• Nenhum resultado encontrado

DESENVOLVIMENTO / METODOLOGIA: 1ª ETAPA: SENSIBILIZAÇÃO

No documento 2 PIBID na Escola II (páginas 121-133)

Para a sensibilização, oferecemos a cada aluno uma folha com cinco questões de múltipla escolha a serem assinaladas, questões estas que fazem parte de um suposto teste de identificação de distúrbios mentais.

Na sequência, conforme as respostas correspondentes, separou-se os alunos em quatro grupos, denominados loucos, birutas, completamente pirados e malucos de pedra. A seguir, leu-se o diagnóstico de cada grupo.

A sensibilização escolhida e a metodologia empregada para a separação dos grupos de trabalho objetivou escancarar relações de poder presentes na própria condução dos trabalhos da oficina, onde o saber dominado pelo acadêmico oficineiro é usado para identificar e rotular o grupo e a todo momento esta rotulação é reforçada, provocando o

122 PIBID na Escola II

educando à reflexão em uma tentativa de aproximá-lo da realidade concreta investigada. Ao final, quando da conceituação, novamente provocamos os alunos a analisarem a realização da oficina como relação de poder e um saber que legitima e é legitimado pelo poder.

Figura 1 – Conversa com os alunos após a resolução do teste Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Figura 2 – Caracterização dos tipos de distúrbios mentais do teste feito Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Michel Foucault... 123

2ª ETAPA: PROBLEMATIZAÇÃO

A atividade proposta como sensibilização é também utilizada como introdução à problematização, isso conforme descrito anteriormente. Após identificação, rotulação e distribuição dos temas aos grupos, um dos acadêmicos oficineiros assume a condução da reflexão em cada um dos grupos, sempre agindo caricaturalmente de maneira a escancarar o poder como definidores de um saber que lhe devolve uma aparente legitimidade. Assim, a sensibilização perpassa todo o processo de reflexão proposto por esta oficina.

Os grupos se utilizaram de charges e recortes do texto da Antologia propostos pelos acadêmicos oficineiros e contidos nos anexos do presente relato. Estes materiais foram apresentados como elementos de provocação sempre mediados pelo pretenso saber do acadêmico.

Os temas de trabalho foram distribuídos sugerindo análises de diferentes instituições que oportunizam relações humanas e, por conseguinte, relações de poder: mídia, escola, igreja e patriarcado.

Figura 3 – Apresentação da temática a ser trabalhada na oficina Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

124 PIBID na Escola II

Figura 4 - Apresentação do filósofo Michel Foucault Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

2ª ETAPA: INVESTIGAÇÃO

MÍDIA: Neste grupo procuramos investigar como a mídia interfere no dia a dia das pessoas e como os indivíduos atribuem a esta instituição autoridade e legitimidade. Provocamos os educandos a refletirem sobre as verdades propostas pela mídia e repetidas pelas pessoas que assumem estas ideias como se fossem os próprios autores. Estimulou-se também a identificação dos interesses presentes em cada aspecto dos conteúdos midiáticos e nem sempre percebidos pelos usuários. O foco principal de análise foi como supostos conhecimentos e saberes são difundidos pela mídia e se tornam verdades compartilhadas por todos.

Distribuiu-se uma folha com uma charge sobre a mídia para o grupo, após a análise da mesma foram feitas três perguntas: “O que é a mídia e qual o objetivo dela?”, “Será que realmente somos livres para fazermos nossas escolhas ou a mídia nos manipula?” e “A mídia te influencia quando você vai comprar determinado produto?”.

Depois foram trabalhados trechos da Antologia de Textos Filosóficos, sobre a entrevista “Poder e Saber” de Foucault, conforme seguem:

Há efeitos de verdade que uma sociedade como a sociedade ocidental, e agora se pode dizer que a sociedade mundial produz a cada instante. Produz-se verdade. Estas produções de verdade não podem ser dissociadas do poder e dos mecanismos de poder, ao mesmo tempo

Michel Foucault... 125 porque estes mecanismos de poder tornam possíveis essas produções de verdade, as induzem; e elas próprias são efeitos de poder que nos ligam, nos conectam. São essas relações de verdade/poder, saber/poder que me preocupam. (Antologia de Textos Filosóficos, entrevista de Foucault ao jornalista S. Hasumi em 1977, texto “Poder e Saber”, p. 237).

A estrutura do Estado, no que ela tem de geral, de abstrato, e mesmo de violento, não chegaria a reter assim, continuamente e de modo suave, todos os indivíduos se ela não se enraizasse se ela não utilizasse, como uma espécie de grande estratégia, todas as pequenas táticas locais e individuais que enceram cada um de nós. É um pouco esse fundo de relação de poder que eu que eu gostaria de fazer aparecer. (Idem, p. 240) De fato, as relações de poder são relações de força, de enfrentamentos, então, sempre são reversíveis. Não há relações de poder que sejam completamente triunfantes, e cuja dominação seja incontornável. Tem-se dito muito (os críticos me acusam disso) que, para mim, ao pôr o poder em toda parte, eu exclua toda possibilidade de resistência. Mas é o contrário!

