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2.1 ESTADO, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

2.1.3 Desenvolvimento Econômico e subdesenvolvimento

O conceito de desenvolvimento econômico seria usualmente utilizado pelo Estado, a partir de janeiro de 1949, quando Truman (1949 apud ESTEVA, 2000, p. 60- 61) então presidente dos Estados Unidos, em discurso de posse diz:

É preciso que nos dediquemos a um programa ousado e moderno que tome nossos avanços científicos e nosso progresso industrial disponíveis para o crescimento e para o progresso das áreas subdesenvolvidas. O antigo imperialismo – a exploração para o lucro estrangeiro- não tem lugar em nossos planos. O que imaginamos é um programa de desenvolvimento baseado nos conceitos de uma distribuição justa e democrática.

A partir dessa data, o conceito é aplicado em todas as sociedades. Diante do resultado do discurso, os Estados Unidos demarcaram a sua hegemonia perante o mundo.

Naquele dia, dois bilhões de pessoas passaram a ser subdesenvolvidas. [...] daquele momento em diante, deixaram de ser o que eram antes, em toda sua diversidade, e foram transformados magicamente em uma imagem inversa da realidade alheia; uma imagem que os diminui e os envia para o fim da fila; uma imagem que simplesmente define sua identidade, uma identidade que é, na realidade, a de uma maioria heterogênea e diferente, nos termos de uma minoria homogeneizante e limitada. (ESTEVA, 2000, p. 60).

A palavra subdesenvolvimento passou a ilustrar fatos presentes, na maioria das sociedades, como o atraso e a pobreza, fruto da exploração colonialista dos países desenvolvidos sobre os subdesenvolvidos. Fica evidente que o desenvolvimento fabricou o subdesenvolvimento e reforçou as desigualdades de alguns Estados, com o predomínio do poder hegemônico de outros.

No período após a Segunda Guerra Mundial, esses conceitos foram discutidos e analisados pelos teóricos da CEPAL, diante da realidade latino- americana e caribenha, pois esta era uma das razões de sua criação. O objetivo era o de monitorar as políticas para o desenvolvimento econômico da região latino- americana, assessorar as ações encaminhadas para a promoção dos países da região, além de contribuir para reforçar as relações econômicas desses países.

As reflexões sobre o desenvolvimento foram propiciadas, pela consciência do descompasso econômico, vivido pela grande maioria da população mundial. De acordo com Furtado (2000), o conceito passou a ser entendido naquele momento, de duas maneiras: como transformação que engloba a adoção de métodos produtivos mais eficientes e como o aumento do fluxo de bens e serviços. Também estaria vinculado à ideia de eficiência e de riqueza, bem como relacionado ao grau de satisfação das necessidades humanas.

A preocupação com o desenvolvimento tem suas raízes na ciência econômica. De maneira preliminar, os trabalhos de Adam Smith (1776), Thomas Malthus (1798), David Ricardo (1817) e Karl Marx (1867) apresentam o desenvolvimento como um fenômeno importante para a consolidação do sistema capitalista. A partir do trabalho desses autores foi construído todo um arcabouço teórico e metodológico, para descrever e promover o desenvolvimento como algo próximo a uma sociedade industrial, urbana e detentora de riqueza, por meio de acúmulo de renda monetária.

Para os teóricos da CEPAL, o ponto de partida da reflexão de Furtado (1961) sobre o desenvolvimento na América Latina é a apreensão da realidade social, mais precisamente, a identificação das entidades que assumem novas formas. Essa realidade é apreendida, como algo estruturado e se desdobra no tempo, como um

processo. Para o autor, a ideia de estrutura é o ponto de partida para a apreensão

do todo, o que representa identificar as simetrias que estão implícitas em sua forma. É a partir desse método que Furtado, enquanto economista da CEPAL, passa a analisar os processos de subdesenvolvimento dos países da América Latina, na década de 1950.

As análises de Furtado (1961) sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento estão baseadas no método histórico-estrutural, utilizado pelos teóricos da CEPAL, em que destaca a importância do contexto histórico para entender o funcionamento da economia e da sociedade.

