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Já existe uma proposta de Regulamento (COM (2018) 390 final) relativo ao FEAMP, que virá substituir o atualmente em vigor (Regulamento (EU) nº 508/2014) e que será aplicado no período 2021-2027. Esta proposta prevê um apoio total de 6,14 mil milhões € (5,31 mil milhões € em gestão partilhada entre a União e os Estados Membros) e transitará para uma arquitetura mais simplificada e alicerçada, entre outros, nos seguintes elementos:

➢ Quatro prioridades – uma delas inclui a aquacultura e refere que pretende “contribuir para a segurança alimentar da União graças a uma aquacultura e mercados competitivos e sustentáveis

➢ Domínios de apoio — “Os artigos do novo regulamento não estabelecem medidas prescritivas, mas descrevem os diferentes domínios de apoio para cada prioridade, proporcionando um quadro flexível para execução

➢ Ausência de medidas predefinidas ou de regras de elegibilidade ao nível da

União — “No quadro da gestão partilhada, cabe aos Estados-Membros elaborarem

o seu programa, nele indicando os meios mais apropriados para concretizar as prioridades do FEAMP. Ser-lhes-á garantida flexibilidade na definição das regras de elegibilidade”.

Em resumo, para além da redução do número de prioridades (de 7 para 4), o novo regulamento não irá definir despesas elegíveis e não elegíveis ou medidas específicas dentro de cada prioridade, deixando isso ao citério de cada Estado-membro. No entanto, estes terão de elaborar programas com as medidas que se pretende apoiar, devendo depois ser apresentados à União Europeia para aprovação.

A proposta de Regulamento apenas contém um artigo dedicado à aquacultura (23º) e refere apenas que o novo “FEAMP pode apoiar a promoção de uma aquacultura sustentável, a promoção da saúde e do bem-estar animal na aquacultura”, devendo estes serem “compatíveis com os planos estratégicos nacionais plurianuais”. Não há qualquer referência a despesas elegíveis ou outras medidas (por exemplo a aquacultura biológica ou o seguro). As taxas de cofinanciamento máxima é de 75%, não se esperando que as empresas privadas de produção beneficiem desta taxa, mas sim as entidades públicas. Dos 5,31 mil milhões € que o FEAMP irá disponibilizar na gestão partilhada, Portugal irá receber 378,57 milhões € (7,13% do total). Espanha será o país

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que mais irá receber (1,12 mil milhões €), seguida de França (567 milhões €), Itália (518 milhões €) e Polónia (512 milhões €).

8.8 - Conclusão

O relatório de auditoria do Tribunal de Contas, realizada em 2011, refere que “a aquacultura em Portugal não tem tido o aumento de produção que se esperava” [10]. Grande parte das causas para este facto está bem explícita neste capítulo. Os Fundos Comunitários têm sido aplicados na sua grande maioria diretamente às pescas e indiretamente através dos portos de pesca, locais de descarga do pescado, lotas, entre outros. Quanto à aquacultura, pelas mais diversas razões, os fundos não têm sido bem aplicados na maioria dos projetos, para além da estratégia dos sucessivos governos no desenvolvimento da aquacultura em mar aberto não está a alcançar os resultados que se esperavam, longe disso. A tabela 11 demonstra o valor total de fundos (inclui os a percentagem destinada ao Estado-membro, correspondente a 25% da despesa pública total) atribuídos a cada actividade, a partir de 1986 (ano em que Portugal entrou na CEE) e até ao final do programa operacional (PROMAR) que terminou em 2013.

A coluna da pesca inclui os valores do investimento na frota, abate de navios, investimentos nos portos de desembarque, lotas e compensações sociais por paragens temporárias.

