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fig. capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças

No documento 2 PIBID na Escola II (páginas 84-95)

NÚMERO DE PARTICIPANTES

2. fig. capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças

No entanto, como uma característica de um conceito político presente nas obras de Maquiavel, “Resiliência” pode ser entendida como o atributo que torna possível que o homem não esteja completamente alheio aos ventos da fortuna, e confere a este a possibilidade de ação diante do que a fortuna lhe trouxer, ou seja, a resiliência representa uma propriedade contida na fortuna que torna provável que a natureza do homem (nesse caso, o homem virtuoso, aquele capaz de perceber a ocasião certa para determinada ação) se adapte aos tempos adversos. Resiliência, dessa forma, é entendida como uma adaptação da natureza do espírito do governante à natureza dos acontecimentos que a fortuna lhe trouxe. Na maioria das vezes o governante que for capaz de demonstrar plena virtù – seja pela astúcia ou pela força – será também aquele que terá sua natureza em harmonia com o curso dos acontecimentos.

Todos os conceitos antes mencionados culminam em dois conceitos principais, “fortuna” e “virtù”. Como já vimos, a “fortuna” diz respeito às circunstâncias e acontecimentos. É, em suma, a sorte. Não pode ser vista como um obstáculo ao governante, mas um desafio político que deve ser conquistado e atraído. Nesse momento, entra a “virtù”. Cabe ao homem de virtù, saber controlar e utilizar as ocasiões e acontecimentos trazidos pelos ventos da fortuna a seu favor. O sujeito possuidor da virtù obtém êxito em tomar e manter o poder. Segundo Maquiavel, a

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manutenção e a obtenção do poder torna-se variável conforme seja maior ou menor a Virtù de quem o conquistou. A Fortuna não deve ser evitada ou ignorada pelo príncipe, pois é inevitável e sempre presente, mas deve ser conquistada pelo mesmo. O príncipe não pode depender dela, contudo, deve fazer da mesma sua aliada, controlá-la, não através de uma força imoderada ou impensada, mas através da habilidade e flexibilidade política.

“Virtù” não condiz com livre arbítrio. Agir com virtù é agir certo na hora certa. Um homem (político) de virtù possui a capacidade de controle das ocasiões e acontecimentos, ou seja, da fortuna. O político com grande “virtù” vê justamente na fortuna a possibilidade da construção de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma determinada circunstância, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante os mesmos. A virtù está sempre analisando a fortuna e, portanto, não existe em abstrato, não existe uma fórmula, ela varia de acordo com a situação.

2º Etapa: Investigação feita pelos alunos

Para este momento, foi pensada uma dinâmica para divisão dos grupos, para a qual foram colocados pequenos quadrados de papel de cinco cores diferentes dentro de uma cornucópia3 e cada aluno retirou um destes papéis. A dinâmica consistiu na separação dos estudantes a partir da cor do papel que cada um retirou da cornucópia. Uma vez formados os grupos (cinco ao todo), cada pibidiano acompanhou um dos grupos e o trabalho de investigação realizado a partir de trechos da obra O Príncipe de Maquiavel, e trechos contidos no livro Antologia de textos Filosóficos, na parte que se refere ao autor em questão.

3 Cornucópia: A palavra é originária do latim (cornu copiae = chifre da abundância). Trata-se de um símbolo relacionado à fartura da alimentação e à abundância em geral. Na mitologia grega consta que Almatéia (ninfa do Olimpo) alimentou Zeus com leite de cabra. Em troca desse favor, Zeus ofertou-lhe um chifre desse animal, que tinha o poder de dar à pessoa que o possuísse tudo o que quisesse. Deidades da mitologia grega especialmente a deusa Fortuna eram por vezes representadas com o chifre repleto de bens. http://www.dicionarioinformal.com.br/cornuc%C3%B3pia/14/11/2015.

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Figura 3 - Dinâmica para organização dos grupos Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

A Investigação seguiu o seguinte formato:

1º - Cada grupo recebeu uma indicação do trecho a ser investigado, o conceito e a cena do filme que deveriam relacionar com o texto.

2º - Cada grupo foi acompanhado por um pibidiano que apresentou os seguintes recados antes do grupo iniciar a investigação:

* O grupo deve possuir um redator que, ao final da investigação, irá apresentar as ideias para o grande grupo.

* O tempo para esta investigação é de 20 min.