Furtado (2000) utilizou dois métodos de análise para explicar o estudo sobre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento. Um deles, o método histórico-indutivo foi uma das formas que evidenciou a sua independência teórica e o método lógico-

dedutivo, que não elimina o primeiro. Combinou a riqueza da análise da evolução

da qualidade da análise de Furtado (2000) é a criatividade na combinação dos dois métodos. Tardiamente Furtado (2000, p. 98) faz o seguinte comentário:

O avanço da análise econômica requer a combinação desses dois enfoques: por um lado, o estudo dos processos históricos, ou das realidades sociais globais, e a construção de tipologias referidas aos mesmos; por outro, o aprofundamento na compreensão do comportamento dos agentes econômicos a partir de contextos perfeitamente definidos.”.

A visão do desenvolvimento compartilhada por Furtado (1964, p. 29, grifo nosso) define:

o desenvolvimento econômico como um processo de mudança social pelo qual um número crescente de necessidades humanas – preexistentes ou criadas pela própria mudança – são satisfeitas através de uma diferenciação no sistema produtivo decorrente da introdução de inovações tecnológicas.

Existe a preocupação dos teóricos da CEPAL, em tornar claro o conceito de desenvolvimento, no sentido de que é fundamental a satisfação das necessidades humanas. Caso contrário, seria crescimento econômico das economias e apenas aprofundaria as diferenças entre as classes.

Furtado foi um dos economistas que aprofundou essa análise, especialmente na fase estruturalista da CEPAL, o qual destaca a ideia de que o desenvolvimento possui pelo menos três dimensões: o incremento da eficácia do sistema social de produção, a satisfação de necessidades elementares da população e a consecução de objetivos que grupos dominantes esperam de uma sociedade e que concorrem na utilização de recursos escassos.

Para Furtado (1980), a terceira dimensão é, certamente, a mais ambígua, pois aquilo a que aspira um grupo social, pode parecer simples desperdício de recursos para outros. Por esse motivo, a terceira dimensão só foi percebida, como parte de um discurso ideológico. Assim, a concepção de desenvolvimento de uma sociedade não é alheia a sua estrutura social e, tampouco, a formulação de uma política de desenvolvimento e sua implantação são concebíveis sem preparação ideológica.

Observa-se que a preocupação de Furtado (1980) corresponde ao que Marx já havia apontado sobre a exploração da classe trabalhadora e alienação da mesma. Com a expansão da sociedade capitalista, o homem não apenas perde a capacidade de reconhecer seu trabalho, como parte fundamental de si e de atuar de forma consciente, mas também passa a ser controlado, de modo estranho, por sua

própria atividade produtiva. Encara-a como ser externo, estranho e hostil e passa a ter as suas carências definidas pelas necessidades de expansão do capital.

Dessa maneira, alcança um patamar superior da alienação humana, em que tudo aparece como externo e cujas origens são desconhecidas. Assim, o pleno desenvolvimento do ser humano, baseado no processo de superação das barreiras e determinações naturais, é imposto ao homem de forma a possibilitar a liberação de energia e de potencial criativo.

Percebe-se nessas relações, a importância dos estudos sobre as diretrizes propostas por organismos internacionais para as políticas educacionais, nos países

em desenvolvimento, bem como o entendimento para se processarem as propostas

de governos, diante de tais influências, vinculadas às ideologias presentes em seus discursos. Desse modo, as análises dos documentos dos governos e as proposições da CEPAL carregam as contradições de um Estado quando inferem sobre políticas públicas, em especial, as políticas educacionais, que atendem necessidades fundamentais, como o conhecimento, os quais levam ao desenvolvimento do indivíduo, mas, ao mesmo tempo, importam-se com o desenvolvimento do Estado e com o poder de competitividade do mesmo. Dessa maneira, o conceito de desenvolvimento, respaldado em cada discurso, precisa estar baseado na equidade e na efetividade das práticas, dentro das políticas educacionais.

O desenvolvimento econômico é um fenômeno com uma clara dimensão histórica, em que cada economia se desenvolve e enfrenta uma série de problemas que lhes são específicos, embora muitos deles sejam comuns a outras economias contemporâneas.

Portanto, o desenvolvimento não deve ser confundido com crescimento econômico e os países ricos não devem ser tomados como padrões de desenvolvimento, ainda que tenham muito a contribuir com os países e populações pobres. O crescimento econômico não resulta, automaticamente, em distribuições equitativas de renda e de riquezas. Estas ideias marcaram a fase estruturalista da CEPAL.

Assim, passo para algumas reflexões sobre políticas públicas e como elas podem contribuir para os processos de desenvolvimento dos Estados, com a participação das instituições e sociedade civil.