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Digitalização das histórias em quadrinhos no Brasil

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL E NA ESPANHA

3 Para a elaboração desta

2.2.5 Digitalização das histórias em quadrinhos no Brasil

O barateamento dos processos editoriais, por meio da digitalização, também cooperou para que os artistas gráficos do circuito

underground brasileiro pudessem viabilizar a publicação massiva de

suas histórias em quadrinhos, charges, artigos, em vários lançamentos ao longo dos anos 1990. Revistas de vida efêmera, porém de grande importância editorial foram publicadas nos anos 1990: Porrada, Tralha, Mil Perigos,

Circo, Piratas do Tietê, Geraldão, entre outras.

Estas publicações foram acolhidas pelo público brasileiro, criando espaço editorial para publicação de quadrinhistas como Marcatti, Glauco Matoso, Lourenço Mutarelli, Bira, Adão Iturrusgarai, Alan Voss, André Toral, Caco Galhardo, Duval, Eddy Gomes, Edgar Vasquez Fraile, Guazzelli, Kipper, Luiz Shiavon, Marcelo Gaú, Osvaldo Pavanelli, Ricardo Cruz, Márcio Baraldi e Gualberto. Estes e outros quadrinhistas, como Alan Alex, Patati, Mozart Couto, Watson Portella, Flávio Calazans, Hector Alísio e o argentino Mosquil, também contribuíram com diferentes títulos.

Outra modificação, ainda que efêmera, na edição de quadrinhos

underground, foi o investimento de verbas públicas na editoração de

histórias em quadrinhos. A tradição de letramento da região sul do Brasil determinou a aparição da primeira revista em quadrinhos editada com verbas municipais. A prefeitura da cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, patrocinou a edição da Dundum, em 1990.De conteúdo eminentemente underground, trouxe ao grande público as obras de um grupo de quadrinhistas fanzineiros, sob a edição de Gilmar Rodrigues e Eloar Guazzelli, agregando colaborações de Adão Iturrusgarai, Fábio Zimbres, Sílvio Silveira da Silva, que assina como Sílvio S, Otto Guerra, Jaca, Lancast Mota, Pedro Alice, Gilmar Fraga, Rodrigo Rosa, Edgar Vasques, Eduardo Oliveira, Carlos Ferreira, Vit Nuñez e outros.

Capa do álbum comemorativo Mônica 30 anos.

Infelizmente, a irreverência de Dundum foi um pouco excessiva para o momento, despertando a atenção de setores mais tradicionais da sociedade e derivando em denúncias de uso de verbas públicas para produção de “pornografia”. Com a perda do apoio cultural da prefeitura, a revista Dundum ainda sobreviveu até 1993. Neste mesmo ano, teve uma publicação fac-similar de seu primeiro número integralmente traduzida, pela editora K Two Sistem, em Tóquio. Este fato, digno de nota, atesta a qualidade irrefutável de uma publicação oportunizada por uma política pública, que demonstrou a similaridade do material brasileiro com os álbuns europeus, já que foram merecedores de atenção no mercado editorial japonês, um dos mundialmente mais relevantes em sua produção local.

A personagem Mônica completou trinta anos em novembro de 1993, com a publicação do álbum Mônica: trinta anos, edição especial com reproduções fac-similares das primeiras tiras de jornal, mostrando a evolução do desenho e do esquema da personagem. Também reproduz as primeiras histórias coloridas, assim como amostras das décadas de 1970, 1980 e 1990. Também reproduz uma galeria, com artes de diversos autores sobre a personagem

Mônica e seu coelhinho Sansão. Esta publicação, de

grande representatividade, pontua o amadurecimento do mais importante e perene título de histórias em quadrinhos infantis brasileiras, e aponta para um futuro igualmente representativo. De fato, até o ano de 2007, Mônica e os seus coadjuvantes seguem sendo as personagens preferidas da faixa etária a que se destinam, sobrevivendo com uma vendagem significativa e sendo as primeiras histórias em quadrinhos inseridas em práticas pedagógicas de alfabetização infantil no Brasil.

As novas possibilidades de publicação de histórias em quadrinhos sem a participação ou interesses comerciais das editoras propiciaram que uma nova geração de artistas gráficos, que antes seguiam com os seus fanzines em um contexto local, pudessem desfrutar de um espaço privilegiado de veiculação de suas histórias em quadrinhos, no Brasil e no mundo: a Internet. Aos poucos, o Brasil foi acessando softwares próprios para a edição imagética, assim como ampliaram-se as possibilidades de hospedagem nacional de conteúdo digital, o que apontou para a formação de sites exclusivos de veiculação de histórias em quadrinhos.