3º - A partir destes recados, cada pibidiano iniciou a investigação com seu grupo a partir das seguintes questões: O que vocês acharam do modo como chegaram até este grupo? Foi algo escolhido, ou vocês acreditam que foram guiados pelos ventos das oportunidades ou da sorte? (A ideia aqui é recordar o conceito de Fortuna de Maquiavel e sensibilizar os estudantes para a noção de que para aqueles que tem virtù a fortuna (situação que se apresenta) não é um problema ou no mínimo é um problema que pode ser revertido a seu favor.

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Seguida a essa primeira conversa, os pibidianos conduziram novas perguntas:

• O que vocês lembram da cena do filme? (Cada grupo terá uma das cenas assistidas no início da oficina para retomar e investigar junto ao texto).

• O que lembram do conceito? (Cada grupo terá um conceito a investigar de acordo com a cena do filme e o texto escolhido. Os conceitos são: Virtù, Fortuna, Antecipação, Adequação, Homem de Ação, Resiliência e Astúcia.

Como vocês relacionam a cena e o conceito? A partir das sugestões e anotações, iniciou-se a leitura dos excertos de Maquiavel. Após a leitura foram postulados os seguintes questionamentos:

• O que entenderam do texto?

• Como relacionam o texto, o conceito e a cena do filme?

• Que relações podem ser estabelecidas entre o conceito, a cena do filme, o texto de Maquiavel e a atualidade política?

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Figura 4 - Trabalho de Investigação Grupo 1 Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Figura 5 - Trabalho de Investigação Grupo 2 Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

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Figura 06 - Trabalho de Investigação Grupo 3 Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

Figura 07 - Trabalho de Investigação Grupo 4 Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

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Figura 08 - Trabalho de Investigação Grupo 5 Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

3º Etapa: Conceituação

A partir do debate gerado nos pequenos grupos e das anotações feitas pelos mesmos, o passo seguinte foi a apresentação dos comentários escritos por cada grupo aos outros grupos. As conclusões apresentadas pelos estudantes formam o que compreendemos por conceituação.

As anotações (a conceituação) dos estudantes foram coladas por cada grupo em um cartaz dividido de acordo com os conceitos estudados na oficina. Esta atividade simulou uma identificação com o modo como a Itália da Época de Maquiavel encontrava-se dividida em Estados que não conseguiam unir-se em torno de um só comandante que pudesse gerar um país forte e capaz de se proteger das forças inimigas. Tendo em vista a situação em que seu país se encontrava é que Maquiavel apresentará no livro O Príncipe, um manual para que aquele que deseja governar alcance e mantenha o poder e, consequentemente, a união de seu país.

Esta atividade se consolida em uma tarefa simbólica de batalha vencida. Não uma batalha por território ou pelo poder político, mas uma batalha travada consigo mesmo na busca diária do conhecimento.

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Figura 09 - Cartazes produzidos na Conceituação Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

AVALIAÇÃO DA OFICINA:

Ao final da oficina os alunos realizaram a avaliação da mesma preenchendo uma ficha que se encontra em anexo.

O tema aqui discutido, “Uma nova visão dos conceitos maquiavelianos a partir da Ilíada” nasceu das discussões realizadas no grupo PIBID/Morais Rego com o intuito de buscar formas de trabalhar o conteúdo de Filosofia Política de modo a gerar debates e proporcionar a construção do conhecimento através de um processo coletivo.

Com nossa oficina, desejamos mostrar que a teoria política de Maquiavel pode ser compreendida tanto a partir da mitologia grega quanto a partir da política vigente em nosso atual momento histórico. Nosso intuito foi o de motivar os estudantes a interessarem-se pela leitura, investigação e utilização dos textos clássicos em seu cotidiano, tornando-se cidadãos conscientes, e ainda, fazendo-os perceber que o importante não é repetir o que esses autores pensaram, mas compreendê-los, para pensar com eles ou a partir deles os nossos problemas, de modo a poder reinventar a nossa própria realidade.

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Percebemos claramente, tanto na avaliação escrita, realizada pelos estudantes que assistiram a Oficina, quanto no decorrer da mesma, através da participação constante dos alunos, que com o tema trabalhado atingiu-se os objetivos iniciais, mobilizando os estudantes para a compreensão da importância de sua participação social e política, a clara necessidade do estudo e conhecimento da filosofia que os capacitará para uma participação crítica e consciente.

