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Escola Rousseauniana sobre legitimação do poder

No documento Open Empoderamento e planejamento para o . (páginas 126-129)

3. EMPODERAMENTO E DESENVOLVIMENTO

3.3. PROCESSO DEMOCRÁTICO: BUSCA POR LEGITIMIDADE

3.3.1. Escola Rousseauniana sobre legitimação do poder

A questão sobre poder foi central na construção do Estado de Direito, já que o grande enfoque do liberalismo era o de limitar o poder estatal. Foi escolhido Jean-Jacques Rousseau como principal referência, em decorrência do elemento democrático introduzido à modernidade.

Expõe Jean-Jacques Rousseau266 que ordem social é um direito que serve de alicerce a todos os outros, todavia, não vem da Natureza e sim, fundamentado sobre convenções. Sobre as primeiras Sociedades, aduz o autor que o mais antigo modelo de sociedade política é

a família, que permanece unida por convenção. Defende também que “a força constituiu os

primeiros escravos, a covardia os perpetuou.” Assim, sobre o direito dos mais fortes, aponta que a força não faz direito, pois só se deve obediência a autoridades legítimas.

265 MAIA, Luciano Mariz. Os Direitos das Minorias Étnicas. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/ direitos/ militantes/lucianomaia/lmaia_minorias.html. Consulta realizada dia 24 de junho de 2014.

266 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Traduzido por Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.9-11.

No tocante ao pacto social, é pensado como uma construção teórica reconhecedora da formação de uma associação que defende e protege da força comum pessoas e bens e pela qual, cada um, unindo-se aos demais, obedece a si mesmo, permanecendo livre. Os cidadãos formam a máquina política e somente eles podem tornar legítimas as obrigações civis.

A soberania, entendida como exercício da vontade geral, é inalienável e indivisível, pois somente a vontade geral pode dirigir as forças do Estado, segundo o fim de sua instituição, isto é, o bem comum. Entretanto, é inegável existir a possibilidade de falibilidade da vontade geral. Com relação aos limites do poder soberano, há a identificação do Estado como pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus membros. Sobre a lei, Rousseau267 afirma que todo governo legítimo precisa ser republicano, em que o povo, submetido às leis, deve ser o autor das mesmas, constatando que a legislação se encontra no ponto mais alto de perfeição que possa ser atingido. Para o cientista, todo sistema de legislação deve ter dois objetos principais: a liberdade e a igualdade. Sobre a divisão de leis, aponta que somente as leis políticas, que constituem a forma do governo, interessam a sua teoria.

Jean-Jacques Rousseau268, ao tratar sobre o Governo Geral, aduz que atribui governo, ou suprema administração, ao exercício legítimo do poder executivo; e príncipe ou magistrado, ao homem ou ao corpo incumbido dessa administração. E afirma que “Numa legislação perfeita, a vontade particular ou individual deve ser nula; a vontade do corpo, própria ao governo, bastante subordinada; e, por conseguinte, a vontade geral ou soberana sempre dominante é a regra única de todas as outras”.

Como divisão de governos, o autor269 fala em: aristocracia (poder concentrado em pequeno número de cidadãos); democracia (depósito do governo no povo em conjunto ou na maioria do povo); e monarquia (o governo em mãos de um magistrado único). Desta feita, a democracia é difícil de ser exercida encontrada em seu exercício pleno e que a Aristocracia exige desigualdade na distribuição de riquezas e para funcionar, precisa moderação dos detentores de poder e submissão dos pobres. A monarquia é o pior, pois o interesse do monarca é pessoal, alicerçado na miserabilidade dos segmentos sociais e que jamais lhes

267 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Traduzido por Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 33, 46 e 49.

268 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Traduzido por Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.72.

269 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Traduzido por Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.74-77.

possa resistir. Para ele, o poder legislativo é o coração do Estado; o poder executivo é o cérebro que põe em movimento todas as partes.

A perspectiva rousseauriana mostra-se contra a democracia indireta, pois a soberania não pode ser representada, pela mesma razão que não pode ser alienada, pois ela consiste essencialmente na vontade geral, e a vontade de modo algum se representa. Desse modo, os deputados do povo não são representantes; são apenas seus comissários. Por isso, entende ser nula as leis que o povo não tenha ratificado, em que a vontade é extraída pela soma dos votos de cada indivíduo.

Também não pode ser esquecido o debate entre Rousseau e Montesquieu. Explica Manoel Gonçalves Ferreira Filho270 que, o primeiro defende o monismo social, em que a pluralidade de grupos deve se sujeitar a um só grupo, o Estado, detentor do poder democrático verificado pela vontade geral. O objetivo do Rousseau foi propor um sistema perfeito de tomada de decisões públicas, embasado em uma abstração de igualdade utópica, a ser implantado em uma sociedade marcada por profundas desigualdades políticas e econômicas. Em contrapartida, está a teoria do pluralismo social, desenvolvida por Montesquieu, que serve como contrapesos opostos à força da organização estatal, em que “corps intermédiaires” precisam ser fortalecidos e mantidos fora do controle do Estado, a fim de permitir ao indivíduo e à minoria, resistir à prepotência e à injustiça da maioria. Assim, a corrente do pluralismo social foi a que prevaleceu por ter-se mostrado amoldada a uma realidade, a qual necessitava limitar o poder do Estado, apresentando-se o método de divisão de funções- poderes adequado a essa conjuntura.

Paralelamente, sob um ponto de vista mais pragmático, explica Waldron271 que, mesmo quando a maioria apresenta-se politicamente mais forte, o poder político somente é eficaz na proporção em que o sistema político mantenha-se coeso. Além disso, mesmo não havendo comprovação empírica sobre a possibilidade de consenso em uma comunidade, indubitavelmente a necessidade de realização de ações comuns, na vida em sociedade exige a escolha por uma forma de tomada de decisão, que proteja o princípio da igualdade e reconheça a capacidade dos cidadãos para posicionarem-se autonomamente; para isso, o critério majoritário é o que mais se aproxima desse propósito.

270 FERREIRA FL., Manuel Gonçalves. A reconstrução da democracia. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 86-87. 271 WALDRON, Jeremy. A dignidade da legislação. Traduzido por Luis Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p.160.

Assim, se por um lado é coerente acreditar que o consenso sobre assuntos relevantes jamais será alcançado em uma comunidade, por outro, o diálogo permite uma maior eficácia do poder público na resolução e negociação de conflitos de interesses, não só de agentes internos, mas, principalmente, de agentes externos, detentores de poder econômico e político, que oferecem obstáculos, a fim impedir o controle social real sob suas ações.

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