Vinheta do álbum Biocyberdrama, história com arte de Mozart Couto e roteiro de Edgar Franco, publicada em suporte de papel e digital.

O pioneiro na área das HQtrônicas brasileiras, as assim chamadas histórias em quadrinhos totalmente produzidas em suporte digital, foi Fábio Yabu, com seus Combo Rangers. Trilhando o caminho contrário das obras que foram publicadas na década, e ditando tendência, os Combo Rangers fizeram sucesso diretamente na Internet em 1990, para apenas dez anos depois ser veiculados em suporte de papel, em revistas próprias, como a série Combo Rangers Revolution, de 2000.

Após inúmeras experiências com a produção das histórias em quadrinhos nos computadores disponíveis no Brasil, iniciou- se o projeto da tira Nacional e Popular, pelos quadrinhistas Heinar

Maracy, Tony e Smirnoff. Com a arte produzida inteiramente em suporte digital, iniciou sua publicação no jornal A Folha de S. Paulo, em 1991. Como todas as obras similares, que surgiram no mundo concomitantemente, estas primeiras histórias tinhas algumas características comuns: [...] foram todas feitas em preto-e-branco e uma de suas principais marcas era o traço anguloso, onde predominavam as linhas e ângulos retos o que denunciava em sua estética a utilização do computador como ferramenta. Mas esse traço anguloso é mais evidente nos primeiros episódios [...], tornando-se mais sutil em sua fase final, [...] onde o traço já demonstra estar quase totalmente liberto desse estigma. Essa evolução certamente se deve ao domínio gradativo do software de criação das imagens, mostrando que os resultados de um trabalho de quadrinhos executado no computador dependerão não só do talento dos artistas, mas também do grau de domínio que eles possuem da ferramenta utilizada na criação. (FRANCO, 2004, p. 67-68)

Iniciando-se por meio da produção da arte das histórias em quadrinhos, para posterior publicação em papel, a digitalização passou a determinar a natureza da veiculação das histórias em quadrinhos, configurada no fenômeno da convergência das mídias para suporte digital. Paulatinamente, diferentes formas de produção passaram a conviver, pela inserção da digitalização em diferentes fases da produção e editoração:

! Arte em papel, com colorização em tinta e escaneamento da imagem pronta para elaboração da matriz de impressão ou veiculação em mídia digital;

! Traço em papel, com escaneamento, colorização e arte final digital, para elaboração da matriz de impressão ou veiculação em mídia digital;

! Arte totalmente elaborada em suporte digital, para elaboração de matriz de impressão ou veiculação em mídia digital;

! Arte totalmente elaborada em suporte digital, com

hibridização de linguagens, com veiculação apenas possível em suporte digital.

Vinheta de Transubstanciaçã o, história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli que recebeu o prêmio de “Melhor História do Biênio”, na Primeira Bienal Internacional de Quadrinhos, em 1991.

O ano de 1991 seria um ano diferenciado para as histórias em quadrinhos underground no Brasil, pois foi quando aconteceu o lançamento da primeira edição da obra Transubstanciação, de Lourenço Mutarelli, que recebeu em novembro deste mesmo ano o Grande Prêmio da I Bienal Internacional de Quadrinhos, no Rio de Janeiro, que prossegue até a atualidade. Além do êxito editorial, as histórias em quadrinhos ganharam outro acervo público especializado, a Gibiteca Henfil, agora constituída pela Rede Municipal de Bibliotecas do Município de São Paulo, com a c o o r d e n a ç ã o d e b i b l i o t e c á r i o s . Posteriormente, este espaço passou a fazer parte do Centro Cultural São Paulo, ampliando ainda mais sua capacidade de atendimento e acervo, que atualmente supera os 100.000 exemplares.

E m S ã o P a u l o , a E s c o l a

Panamericana de Arte inaugurou sua

pirâmide de cristal com a primeira convenção de histórias em quadrinhos em 1994, a Comic Con, com a instalação de 25 super-heróis em tamanho gigante, pelo professor Augusto Minighitti e a presença de grandes quadrinhistas internacionais. Esses convidados, que eram nada menos que Will Eisner, Howard Chaykin, José Delbo, Joe Kubert e Jules Feiffer, além de participar de mesas redondas, palestras, tardes de autógrafos, ministraram oficinas a um grande número de jovens artistas gráficos, aprimorando suas técnicas de desenho e roteiro de histórias em quadrinhos. O Núcleo de

Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes NPHQ/ECA/USP, organizou uma plataforma universitária,

discutindo academicamente as questões relevantes ao tema. Os brasileiros homenageados foram Gedeone Malagola, pela excelência de seus roteiros e a criação de heróis brasileiros, e Adolfo Aizen. Sem dúvida, o caráter educativo e de divulgação deste evento, ainda não igualado, influenciou pelo menos uma década de produções brasileiras.

