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Dever de colaboração no Projeto do Novo Código de Processo Civil (PLS n 166/2010)

3. DEVERES DE LEALDADE PROCESSUAL, VERACIDADE, BOA-FÉ E

3.5. Dever de colaboração no Projeto do Novo Código de Processo Civil (PLS n 166/2010)

Para finalizar este Capítulo, cumpre apenas registrar que o Projeto de Código de Processo Civil (PLS nº 166/2010), já aprovado pelo Senado Federal e atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados (PL 8.046/2010), traz expressa previsão do dever de colaboração aqui tantas vezes repetido.

Como é de conhecimento geral, no ano de 2009, a Presidência do Senado Federal, por meio dos atos nº 379 e 411, instituiu uma Comissão de Juristas para a elaboração de um Anteprojeto de Código de Processo Civil, presidida por Luiz Fux, então ministro do Superior Tribunal de Justiça e atualmente Ministro do Supremo Tribunal Federal, e que teve como relatora-geral a professora Teresa Arruda Alvim Wambier.

Realizados os estudos iniciais e delimitadas as proposições temáticas sobre as quais gravitariam as alterações legislativas, relativamente ao estatuto processual atualmente em vigor, seguiu-se então a realização de audiências públicas nos mais diversos estados brasileiros a fim de debater a proposta legislativa com a sociedade e, notadamente, com a comunidade jurídica de todo o país.

Em 08.05.2010 foi então entregue pela Comissão o Anteprojeto ao presidente do Senado Federal, Senador José Sarney, que passou a tramitar no Senado como Projeto de Lei nº 166/2010.

O Projeto do Novo CPC é constituído por inúmeras normas que evidenciam e reforçam o dever de colaboração do Estado para com o jurisdicionado e deste com aquele no curso do processo. A título exemplificativo, podem ser citados: o artigo 8º (que impõe o dever das partes de contribuir para a rápida solução da lide, colaborando na identificação das questões de fato e de direito e abstendo-se de provocar incidentes procrastinatórios), os artigos 9º, 10º, 110, parágrafo único e 463, parágrafo único (que impõem a prévia manifestação das partes antes de qualquer decisão, ainda que se trate de matéria de ordem pública, como é o caso da prescrição e da decadência), os artigos 301 e 858, § 1º (que impõem a abertura de oportunidade à parte de sanar irregularidade antes da extinção do processo ou a julgamento do recurso), dentre outros.

O projeto de lei traz ainda uma previsão geral do dever de colaboração em seu artigo 5º, assim redigido:

“As partes têm direito de participar ativamente do processo, cooperando entre si e com o juiz e fornecendo-lhe subsídios para que profira decisões, realize atos executivos e determine a prática de medidas de urgência.”

Em que pese a relevância de uma previsão genérica, como verdadeira norma principiológica, do dever de colaboração no Projeto do Novo CPC, Marinoni e Mitidiero fazem crítica à redação do dispositivo, por induzir a um entendimento de que se trataria de uma exigência de colaboração entre as partes no processo, sendo que, no entender dos citados professores, “é a própria estrutura do sistema adversarial ínsita ao processo

contencioso que repele a ideia de colaboração entre as partes”243.

De efeito, como já tantas vezes repetido ao longo do estudo, a colaboração exigida na concepção contemporânea do direito processual – e que, no caso brasileiro, tem raiz constitucional – consiste numa colaboração das partes com o juiz e deste com aquelas para que sejam atingidas as finalidades do processo, a exigir um juiz ativo, no centro da controvérsia, e a participação também ativa das partes, ensejando uma relação mais equilibrada entre o juiz e as partes no desenvolvimento do processo.

A inovação legislativa, proposta no ensejo do Projeto do Novo CPC brasileiro, aliás, acompanha a tendência de outros ordenamentos processuais estrangeiros.Veja-se, nesse sentido, que a ideia de colaboração no processo também está presente de maneira expressa no art. 266 do Código de Processo Civil português, que, na redação que lhe deram os Decretos-leis 329-A/95 e 180/96, assim preceitua:

“1–Na condução e intervenção no processo, devem os magistrados, os mandatários judiciais e as próprias partes cooperar entre si, concorrendo para se obter, com brevidade e eficácia, a justa composição do litígio. 2- O juiz pode, em qualquer altura do processo ouvir as partes, seus representantes ou mandatários judiciais, convidando-os a fornecer os esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito que se afigurem pertinentes, e dando-se conhecimento à outra parte dos resultados da diligência. 3 – As pessoas referidas no número anterior são obrigadas a comparecer sempre que para isso forem notificadas e a prestar os esclarecimentos que lhe forem pedidos, sem prejuízo do disposto no n. 3 do artigo 519. 4- Sempre que alguma das partes alegue justificadamente dificuldade séria em obter documento ou informação que condicione o eficaz exercício da faculdade ou o cumprimento de ônus ou dever processual, deve o juiz, sempre que possível, providenciar pela remoção do obstáculo.”

243MARINONI, Luiz Guilherme, MITIDIERO, Daniel. O Projeto do CPC: críticas e propostas. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010. p. 72-74.

Disposições semelhantes estão contidas, também, no art. 16 do Nouveau Code de Procedúre Civile francês244 e no § 139 da Zivilprozessordenung alemã245, embora aqui sem uma menção expressa à ideia de colaboração.

Feitas essas considerações e fixadas as premissas teóricas de nosso estudo, a partir do próximo capítulo passaremos a analisar então, propriamente, a influência dessas concepções atuais do processo civil brasileiro no papel desenvolvido pelo juiz e pelas partes na atividade probatória.

244Reza o art. 16 do Nouveau Code de Procedúre Civile francês: “Le juge doit, en touts circonstances, faire observer et observer lui-même le principe de la contradiction. Il ne peut retenir, dans sá décision, les moyens, les explications et les documents invoques ou produits par le parties que si celles-ci ont été à même d’en débattre contradictoirement. Il ne peut fonder sa décicion sur les moyens de droit qu’il a relevés d’office sans avoir au préalable invité les parties à presenter leurs observations.”

245Reza o § 139 da Zivilprozessordenung alemã, na tradução de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: “1 – O órgão judicial deve discutir com as partes, na medida do necessário, os fatos relevantes e as questões em litígio, tanto do ponto de vista jurídico quanto fático, formulando indagações, com a finalidade de que as partes esclareçam de modo completo e em tempo suas posições concernentes ao material fático, especialmente para suplementar referências insuficientes sobre fatos relevantes, indicar meios de prova, e formular pedidos baseados nos fatos afirmados. 2 – O órgão judicial só poderá apoiar sua decisão numa visão fática ou jurídica que não tenha a parte, aparentemente, se dado conta ou considerado irrelevante, se tiver chamado a sua atenção para o ponto e lhe dado oportunidade de discuti-lo, salvo se se tratar de questão secundária. O mesmo vale para o entendimento do órgão judicial sobre uma questão de fato ou de direito que divirja da compreensão de ambas as partes. 3 – O órgão judicial deve chamar a atenção sobre as dúvidas que existam a respeito das questões a serem consideradas de ofício. 4 – As indicações conforme essas prescrições devem ser comunicadas e registradas nos autos tão logo seja possível. Tais comunicações somente podem ser provadas pelo registro nos autos. Só é admitida contra o conteúdo dos autos prova da falsidade. 5 – Se não for possível a uma das partes responder prontamente a uma determinação judicial de esclarecimento, o órgão judicial poderá conceder um prazo para posterior esclarecimento por escrito.” (MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos, cit., nota 81, p. 76).

4. DIVISÃO DE TRABALHO ENTRE JUIZ E PARTES NA

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