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Destinação da receita e do saldo dos empenhos em 31 de dezembro

No documento LEI 4320 COMENTADA.pdf (páginas 76-78)

Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas;

II – as despesas nele legalmente empenhadas.

Neste artigo, tanto as receitas quanto as despesas, pelos próprios termos do instituto, devem fazer parte do exercício financeiro. É importante destacar, neste momento, a essência deste artigo e seus dois incisos. O caput do artigo determina: “devem pertencer ao exercício financeiro”, ou seja, de 1 de janeiro a 31 de dezembro, toda a receita arrecadada [...]. Todo o significado do artigo prende-se a esta palavra: pertence ou pertencer ─ fazer parte de alguma coisa, que a ela pertence. Este é o entendimento de Houaiss que dá o seguinte significado a este verbete:

“substantivo masculino”

1 aquilo que faz parte de alguma coisa, que a ela pertence. 2 objeto de uso pessoal (mais us. no pl.)

3 Regionalismo: São Paulo.

peça circular de crochê, outrora us. sob bibelôs, jarros etc. 4 Rubrica: termo jurídico.

m.q. pertença.”

De qualquer forma que se tente visualizar todo o significado da palavra, somente a acepção n. 1 está relacionada ao tema.

12 Existe entendimento de que receita arrecadada diferencia-se de receita recebida. A primeira refere-se àquelas

que cumprem os três estágios da receita, enquanto que a segunda refere-se àquela que não cumpre o segundo estágio da receita. Neste trabalho, será usado apenas o verbete arrecadação.

77 Tentar relacionar o que estabelece este artigo com o regime misto ─ caixa para as receitas e competência para as despesas ─ seria distanciar-se demasiadamente do próprio método das partidas dobradas, definido pelo art. 86 desta Lei, principalmente, ao correlacionar o teor deste artigo com o regime misto, ensinado pela literatura.

Por outro lado, levando-se em conta o teor deste artigo com a aplicabilidade, ao direcionar as receitas arrecadadas, durante o exercício financeiro, para os programas em que estão a financiar, sente-se que há objetividade na proposta do artigo. Além deste aspecto, deve-se considerar também que é por meio deste artigo que fica estabelecida a necessidade de confrontar as receitas arrecadadas com as despesas legalmente empenhadas, atividade desenvolvida no período adicional, o qual foi extinto.

O primeiro argumento vem da própria proposta da Lei, cujo objetivo geral é: executar o orçamento no exercício financeiro. Não se justifica, portanto, a existência de superávits que não sejam resultantes de previsões para outros fins ou residuais. Em segundo lugar, esse dispositivo está correlacionado ao art. 34, que prevê a extinção das receitas no próprio exercício de sua arrecadação, até mesmo por motivos históricos. E, por último, figuram os próprios termos do artigo e seus incisos, que não dão espaço para outro entendimento, isto porque a própria interpretação literal encarrega-se de dar outro norte ao seu teor.

Neste instante, torna-se necessário recorrer a outros dispositivos da Lei para amparar o que será apresentado em seguida.

Em face da arrecadação das receitas que ocorrerem durante o ano financeiro, os programas são implementados por meio de um planejamento rígido, e ficam, portanto, submetidos à liberação dos recursos constantes da programação financeira e de desembolso elaborada de acordo com o ingresso dessas receitas. Essa necessidade obrigou o legislador a instituir mecanismos para controlar a liberação de recursos ─ princípio da segurança jurídica ─, por sinal, de extrema importância neste contexto.

O legislador, ao prever essa situação, incluiu dispositivos na Lei para evitar que alguma unidade orçamentária comprometa as suas dotações orçamentárias sem os respectivos recursos financeiros necessários ao pagamento na data aprazada. Assim, o empenho feito em

desacordo com esta programação é considerado ilegal, para fins do que estabelece o inciso II deste artigo.

78 Os artigos que controlam a emissão dos empenhos da despesa estabelecem:

Art. 47. Imediatamente após a promulgação da Lei de Orçamento e com base nos limites nela fixados, o Poder Executivo aprovará um quadro de cotas trimestrais da despesa que cada unidade orçamentária fica autorizada a utilizar.

Art. 48 A fixação das cotas a que se refere o artigo anterior atenderá aos seguintes objetivos:

a) assegurar às unidades orçamentárias, em tempo útil a soma de recursos necessários e suficientes a melhor execução do seu programa anual de trabalho;

b) manter, durante o exercício, na medida do possível o equilíbrio entre a receita arrecadada e a despesa realizada, de modo a reduzir ao mínimo eventuais insuficiências de tesouraria. Art. 49. A programação da despesa orçamentária, para feito do disposto no artigo anterior, levará em conta os créditos adicionais e as operações extra-orçamentárias.

Art. 50. As cotas trimestrais poderão ser alteradas durante o exercício, observados o limite da dotação e o comportamento da execução orçamentária.

Com o advento da Lei n. 101, de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ─, essas disposições da Lei passaram a viger com a seguinte redação:

Art. 8o.. Até trinta dias após a publicação dos orçamentos, nos termos em que dispuser a lei

de diretrizes orçamentárias e observado o disposto na alínea c do inciso I do art. 4o, o Poder

Executivo estabelecerá a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso.

A finalidade é a mesma. Porém, como esta programação será anualmente revista pela LDO, vê-se que ela se tornou flexível em face da revisão a cada ano, o que permite, noutra vertente, dar um novo direcionamento adequado, se for o caso, para o período a que ela se refere. Posto isso, retoma-se o discurso anterior para esclarecer que a Lei, ao determinar que “as receitas pertençam ao exercício financeiro”, não acrescentou a expressão “em sua totalidade”, e nem poderia fazê-lo, pois seria como se alguém pretendesse que ao final de um exercício financeiro qualquer a situação líquida do período de uma determinada entidade fosse nula. Ou seja, um fato muito provavelmente impossível. Não se tem notícia de nenhum até esta data.

No documento LEI 4320 COMENTADA.pdf (páginas 76-78)