Os cuidados com a higiene pessoal de nosso atual presidente, em charge de Angeli de 1998.

Em 1997, o site Cybercomics entrou no ar na Internet, desenvolvido por Heinar Maracy, criando espaços específicos que, aos poucos, vão sendo preenchidos pelos diferentes autores que o compartilham, como: Laerte, Glauco Matoso, Angeli, Líbero Maravoglia, Adão Iturrasgarai, Kipper, Spacca, Fernando Gonzales, Orlando

Pedroso, Tom B., Mário AV., André To r a l , L o u r e n ç o Mutarelli e outros. Com a consagração no suporte de papel, estes autores agora ingressam no suporte digital com suas histórias em quadrinhos, como discípulos de Fábio Yabu.

Tira Angeli em Crise.

Tira de Rê Bordosa, de Angeli.

Tira de Os Skrotinhos, deAngeli. O estudante da periferia de São Paulo, em charge de Angeli.

Arte de Awano, Tiago e Vazzios para a revista Holy Avenger.

Mesmo após muitos anos de reconhecimento na Internet, Fábio Yabu ainda conheceu mais uma faceta do sucesso como quadrinhista, com a sua edição em papel da mini-série Combo Rangers Revolutions, com a co-autoria de Ulisses Perez, em 2000. Com a aceitação do público, chegou ser premiado no 13º. HQ Mix, na categoria de desenhista revelação, pela renovação do referencial da linguagem das histórias em quadrinhos brasileiros, incorporando ao mesmo tempo recursos de digitalização e elementos semióticos do

mangá. A colorista da série, Lílian Maruyama, também foi

premiada na mesma ocasião, pela excelência da arte final da série.

Marcelo Cassaro, roteirista premiado em sua juventude por trabalhos como Didi volta

para o futuro, de 1991, produziu

a série Holy Avenger, pioneira na difusão do já conhecido formato do mangá no Brasil. Em 1999, a obra iniciou sua p u b l i c a ç ã o e m f o r m a t o americano, com capa colorida e miolo em preto e branco, respeitando o estilo clássico do mangá. Em 2001, começaram a ser produzidos os álbuns em formato americano, com oito

revistas encadernadas em cada. Com 42 edições mensais, contou com o apoio dos roteiristas Rogério Saladino, J. M. Trevisan, Petra Leão e Fran Elles

Briggs, com os desenhos de Érika Awano, arte de André Vazzios, Tiago e Ricardo Riamonde, com cores de Rodrigo Reis. Este sucesso nacional antecipou a difusão local do formato mangá, fenômeno certamente influenciado pela identificação cultural da maior colônia japonesa fora do Japão, que está no Brasil.

Vinheta de Holy Avenger, com roteiro de Cassaro e arte de Awano, Riamonde e Vazzios.

Arte de Awano, Riamonde e Vazzios para a revista Holy Avenger. Capa com arte

de Awano, Tiago e Vazzios para a revista Holy Avenger.

Vinheta de A ninguém é dado alegar o desconhecimento da lei, de Loureço Mutarelli.

Muito embora a influência do mangá no Brasil tenha sido anterior à obra concebida por Cassaro, assim como a mais recente expansão desta categoria de histórias em quadrinhos, segundo a opinião de diversos especialistas, como Sonia Bibe Luyten (2000) certamente intensificou e renovou a sua influência na entrada do século XXI. Um exemplo disso é a participação de Fábio Yabu e Marcelo Cassaro, no álbum Mangá Tropical, editado por Alexandre Nagano em 2003, com a participação de quadrinhistas como Daniel HDR, Alexandre Nagado, Arthur Garcia, Silvio Spotti, Elza Keiko, Eduardo Muller, Rodrigo de Góes, Denise Akemi e Érika Awano, com seis histórias do cotidiano brasileiro criadas com a linguagem quadrinhística dos mangás.

