Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas;
II – as despesas nele legalmente empenhadas.
Neste artigo, tanto as receitas quanto as despesas, pelos próprios termos do instituto, devem fazer parte do exercício financeiro. É importante destacar, neste momento, a essência deste artigo e seus dois incisos. O caput do artigo determina: “devem pertencer ao exercício financeiro”, ou seja, de 1 de janeiro a 31 de dezembro, toda a receita arrecadada [...]. Todo o significado do artigo prende-se a esta palavra: pertence ou pertencer ─ fazer parte de alguma coisa, que a ela pertence. Este é o entendimento de Houaiss que dá o seguinte significado a este verbete:
“substantivo masculino”
1 aquilo que faz parte de alguma coisa, que a ela pertence. 2 objeto de uso pessoal (mais us. no pl.)
3 Regionalismo: São Paulo.
peça circular de crochê, outrora us. sob bibelôs, jarros etc. 4 Rubrica: termo jurídico.
m.q. pertença.”
De qualquer forma que se tente visualizar todo o significado da palavra, somente a acepção n. 1 está relacionada ao tema.
12 Existe entendimento de que receita arrecadada diferencia-se de receita recebida. A primeira refere-se àquelas
que cumprem os três estágios da receita, enquanto que a segunda refere-se àquela que não cumpre o segundo estágio da receita. Neste trabalho, será usado apenas o verbete arrecadação.
77 Tentar relacionar o que estabelece este artigo com o regime misto ─ caixa para as receitas e competência para as despesas ─ seria distanciar-se demasiadamente do próprio método das partidas dobradas, definido pelo art. 86 desta Lei, principalmente, ao correlacionar o teor deste artigo com o regime misto, ensinado pela literatura.
Por outro lado, levando-se em conta o teor deste artigo com a aplicabilidade, ao direcionar as receitas arrecadadas, durante o exercício financeiro, para os programas em que estão a financiar, sente-se que há objetividade na proposta do artigo. Além deste aspecto, deve-se considerar também que é por meio deste artigo que fica estabelecida a necessidade de confrontar as receitas arrecadadas com as despesas legalmente empenhadas, atividade desenvolvida no período adicional, o qual foi extinto.
O primeiro argumento vem da própria proposta da Lei, cujo objetivo geral é: executar o orçamento no exercício financeiro. Não se justifica, portanto, a existência de superávits que não sejam resultantes de previsões para outros fins ou residuais. Em segundo lugar, esse dispositivo está correlacionado ao art. 34, que prevê a extinção das receitas no próprio exercício de sua arrecadação, até mesmo por motivos históricos. E, por último, figuram os próprios termos do artigo e seus incisos, que não dão espaço para outro entendimento, isto porque a própria interpretação literal encarrega-se de dar outro norte ao seu teor.
Neste instante, torna-se necessário recorrer a outros dispositivos da Lei para amparar o que será apresentado em seguida.
Em face da arrecadação das receitas que ocorrerem durante o ano financeiro, os programas são implementados por meio de um planejamento rígido, e ficam, portanto, submetidos à liberação dos recursos constantes da programação financeira e de desembolso elaborada de acordo com o ingresso dessas receitas. Essa necessidade obrigou o legislador a instituir mecanismos para controlar a liberação de recursos ─ princípio da segurança jurídica ─, por sinal, de extrema importância neste contexto.
O legislador, ao prever essa situação, incluiu dispositivos na Lei para evitar que alguma unidade orçamentária comprometa as suas dotações orçamentárias sem os respectivos recursos financeiros necessários ao pagamento na data aprazada. Assim, o empenho feito em
desacordo com esta programação é considerado ilegal, para fins do que estabelece o inciso II deste artigo.
78 Os artigos que controlam a emissão dos empenhos da despesa estabelecem:
Art. 47. Imediatamente após a promulgação da Lei de Orçamento e com base nos limites nela fixados, o Poder Executivo aprovará um quadro de cotas trimestrais da despesa que cada unidade orçamentária fica autorizada a utilizar.
Art. 48 A fixação das cotas a que se refere o artigo anterior atenderá aos seguintes objetivos:
a) assegurar às unidades orçamentárias, em tempo útil a soma de recursos necessários e suficientes a melhor execução do seu programa anual de trabalho;
b) manter, durante o exercício, na medida do possível o equilíbrio entre a receita arrecadada e a despesa realizada, de modo a reduzir ao mínimo eventuais insuficiências de tesouraria. Art. 49. A programação da despesa orçamentária, para feito do disposto no artigo anterior, levará em conta os créditos adicionais e as operações extra-orçamentárias.
Art. 50. As cotas trimestrais poderão ser alteradas durante o exercício, observados o limite da dotação e o comportamento da execução orçamentária.
Com o advento da Lei n. 101, de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ─, essas disposições da Lei passaram a viger com a seguinte redação:
Art. 8o.. Até trinta dias após a publicação dos orçamentos, nos termos em que dispuser a lei
de diretrizes orçamentárias e observado o disposto na alínea c do inciso I do art. 4o, o Poder
Executivo estabelecerá a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso.
A finalidade é a mesma. Porém, como esta programação será anualmente revista pela LDO, vê-se que ela se tornou flexível em face da revisão a cada ano, o que permite, noutra vertente, dar um novo direcionamento adequado, se for o caso, para o período a que ela se refere. Posto isso, retoma-se o discurso anterior para esclarecer que a Lei, ao determinar que “as receitas pertençam ao exercício financeiro”, não acrescentou a expressão “em sua totalidade”, e nem poderia fazê-lo, pois seria como se alguém pretendesse que ao final de um exercício financeiro qualquer a situação líquida do período de uma determinada entidade fosse nula. Ou seja, um fato muito provavelmente impossível. Não se tem notícia de nenhum até esta data.