• Nenhum resultado encontrado

DESENVOLVIMENTO NA ESCOLA LATINO AMERICANA DA CEPAL

No documento Open Empoderamento e planejamento para o . (páginas 46-58)

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO DESENVOLVIMENTO

2.4 DESENVOLVIMENTO NA ESCOLA LATINO AMERICANA DA CEPAL

Na década de 1940, a especialização primária- exportadora em países periféricos como os da América Latina, havia produzido uma tendência crônica à deterioração dos termos de troca e à transferência de parte dos frutos do progresso técnico para o exterior.

A modernização do núcleo exportador tenderia a reduzir a população ocupada no conjunto de suas atividades, contribuindo para nova queda de salários e preços de exportação. Nesse contexto, Pebrisch publica, em 1949, o manifesto pela industrialização na América Latina e rapidamente repercute da recente criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) para ser o centro de um intenso debate entre as principais correntes econômicas da época no Brasil65.

Segundo Celso Furtado66, a abordagem interdisciplinar dos pesquisados latino- americanos, trouxe grande contribuição sobre a compreensão sobre a divisão internacional do trabalho e relações externas assimétricas com o sistema de dependência e de dominação social.

A vasta literatura a respeito do desenvolvimento na América Latina, produzida nos anos sessenta e setenta pela CEPAL, demonstrou a confusão da doutrina liberal entre industrialização da economia com desenvolvimento social, em que era atribuído às políticas sociais um papel secundário, voltadas aos segmentos assalariados inseridos no mercado formal de trabalho, acarretando uma concepção meritocrática e contributiva para os modelos de proteção social desses países, que tiveram seus processos de crescimento e industrialização calcados na desigualdade econômica e social, sofrendo as consequências até a atualidade67.

Desse contexto, na Escola Cepalina emergiram duas principais formas de pensamento: a econômica, histórica ou estrutural-funcionalista e a sociológica ou dependentista, as quais marcaram o pensamento econômico e desenvolvimentista na América

65 COLISTETE, Renato Perim. A força das ideias: a CEPAL e os industriais paulistas na primeira metade da década de 1950. História Econômica & História de Empresas, vol. X , 2006, pP. 123-153, p.125. Disponível em: http://www.fea.usp.br/feaecon//media/livros/file_222.pdf, consulta em 18 de setembro de 2014.

66 FURTADO, Celso. Pequena introdução ao desenvolvimento: enfoque interdisciplinar. São Paulo: Nacional, 1980, p.36.

67 KLASEN, Stephan. O impacto da globalização no desenvolvimento econômico e social da América Latina. In: HOFMEISTER, Wilhelm (org.). Política Social Internacional. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2005, p.51

Latina68, cuja semente inicia-se com José Carlos Mariátegui, reconhecido como pai do pensamento marxista latino-americano tendo como obra mais conhecida Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, publicado em 1928.

Nesse livro, defende o autor69, ao analisar o Peru, que, em decorrência da colonização, a país nasceu sem o índio e contra o índio, o que deve ser resgatado. Para isso, a propagação de ideias socialistas tem atraído um forte movimento de reivindicação indígena. E defende que a solução do problema deve ser social e seus realizadores devem ser os próprios indígenas, que devem construir um vincula nacional, já que os protestos por eles realizados apresentariam sempre caráter regional, o que seria um contrassenso por grande parte da população ser aborígene.

Assim propõe que o Peru é uma nacionalidade em formação e que o povo indígena constitui o alicerce dessa nacionalidade em formação. Por isso, não basta a reivindicação indígena sobre o direito à educação, cultura, progresso, amor e céu, pois o primeiro direito que deve ser reconhecido é o direito à terra, em decorrência de um grave problema agrário, segundo o qual não deve ser resolvido por métodos liberais, mas garantindo a sobrevivência da comunidade, dispostos por elementos práticos do socialismo na agricultura e na vida indígena. Dispõe três influências no processo de ensino na República: a herança espanhola, a influência francesa e a americana. Mas só o espanhol alcançou em seu tempo no comando. Isso gerou um povo sem a ideia de fusão. Também influenciou negativamente o pensamento religioso, que sufocou as tradições culturais. Além disso, citando o pensamento marxista, relacionando o capitalismo ao protestantismo, constata que a religião interfere em sentido econômico70.

