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4 A EDUCAÇÃO COMO EIXO DA TRANSFORMAÇÃO COM EQUIDADE: AS

4.2 ANÁLISE PRELIMINAR DO DOCUMENTO EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO:

4.2.1 Progresso Técnico

O progresso técnico é o núcleo dos estudos e das propostas da CEPAL, porque ele motiva todos os olhares analíticos para a heterogeneidade estrutural, presentes nos países latinos.

A ideia central da proposta Transformação Produtiva com Equidade (CEPAL), a qual articula todas as demais, inclusive as políticas educacionais, é a ideia de que a base, de todo o processo de transformação produtiva, passa, obrigatoriamente, pela incorporação e difusão do progresso técnico. “A incorporação e difusão – deliberada e sistemática – do progresso técnico é a força impulsionadora da transformação produtiva e de sua compatibilização com a equidade e a democracia.” (CEPAL; UNESCO, 1995, p. 3).

Teóricos da Comissão apontam o progresso técnico, como a fonte para alavancar o desenvolvimento da América Latina, junto com algumas ponderações. Furtado (1989) destaca, claramente, a importância do progresso técnico na definição do desenvolvimento e subdesenvolvimento. Defende, não apenas, os determinantes econômicos, mas considera que elementos como regime de propriedade da terra, controle de empresas por grupos transnacionais, concentração da renda, precariedade do mercado de trabalho, formação cultural, instituições, fragilidade ideológica, sejam alguns dos aspectos que engendram o subdesenvolvimento, o qual resulta do insuficiente progresso técnico. (FURTADO,1989). Nesse momento reside a importância a ele atribuída, pois a deficiente inter-relação de aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais, criam os problemas das economias subdesenvolvidas e as levam à condição de dependência.

Para compreender a relação centro-periferia, amplamente discutida pelos teóricos da CEPAL nas primeiras décadas da Comissão, Furtado (1967) remete a dois aspectos fundamentais: a acumulação de capital e o progresso técnico. Esse último comparece com maior importância, porque acaba por afetar a própria

acumulação na medida em que define a produtividade, o crescimento e a geração de renda. Para Furtado (1967), o desenvolvimento depende da acumulação que deve acontecer em conjunto com as inovações tecnológicas. A CEPAL (1995) vê o progresso técnico como parte da criatividade humana, o qual se direciona para ampliar as possibilidades de acumulação do capital e de uso das forças produtivas, bem como, proporciona ganhos de produtividade e crescimento econômico.

A análise do progresso técnico no subdesenvolvimento apresenta efeitos que se diferenciam dos que foram introduzidos nas nações avançadas. Nos países periféricos, o progresso técnico pauta-se pela modernização e dependência cultural, que objetiva oferecer as condições de vida, observadas nos países centrais, somente para alguns e mediante concentração da riqueza. Dessa maneira:

[…] o que caracteriza uma economia dependente, é que nela o progresso tecnológico é criado pelo desenvolvimento, ou melhor, por condições estruturais que surgem inicialmente do lado da demanda, enquanto nas economias desenvolvidas o progresso tecnológico é, ele mesmo, a fonte do desenvolvimento. De uma perspectiva mais ampla, cabe reconhecer que o desenvolvimento de uma economia dependente é reflexo do desenvolvimento tecnológico nos polos dinâmicos da economia mundial. (FURTADO, 1969, p. 23).

A demonstração de Furtado leva a conclusão de que o modo como a tecnologia evoluiu nos países subdesenvolvidos, demonstra ser o elemento determinante de suas condições de subdesenvolvimento. Assim, percebe-se que o progresso técnico se mostrou insuficiente para promover o desenvolvimento.

Os países periféricos quando adotaram padrões de consumo de países desenvolvidos tornaram-se dependentes culturalmente. É o chamado processo de

modernização, no qual a globalização financeira se apresenta como uma forma de

financiar os padrões de consumo das elites, com fluxos de capitais, quase todos especulativos, o que prejudica, ainda mais a endogenia do progresso tecnológico que continua a acontecer, a partir dos interesses de empresas que procuram apenas explorar mercados em expansão. (FURTADO, 1974).

