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Um dos objetivos de qualquer produção de alimentos é fornecer produtos de qualidade, seguros e ajustados aos desejos do consumidor. A produção em aquacultura não foge a esta regra, pois a saúde e bem-estar dos consumidores deverá ser uma das preocupações de qualquer aquacultor. Atualmente, o consumidor já está muito bem informado sobre os benefícios em introduzir o pescado na sua alimentação [1-3], podendo inclusivamente alterar alguns dos seus hábitos de consumo. No entanto, a sua perceção ou opinião em relação à origem do pescado pode ser divergente entre a pesca e aquacultura. Regra geral, o consumidor tem uma pior imagem do pescado de aquacultura em relação ao selvagem [4-6], pois pensa que este é mais saudável, mais fresco e mais natural. Deve-se também aos impactos negativos e imagem transmitida por outros países sobre o pescado de aquacultura, como se pode comprovar pela reportagem “Fillet oh fish” [7]. Estes factos criaram uma ideia pré-concebida de uma pior qualidade deste produto, podendo esta revelar um desconhecimento dos consumidores em relação à qualidade do pescado em geral e ao de aquacultura em particular [8]. No estudo feito por Peniak Z. et. al. [8] verificou-se que, num universo de oito países europeus, os consumidores do Sul da Europa e os alemães são aqueles que têm mais conhecimentos gerais sobre o pescado. O facto de se realizarem mais campanhas de divulgação e promoção de pescado nos países do Sul da Europa [9] poderá explicar o maior conhecimento. Por outro lado, o consumidor europeu, especialmente do Norte, dá muita importância a aspetos relacionados com a qualidade e benefícios nutricionais do produto, bem-estar animal e sustentabilidade na hora de comprar o produto. O consumidor associa esta sustentabilidade a produções naturais e tradicionais, feitas localmente e em pequena escala [10, 11]. Daqui pode perceber-se que o próprio consumidor tem uma ideia diferente em relação aos vários métodos de produção em aquacultura, associando aqueles que se integram no meio envolvente e replicam as condições naturais como os mais sustentáveis, ao contrário dos mais intensivos (ex.º: sistemas de recirculação), que pela sua aparência industrial e altas densidades de produção, não são bem acolhidos pelo consumidor [11].

A rotulagem assume um papel importante na abordagem do consumidor perante um produto. Para além do preço, nome da espécie, local de produção e data de validade

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[10], o consumidor mostra interesse por informações adicionais, como as de segurança alimentar, marcas e selos de garantia de qualidade [3]. Existe uma parte dos consumidores espanhóis que está disposto a pagar um pouco mais pelos produtos, caso lhes seja dada garantia total de segurança alimentar [12]. O local de produção deverá ser realçado e assumir um papel de maior destaque na rotulagem, uma vez que o consumidor tem tendência a escolher produtos locais e nacionais em detrimento dos importados [10, 13-15]. Alguns estudos apontam ainda para a existência de segmentos de consumidores, uns mais predispostos ao consumo de pescado de aquacultura e outros sem disposição para tal [5, 6, 16], devendo as estratégias de marketing e promoção do consumo serem adaptadas a estes diferentes segmentos. Geralmente, os consumidores mais predispostos ao consumo de pescado de aquacultura têm melhores rendimentos, são mais jovens, com um grau de formação mais elevado [6] e com um grau de conhecimento mais elevado sobre o pescado [8].

As características sensoriais do pescado são muitas vezes apontadas como essenciais no seu consumo, sendo também considerada como uma importante barreira à aceitação dos produtos de aquacultura por parte do consumidor [17]. Claret, et al (2016) mostraram que os consumidores espanhóis preferem o pescado selvagem em relação ao de aquacultura, quando sabem a priori a sua origem. No entanto, perante um teste cego onde não lhes foi dada a conhecer a origem dos produtos, os resultados foram contrários. Outros estudos foram feitos e os resultados mostraram não existirem diferenças sensoriais entre pescado selvagem e de aquacultura [18]. Em Portugal, a DECO já efetuou uma prova de degustação semelhante à realizada em Espanha e com resultados muito parecidos [19], como se poderá verificar pela figura 16.

Figura 16 – Resultados do estudo da Deco, efetuado em 2011, sobre a preferência dos consumidores

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A truta é a espécie que os consumidores nacionais preferem de aquacultura, seguida do robalo. Em relação à dourada, as opiniões dividem-se, sendo que apenas no pregado o consumidor prefere o selvagem. Tendo em conta que o pregado é uma espécie mais recente na produção em aquacultura, os métodos produtivos e formulações de rações à data da realização do estudo (2001) poderiam ainda não ser os mais adequados para a espécie. Existe um outro estudo de mercado, realizado a nível Europeu, em 2016 [9] que revela que metade dos inquiridos em Portugal prefere pescado selvagem e apenas 7% prefere o de aquacultura. 11% referem que depende do tipo de produto, 15% não tem preferência e os restantes 16% não sabe se o pescado que compram é selvagem ou de aquacultura. Existem também algumas reportagens feitas em mercados locais, Matosinhos [20] e Faro [21], que demonstram a pouca recetividade do consumidor nacional para comprar pescado de aquacultura. Comprova-se assim que, tal como acontece, por exemplo, em Espanha [17] ou na Grécia [6], o consumidor português dá sempre preferência ao pescado selvagem devido à ideia preconcebida de que este tem melhor qualidade, apesar de existirem publicações e trabalhos, alguns realizados no nosso país, que indicam não existirem grandes diferenças entre o selvagem e de aquacultura [2, 18, 22]. Ainda em relação a Espanha, a perceção que o pescado de aquacultura tem menor qualidade ou segurança que o selvagem, não é igual em todas as regiões autónomas. Por exemplo, na Galiza os consumidores classificam o pescado de aquacultura como “seguro e de plenas garantias” sendo uma “alternativa económica e de qualidade” ao selvagem [23]. Esta tendência poderá explicar-se pelo maior protagonismo e promoção que a aquacultura assume nesta região autónoma, existindo constantes campanhas para o consumo de produtos locais, como o mexilhão.

Apesar do nosso país ter um dos mais elevados consumos de pescado per capita do Mundo, as espécies selvagens, com especial relevância para o bacalhau, representam a quase totalidade do consumo [24]. De acordo com os últimos dados estatísticos para Portugal, referentes a 2016 [25], a aquacultura nacional contribuiu com aproximadamente 2% do consumo nacional. O país continua a ter uma produção em aquacultura muito limitada e aquém do potencial que lhe é reconhecido em vários estudos e estratégias [26-28]. Algumas das principais razões já foram enumeradas anteriormente, pelo que importa agora estimular o consumidor nacional e europeu a dar prioridade ao consumo do produto nacional.

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9.2 - Marketing e campanhas de divulgação/promoção da