Analisa também o autor71 a questão federalista, face ao debate regionalismo versus centralismo e constata que ideia federalista não é tratada na história peruana com raízes

68 SALOMÃO FL, Calixto Salomão. Regulação e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2002, p.34-35 69 MARIÁTEGUI, José Carlos. 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana. 70 Ed. Lima: Biblioteca Amavta, 1998. Disponível em: http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content& view=article&id=387:obras-completas-de-mariategui-disponiveis-na-web&catid=8:biblioteca-comunista. Consulta realizada em 02 de novembro de 2014.

70 MARIÁTEGUI, José Carlos. 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana. 70 Ed. Lima: Biblioteca Amavta, 1998. Disponível em: http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content& view=article&id=387:obras-completas-de-mariategui-disponiveis-na-web&catid=8:biblioteca-comunista. Consulta realizada em 02 de novembro de 2014.

71 MARIÁTEGUI, José Carlos. 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana. 70 Ed. Lima: Biblioteca Amavta, 1998. Disponível em: http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content& view=article&id=387:obras-completas-de-mariategui-disponiveis-na-web&catid=8:biblioteca-comunista. Consulta realizada em 02 de novembro de 2014.

profundas, pois uma abordagem que detém a supremacia do problema indígena é, ao mesmo tempo, muito humana e muito nacional, muito idealista e realista, não é questão regional. No debate federalista deve ser declarada prioridade ao problema indígena e à questão agrária, por ser absolutamente impossível considerar a questão do regionalismo ou, mais precisamente, da descentralização administrativa, a partir de pontos de vista não subordinados à necessidade de resolver de maneira radical e orgânica os dois primeiros problemas, sob a pena de não resultar em nenhuma melhoria para os peruanos, ou agravar os quadros de exploração, por concentrar poder em líderes regionais que agravem a discriminação dos direitos indígenas. Além disso, retrata que as regiões geográficas peruanas também refletem uma diferenciação das populações, a serra é indígena; a costa é espanhola ou mestiça, repercutindo no sentimento peruano de unidade72.

Semeados nestas propostas de desenvolvimento, sob uma perspectiva de valorização e inclusão das comunidades locais nos projetos nacionais, a Escola Cepalina prospera. A corrente econômica da Cepal, cujos maiores expoentes são Celso Furtado e Raúl Prebisch, defende a existência de diferenças estruturais nas economias subdesenvolvidas, decorrentes do processo histórico de evolução econômica internacional. A linha sociológica, que teve como um dos precursores Theotonio dos Santos, embasa-se na teoria da dependência e procura identificar as determinantes para o subdesenvolvimento, ou seja, em lugar do determinismo econômico, insere-se forte decisionismo político, de inspirações marxistas.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e com as novas responsabilidades públicas consagradas na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em que os Estados- Membros da Organização das Nações Unidas comprometeram-se a assegurar o respeito efetivo dos direitos. Conforme esclarecido desde o início do capítulo, o pensamento de Celso Furtado ajudou a construir a própria concepção de desenvolvimento dentro do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, uma vez o economista brasileiro ter integrado a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), desde a sua criação, a partir da segunda metade do século XX. A reforma social pode ser considerada a principal tradição dessa teoria.

72 MARIÁTEGUI, José Carlos. 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana. 70 Ed. Lima: Biblioteca Amavta, 1998. Disponível em: http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content& view=article&id=387:obras-completas-de-mariategui-disponiveis-na-web&catid=8:biblioteca-comunista. Consulta realizada em 02 de novembro de 2014.

Desta perspectiva, emergem as políticas de desenvolvimento por países da América Latina durante as décadas de 1950 e 1960, para alcance de uma rápida industrialização. Assim, nesse período há proliferação de planos econômicos nos países capitalistas, que passam adotar métodos de planejamento como forma imprescindível para realização do desenvolvimento socioeconômico, compreendido como relacionado ao intervencionismo e ao dirigismo econômico73.

A abordagem específica sobre a proposta de planejamento desenvolvimentista brasileiro neste período será realizada no quarto capítulo, que se preocupa especificamente sobre o planejamento no Brasil. Por hora, entretanto, é oportuno compreender, a identificação do papel estatal e das forças sociais para realização de um projeto de transformação social, introduzindo a perspectiva de empoderamento a concepção desenvolvimentista.

