanto é usado como escada para a bruxa subir na torre. Quando as tranças são cortadas, passam ao status de ídolo, num patamar não alcançado pela bruxa, pelo príncipe e nem pela própria Rapunzel.

“Rapunzel jogava as tranças / Da torre até o chão (...)”

“cortou as enormes tranças / com seu grande comprimento (...)”

A análise, então, deixa transparecer a luta do bem contra o mal, do amor contra o ódio. O enunciador constrói seu discurso envolto em valores que dignificam o homem: ser trabalhador, honesto, justo e corajoso. Assim, ele tenta convencer seu enunciatário dessas qualificações, que não deixariam o mal e o ódio prevalecerem.

3.6.2 Quadro-resumo

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

TÍTULO: Rapunzel AUTOR: Isabel Maia

DATA: 27/08/2009 CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: Conto CATEGORIAS DESCRITIVAS DESCRIÇÃO Enunciação Debreagem: Enunciativa Enunciador: Explícito Enunciatário: criança

Zona Antrópica: Identidade, proximidade, distanciamento

Objeto Transacional: Cabelos; lágrima

Situação espaço-temporal

Tempo: Específico:

Genérico: passado

Espaço: Específico:

Genérico: montanhas verdejantes; torre do castelo; lugar encantado; reino

Atorialização

Específicos: Rapunzel

Genéricos: pai; mãe; bruxa; príncipe

Natureza dos Agonistas: Eufórico Disfórico

Inocente; humilde; valente; persistente acomodado; egoísta; vingativa; injustiçada

Valores investidos Amor; maldade; persistência; liberdade; ansiedade; vingança

3.7 Folheto 7: Olegário e Albertina - Entre o crime e o amor