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O principal destino dos produtos nacionais varia consoante as espécies. A maioria da produção nacional fica no nosso país, no entanto as exportações estão a aumentar sendo que em 2014 já representavam 33% do total de vendas [15].

A truta, dourada e robalo são destinadas ao consumo interno. A ostra, mexilhão, pregado e linguado são exportados na sua maioria para França e Espanha. Uma vez que o seu consumo em Portugal não tem muita expressão, ao contrário da Europa, estas espécies são as responsáveis pelo aumento das exportações de produtos de aquacultura. Grande parte da produção de amêijoa-boa fica no mercado nacional, existindo uma parte que também é exportada para Espanha. O país tem condições ótimas para produzir estas espécies e assim poder aumentar as exportações nacionais, ajudando a reduzir o défice da balança comercial de pescado.

Os principais clientes dos produtores nacionais têm variado ao longo dos anos, tal como toda a estrutura de venda do pescado e produtos alimentares [10]. Até à década de 90 do século passado existia uma grande rede de pequenos retalhistas e compradores (comerciantes, peixeiros e intermediários) distribuídos de forma uniforme pelo país inteiro. Esta estrutura permitia aos pequenos aquacultores escoar os seus produtos sem grandes problemas. No entanto, durante a década de 90 e de forma mais acentuada na década de 2000, com o aparecimento das grandes superfícies comerciais e empresas grossistas, possuindo centrais de compras e com encomendas de grandes quantidades e de forma uniforme ao longo do ano, alterou-se por completo o cenário existente. Os pequenos retalhistas foram diminuindo e os que ficaram começaram a comprar o seu pescado nos mercados grossistas. Uma vez que os pequenos aquacultores não tinham e não têm capacidade para fornecer as quantidades necessárias e de forma uniforme ao longo do ano a estes mercados grossistas, nem possibilidade de acompanhar os preços praticados por outros países (mais competitivos, devido aos métodos de produção e condições físicas do meio), foram perdendo clientes e com isso ajustando e diminuindo a sua produção. Os mercados grossistas e grandes superfícies comerciais, não tendo produto nacional em quantidade ou a preços competitivos, passaram também a importar grandes quantidades de pescado, principalmente dourada e robalo de Espanha, Grécia e, mais recentemente, Turquia. Acresce que os mercados grossistas e grandes superfícies não querem perder margens de lucro, pelo que optam quase sempre pelo produto mais barato. A nível europeu, um relatório recente [16] refere que cerca de 37% do valor acrescentado bruto (VAB) no comércio de pescado foi obtido pelos grossistas, enquanto que os produtores aquícolas conseguiram apenas gerar 9%. Também em termos de lucro bruto, a aquacultura contribuiu apenas com 14% do total

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enquanto que os grossistas contribuíram com 34%. Desta forma percebe-se que grande parte das mais valias económicas geradas no setor do pescado ficam nos grandes intermediários e não na produção de pescado em aquacultura. Esta é também uma das razões pela qual a produção de dourada e robalo em Portugal diminuiu nas últimas décadas. Os aquacultores que tinham produções mais elevadas conseguiram adaptar- se a esta nova realidade, como por exemplo acontece com a truta. Mais recentemente, espécies como o pregado, linguado e mexilhão já são vendidas nas grandes superfícies comerciais e mercados grossistas, por conseguirem ter quantidades e preços competitivos. A dourada e robalo nacional aparecem de forma quase incipiente nestes estabelecimentos e sempre de forma diferenciada, com preços mais elevados e muitas vezes vendidas como peixe de mar. Com os investimentos previstos nestas duas espécies em Sines e na costa sul da ilha da Madeira, utilizando o mesmo método de produção que Espanha, Grécia e Turquia, é esperado que surjam mais quantidades destas espécies nas grandes superfícies, com origem nacional.