Tabela 11: Valores atribuídos a cada actividade desde 1986 até 2013 (valores em milhões €). Pesca Transformação Aquacultura

Período 1986-1993 (IFOP) 74,4 97,9 23,5

Período 1994-1999 (PROPESCA) 208,6 64,4 21,5

Período 2000-2006 (MARE) 160,0 38,2 69,0

Período 2007-2013 (PROMAR) 136,9 100,8 26,4

Total (milhões €) 579,9 301,3 140,4

É fácil de perceber pela tabela acima que o setor da aquacultura não beneficiou do mesmo nível de apoios que a pesca e a indústria de transformação obtiveram. O padrão não se alterou com o programa operacional MAR2020, uma vez que a aquacultura continua a ter ao seu dispor valores mais baixos do que os setores da pesca e transformação.

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Por outro lado, como tem sido evidente também no MAR2020, grande parte dos fundos destinados ao desenvolvimento da aquacultura são dirigidos às entidades públicas de investigação (institutos e universidades), cujos resultados dessa mesma investigação não acrescentam diretamente conhecimento às empresas (muitas vezes os resultados não são transmitidos e difundidos pelas empresas/aquacultores) ou servem para financiar obrigações previstas na legislação nacional e comunitária (por exemplo, o sistema nacional de monitorização de bivalves, da responsabilidade do IPMA). Torna- se necessário mudar este paradigma no próximo programa operacional, de modo a que o setor produtivo e empresas privadas possam ter prioridade no acesso aos apoios e que a avaliação das candidaturas, por parte dos organismos intermédios e Autoridade de Gestão, seja feita com mais rigor, acerto, precisão, rapidez e flexibilidade, de modo a que não sejam atribuídos apoios a projetos que posteriormente não se conseguem implementar ou a semelhantes já apoiados no passado e que não resultaram.

Referências

1. Das negociações à adesão de Portugal à CEE: 1977-1985. [cited 16/08/2018; Available from:

http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwcot0.detalhe?p_cot_id=339&p_est_id=12301. 2. 25 anos de Fundos Estruturais: Olhares sobre a evolução da sociedade, da economia e

das instituições em Portugal. 2011, Sociedade de Consultores Augusto Mateus & Associados. p. 78.

3. Relatório de auditoria ao “Sistema de gestão e avaliação do controlo interno no âmbito do IFOP”. 2000, Tribunal de Contas: Lisboa. p. 90.

4. Factos e números sobre a PCP - Dados básicos sobre a Política Comum da Pesca. 2001, Comissão Europeia. p. 21.

5. FAO. Statistical Query Results. [cited 18/08/2018; Available from:

http://www.fao.org/figis/servlet/SQServlet?file=/usr/local/tomcat/8.5.16/figis/webap ps/figis/temp/hqp_2929141110745265577.xml&outtype=html.

6. MARE - Programa Operacional Pesca 2000 - 2006. 2000, União Europeia

7. Relatório de Exceução 2006 - Programa Operacional Pescas. 2007, DGPA - Direcção- Geral das Pescas e Aquicultura.

8. Governo aposta forte na aquicultura in Jornal de Notícias. 2010.

9. Portugal quintuplica produção de peixe em aquacultura até 2015, in Vida Económica. 2010.

10. Auditoria à medida "Investimentos Produtivos na Aquicultura" - Programa Operacional Pesca, in Relatório de Auditoria nº 38/2011. 2011, Tribunal de Contas. p. 66.

11. Relatório Final Programa Operacional Pesca 2007-2013. 2017, Ministério do Mar. p. 313.

12. Rodrigues, H., Pescadores da Culatra querem pescar nos lotes abandonados da aquacultura offshore da Armona, in Sul Infornação. 2017.

13. Plano Estratégico para a Aquacultura Portuguesa 2014 - 2020, M.d.A.e.d. Mar, Editor. 2014. p. 90.

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15. Pacheco, F., Produção nacional não chega para crescimento do mercado biológico, in Hipersuper. 2018.

16. Histórico interdições bivalves. [cited 22/08/2018; Available from:

http://www.ipma.pt/pt/bivalves/historico/#.

17. MAR2020. Relatórios de execução. 2018 [cited 22/08/2018; Available from:

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9 - Perceção e papel do consumidor no