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Desdobramentos e processos espaciais: urbanização, modificações no espaço agrário e

6. A GÊNESE: O PERÍODO DA IMPLANTAÇÃO DAS BASES TERRITORIAIS DA

6.1 Antecedentes da implantação de Brasília e das bases territoriais da Ride-DF

6.4.1 Desdobramentos e processos espaciais: urbanização, modificações no espaço agrário e

Antes de passar propriamente à análise dos três processos específicos emanados de ações e políticas territoriais anteriores e, ao mesmo tempo, considerados responsáveis pela produção do espaço regional da atual Ride-DF, um esclarecimento é necessário. É evidente que, à época, os três processos tinham ainda uma força reduzida nem se davam com a mesma força que atualmente. Entretanto a análise da história da constituição desta região permite, a partir do olhar escolhido, perceber que desde o processo de implantação da Capital, as bases destes processos estavam já lançadas e examinar sua gênese e evolução dá uma importante contribuição ao discutido sobre a região.

Assim, o primeiro processo em análise é justamente aquele que talvez tenha sido o principal desdobramento das ações em torno da construção a Nova Capital: a urbanização. Esta ocorreu não apenas dentro do quadrilátero, mas, a partir da integração por meio das rodovias, diversos dos outros municípios passaram por processo semelhante.

Considerando a realidade urbana dos municípios da Região de Brasília, vê-se que a maior parte deles manteve, durante o período, uma expansão urbana ainda tímida, frente ao que ocorria no âmbito do Distrito Federal. Passada a febre e a expectativa inicial da construção de Brasília, nas quais esperava-se por um crescimento mais acelerado destas cidades, pode-se afirmar que tal processo caminhou mais na especulação que na realização de fato. Na realidade,

fazendo leve concessão, alguns casos (como alguns espaços de Luziânia) apresentavam já a potencialidade de um processo futuro, com alguma especulação imobiliária. Porém o quadro geral era de cidades que sofreram um impacto inicial com a construção da nova capital, mas TXHDLQGDQmRSDUHFLDPWHUVXDH[SDQVmRXUEDQDWRWDOPHQWH³FRQWDPLQDGD´SHORSURFesso que então ocorria no Distrito Federal.

No âmbito do Distrito Federal, a produção de um núcleo central ± o Plano Piloto, foi acompanhada de um espaço de assentamento disperso, com nucleações longínquas entre si, cuja principal função, como visto anteriormente era promover um mecanismo de segregação socioespacial da população, com vistas a preservar-se a área do Plano Piloto. Para Gouvea, o resultado destas ações foi a formação de um espaço urbano formado por núcleos habitacionais afastados, com enormes espaços entre si, o que foi posteriormente benéfico ao processo de especulação imobiliária (GOUVEA, 1991).

A área planejada restringia-se ao Plano Piloto, destinado, em linhas gerais, a funções político-administrativas e a áreas residenciais para funcionários públicos e grupos sociais em condições de pagar por uma localização privilegiada. Para os trabalhadores da construção civil, inicialmente alojados em acampamentos, não houve previsão de assentamento permanente. Em parte por conta disto, a população passa a agir lutando por moradia, especialmente por uma grande parcela dela não estar contemplada no documento de Lúcio Costa (ou estar apenas parcialmente). A opção será principalmente a invasão de áreas públicas. Nos outros espaços que não o Plano Piloto, outros instrumentos de planejamento serão mais utilizados, em geral voltados principalmente ao controle do uso da terra.

Deste modelo de cidade polinucleada (PAVIANI, 1987), o Plano Piloto colocava- se como centralidade única e totalmente dominante em relação à extensão do território, cujas nucleações caracterizavam-se como assentamentos residenciais de populações de baixa renda. Concentrando-se na área central a maior parte dos empregos (no período, concentrados no secundário, por conta da primazia da construção civil) e dos serviços, reforçava-se um quadro de dependência das cidades-satélites em relação ao centro da cidade. A economia das cidades- satélites estava centrada, principalmente, em comércios locais, visando atender às demandas de seus moradores.