Pela conjectura do meado do século XX, o desenvolvimento econômico passa a ser interpretado com outra dimensão, passando a ser compreendido como um processo de mudança estrutural em que as crescentes necessidades humanas, preexistentes ou decorrentes do próprio processo, são satisfeitas74. Já ao final do século XX, Celso Furtado75 ratifica ser o subdesenvolvimento uma formação estrutural gerada pelo modo como se propagou o progresso técnico no plano internacional. Assim, para ele, a primeira condição para liberar-se da condição de subdesenvolvido “é escapar da obsessão de reproduzir o perfil daqueles que se autointitulam desenvolvidos. É assumir a própria identidade”. Tal pensamento retrata oposição ao ideário de liberalização dos mercados e de ausência de intervenção estatal.

Ainda segundo Celso Furtado76, voltando aos anos setenta, o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial, em sociedades marcadas por profundas desigualdades sociais, sempre será o privilégio de uma minoria, já que o custo para manutenção desse alto padrão, em termos de depredação do mundo físico, é tão elevado que toda tentativa de generalizá-lo levaria, inexoravelmente, ao colapso da civilização e, portanto, ao risco da espécie humana. Então, só isso já seria argumento suficiente de que o desenvolvimento econômico, fundamentado na ideia de que os povos pobres um dia venham desfrutar das formas de vidas

73 GRAU, Eros Roberto. Planejamento econômico e regra jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978, p.12. 74 FURTADO, Celso. Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p.61.

75 FURTADO, Celso. O capitalismo global. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p.62

dos povos atualmente ricos é simplesmente irrealizável e serve unicamente para fazer com que os pobres aceitem sacrifícios na esperança de um futuro que nunca acontecerá77.

A essa tomada de consciência, Edgar Morin78 chamou, na década de 1990, de “a crise do futuro”, na qual, por toda parte, passou a reinar um sentimento - ora difuso, ora agudo – de perda daquele, induzindo a uma angústia psicológica, principalmente, quando a fé de uma civilização foi investida em um futuro que não se realiza. É a perda da esperança, é a reiteração das incertezas, que, contudo, passaram a ser amortecidas por projetos de âmbito individual de cada ser humano.

A divisão internacional do trabalho e a dependência tecnológica dos países em desenvolvimento surgiram para atender de forma prioritária os interesses dos que estavam à frente no processo de industrialização.

Nesse diapasão, Raúl Prebisch79 alerta sobre as consequências para América Latina

divisão internacional do trabalho, em que é percebida como periferia do sistema econômico mundial, exercendo papel específico de produzir matérias primas e alimentos para os grandes centros industriais. Assim, frente a esse problema geral e muito acentuado, além das próprias complicações internas, entende ser necessário traçar um plano em longo prazo, envolvendo investigação e ação prática, a fim de resolver os problemas econômicos e sociais na América Latina.

Celso Furtado80, por sua vez, explica que a transição para uma nova ordem econômica mundial, inicialmente, assumiu a forma de transferências de recursos para beneficiar áreas, que apresentavam quadros institucionais que ofereciam menor resistência à concentração de poder de decisão e à destruição de valores culturais. Tal transferência de recursos provocou endividamento dos Governos receptores, retirando a eficácia dos instrumentos de política monetária e agravando o quadro de concentração de renda, levando-o

77 Ratificando esse entendimento, expõe Edgar Morin: “O terceiro mundo continua a sofrer exploração econômica, mas sofre também a cegueira, o pensamento limitado, o subdesenvolvimento moral e intelectual do mundo desenvolvido (MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte.Terra-pátria. Traduzido por Paulo Neves. 5° Ed. Porto Alegre: Sulina, 2005, p.79)

78 MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte.Terra-pátria. Traduzido por Paulo Neves. 5° Ed. Porto Alegre: Sulina, 2005, p.77.

79 PREBISCH, Raúl. El desarrollo econômico de la América Latina y algunos de sus principales problemas. CEPAL, p.5-6. Disponível em: http://prebisch.cepal.org/sites/default/files/2013/prebisch_el_desarrollo_eco.pdf. Consulta em 10 de outubro de 2014.

a concluir que subdesenvolvimento é resultado de uma conformação estrutural de como se propagou o progresso tecnológico no plano internacional81.

