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Desdobramentos e processos espaciais: subcentros e desigualdades regionais na região de

6. A GÊNESE: O PERÍODO DA IMPLANTAÇÃO DAS BASES TERRITORIAIS DA

6.1 Antecedentes da implantação de Brasília e das bases territoriais da Ride-DF

6.4.2 Desdobramentos e processos espaciais: subcentros e desigualdades regionais na região de

A implantação da Nova Capital e as incipientes políticas territoriais na região contribuíram para alterar o quadro de relações interurbanas preexistentes. Com o rápido crescimento da capital e o fortalecimento de suas funções urbanas, observa-se um quadro inicial de um centro urbano, Brasília, em processo de consolidação. Havia, no entanto, dificuldades em polarizar mais claramente sua região imediata, ainda largamente dependente, na escala nacional, de São Paulo, e na escala regional, de Goiânia.

Um panorama esclarecedor pode ser oferecido a partir dos dados levantados por Santana (1974) em pesquisa sobre a economia da região. Sobre a atividade agropecuária, a maior parte da produção concentrava-se em gêneros como o arroz, feijão e mandioca. A produção pecuária era concentrada na criação de bovinos, com destaque para Formosa e Luziânia. Há ainda destaque para a produção bovinocultora e de gêneros como arroz, milho e mandioca no município de Unaí. Isto corrobora o anteriormente afirmado, a respeito do processo de modernização do campo no estado de Goiás, ainda distante dos municípios próximos ao Distrito Federal, já que estes mantinham, de certa forma, uma estrutura de

produção própria da agropecuária de subsistência. Predominavam ainda uma estrutura fundiária baseada em grandes propriedades, produzindo de forma extensiva e com reduzida produtividade.

Sobre o setor secundário, Santana (1974) aponta para a existência de pequenas indústrias, em geral com tecnificação muito reduzida, demonstrando o predomínio do primário na economia geral deste espaço regional. No Distrito Federal era possível encontrar um setor industrial mais significativo, mas ligado a setores tradicionais, além da própria indústria da construção civil, cujo papel era ainda importante mesmo ao término do período. O autor identifica ainda que as indústrias existentes eram em sua ampla maioria voltadas ao abastecimento dos mercados internos, com alguma produção para exportação nos casos de Cristalina e Luziânia.

Em relação ao setor terciário, verifica-se a existência de uma realidade dual muito clara. De um lado, o centro de Brasília, identificado principalmente pelo Plano Piloto, que oferecia um leque de serviços de alcance regional muito claro, especialmente no que tange aos serviços públicos de saúde e educação. Era, ainda, um importante centro comercial, cujo centro nervoso concentrava-se ao longo da via W3 sul e, em partes, do comércio em suas superquadras. O Eixo Monumental ia se consolidando como centro da administração pública nacional, exercendo, ainda que por seu próprio caráter institucional, uma influência em nível nacional. De outro lado, dentro do Distrito Federal surgiam nucleações urbanas com comércio de abrangência ainda local e oferta de serviços públicos e privados ainda bastante escassos.

Já no caso do terciário das sedes dos municípios da Região de Brasília, estas mantinham-se como centros urbanos pequenos, com polarização circunscrita ao espaço rural do próprio município. Na ocasião da demanda de serviços de maior complexidade, surgia a necessidade de buscá-los no Distrito Federal, em geral mais constantemente no Plano Piloto. Não havia, ainda, uma pendularidade marcante da massa trabalhadora destes municípios, cuja economia ainda era muito ruralizada e os centros urbanos ainda em incipiente processo de expansão.

Um caso particular de análise, neste quadro é o de Formosa. Preexistente à Brasília, seu centro urbano tinha relevante papel na coordenação da rede de cidades e vilas existentes no Planalto Central pré-Brasília. Não à toa, foi um dos pontos de apoio fundamental ao processo de construção da nova capital. Contudo, após a construção desta, tal função vai sendo progressivamente reduzida, de forma muito natural até, pela constituição da nova capital federal. De forma a arrematar tal quadro, há a seguinte ponderação de Santana (1974, p. 313):

³7RGRV HVWHV DVSHFWRV FDUDFWHUL]DP D 5HJLmR VRE HVWXGR FRPR XPD UHJLmR HP organização ou uma região em potencial, ou seja, um conjunto de cidades em processo de nucleação, com baixo grau de concentração quanto às atividades existentes, o que se reflete em sua interdependência, marcadas por algumas heterogeneidades e complementarmente integradas ao sistema econômico QDFLRQDO´

Aqui surge uma contradição entre o discurso e a prática do Estado brasileiro. Conforme visto anteriormente, um dos argumentos para a construção da nova capital foi justamente a ideia de que ela seria um polo de impulsionamento do desenvolvimento regional. Por outro lado, a discussão das políticas mostrou que o Estado não atuou, neste período, de forma intencional e planejada para tanto, revelando algum descaso com a pretensa dupla função da cidade (além de sede política-administrativa do governo federal).

Sobre o tema das desigualdades regionais, Arrais (2007b) demonstra que a construção de Brasília resultou em um aumento destas em Goiás, muito por conta desta ³RUIDQGDGH´GRVPXQLFtSLRVYL]LQKRVDLQGDPXLWRWLPLGDPHQWHDWingidos por políticas públicas de integração e de desenvolvimento regional. A construção da Capital Federal não iniciou um processo de resolução da questão, já que, neste primeiro momento, o interesse era em construir a cidade, com pouca ênfase nas ações de cunho regional. Indiretamente, o mesmo autor aponta para uma consolidação de Goiânia como polo principal do estado, especialmente pela abertura de novas rodovias e pela consolidação de seu eixo com Anápolis, reduzindo a histórica influência do triângulo mineiro sobre o território goiano. Apesar de parecer um resultado fora da escala de análise, tal fato constata que, neste princípio de composição do espaço regional ao redor de Brasília a porção oeste, especialmente ao redor da BR 060 será fortemente influenciada pelo processo. De certa forma, algumas das modificações neste período, em Luziânia, apontam já para alguma influência também ao sul.

6.5 Síntese e ligação

Ao término da análise deste período, de implantação das bases territoriais, pode-se afirmar que nesta fase os diversos agentes, sob égide do poder público internamente ao Distrito Federal, e de forma menos coordenada e com maior liberdade de atuação de outras forças no contexto interno aos municípios, levaram à produção de um espaço regional ainda potencializado pela centralidade de Brasília. É observada uma rígida e maior atuação do Estado no quadrilátero, e uma atuação menos rígida em sua região mais imediata, o que levou a uma

integração ainda reduzida destes espaços, com uma centralidade principal cuja principal força de polarização era restrita aos seus limites políticos. As bases revelam, assim, municípios ligados à Brasília muito pelo apoio prestado à construção da nova capital e pelas rodovias aí abertas, mas não atingidas (e de certa forma frustradas com isto) pela modernização que seria propiciada pela nova capital federal. Há, assim, um centro organizado e dirigido pelo poder público; um espaço regional ainda indiretamente afetado pelas ações, de caráter principalmente da União; e os espaços internos dos municípios com uma atuação reduzida dos governos estaduais e municipais no sentido de promover integração/ desenvolvimento regional.

No próximo capítulo, a partir de uma atuação mais incisiva e planejada do Estado no contexto regional, o processo de urbanização passará a dividir protagonismo com o avanço da agropecuária moderna, ao mesmo tempo em que a própria urbanização alcança outro nível e torna-se um processo de metropolização.

7. O PERÍODO DA FORMAÇÃO METROPOLITANA E IMPLANTAÇÃO DA