Eu quero dizer que as relações de poder suscitam necessariamente, chamam a todo instante, abrem a possibilidade de uma resistência, e isso porque há a possibilidade de resistência real, que o poder daquele que domina, tenta manter-se com tanta força quanto possível, quanto maior a astúcia, maior a resistência. De modo que é muito mais a luta perpétua e multiforme que eu tento mostrar do que a dominação morna e estável de um aparelho uniformizador. (Idem, p. 240-41)

E depois, fora das ciências, se têm também efeitos de verdade que estão ligados ao sistema de informações: quando alguém, um falante no rádio ou na TV, anuncia algo, você pode crer ou não, mas isso passa a funcionar na cabeça de milhares de pessoas como verdade, apenas porque é pronunciado de certo modo, com certo tom, por certa pessoa, em certo momento. (Idem, p. 241-42)

ESCOLA: Neste grupo pretendeu-se investigar a relação que se estabelece no âmbito da escola, levando os alunos a perceberem que desde a distribuição das carteiras, posicionamento do professor e as atitudes esperadas de todos os agentes participantes do processo ensino aprendizagem estão referendados por um saber que legitima e é legitimado por esta relação de poder. Por meio de charges e de trechos da Antologia de textos filosóficos, os alunos foram estimulados a analisar quais são as relações de poder a que se submetem dentro e fora da sala de aula no

126 PIBID na Escola II

ambiente escolar e como isso se reflete na formação de cada um dos indivíduos e da composição da sociedade com seus valores e saberes.

No grupo, foi trabalhada a questão do poder dentro do ambiente escolar. Assim que o grupo estava formado, o oficineiro responsável pelo tema das relações de poder no ambiente escolar distribuiu uma folha para os alunos, contendo uma charge, trechos da Antologia de textos filosóficos e seis perguntas referentes ao assunto. No segundo momento, realizou-se a leitura e a análise da charge.

Figura 1 – Charge

Fonte: https://andersbateva.wordpress.com/2015/08/06/o-ensino-medio-precisa-de-reforma/ - Acesso em 21/02/16

Com base na charge, os alunos responderam as seguintes questões: 1."Onde se percebe claramente a presença das relações de poder?"; 2."De que maneira ocorre a classificação dos alunos?";

3."Quais as outras coisas que lhe chamaram a atenção na charge? Por quê?".

No terceiro momento, fez-se a leitura de alguns trechos da Antologia de textos filosóficos:

Michel Foucault... 127

"Na sociedade há milhares, milhares de relações de poder e, por conseguinte, relações de forças, e assim, pequenos enfrentamentos, micro lutas por assim dizer.";

"Mas por que, aqui, eu exerço poder? Não somente com que direito, mas para que serve isso? Considere-se, por exemplo, o que aconteceu com as doenças mentais. Durante séculos, a ideia era que, se eles não fossem isolados, primeiramente isso seria perigoso para a sociedade, em segundo seria perigoso também para eles mesmos.”

Em seguida, o grupo respondeu às seguintes questões: "O que confere poder ao professor?";

"Quais as formas de vigilância e classificação dentro da escola? Qual a finalidade desse controle?";

"Como é organizada a sala de aula? É possível perceber semelhanças entre a disposição de carteiras em sala de aula e uma linha de montagem industrial? Por quê?".

Figura 2 – Charge, questões e Antologia de textos filosóficos

Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Por meio da leitura dos trechos e da análise da charge, promoveu-se uma discussão com o grupo, com uma grande troca de ideias, bapromoveu-seando- baseando-se na relação entre saber e poder estabelecida pelo filósofo Michel Foucault.

IGREJA: Neste grupo, o acadêmico oficineiro conduziu os debates de forma a explicitar a realidade de que a igreja, como instituição, representa

128 PIBID na Escola II

socialmente muito mais do que uma reunião de pessoas com similaridades nas relações espirituais e de fé, pois ao lado das crenças e ritos existem interesses financeiros, ou seja, há negociações contratuais, estratégias de expansão e disputas internas que nem sempre se nota, com um olhar desatento.

A religião também é tratada nas obras de Foucault e analisada para além das questões teológicas e doutrinarias. Ele identifica a confissão como um instrumento em que se vê o saber sendo internalizado pelo fiel que se torna fiscal de si mesmo e ao mesmo tempo a confissão se configura em instrumento de poder utilizado para controle sobre o indivíduo pesaroso por suas mazelas e descuidos da alma, nesse sentido, o líder religioso o aplica a penitência espiritualmente cabível. Nessa apresentação, usamos como referência imagética uma charge (numa folha de papel) relacionada a esses temas. Os alunos foram provocados a refletirem sobre a instituição religiosa e as relações de poder que se desenvolvem em seu interior bem como os resultados das mesmas na composição dos valores construídos e aceitos pela sociedade.

