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4 A EDUCAÇÃO COMO EIXO DA TRANSFORMAÇÃO COM EQUIDADE: AS

4.2 ANÁLISE PRELIMINAR DO DOCUMENTO EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO:

4.2.2 Equidade

O conceito de equidade se destaca como o princípio na formulação das políticas educacionais no Brasil. Na ótica de Saviani (2000, p. 56), este termo “[...] se converteu na categoria central das políticas sociais de um modo geral e, especificamente, da política educacional, sob a hegemonia da orientação política correntemente chamada de neoliberalismo”.

De acordo com o dicionário Aulete, a palavra equidade é um substantivo feminino que significa “[...] justiça natural, que faz com que se reconheça imparcialmente o direito de cada um. Virtude daquele que, de suas ações e

julgamentos, se dirige segundo a justiça natural”. (EQUIDADE, 1980, p. 1313). Do modo como está disposta, a justiça natural, não infere diretamente na participação do Estado, ou na intervenção do mesmo para alcançá-la. Bittar (2010, p. 145) destaca que a justiça natural consiste no “conjunto de todas as regras que

encontram aplicação, validade, força e aceitação universais”. Para Aristóteles (1996,

p. 206) “a justiça natural tem uma força que rompe com as barreiras políticas, sendo

que transcende a vontade humana e são imutáveis, e tem a mesma forma em todo lugar”. Portanto, não há uma prerrogativa em que o Estado deva ser o articulador da

equidade.

Para Aristóteles (1996) o equitativo é apresentado como justo não de acordo com a lei, e sim, como uma correção da justiça legal quando esta não prevê particularidades, e deixa lacunas. Aplicar a lei de forma universalizada pode acarretar injustiças e cabe, nesses casos, a eliminação do erro, em que é omissa, dada a sua generalidade. “Por isto o equitativo é justo, e melhor que uma simples espécie de justiça, embora não seja melhor que a justiça irrestrita (mas é melhor que o erro oriundo da natureza irrestrita de seus ditames)”. (ARISTÓTELES 1996, p. 109).

Dessa maneira, para Aristóteles (1996), o princípio da equidade exige o reconhecimento das desigualdades existentes na polis e o tratamento desigual aos desiguais, na busca da igualdade entre os homens (consideram-se apenas os que eram livres). Caso contrário, bastaria aplicar a lei de forma generalizada e tratar de forma igual os desiguais.

Saviani (1998) explica que a equidade é entendida como um equilíbrio entre o mérito e a recompensa. O autor justifica que a prioridade dedicada atualmente a esse conceito, justifica-se pela existência de um endeusamento do mercado e, por consequência, o aumento da concorrência e competitividade. Assim, questiona a substituição do conceito de igualdade pelo de equidade, na formulação das políticas educacionais que reflete sobre a complexidade do conceito. Salienta ainda que:

[...] es justamente el recurso al concepto de equidad lo que viene a justificar las desigualdades al permitir la introducción de reglas utilitarias de conducta que corresponden a la desregulación del Derecho, posibilitando tratamientos diferenciados y ampliando, en una escala sin precedentes, el margen de arbitrio de los que detentan el poder de decisión. (SAVIANI, 1998, p. 28).

Saviani (2000) eleva sua crítica frente à reforma educacional de 1997, evidencia a sua insatisfação com termo em questão e o define com base no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa6 que, dentre os diversos sentidos atribuídos

a esse vocábulo, encontra-se a definição que a equidade “implica o reconhecimento e legitimação das desigualdades, conduzindo ao tratamento igual dos desiguais”. (SAVIANI, 2000, p. 56).

Nas análises de Lima e Rodriguez (2008), parece consenso que no sentido

histórico, o conceito traga implícito, o sentido de flexibilidade na aplicação do direito.

Para Aristóteles (2003, p. 125) “[...] uma correção da lei quando essa é deficiente em razão da sua generalidade”. Transformado numa máxima pode-se resumir o conceito em tratar de forma desigual os desiguais, na busca da justiça, ou melhor, da igualdade.

Para alcançar a equidade com justiça é necessário pensar em medidas redistributivas que abarquem diversos segmentos da sociedade, em especial, os setores mais pobres, de modo a contribuir de forma mútua e com representação adequada dos mais desfavorecidos, perante o Estado.

A ideia de Fajnzylber (1990) da Transformação produtiva com Equidade foi agregada como uma estratégia de desenvolvimento na CEPAL, que preconiza o investimento em setores sociais como educação, saúde e saneamento, e reforça o fundamento econômico na nova estratégia de desenvolvimento.

Na concepção da CEPAL a equidade aparece como um dos critérios que instrumentaliza as políticas propostas, a fim de materializar as estratégias para a educação. A equidade pressupõe igualdade de oportunidade, compensação das diferenças e coesão do corpo social em todo o seu conjunto. Apresenta-se no ideário da Comissão, como um imperativo para corrigir as deficiências, em diferentes âmbitos da sociedade e nos diferentes países. (CEPAL, 1995).

No documento de 1991, das Nações Unidas e CEPAL, Panorama Social de

América Latina está disposto o conceito de equidade, o qual marca a nova etapa da

Comissão.

Eqüidad significa igualdad de oportunidades para participar em la obtención del bienestar y de las posiciones y posesiones sociales. La igualdade de

6 Dicionário do idioma português, editado no Brasil e lançado originalmente em fins de 1975. O

Aurélio tornou-se o dicionário padrão na sociedade brasileira, estabelecendo a norma linguística e lexicológica.

oportunidades requiere, por uma parte, la eliminación de lós privilégios y discriminaciones estabelecidos juridicamente, tales como lós que presisten entre lós sexos y entre lós grupos étnicos; respcto de este último el apartheid es em la atualidad de oportunidades, también es necesaria la eliminación de lós privilégios y discriminaciones basados em las estruturas econômicas, sociales y políticas. (CEPAL, 1991, p. 2).

Os termos da CEPAL no documento Educação e Conhecimento: Eixo de

transformação produtiva com equidade destaca:

Equidade relaciona-se com o acesso à educação – via oportunidades iguais de renda – e com sua qualidade. Ou seja, oportunidades semelhantes de tratamento e resultados em termos educacionais. No contexto da estratégia proposta, a equidade está também relacionada com a orientação e o funcionamento do sistema educacional e, por conseguinte, com as políticas que orientam seu desenvolvimento (CEPAL; UNESCO, 1995, p. 205 ).

Para a transformação produtiva, a equidade orienta as reformas do Estado, se constitui no foco das discussões presentes nas Agências Internacionais e sustenta as políticas públicas sociais das últimas décadas, Assim como está relacionada à justiça redistributiva, a qual completa as necessidades dos setores mais marginalizados da sociedade, até que esses setores estejam inseridos na esfera produtiva. Assim, nessa proposta, é necessário um Estado que intervenha para afiançar a equidade, via sistema de educação, essa será o caminho para alcançá-la.