• Nenhum resultado encontrado

Desdobramentos e processos espaciais: a formação da metrópole brasiliense

7. O PERÍODO DA FORMAÇÃO METROPOLITANA E IMPLANTAÇÃO DA

7.3.1 Desdobramentos e processos espaciais: a formação da metrópole brasiliense

Como um dos desdobramentos das ações de gestão do território, há a expansão urbana de Brasília. A forma de assentamento aí resultante demonstra ainda a existência de uma mancha urbana central, formada pelo Plano Piloto e por outros assentamentos próximos (como o Lago Sul, Lago Norte). A oeste, já aparecem em processo de conurbação os espaços de Taguatinga e Ceilândia, cuja expansão seguiu (o que permanece, ainda hoje) os principais eixos rodoviários de ligação do Distrito Federal, no caso a BR 070. A norte havia os espaços urbanos de Sobradinho e Planaltina e a noroeste o de Brazlândia. A sul, ao longo da BR 040, ia se adensando a cidade-satélite do Gama, ao mesmo tempo em que a urbanização dos municípios goianos tornava-se mais evidente, com o crescimento de Luziânia e o parcelamento e uso urbano de solo de seu território, naquilo que futuramente seriam os municípios de Valparaíso, Novo Gama e Cidade Ocidental (ANJOS, 1991 apud IPEA, 2001).

Conforme já posto acima, em relação ao período anterior a novidade é que o processo passa a atingir de forma mais clara os municípios vizinhos a Brasília, com o aumento da divisão das glebas rurais para uso urbano, ocasionando, em diversos casos, uma rápida urbanização de áreas antes rurais, com pouca ou nenhuma infraestrutura para isto. Em partes, isto aponta para uma dualidade na atuação do Poder Público: muito planejado e firme na atuação dentro do quadrilátero, e pouco planejado e permissivo nos municípios limítrofes. Na realidade, a situação do chamado Entorno em ocupação correspondia às necessidades habitacionais de muitos dos moradores do Distrito Federal ou de imigrantes mais pobres, que não conseguiam encaixar-se em seu mercado imobiliário.

Desta forma, a urbanização dos municípios do chamado Entorno cresce, com destaque para Luziânia, Alexânia, Cristalina, Formosa e Planaltina. Destes, apenas Alexânia não é limítrofe ao Distrito Federal. Nos outros municípios, de forma geral, a urbanização ainda

não havia se estabelecido totalmente, permanecendo uma maior dependência das atividades no espaço rural (IBGE, 1983).

Junto aos dados que revelam um crescimento no processo de urbanização, há a observação de Margutti (1986), que aponta para um crescimento significativo das cidades de porte médio, especialmente Luziânia-GO e Unaí-MG. O autor identifica aí efeitos do Pergeb, que pressupunha justamente uma área de contenção no Entorno.

Sobre este processo de expansão urbana (e já de caráter metropolitano), Ferreira (1985) aponta para a repetição do mecanismo que havia ocorrido, de forma mais clara, durante as décadas de 1960 e 1970 dentro do Distrito Federal. Assim, os espaços das periferias próximas ofereciam terras de menor valor que atendiam uma população forçada a migrar, tendo perfil de baixa renda. Aqui reside uma mudança em relação ao processo interno ao Distrito Federal: há, uma influência muito mais clara dos mecanismos próprios do mercado (aliado, em alguns momentos, à ausência da oferta de novos lotes, por parte do Estado) do que da vontade do governo local de remover arbitrariamente ocupações indesejadas. Ao mesmo tempo, Oliveira  DSRQWDSDUDXPSURFHVVRGH³HPSXUUmR´GDVFODVVHVPpGLDVSDUDDVVDWpOLWHVDOWHUDQGR o perfil socioeconômico de sua população.