Consideramos, também, que a aplicação da oficina possibilitou tanto aos bolsistas do PIBID quanto aos supervisores e coordenadores um momento para repensar a prática pedagógica gerando, assim, a possibilidade de construção de um ensino da filosofia mais consciente e crítico.

Figura 10 - Avaliação da Oficina Fonte: arquivo da coordenação do PIBID

REFERÊNCIAS:

AMES, José Luiz. Filosofia Política: Reflexões. Curitiba, Protexto, 2012. AMES, J. L. Maquiavel: a lógica da ação política. Cascavel:

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ARANHA, Maria Lucia Arruda; MARTINS, Maria H. Pires. Filosofando: Introdução a Filosofia. 4ª edição. São Paulo: Moderna, 2009.

GALLO, Sílvio; FAVARETTO, Celso; ASPIS, Lima. Filosofia no Ensino Médio (Coleção 4 DVDs), Produtora: Atta Mídia e Educação, 2007. GALLO, S. A filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. In: Revista Ethica, vol. 13, nº 1, Rio de Janeiro, 2006, p. 17-35.

GALLO. S. A Função da Filosofia na Escola e seu Caráter

Interdisciplinar. In: Seminário A Filosofia no Ensino Médio: legislação e conteúdo programático - parte III. Depto de Educação. UNESP/Rio Claro.

GALLO, Sílvio. CORNELLI, G. DANELON, M. (Orgs). Filosofia do Ensino de Filosofia, Petrópolis, Vozes, 2003.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ, Antologia de textos filosóficos, Curitiba: Sedd-Pr, 2009.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe; tradução Maria Júlia Goldwasser; revisão da tradução Zelia de Almeida Cardoso. 3ª ed. totalmente rev. - São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Coleção obras de Maquiavel).

VEGAS, Jesus L. Castillos. Fortuna, virtù y gloria: consideraciones sobre la moral republicana de Maquiavelo. Praxis Filosofica. nº 26, Janeiro-Junho, 2008. p.93-109.

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ANEXOS

Nicolau Maquiavel - Vida e Obra

Nicolau Maquiavel foi um Italiano famoso da época do Renascimento. Tornou-se um importante historiador, diplomata, poeta, músico, filósofo e político italiano. Nasceu na cidade de Florença (Itália) em 3 de maio de 1469; sua educação foi um pouco fraca devido aos poucos recursos de sua família. Viveu durante o governo de Lourenço de Médici. Em 1494, aos 24 anos, Nicolau Maquiavel foi secretário da República de Florença (cidade onde nasceu). Com 29 anos, foi estabelecido como chanceler na Segunda Chancelaria e depois nomeado secretário dos Dez Magistrados da Liberdade e da Paz. Após seu trabalho para o governo, Maquiavel perdeu o cargo (com o fim da República em 1512). No ano seguinte, foi preso e torturado por conspirar para a eliminação do cardeal Giovanni de Médici. Após esse período, foi exilado aos arredores de Florença e começou a se dedicar à produção de suas maiores obras, como O Príncipe e Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio.

O Príncipe é a obra mais importante e famosa de Nicolau Maquiavel, escrita em 1513, tendo como ideal a unificação italiana. A repercussão de O Príncipe de Maquiavel através dos séculos ocorreu devido ao papel fundamental que a obra representa na construção do conceito de Estado. O Príncipe é um tratado político que serviu como base para modelar a estrutura governamental dos tempos modernos. Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio é uma obra escrita por Nicolau Maquiavel em 1517, publicada postumamente em 1531. Nesta obra, Maquiavel estimula o debate sobre o conceito de liberdade e virtude cívica. Segundo o pensador, há uma necessidade de confiar ao povo a preservação da liberdade para garantir a participação deste na vida pública. Para que o povo funcione como guardião de seu território, o julgamento de uma cidade, em última instância, deve ser do próprio povo.

O termo maquiavélico acabou surgindo para fazer referência aos atos imorais, desleais ou violentos que as pessoas utilizam para obter vantagem. No entanto, o próprio Maquiavel defendia uma ética na política, esta obviamente não se referia a nossa noção de moral e ética cristã, o que faz o sentido pejorativo desse termo ser, de certa forma, uma definição injusta de seus ideais.

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EXCERTOS QUE FORAM USADOS PARA LEITURA NOS

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