Expondo a origem desses problemas, Celso Furtado82 aduz que a superação do subdesenvolvimento não pode ocorrer simplesmente pelos impulsos das forças de mercado, mas depende de um projeto político que, apoiado na mobilização de recursos sociais, possa permitir a realização do trabalho para reconstrução de certas estruturas.

Para Raúl Prebisch83, é imperioso analisar de modo profundo as particularidades dos Estados latino-americanos, a fim de que sejam salvaguardadas suas aspirações, seus interesses e possibilidades para que possam ser integrados adequadamente em formulas gerais de cooperação econômica internacional.

A divisão internacional do trabalho e a dependência tecnológica dos países em desenvolvimento surgiram para atender, de forma prioritária, os interesses dos que estavam à frente no processo de industrialização. Nesse sentido, Celso Furtado84 explica que a transição

para uma nova ordem econômica mundial, inicialmente, assumiu a forma de transferências de recursos para beneficiar áreas, que apresentavam quadros institucionais que ofereciam menor resistência à concentração de poder de decisão e à destruição de valores culturais. Tal transferência de recursos provocou um endividamento dos Governos receptores, retirando a eficácia dos instrumentos de política monetária e agravando o quadro de concentração de renda, levando-o à conclusão de que um dos fatores do subdesenvolvimento resulta de uma conformação estrutural de como se propagou o progresso tecnológico no plano internacional.

No mesmo sentido, Celso Furtado85 assenta que da inserção do sistema de subdivisão internacional do trabalho na economia, que em âmbito global se periferiza, decorrem inúmeras transformações, nas quais é possível identificar três tipos de indústrias: i) a diretamente ligada ao setor primário-exportador; ii) indústrias complementares de importações; iii) indústrias que se beneficiam, de alguma forma, de proteção natural. Na evolução natural das economias periféricas, as indústrias do segundo tipo são as que mais se

81 Este é quadro verificável na década de 1970 no Brasil, conhecido como “ Milagre Brasileiro”. 82 FURTADO, Celso. Brasil: a construção interrompida. 2.ed. São Paulo:Paz e Terra, 1992, p.75.

83 PREBISCH, Raúl. El desarrollo econômico de la América Latina y algunos de sus principales problemas. CEPAL, p.6. Disponível em: http://prebisch.cepal.org/sites/default/files/2013/prebisch_el_desarrollo_eco.pdf. Consulta em 10 de outubro de 2014

84 FURTADO, Celso. Brasil: a construção interrompida. 2.ed. São Paulo:Paz e Terra, 1992, p.17-18 e 74. 85 FURTADO, Celso. O capitalismo global. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 98-103

desenvolvem por acompanharem as tendências do mercado. Já as últimas são as que menos crescem, por despertarem pouco interesse dos investidores estrangeiros.

Importante esclarecer: Raúl Prebisch86 reconheceu que quanto mais ativo o comércio exterior na América Latina, maior as possibilidade para o aumento da produtiva e a geração de empregos pela intensa formação de capital, pois há uma relação positiva entre desenvolvimento e crescimento econômico. Porém, constata que nem todo crescimento é propulsor do desenvolvimento.

Corroborando com o mito do desenvolvimento, proposto pela Escola Cepalina, Edgar Morin87 analisa o desenvolvimento sob dois aspectos: de um lado como mito global de

que as sociedades industrializadas atingem o bem-estar e reduzem suas desigualdades extremas e propiciando felicidade aos indivíduos; por outro, uma concepção redutora, em que o crescimento econômico apresenta-se como motor necessário e suficiente para o alcance do bem-estar. Essa fé cega no desenvolvimento determinou a precisão de sacrificar tudo por ele, agravando as tragédias do subdesenvolvimento.

A verdade é que a sociedade atual vinculou seu destino a uma necessidade de acumulação ilimitada. Quando ocorre a desaceleração, gera-se uma crise econômica, a qual afeta a criação e a manutenção de quadros de emprego, além de investimentos e pagamento das despesas públicas, como os custos com a oferta de serviços públicos.

Entretanto, Celso Furtado88 não era um pessimista com relação ao alcance do desenvolvimento humano em si, mas defendia que, para isso, seria necessário o Brasil observar suas potencialidades nacionais e buscar o máximo de autonomia econômica e política, como requisito para a consecução dos objetivos propostos. A preocupação maior dele era que acreditassem que o Mercado faria isso pelo país, quando, na verdade, deveria decorrer pelo Estado, através da tomada de consciência da sociedade brasileira. Por isso, entendia o desenvolvimento como um processo social, atrelado à cultura política e este é o conceito de desenvolvimento adotado por esta tese.