PATRIARCADO: O foco deste grupo é identificar a estrutura de dominação masculina na sociedade, imposta através de figuras de autoridade, da subjugação de feminilidade sobre masculinidade, de ideários construídos sobre estes conceitos, e de como a estrutura base de todas estas relações se fundam em costumes não questionados do cotidiano, microestruturas do dia a dia que sustentam um grande sistema, sempre voltados para a atualidade, sem negar o teor histórico por trás deste. A Charge “Machismo, Sociedade” de Yasser Abu Hamed serve como introdução e ferramenta de diálogo entre oficineiros e alunos e como demonstração visual da teoria que é apresentada.

A temática foi introduzida a um grupo de 5 alunas(os) através de uma tirinha, e representava o patriarcado oprimindo e silenciando as mulheres em suas expressões, vontades e liberdades, dentro do ambiente familiar. Foi lhes perguntado o que entendiam daquela imagem, e eles entenderam que representava o patriarcado e falaram um pouco sobre isso:

As relações de poder utilizam métodos e técnicas muito diferenciados uma das outras, conforme as épocas e conforme os

Michel Foucault... 129

níveis. Por exemplo, a polícia tem, certamente, seus métodos, nós os conhecemos, mas há também outro método, toda uma série de procedimentos, pelo quais, se exerce o poder do pai sobre os filhos, toda uma série de procedimentos pelo quais, em uma família, se tecem relações de poder, do pais sobre os filhos, mas também dos filhos sobre os pais, do homem sobre a mulher, mas também da mulher sobre o homem, sobre as crianças...

A partir dessa leitura conversamos sobre situações habituais bem escancaradas do machismo; foi perguntado se era possível relatar alguma experiência. As alunas contaram, então, experiências pessoais dentro de casa, com a família. Após um determinado tempo de aproximadamente 30 minutos de conversas e pesquisa sobre o tema, cada grupo, perante a sala, fez uma leve exposição sobre seu tema.

Figura 3 – Momento da investigação Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

130 PIBID na Escola II

Figura 4 - Momento da investigação Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Figura 5 – Momento da investigação em grupo Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Michel Foucault... 131

Figura 6 – Momento da investigação em grupo Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

4ª ETAPA: FORMAÇÃO DE CONCEITOS

Depois de lidos e discutidos os trechos da entrevista de Foucault em cada grupo, são feitas novamente três perguntas para os alunos em relação ao que foi visto: “A mídia tem poder?”, “Como se expressa esse poder?” e “Há possibilidade de resistência a esse poder, com base no que lemos em Foucault? Como?”.

Os alunos refletiram alguns minutos sobre essas questões e posteriormente falaram para os outros grupos o que estudaram e concluíram sobre o tema “relações de poder na mídia”.

Ao fim da discussão, os alunos apresentaram aos outros grupos os resultados obtidos no debate. Concluíram que as relações de poder permeiam todos os âmbitos da sociedade e identificaram com facilidade as relações presentes no espaço escolar, as quais possuem o objetivo de produzir o saber.

AVALIAÇÃO DA OFICINA:

A construção e a aplicação da oficina em sala de aula foi uma experiência gratificante e muito importante para nós, enquanto acadêmicos de filosofia, pois nos possibilitou integrar a teoria e a prática. Durante as reuniões do grupo realizou-se inúmeros estudos acerca da filosofia de Michel Foucault, sempre voltadas para a aplicação em sala,

132 PIBID na Escola II

procurando uma maneira de tornar as discussões acessíveis aos estudantes do Ensino Médio, os quais possuem uma menor bagagem de leituras filosóficas.

Quanto aos pontos que poderiam ser melhorados está a questão do tempo utilizado para as discussões em grupo acerca das relações de poder na mídia, na escola, na igreja e no patriarcado, dado que alguns grupos excederam o tempo previsto para a discussão dos trechos e da charge, tornando, assim, mais curto o momento da apresentação de resultados.

Quanto aos pontos positivos destaca-se a facilidade de interação entre os oficineiros e os estudantes do Ensino Médio, proporcionada, principalmente, pela sensibilização realizada antes da divisão dos grupos. A sensibilização despertou os alunos para a discussão filosófica e a proximidade dos temas com o cotidiano dos estudantes tornou o trabalho bastante produtivo, visto que a troca de ideias e experiências dentro de cada grupo foi essencial para o alcance dos resultados esperados.

Os acadêmicos, enquanto equipe, souberam trabalhar de maneira eficiente, superando as dificuldades presentes na elaboração da oficina e buscando formas de tornar o conhecimento filosófico acessível àqueles que ainda não conheciam o pensamento do filósofo trabalhado na oficina didática. A questão do poder e saber suscitou, como esperado, uma grande troca de ideias entre os estudantes e os fez adotar uma postura ainda mais reflexiva diante dos fatos.

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, M. Poder e Saber. In.: Antologia de Textos Filosóficos. Jairo Marçal (org.). Curitiba. SEED – PR., 2009, p. 230 até 257.

Disponível em:

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_peda gogicos/caderno_filo.pdf

VII

A EDUCAÇÃO ESTÉTICA DO HOMEM EM FRIEDRICH

No documento 2 PIBID na Escola II (páginas 121-133)