Oliveira (1983), ao analisar o processo de ocupação dos espaços periféricos a partir das dinâmicas imobiliárias internas ao Distrito Federal, observa uma dupla rejeição dos moradores das áreas dos municípios da periferia do Distrito Federal: por um lado, foram ³UHMHLWDGRV´HIRUoDGRVDPLJUDUSDUDRVPXQLFtSLRVYL]LQKRVa Brasília, seja pela ação do Estado ou do mercado imobiliário; por outro, há uma rejeição mesmo, no caso específico de Luziânia, dadas as condições precárias da infraestrutura urbana então existente. Oliveira associa o crescimento dos loteamentos à política do Pergeb, de contenção da população nos municípios do Entorno. Mesmo com a atuação da prefeitura de Luziânia buscando conter o processo no município, pouco ela pode frente aos fluxos migratórios e à necessidade de habitação desta população.

Especificamente sobre Luziânia e seu processo de rápida urbanização, Oliveira descreve, com maior precisão, seu processo de urbanização e de integração à lógica metropolitana. O primeiro conjunto habitacional surgido foi Cidade Ocidental, em 1975, surgindo, em seguida, outros: Valparaíso I e II e Novo Gama. Houve, ainda, concentração em outros loteamentos, como Pedregal, Céu Azul e Santo Antônio do Descoberto (este se emancipou em 1983). Estudando especificamente o caso de Cidade Ocidental, identifica que a maior parte da população deste conjunto era de imigrantes oriundos do Distrito Federal, mas que ainda trabalhavam neste espaço, especialmente no Plano Piloto.

Assim, o processo de metropolização e consequente expansão metropolitana que ia se formando aponta para o início da integração de espaços periféricos fora do Distrito Federal como suas periferias metropolitanas, a partir da extensão do processo de expansão do espaço urbano, tanto internamente ao Distrito Federal quanto de alguns municípios do chamado Entorno. A relação é ainda muito próxima do modelo visto anteriormente, de centro-periferia, porém a influência de Brasília sobre sua região imediata (que, segundo o Pergeb, se estendia para além do espaço da futura Ride-DF) vai se tornando mais sólida do que no período anterior. Muito disto ocorre pela consolidação da cidade como capital, que consolida o setor público federal na cidade, principal motor de sua economia. Os serviços que surgem associados a isto levam também a este quadro, atraindo mão de obra, e ampliando a variedade dos serviços oferecidos, ampliando e consolidando o alcance da influência brasiliense.

Assim, ficava evidente que Brasília já se mostrava um espaço metropolitano, sendo que, mais especificamente no dizer de Paviani (1988), era uma metrópole terciária, considerando, Brasília como uma metrópole incompleta (a partir de Milton Santos), pela dependência de outras metrópoles para exercer plenamente suas funções. Paviani considera que a metrópole era formada pelo Plano Piloto, como centro urbano, pelas cidades-satélites, pelas áreas invadidas e pela periferia goiana, que ia se integrando à dinâmica metropolitana. A estrutura polinucleada da cidade, na visão de Paviani, seria, assim, uma consequência da atuação do governo, promovendo, entre outras ações, um processo de expansão da periferia de forma planejada. Desta forma, ele aponta que a então metrópole estava unificada em torno de uma única função, mas internamente fragmentada devido ao processo de segregação socioespacial. Quanto aos municípios da Região do Entorno de Brasília, sua integração dava- se como periferia, reproduzindo, como já afirmado, o mesmo processo das cidades-satélites em momentos anteriores.

Outra questão que surge a partir dos resultados analisados diz respeito a uma mudança do foco da relação de Brasília com seu espaço imediato. Se antes a preocupação maior era com um espaço regional ampliado, o processo de urbanização do sul do Distrito Federal (em que pese os indícios de sua ocorrência também ao norte, em Planaltina) e a sua caracterização como metrópole farão com que o foco, especialmente o da academia, se volte ao processo de metropolização, evidente e em expansão mais franca a partir do próximo período. De certa forma, isto tem deixado negligenciadas as pesquisas em torno do papel regional da metrópole terciária, algo que se busca resgatar neste trabalho.

7.3.2 Desdobramentos e processos espaciais: a implantação da agropecuária