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1. Custos energéticos

Os custos energéticos representam hoje em dia um elevado custo para as empresas de aquacultura. Estima-se que este valor corresponda a 8% do total das receitas das empresas [1]. Dentro dos custos energéticos podemos separar os relacionados com a eletricidade, utilizada principalmente pelas unidades de produção de peixe em terra (intensivo e semi-intensivo), e combustíveis, utilizados principalmente em maquinaria e embarcações de apoio à aquacultura de bivalves (em zonas intertidais e mar aberto).

a) Eletricidade Verde

A concessão de um apoio monetário à eletricidade gasta nas empresas sempre foi uma das medidas aconselhadas aos sucessivos governos [2, 3] e reivindicadas pelo setor [4- 6], mas que não tem sido acolhida por aqueles. Existiu, no entanto, uma exceção. Com a publicação do Despacho nº 7428/2010, foi concedido um apoio, denominado “Eletricidade Verde”, aos custos das empresas com a eletricidade, numa percentagem de 20% do valor pago anualmente e com um limite máximo subsidiado de 300 000 €. Mas este apoio foi apenas e só para o período compreendido entre maio 2010 e maio 2011, ou seja, um ano. Desde essa altura, a aquacultura nacional nunca mais beneficiou de um apoio semelhante e que muito viria melhorar a tesouraria de algumas empresas, principalmente numa fase em que se registaram importantes investimentos na produção intensiva de peixes (com elevados custos de eletricidade).

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b) Combustíveis utilizados na atividade

Os combustíveis (gasóleo e gasolina) são também uma fatia importante dos custos operacionais das empresas. Em relação ao gasóleo importa referir que os equipamentos com motores fixos (geradores de energia) já beneficiam da atribuição do “gasóleo verde” utilizado na agricultura desde há vários anos [2]. No entanto, outros equipamentos como os tratores, motobombas, retroescavadoras e mesmo as embarcações de apoio à atividade apenas viram este apoio ser-lhes atribuído em 2014, através da publicação das Portarias nº 205 e 206/2014. No caso das embarcações, o apoio é o mesmo concedido às embarcações de pesca. Apesar deste apoio já estar em vigor desde aquele ano, o mesmo não tem sido utilizado pelos produtores como se esperava por duas razões: a) todo o processo burocrático associado à atribuição do apoio é moroso e exige o cumprimento de certos requisitos que fazem com que o apoio deixe de ser atrativo; b) os procedimentos associados ao pedido de instalação de um reservatório extra de armazenamento do gasóleo verde dentro das unidades são também eles morosos e burocráticos. Por fim, um dos equipamentos mais utilizados nas empresas de aquacultura (empilhadores) não está incluído no âmbito deste apoio. Esta era e é uma das medidas identificadas pelos produtores como uma barreira ao desenvolvimento da aquacultura [4-8].

Existem ainda outros equipamentos que utilizam gasolina e que apenas recentemente viram ser-lhes atribuído um apoio semelhante ao utilizado na pesca. Este apoio foi previsto pela Lei do Orçamento de Estado para 2018, mas até ao momento ainda não foi publicada a sua regulamentação. Como tal, temos um apoio criado e com verba prevista no orçamento de estado, mas que os produtores não podem utilizar por ainda não estar regulamentada.

2. Imposto de Valor Acrescentado (IVA)

O IVA aplicado ao setor da aquacultura também é um dos principais constrangimentos que a tesouraria das empresas enfrenta, especialmente na altura de efetuar os seus investimentos ou compras. Por outro lado, existia até ao final de 2016 um conjunto de espécies que não estava inserida na Lista I do Código do IVA (CIVA) com taxa reduzida (6%), o que dificultava a sua produção e venda no mercado nacional.

a) IVA aplicado a algumas espécies

A ostra, camarinha e salicórnia foram até 2016 espécies cuja taxa de IVA aplicada era a máxima (23%). No caso da ostra, como era considerada um artigo de luxo,

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reconhecida na Resolução da Assembleia da República nº 6/2013, não lhe era aplicado o mesmo regime que os restantes produtos aquícolas. Esta conotação como artigo de luxo fazia com que as trocas comerciais de ostras não fossem atrativas dentro do nosso país. Por exemplo, a instalação de uma maternidade para produção deste bivalve iria ser um fracasso uma vez que os promotores teriam de concorrer com a semente importada de França que não paga IVA, ao abrigo da isenção prevista no Regime de IVA nas Transações Intracomunitárias (RITI)

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Com a publicação da Lei do Orçamento de Estado para 2017, as ostras passaram a constar da Lista I do CIVA e a beneficiar da taxa reduzida de IVA. Desta forma, a própria venda deste bivalve nos mercados nacionais passou a ser mais atrativa para os produtores nacionais, existindo inclusivamente projetos previstos para a implementação de uma maternidade deste bivalve na zona de Setúbal.

Já para a camarinha e salicórnia, como novas espécies, o CIVA era omisso em relação às mesmas pelo que a taxa aplicável era a máxima. Com a publicação das Informações Vinculativas nº 30185 e 30186/2016, tanto a camarinha como a salicórnia passaram também a beneficiar da taxa reduzida de IVA aplicada nas suas trocas comerciais. Apesar de serem espécies ainda com uma produção incipiente, ambas têm potencial e condições para incrementar a sua produção, principalmente em zonas do salgado (antigas salinas) ou nas pisciculturas localizadas em zonas estuarinas e de rias.

b) IVA aplicado na compra de materiais, equipamentos e embarcações

A pesca beneficia atualmente de uma isenção do pagamento do IVA na compra de materiais, equipamentos e embarcações para a sua atividade. Estas estão previstas no CIVA, nomeadamente na Secção II, artigo 13º, alínea b) e Secção III, artigo 14º, alíneas d), e) e f). Ambos os artigos são omissos em relação à aquacultura pelo que esta não beneficia desta isenção que muito iria ajudar na tesouraria das empresas, sendo um dos pontos elencados por estas como barreira aos investimentos [8]. Efetivamente, tendo em conta que as empresas cobram 6% de IVA na venda dos seus produtos e têm de pagar sempre 23% na compra dos seus equipamentos e embarcações, estão sempre credoras do Estado. Ao pedirem reembolsos de IVA, as empresas são objeto de constantes auditorias por parte da Autoridade Tributária (AT). Estas implicam alocar meios humanos para acompanhar os inspetores da AT, sendo que no caso das pequenas empresas com poucos trabalhadores isso acarreta a perda de horas de trabalho na produção efetiva. Ficando o setor da aquacultura isento do pagamento do IVA, a tesouraria das empresas ficaria mais aliviada e o tempo gasto com auditorias seria reduzido. Há ainda a realçar que os apoios comunitários ao abrigo do MAR2020

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não cobrem os custos com o pagamento do IVA na compra dos equipamentos e embarcações.