O início do século XXI também foi marcado pelos progressos da história em quadrinhos autoral, como é o caso das obras de Lourenço Mutarelli, Wellington Srbek e Francisco A. Marcatti. Lourenço Mutarelli criou o personagem

Diomedes, um detetive decadente,

lançando uma série de álbuns em preto e branco, no período de 1999 a 2006: O dobro de cinco, O rei do ponto,

A soma de tudo 1 e 2. Ao mesmo

tempo, Mutarelli trabalhou em romances e roteiros cinematográficos, ampliando seu espectro de atuação cultural.

Um dos álbuns de histórias em quadrinhos considerados de excelência em sua arte e seus roteiros é a edição independente

Estórias Gerais, com criação e roteiros e Wellington Srbek e arte

de Flávio Colin. A emocionante história da reportagem fictícia no sertão mineiro dos

anos 1920 remete o leitor para um Brasil real e ainda vivo, nos rincões d a s f r o n t e i r a s distantes de nosso país.

Vinheta de O bebê de Tartalana Rosa, quadrinhização do conto de João do Rio, com roteiro de Júlio Emílio Braz e desenhos de Flávio Colin.

Capa de Estórias Gerais, com roteiros de Wellington Srbek e desenho de Flávio Colin.

A obra ficou mais de três anos engavetada, por falta de aceitação no mercado editorial, até que foi enquadrada na Lei de Incentivo à

Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte. Assim, em 2001, veio a

público, surpreendeu a crítica com sua excelente qualidade e foi premiada com o prêmio HQ Mix na categoria de Graphic Novel nacional, em 2002. Em 2007, recebeu

uma nova edição especial, dessa vez pela Editora Conrad.

Francisco Marcatti, que recebeu da crítica especializada o epíteto de “Augusto

dos Anjos dos quadrinhos”, dedicou-se

também às aventuras de seu escatológico personagem Frauzio, ao mesmo tempo em que fabricou inúmeras guitarras elétricas. Seu trabalho mais recente é u m a i m p o r t a n t e a d a p t a ç ã o d e o b r a

literária para os quadrinhos, do romance A Relíquia de Eça de Queiroz, em 2006.

Adão Iturrusgarai, um integrante da pioneira revista

Dundum do Rio Grande do Sul, também progrediu na virada do século,

assim que voltou a publicar tiras, após um período de trabalho como roteirista em diversos programas televisivos de humor infantil e adulto. Por meio dos títulos Aline, Rocky & Hudson, La Vie em Rose e A Família

Bicepes, conquistou espaço nos grandes jornais diários, no período de

2000 a 2007, assim como a publicação de coletâneas em formato de álbum, para todas

essas séries. Vinheta de Lampião... era o cavalo do tempo atrás da besta da vida, de Klévison, outra história inspirada nas narrativas do sertão. Francisco Marcatti estampando a guitarra com uma vinheta de Frauzio.

Tira La vie en rose, de Adão Iturrusgarai.

História de Márcio Baraldi, com seus personagens Roko-Loko e Adrina-Lina.

Determinados autores de tiras produziram sob temas mais restritos ou voltados para grupos sociais específicos no Brasil. Márcio Baraldi, autor de tiras que se destacou a partir de meados dos anos 1990, trabalhando com tiras na imprensa escrita, mas sua especialidade sempre foi atuar em revistas temáticas, criando personagens voltados para temas específicos e abrindo oportunidades para as histórias em quadrinhos e charges nos campos mais inóspitos. Criou, por exemplo, para a revista Rock Brigade, o casal de roqueiros

Roko-Loko e Adrina-Lina; para a revista Metalhead Tatoo, o rato Tatoo Zinho; para

o Sindicato dos Bancários, os bancários

Eurico e Ritalinda; para a revista Viva Melhor, o estressado Alaôr Kaholic; para a

revista adolescente Viração, o rapper Rap

Dez; para a revista Esotérica, a maga Erica a esotérica; para as revistas Ok Magazine e Dynamite, voltadas para o

público homossexual, a Ultravesti; entre outros.

A versatilidade de Márcio Baraldi é bastante destacada Brasil, assim como a grande preocupação e cuidados com as informações sobre a cidadania, a política, a saúde pública e a educação que seus personagens veiculam com tanta graça. Assim, em 2003, recebeu a medalha Vladimir Herzog de Direitos Humanos, concedida pelo Sindicato dos Jornalistas, antes mesmo do seu segundo prêmio Ângelo Agostini, recebido no mesmo ano e predecessor de muitos outros.