2.5 - Conclusões

Com este capítulo apresentou-se o panorama atual do setor da aquacultura em Portugal, a evolução da produção ao longo dos últimos anos e as principais espécies produzidas. Existem claramente três fases distintas na aquacultura nacional:

a) Uma primeira fase antes da entrada de Portugal na CEE em que a produção era

baseada nos bivalves (amêijoa-boa e ostra), em regime extensivo, e na truta em regime intensivo;

b) Uma segunda fase após a entrada de Portugal na CEE em que se dá um

crescimento do número de unidades de semi-intensivo, para produção de dourada e robalo, e muitas pequenas truticulturas são também instaladas na região interior Norte;

c) Uma terceira fase a partir de 2010 que se deve à instalação da maior unidade

de produção de peixe no país, para produção de pregado em regime intensivo, e também ao crescimento da produção em mar aberto na costa sul do Algarve, essencialmente para a produção de mexilhão. Nesta fase já a produção de truta, dourada e robalo tinha quebras acentuadas.

Esta evolução da produção alterou também o destino dos produtos nacionais, uma vez que até há pouco tempo o mercado nacional absorvia a quase totalidade da produção. Com a introdução de novas espécies, principalmente pregado e mexilhão, as

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exportações começaram a ter um papel mais preponderante no escoamento dos produtos. A estrutura de compradores também sofreu alterações ao longo dos anos, sendo agora dominada pelos mercados grossistas e grandes superfícies comerciais, ao invés dos pequenos retalhistas que ainda existem em menor número e vão absorvendo parte da produção das espécies mais tradicionais de peixe (dourada e robalo).

Referências

1. Facts and Figures of the Common Fisheries Policy – Basic statistical data. 2016, European Commission.

2. Estatísticas da Pesca 2017. 2018, Instituto Nacional de Estatística I. P.

3. Almeida, C., V. Karadzic, and S. Vaz, The seafood market in Portugal: Driving forces and consequences. Marine Policy, 2015. 61: p. 87-94.

4. SaeR/ACL, O Hypercluster da Economia do Mar. 2009: Lisboa. p. 480.

5. Blue Growth for Portugal - Uma visão empresarial da economia do mar. 2012. p. 368. 6. Plano Estratégico para a Aquacultura Portuguesa 2014 - 2020, M.d.A.e.d. Mar, Editor.

2014. p. 90.

7. Diniz, M., A Aquacultura, in Manual de Aquacultura, M.A.R. Henriques, Editor. 1998, Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar - Universidade do Porto: Porto. 8. Ruano, F., O Estuário do Tejo - Reflexão sobre a recuperação da produção aquícola, in

Revista da Marinha. 2017: Lisboa. p. 32 - 35.

9. Bernardino, F.N.V., Review of aquaculture development in Portugal. Journal of Applied Ichthyology, 2000. 16: p. 196 - 199.

10. Menezes, J.G., A Aquicultura e o Interesse Nacional. 2014, Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro: Vila Real.

11. Centro de Informação Europeia Jacques Delors (CIEJD). [cited 08/02/2017; Available from: http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwcot0.detalhe?p_cot_id=339

12. Rodrigues, H., Pescadores da Culatra querem pescar nos lotes abandonados da aquacultura offshore da Armona, in Sul Infornação. 2017.

13. Ferreira, J.G., C. Saurel, J.P. Nunes, L. Ramos, J.D.L.e. Silva, F. Vazquez, Ø. Bergh, W. Dewey, A. Pacheco, M. Pinchot, C.V. Soares, N. Taylor, D. Verner-Jeffreys, J. Baas, J.K. Petersen, J. Wright, V. Calixto, and M. Rocha, FORWARD - Desenvolvimento sustentável de aquacultura em sistemas costeiros - Gestão integrada da Ria Formosa, Portugal. 2012.

14. Relatório final do grupo de trabalho sobre o setor da aquacultura em Portugal criado por Despacho Conjunto nº 420/2006 2008.

15. Scientific, Technical and Economic Committee for Fisheries (2016) – Economic Report of the EU Aquaculture Setor (EWG-16-12). 2016, Publications Office of the European Union: Luxembourg.

16. The 2018 annual economic report on the EU blue economy. 2018, European Comission. p. 200.

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3 - Principais razões para o não desenvolvimento