O IPEA (2001) aponta, ainda, como resultado, que a formação deste espaço, era uma consequência da ação incrementalista do governo, uma vez que este basicamente reagia aos movimentos da população que, sem acesso à moradia, organizava-se e decidia pela ocupação dos amplos espaços do quadrilátero. Esta forma de ação é uma consequência direta

da falta de uma política urbana abrangente para todo o território do Distrito Federal (ou para a região próxima) ± ainda que o Estado fosse o principal agente produtor do espaço urbano.

Este quadro de atuação, em nível regional, fica claro ao se observar os dados do Censo Demográfico de 1970, na Tabela 6.1:

Tabela 6.1 ± População residente nos municípios que formam a atual Ride-DF, 1970.

Municípios Total Urbana Rural

Total % Total % Abadiânia - GO 7.772 1.423 18,31 6.349 81,69 Alexânia - GO 9.390 2.642 28,14 6.748 71,86 Cabeceiras - GO 4.056 784 19,33 3.272 80,67 Corumbá de Goiás - GO 18.439 1.642 8,91 16.797 91,09 Cristalina - GO 11.600 5.612 48,38 5.988 51,62 Formosa - GO 28.874 12.859 44,53 16.015 55,47 Luziânia - GO 32.807 9.604 29,27 23.203 70,73 Padre Bernardo - GO 8.381 1.771 21,13 6.610 78,87 Pirenópolis - GO 32.065 4.982 15,54 27.083 84,46 Planaltina - GO 8.972 582 6,49 8.390 93,51 Buritis - MG 9.810 2.157 21,99 7.653 78,01 Unaí - MG 52.303 14.046 26,86 38.257 73,14 Brasília - DF 537.492 516.007 96,00 21.485 4,00

Fonte: IBGE ± Censo Demográfico (dados organizados pelo autor)

De uma forma geral, o que se percebe, pelos dados, é uma concentração da maior parte da população no espaço rural, nos municípios vizinhos de Brasília. Como referência, a taxa de urbanização do Brasil em 1970 era de 56%. A urbanização aparece de forma mais preponderante em Formosa (44,53% da população residente de então) e em Cristalina (48,38% da população residente de então). Mesmo em municípios que tiveram importante crescimento demográfico (como foi o caso de Luziânia e de Unaí), não houve um processo ampliado de urbanização, com índices de urbanização, para as duas cidades entre 21 e 27%. Assim, vê-se que Formosa surgia com alguma urbanização mais significativa, traço mesmo de seu passado, mas ainda em um quadro maior de expansão urbana tímida.

Quanto aos desdobramentos sobre as modificações no espaço agrícola, como posto por Silva (2008), houve um processo inicial de mecanização do campo na região (em consonância com o que ocorria no próprio Centro-Oeste), sem representar, contudo, um processo de modernização da atividade agropecuária. Tanto ele quanto outros autores (QUEIROZ, 2010; LIMA, 2015) convergem na perspectiva de que o ocorrido no período foi mais importante como criação das bases de uma futura modernização, especialmente pela construção dos eixos rodoviários. Desta forma, o quadro final do período, no espaço agrário,

era, de certa forma, parecido com aquele traçado por Miragaya (2010) ao descrever a situação da economia da região antes da implantação do Brasília: predominava uma economia agropecuária extensiva, com a produção voltada à subsistência.

Finalmente, sobre o processo de implantação das bases do futuro eixo Brasília- Anápolis-Goiânia, o principal desdobramento foi a criação das bases territoriais para os fluxos futuros, a partir da construção de Brasília. Este esforço levou a constituição das duas rodovias que formam o eixo, as BRs 153 e 060. Estas foram fundamentais, como já mencionado, na própria integração interna ao Estado de Goiás, e possibilitaram, após a construção das duas capitais (Brasília e Goiânia), a criação da base do eixo que viria se formar posteriormente. Um desdobramento da construção destas rodovias é apresentado por Estevam (1997), ao apontar para o crescimento dos núcleos urbanos ao redor dos principais eixos rodoviários abertos no período. Tal movimento, em escala ampla, resultou de um impulso geral à migração, mas que não esvaziou, no caso goiano o papel de Goiânia e Anápolis. O autor vê, a partir deste quadro, um impacto direto do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, principalmente, dado o papel fundamental das rodovias na integração dos novos territórios.

6.4.2 Desdobramentos e processos espaciais: subcentros e desigualdades regionais