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Limites: fator temporal do processo, natureza dos direitos controvertidos, limites

4. DIVISÃO DE TRABALHO ENTRE JUIZ E PARTES NA ATIVIDADE

5.1. Quanto ao juiz

5.1.6. Limites: fator temporal do processo, natureza dos direitos controvertidos, limites

juiz e princípios da legalidade e da motivação das decisões judiciais

Para encerrar esse tema, cumpre apenas retomar, sinteticamente, ideias já anteriormente expostas, referentes aos limites que são impostos pelo próprio ordenamento à atuação do magistrado na instrução processual.

A primeira delas é a de que, não obstante o reconhecimento dos deveres do juiz na instrução probatória, e do incremento qualitativo reconhecido às decisões quando pautadas por uma atuação interessada e participativa do juiz também na instrução, o processo não pode se prolongar indefinidamente, sendo que as exigências voltadas à pacificação social estabelecem limites também à atividade probatória328.

Assim, uma eventual extensão demasiada aos poderes-deveres instrutórios do juiz pode levar a um prolongamento do processo incompatível com a garantia da razoável duração, razão pela qual se impõe ao juiz que, diante das circunstâncias do caso concreto, aplique o princípio da proporcionalidade para verificar qual dos valores deve preponderar (solução justa x razoável duração do processo).

A segunda questão diz respeito à correlação entre os poderes-deveres instrutórios do juiz e o grau de disponibilidade dos interesses contrapostos no processo329.

Se, por um lado, como já se disse, a iniciativa probatória oficial não viola, em nenhuma medida, o denominado “princípio dispositivo”, a doutrina reconhece que o grau de intensidade da atuação do magistrado pode e, no mais das vezes, deve variar de acordo com a natureza dos interesses em jogo.

Assim, o próprio ordenamento jurídico autoriza, em regra, a intensificação dos poderes instrutórios nas lides que versam sobre direitos indisponíveis (já que nelas não se admite a presunção da veracidade dos fatos, mesmo diante, por exemplo, da revelia ou da

328Retomem-se, nesse aspecto, as considerações realizadas no Capítulo 1, item 1.4. 329Retomem-se, nesse aspecto, as considerações realizadas no Capítulo 4, item 4.1.1.

recusa injustificada à exibição de documento) e, correlatamente, a atenuação do exercício desses poderes nas ações que tratam de direitos puramente disponíveis (nas quais, havendo confissão ficta, os poderes instrutórios do juiz somente devem ser utilizados em caso de ausência de verossimilhança das alegações ou de elementos probatórios contrários à presunção de veracidade, ou, ainda, quando verificado manifesto desequilíbrio entre os litigantes) 330.

A terceira questão refere-se à necessidade de tratamento isonômico das partes. Como já tratado anteriormente, por diversas razões, não vinga a tese de que o exercício dos poderes instrutórios do juiz importaria perda da imparcialidade do julgador e causaria desequilíbrio entre os litigantes. Contrariamente, o que entende, com apoio em substanciosa doutrina, é que a iniciativa instrutória do juiz constitui um importante instrumento para corrigir a desigualdade técnica e econômica muitas vezes verificada no plano prático entre os litigantes, de modo a evitar que ela possa repercutir no resultado do processo331.

Para que não haja tratamento privilegiado a qualquer das partes, no entanto, é necessária a adstrição do juiz ao objeto do processo definido pelas partes na fase postulatória e, enfim, aos elementos constantes dos autos, o que constitui uma quarta limitação aos poderes-deveres do juiz na instrução.

Não pode o juiz, pois, a pretexto de exercer seus poderes-deveres instrutórios, avançar sobre matéria ou pedido não deduzido pelas partes, de sorte a alterar os limites objetivos da lide, nem pode agir como investigador particular dos fatos, investigando fontes de prova não mencionadas pelas partes e colhendo dados que extrapolem os limites da controvérsia fática instaurada dos autos.

Também a responsabilidade do juiz pelos atos praticados no processo, a ser tratada de forma mais detida no Capítulo 6, item 6.3 infra, constitui limite ao exercício dos poderes-deveres instrutórios do juiz, lembrando-se, como já se acenou anteriormente, que a todo aumento de poder acarreta o correlato aumento de responsabilidade. Assim, nas

330Nesse sentido: YARSHELL, Flávio Luiz. Antecipação da prova sem o requisito da urgência e direito autônomo à prova. cit., p. 124-125 e PUOLI, José Carlos Baptista. Os poderes do juiz e as reformas do processo civil, cit., p. 27.

palavras de Amendoeira Jr., a responsabilidade do juiz serve como um “estímulo aos juízes

para que tomem certos cuidados no exercício de suas funções”332.

O autor, aliás, em estudo aprofundado sobre os poderes-deveres do juiz e suas vicissitudes, lembra ainda como limite os princípios da legalidade e da motivação das decisões, com fundamento no artigo 93, IX da Constituição Federal e artigos 126 e 127 do CPC, posicionando-se contrariamente à ideia de discricionariedade judicial, tema já abordado no Capítulo 4, item 4.1.1 supra.

Esses limites, por sua vez, permitem (i) evitar o arbítrio; (ii) verificar se a decisão vem eivada de subjetivismos; (iii) controlar o raciocínio do magistrado; (iv) permitir sua impugnação; (v) aumentar sua previsibilidade e também (vi) sua repercussão. E assim conclui:

“Daí a conclusão de que os princípios da legalidade e da motivação das sentenças são verdadeiramente limitadores da atividade e dos poderes do juiz e de que suas decisões deverão ser sempre fundadas na lei e poderão ser sempre revistas, não existindo decisões imunes ou discricionárias, mesmo porque nem mesmo no âmbito administrativo tem se admitido a impossibilidade de revisão de decisões discricionárias, o que se dirá, então, das decisões judiciais, sejam elas atinentes ao campo instrutório, seja na concessão de medidas liminares, seja quando do preenchimento de campos abertos. Ao juiz não é dado criar a lei – a figura do judge made the law do direito norte-americano não encontra entre nós guarida – no máximo, como dito, em certas situações, o juiz formulará juízos, não ‘de oportunidade’, mas de legalidade, já que tem sempre em vista e em última análise a lei.”333

Estas são, em nosso modo de entender, as limitações ao exercício dos poderes- deveres instrutórios do juiz no processo, servindo de baliza, ainda, para interpretar a extensão e os limites do que identificamos como “manifestações” do dever de colaboração imposto ao juiz na instrução probatória.

332A esse respeito, o autor acrescenta: “A possibilidade de responsabilização do Estado e do juiz é certamente uma medida preventiva e educativa, já que evita que os juízes, no exercício de suas funções, excedam os limites no uso dos poderes postos à sua disposição, ‘esquecendo-se’ de que estes não são apenas poderes desvinculados, como dito e repisado, verdadeiros poderes-deveres, oriundos dessa função”. (AMENDOEIRA JUNIOR, Sidnei. Poderes do juiz e tutela jurisdicional: a utilização racional dos poderes do juiz como forma de obtenção da tutela jurisdicional efetiva, justa e tempestiva, cit., p. 94). 333AMENDOEIRA JUNIOR, Sidnei. Poderes do juiz e tutela jurisdicional: a utilização racional dos poderes

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