86 PREBISCH, Raúl. El desarrollo econômico de la América Latina y algunos de sus principales problemas. CEPAL, p.7. Disponível em: http://prebisch.cepal.org/sites/default/files/2013/prebisch_el_desarrollo_eco.pdf. Consulta em 10 de outubro de 2014

87 MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte.Terra-pátria. Traduzido por Paulo Neves. 5° Ed. Porto Alegre: Sulina, 2005, p.78-79.

88 FURTADO, Celso. Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p.40 e 93.

Assim, ele89 expõe que a modificação das formas de produção, decorrentes do processo de modernização e globalização social priva as massas demográficas de suas ocupações tradicionais, como atividade artesanal pré-existente, o que as leva a buscar abrigo em sistemas subculturais urbanos que, somente esporadicamente, articula-se com os mercados, servindo essa massa de reserva de mão de obra. Desta perspectiva, resultam as “populações marginais” que atuam em um sistema informal de produção e é retrato de uma estratificação social que tem suas raízes na modernização.

Na perspectiva sociológica, constrói-se a corrente cepalina depedentista, que tem como um dos criadores Gunder Frank. Para ele90, o subdesenvolvimento nos países da América Latina é consequência do próprio sistema capitalista, cujo desenvolvimento da metrópole provoca, simultaneamente, o subdesenvolvimento dos centros nacionais subordinados. Mantendo a visão marxista, propõe que sistema capitalista deva ser compreendido como um sistema único que estabeleça, por meio da própria dinâmica do capital, a contradição entre países exploradores e países explorados.

Assim como Baran e Sweezy, entende Gunder Frank91 que o sistema capitalista tem uma estrutura colonial que serve as metrópoles imperialistas para explorar suas colônias latino-americanas, e colônias afro-americanas, em âmbito interno nacional. A América Latina, por sua vez, explora, por meio de um "colonialismo interno", os seus centros provinciais, que por sua vez, exploram seus respectivos sertões locais, formando uma cadeia predatória que se estende continuamente. Por esta razão, uma compreensão adequada dos aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais da América Latina e de outras áreas subdesenvolvidas, requer uma revisão científica dessas próprias sociedades, partindo-se a análise da estrutura colonial e de classe do sistema capitalista.

Defende, ainda, o autor92 que na primeira guerra mundial, a economia dos países latino-americanos teve uma trégua do patrimônio e de comércio exterior e de outros laços com a metrópole. Como havia acontecido em outras ocasiões, estes Estados empurraram seu

89 FURTADO, Celso. O capitalismo global. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p.28.

90 FRANK, Gunder. Latinoamérica: subdesarrollo capitalista o revolución socialista. Pensamiento Crítico, Habana, nº 13, febrero de 1968, pp.3-41, p.06. Disponível em http://www.filosofia.org/rev/pch/1968/pdf/ n13p003.pdf. Consulta em 02 de novembro de 2014.

91 FRANK, Gunder. Latinoamérica: subdesarrollo capitalista o revolución socialista. Pensamiento Crítico, Habana, nº 13, febrero de 1968, pp.3-41, p.08. Disponível em http://www.filosofia.org/rev/pch/1968/pdf/ n13p003.pdf. Consulta em 02 de novembro de 2014.

92 FRANK, Gunder. Latinoamérica: subdesarrollo capitalista o revolución socialista. Pensamiento Crítico, Habana, nº 13, febrero de 1968, pp.3-41, p.17. Disponível em http://www.filosofia.org/rev/pch/1968/pdf/ n13p003.pdf. Consulta em 02 de novembro de 2014.

próprio desenvolvimento industrial, principalmente pelo mercado interno, para bens de consumo. Entretanto, tão logo acabou a guerra, a indústria metropolitana, principalmente americana, entrou nessas regiões e setores, gerando crises internas no balanço de pagamentos que, naturalmente, foram sanadas com endividamento externo, o qual não só cobriu os déficits, mas também serviu para subsidiar os governos e aumentar a penetração da metrópole nas economias da América Latina.

Todo esse movimento de exploração e estrutura colonial, segundo o autor93, é

No documento Open Empoderamento e planejamento para o . (páginas 46-58)