A industrialização foi apresentada como algo que dinamizaria o desenvolvimento econômico, essa foi uma explicação dada para o relativo fracasso de desenvolvimento da América Latina, segundo Fajnzylber (1990), a qual justifica o problema da existência do conjunto vazio na região, justamente porque as

economias ainda enxergam o progresso técnico como uma caixa preta, ou seja, não são capazes de descobrir outras maneiras de inovação tecnológica.

Ao que parece, portanto, o traço central do processo de desenvolvimento latino americano é a incorporação insuficiente do progresso técnico – sua contribuição escassa de um pensamento original, baseado na realidade, para definir o leque de decisões que a transformação econômica e social pressupõe. O conjunto vazio estaria diretamente vinculado ao que se poderia chamar de incapacidade de abrir a “caixa preta” do progresso técnico, tema este no qual incidem a origem das sociedades latino- americanas, suas instituições, o contexto cultural e o conjunto de fatores econômicos e estruturais cuja vinculação com o meio sociopolítico é complexa, mas indiscutível. (FAJNZYLBER, 1990 apud BIELSCHOWSKY, 2000, p. 857).

As conclusões das análises de Fajnzylber (1990) foram obtidas, por meio das variáveis do crescimento e da equidade dos países desenvolvidos, contrapondo os países latinos. O que se observou, claramente, foi a demora em se abrir a caixa-

preta e assim aproximar-se das metas que se esperava alcançar para o

desenvolvimento.

Fajnzylber (1990) toma o crescimento e distribuição da renda como objetivos centrais do desenvolvimento socioeconômico e mostra, com base no comportamento entre 1970 e 1984, que os países da América Latina se dividiam em três grupos: os que haviam crescido rapidamente, mas tinham renda concentrada, os que tinham renda relativamente bem distribuída, mas cresciam pouco e os que se encontravam no pior dos mundos, ou seja, tinham renda concentrada e não cresciam.

Na concepção de Pinto (1974), o progresso técnico deve ser analisado a partir dos marcos sociais e institucionais em que ele se desenvolve, ou seja, é fundamental que se concorde com as máximas: para que, para quem, como se emprega e se mobiliza o potencial de avanço tecnológico. A questão central está nas modalidades de crescimento, em que cada país segue ou escolhe quando determina o caminho do progresso técnico. Deve-se atentar se a política ou a absorção tecnológica tem cumprido suas funções em relação à amplitude, custos ou a racionalidade das ações, dentro do marco social de referência.

Essas são questões que ajudam a entender as responsabilidades do progresso técnico, pois se constituiria em um equívoco, atribuir-lhe a origem dos problemas identificados e a falta de atenção frente aos objetivos comunitários, os quais não conseguiram prioridades nas estratégias nacionais de desenvolvimento.

Percebe-se que permanecem as discussões sobre o progresso técnico, tanto na primeira fase estruturalista, quanto na segunda fase “neoestruturalista” da CEPAL e as ideias não se distanciam. As estruturas, mesmo que tenham apresentado mudanças, estão presentes nos anos de 1990, ou seja, as desigualdades sociais, econômicas e culturais. A preocupação com o progresso técnico permanece na centralidade, agora com uma nova conformação, cercado de elementos estratégicos para alcançar seu propósito. Essas estruturas estão fundamentadas no novo paradigma de desenvolvimento, destacado por Paiva (1993), em que a educação é colocada no centro do desenvolvimento e está cercada de todas as transformações ocorridas, em virtude do avanço tecnológico e das mudanças na qualificação para o mundo do trabalho.

A partir dessa realidade, cercada de todos os elementos intervenientes, a nova agenda tem orientado o debate e a formulação de políticas educacionais, vinculadas ao progresso técnico, em que a educação passa a ocupar, juntamente, com a política de ciência e tecnologia, um espaço central e articulado na pauta das

macropolíticas do Estado. Espaço este, importante para a qualificação dos recursos

humanos requeridos pelo novo padrão de desenvolvimento, cuja produtividade e qualidade dos bens e produtos são decisivas para a competitividade internacional.

Somem-se a esses fatores, a equidade e a moderna cidadania discutidas e questionadas nas esferas educacionais e políticas. Nesse debate, indagam-se quais as intenções em relação aos marcos conceituais em torno da proposta da CEPAL. Destacam-se, por conseguinte, a equidade, a moderna cidadania e a competitividade internacional.