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9.3 Papel da comunicação social na imagem e consumo dos produtos de aquacultura

A comunicação social tem um papel muito importante na imagem e reputação do setor da aquacultura na opinião pública, podendo servir como um estímulo ao consumo dos produtos de aquacultura [37, 38]. Consequentemente, a opinião pública terá uma forte influência política, quer regional quer nacional, e ao nível das entidades reguladoras. Segundo a EUMOFA [3], a televisão, os livros e as revistas/jornais representam uma importante fonte de informação para os consumidores mais velhos, sendo os meios digitais o veículo preferencial de transmissão dessa mesma informação para os mais jovens. Um estudo realizado recentemente na Alemanha sobre o impacto da comunicação social nos consumidores mostrou que, na maioria das vezes, as notícias sobre o setor da aquacultura transmitem uma imagem positiva ou neutra deste, apesar de existirem outros estudos mais antigos que indicam o contrário [39]. Quando as notícias transmitem uma imagem negativa, as questões ambientais são as mais realçadas, sendo transmitidas para a opinião pública de uma forma sensacionalista [37, 38], moldando desta forma a imagem que as pessoas têm da atividade. Outras notícias relacionadas com o dia-a-dia das empresas, questões políticas que envolvam alterações legislativas, impactos sociais e económicos são transmitidos em menor número e de forma natural e pacífica, passando uma imagem neutra do setor. O bem- estar animal começa a ser muitas vezes referido nos meios de comunicação social podendo vir a ser, a curto prazo, outro tema que poderá afetar a imagem do setor junto do consumidor [39], pelo que será aconselhável aos produtores desenvolverem produtos que garantam o bem-estar animal e com baixo impacto ambiental [33].

A comunicação social nacional evoluiu e conhece hoje melhor o setor, fruto do trabalho dos produtores e Associações que têm tentado mostrar os benefícios de consumir pescado, onde naturalmente se inclui o de aquacultura. Em Portugal são poucas as grandes reportagens televisivas, transmitidas nos últimos anos, acerca do setor. Destaca-se a reportagem “Semear para pescar”, transmitida na SIC no dia 12 de Março

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de 2013 [40]. Esta foi sem dúvida a reportagem que veio lançar o debate público e político para o futuro da aquacultura em Portugal e alertar a população em geral para o que era o setor nacional, a forma como se produz o pescado de aquacultura em Portugal e os benefícios de consumir os produtos locais. Posteriormente, existiram mais algumas reportagens de televisão acerca do setor onde se destacam as efetuadas pelo Fórum Oceano [41] e Docapesca [42]. Por outro lado, foram transmitidas em vários noticiários televisivos algumas pequenas reportagens acerca do setor da aquacultura e de espécies ou métodos de produção muito específicos. Destaca-se ainda a cobertura jornalística dada ao evento que decorreu em Aveiro, no dia 30 de agosto de 2016, sobre a apresentação do Programa Simplex “Aquicultura +”. Nesse dia foram transmitidas várias pequenas reportagens sobre o evento e visitas dos membros do Governo a unidades de aquacultura da região. Na comunicação social escrita também foram publicados vários artigos sobre este evento. Na grande maioria destas reportagens e artigos, foi passada uma ideia positiva sobre a atividade realizada no nosso país, do seu potencial para se desenvolver e dos problemas que a impedem disso.

Uma outra grande reportagem, denominada “Fillet oh fish – Peixe, criação em águas turbulentas”, sobre as práticas aquícolas utilizadas na produção de salmão e panga, respetivamente, na Noruega e Vietname [7], foi transmitida recentemente na RTP3. Esta reportagem teve um impacto negativo na opinião pública, tendo originado uma série de debates sobre o tema organizados pela plataforma PONG-Pesca. O programa “Biosfera” da RTP2, também costuma passar episódios dedicados à aquacultura em que, naturalmente, o foco é sempre virado para os impactos negativos desta atividade no ambiente. Os stakeholders e comunidades locais também poderão ter um grande contributo para a divulgação da imagem do setor da aquacultura junto da opinião pública. Veja-se por exemplo a constante oposição que a comunidade piscatória faz à APPA da Armona, com a existência de vários artigos publicados em jornais regionais do Algarve ou mesmo nacionais. Os argumentos utilizados são que nunca foram consultados [43] e que a aquacultura lhes está a “roubar” espaço e zonas de pesca, empobrecendo desta forma os pescadores [44]. Esta situação não traz qualquer benefício para a “imagem social” da aquacultura perante a opinião pública.

São ainda exemplo publicações em órgãos de comunicação social generalista sobre esta atividade, artigos publicados na revista Exame [45], Jornal de Notícias [46], Público [47, 48], Diário de Notícias [49], Sol [50], Diário de Aveiro [51], entre muitos outros. Alguns jornais e revistas mais específicas também têm dedicado espaço de informação para o setor da aquacultura, com especial foco nas empresas, dificuldades destas e qualidade dos seus produtos [52-56]. Em termos gerais, a comunicação social

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Portuguesa tem transmitido uma imagem positiva do setor e das empresas. O foco principal destas notícias na imprensa escrita tem sido a parte económica do setor, o dia- a-dia e as principais dificuldades das empresas e também os produtos que estas comercializam. Em termos de perceção do consumidor sobre a qualidade dos produtos de aquacultura, os artigos escritos geralmente englobam as espécies no geral e não tanto a origem ou sistema de produção [57-60], pelo que não têm sido publicados na imprensa escrita nacional artigos depreciativos em relação à qualidade e segurança alimentar dos produtos de aquacultura. Pelo contrário, a imprensa tem tendência a realçar negativamente o fracasso dos impactos económicos e sociais das unidades de aquacultura (por exemplo, o fracasso da unidade de pregado em Mira) e ocupação do espaço em detrimento de atividades mais tradicionais (ver exemplo referido em cima para a APPA da Armona).

9.4 - Conclusão

Neste capítulo foi possível perceber a ideia pré-concebida que o consumidor tem da qualidade do produto de aquacultura em relação ao selvagem. Apesar das diferenças nutricionais e sensoriais serem pequenas, o consumidor ainda dá preferência ao produto selvagem por o considerar mais natural, saudável e fresco. No entanto, em testes cegos os produtos de aquacultura costumam ser os preferidos dos consumidores. A rotulagem com uma correta identificação dos produtos de aquacultura e da sua zona de produção, aliada a uma marca que garanta qualidade e segurança alimentar e permita diferenciar os produtos nacionais dos importados, poderá ajudar ao incremento do consumo de pescado nacional. Esta estratégia de marketing já existe em alguns países Europeus como forma de diferenciação e promoção dos seus produtos, podendo ser replicada em Portugal. A comunicação social é um veículo essencial de disseminação de informação acerca do setor, podendo funcionar a favor ou contra os produtos de aquacultura. Nos últimos anos têm sido transmitidas algumas reportagens e publicados alguns artigos acerca da atividade no nosso país, com um saldo positivo para a imagem do setor. Caso o setor venha a criar uma marca (ou mais) para os produtos de aquacultura, a comunicação social deverá ser uma importante fonte de disseminação da informação relacionada, devendo esta ser adaptada ao público-alvo onde se pretende aumentar o consumo dos produtos aquícolas. O setor deve continuar a promover os produtos de aquacultura nacional, através de ações de promoção, participação em eventos gastronómicos, pela comunicação social e a influenciar os opinion makers e chefs de

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cozinha, dando-lhes a conhecer o pescado de aquacultura nacional, de forma a quebrar preconceitos e dúvidas que existem sobre o mesmo.

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10 - Outras razões que contribuíram para o não