Com uma linha de personagens que abordam os costumes, o movimento feminista, a urbanização do país e as novas vivências da terceira idade, Miguel Paiva acabou por protagonizar, com sua obra, importantes movimentos sociais de atualidade. Sua personagem Radical Chic, foi utilizada para a criação de uma cartilha do Ministério da Saúde, no Programa Nacional de DST/AIDS, chamada Eu gosto de ser

mulher, com mais de seiscentos mil exemplares distribuídos,

em março de 2003. Teve a série de histórias em quadrinhos

Gatão de meia idade, criada em 1994, também utilizada na

cartilha De homem para homem do Ministério da Saúde. Outro êxito do Gatão foi sua adaptação para o cinema em 2006, já que o protagonista é um homem com mais de cinqüenta anos que escapa, em tempo, da imagem estereotipada de velho aposentado, configurando-se como uma pessoa ativa, em boa forma, interessado em viver intensamente.

Vinheta de cartilha do Ministério de Estado da Saúde, De homem pra homem, com o personagem Gatão de meia idade, de Miguel Paiva.

Vinheta de Ninguém olhará por nós, de Fábio Moon.

O novo século também viu despontar para o sucesso os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Ba, que iniciaram seus trabalhos por meio de um fanzine de excelente qualidade, auto-financiado, o 10 pãezinhos, nos anos 1997. Em 1999 publicaram sua primeira mini-série nos Estados Unidos, Roland days of wrath, sendo premiados com o Xeric

Foundation Grant. Ao mesmo

tempo, ganhavam o seu primeiro prêmio HQ Mix, pela publicação do fanzine 10

pãezinhos, além de inúmeros

prêmios subseqüentes nos últimos oito anos.

Além da contribuição e m t í t u l o s c o l e t i v o s brasileiros, como “5”; Front;

Bang Bang; Dez na área, um na banheira e ninguém no gol; produziram histórias em

quadrinhos publicadas nos E s t a d o s U n i d o s c o m regularidade. Atualmente, os títulos norte americanos De Tales,

Umbrella Academy, Sugar Shock, Casanova, Smoke and Guns e Ursula

contam, desde 2006, com arte e muitos roteiros de Fábio Moon e Gabriel Bá, sendo títulos correntes de grandes editoras norte-americanas.

Da série 10 pãezinhos, foram publicados os álbuns O girassol e a lua, em 2000; Meu coração não sei porquê, em 2001; Feliz aniversário meu amigo! , em 2002; Crítica, em 2004; Um dia, uma noite e Mesa para dois, em 2006; Fanzine, em 2007. A quadrinhização de O Alienista, de Machado de Assis, é uma obra de extremo amadurecimento, denotando a qualidade das adaptações literárias no Brasil, sendo a mais recente publicação dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá em 2007.

Vinheta de Cara de índio,de Shane L. Amaya Gabriel Bá.

Níquel Náusea, de Fernando Gonzalez.

Dois quadrinhistas, Fernando Gonzalez e Spacca, são responsáveis por álbuns de histórias em quadrinhos de grande representatividade na leitura adolescente atual, embora produzidos em ritmos diferentes. Enquanto Gonzalez, veterinário de formação, dedicou-se aos enredos formados pela fauna urbana, Spacca esbanjou a sua técnica de ilustrador publicitário para contar a história de uma personalidade brilhante entre os brasileiros, Alberto Santos- Dumont.

A série do rato Níquel Náusea, de Gonzalez, seja na forma de tiras ou em á l b u n s f o r m a d o s c o m a s s u a s coletâneas, recebeu os prêmios HQ Mix do ano de 2002 ao ano de 2007, initerruptamente, culminando com o lançamento do álbum Tédio no chiqueiro. Por sua vez, com o álbum Santô e os pais

da aviação, lançado em 2005, Spacca

traçou para o público adolescente um panorama, por meio dos recursos proporcionados pela riqueza das histórias em quadrinhos, do processo histórico de invenção do avião.

Santô mantém um alto índice de vendas e, nos últimos

dois anos, segue como um dos álbuns de histórias em quadrinhos mais indicados para leitura escolar paradidática.

A democratização brasileira e o natural desenvolvimento das mídias, em um ambiente cada vez mais livre das pressões dos poderes constituídos, ainda não atingiram a maturidade necessária para lidar com as questões sociais polêmicas de forma equânime. Normalmente, a edição dos jornais e revistas orienta os chargistas e quadrinhistas. Porém, muitos editores ainda exercem uma forte censura interna nos veículos de comunicação, reproduzindo o modelo já superado do período da ditadura militar, temendo a perda de fatias privilegiadas do mercado.

Foi o que ocorreu, recentemente, na redação do JC